Constato que ao longo dos anos, pelo menos ao longo da última meia dúzia de anos, a «música» é sempre a mesma, isto é, o registo, o discurso é invariávelmente igual.
Um discurso languido, falacioso, de lamúria, de vitimização, de, em certo sentido, ameaça velada de saida para causar impacto e preocupação e até tristeza, nostalgia nas almas mais sobressaltadas. Um discurso inebriante, amnestesiante, hipnotizante; um discurso, à semelhança de outros, como dizem os brasileiros, «prá boi dormir». Mas as palavras em concreto com as quais eu não posso concordar, até mesmo e principalmente como ex-Presidente da Sociedade 1º de Janeiro Torranense, cargo que desempenhei com muita honra e com a sorte de ter uma muito boa equipa comigo, prendem-se com o facto do Sr. Maestro ter afirmado que há falta de vontade de trabalhar e que com trabalho de todos, as coisas se fazem como o prova o espectáculo ali decorrido. O que não disse é que todas as pessoas que passam e passaram pelos órgãos sociais são voluntários - trabalham a custo zero; como a custo zero estão lá os músicos e como a custo zero trabalham outras pessoas que se dignam ajudar na organização de bailes e outros eventos. Trabalho e responsabilidade é coisa que não falta, pelo menos para aqueles elementos que não se limitam a dar o nome e se comprometem e que depois desaparecem de circulação sobrecarregando ainda mais quem de facto está ali para cumprir com o seu mandato e com o seu dever. O que falta é tempo. Tempo que é dispendido e não é rentabilizado; trabalho que não é gratificante nem gratificado; é que para além do trabalho ser gratuito todos os que passam pela Direcção são desconsiderados e estigmatizados por alguns, consideráveis, sectores da população para os quais todos os que lá estão ou passaram «roubaram a Sociedade», foram para lá para «se encherem»; gente que em vez de ajudar sempre que há dificuldades ainda zombam e apelidam quem por lá passa, de incompetente, os mesmos que dizem que fazem, que são competentíssimos e uns moiros de trabalho e que, no momento da verdade - e como eu gosto desta expressão - quando são chamados para tomarem o lugar dos «incompetentes» entram em pânico e assobiam para o ar. Fossem tais cargos remunerados e bem remunerados que certamente os candidatos não chegariam às encomendas. É dificil trabalhar assim, é dificil cativar alguém assim, é dificil alguém querer trabalhar nestas condições; sem ganhar o que seja e ainda por cima ser enxovalhado. Não, para essa gente o que escasseia em dinheiro e consideração, sobra em trabalho. É natural que não haja motivação, é natural que não haja vontade de trabalhar, como refere e bem. Porém, as causas a que atribui essa falta de vontade é que receio bem que sejam outras se não o discurso tinha sido diferente; de defesa e elogio dos muitos que, ao longo dos anos, muito deram sem nada receber em troca. Não! Não o será por perguiça ou incúria, mas por desmotivação.
Já por seu turno, o Sr. Maestro é largamente considerado e aplaudido e ainda aufere um ordenado mensal da ordem dos 500€ por um dia de trabalho por semana (no máximo dois) que dura no máximo uma hora. O mais surrealista é que do meu lado esquerdo estavam um ex-Presidente da Direcção e um ex-Tesoureiro da Sociedade que aplaudiam efusivamente aquelas palavras que lhes (nos) eram arrememessadas como dardos envenenados. Aplaudiam sem analizar uma palavra, sem analizar o contexto, sem uma atitude crítica, aplaudiam o que era dito; limitaram-se a apaludir. É como se alguém fosse chicoteado em público e apaludisse cada golpe que lhe fosse infligido na carne. As palavras são o chicote do espírito. Já eu imóvel, petrificado, não mexi um músculo e apenas registava mentalmente tudo o que ouvia e perguntava-me e pergunto: Será que se trabalhasse de borla, o Sr. Maestro tinha vontade de se deslocar ao Torrão e trabalhar? Fica a pergunta. Como se não bastasse, ainda desvaloriza a grave crise porque a Europa e em particular Portugal atravessa. Para o Sr. Maestro não há crise, a crise está na cabeça das pessoas; a crise está na falta de vontade trabalhar. É natural que assim pense até porque crise é coisa que certamente não sentirá. Um reformado das Forças Armadas, ex-sargento, que certamente receberá uma boa reforma do Estado. A juntar a isso, o salário como regente da Banda da 1º de Janeiro, o salário por colaborar na Banda dos Bombeiros de Alvito e provávelmente ainda mais uns pós... De facto por ali não há crise que resista. Já para os quase 700.000 portugueses desempregados dos quais mais de metade são jovens e com habilitações superiores, mais do que qualquer um ex-sargento que por aí pontifique; aí sim para esses, para NÓS, a crise é real.
Mas ainda bem que o Sr. Maestro assim pensa. Bem pode ficar descansada a Direcção da Sociedade, seja ela qual for, que não será por isso que a Banda deixará de ter quem a dirija. É que se a crise implicar que esta tenha que proceder a um reajustamento, isto é, um corte, da ordem dos 25, 50 ou até 75% no seu vencimento haverá certamente alguém que de certeza terá sempre vontade de trabalhar e que não será por isso que se deterá até porque crise... bem, qual crise?
Apesar de tudo reconheço que muito provávelmente apenas pretendeu estimular as pessoas e incitá-las a participar e que o fez com boas intenções, embora nós saibamos qual o local que está cheio de boas intenções. Que dissesse que as pessoas não se mobilizam, não participam, não se motivam; agora falta de vontade de trabalhar? Pelo amor de Deus...
E depois... bem depois afirma que a crise está na cabeça das pessoas... nem me pronuncio. Daí o discurso ser, pelo menos para mim, profundamente infeliz.
Este tipo de discursos na verdade parcem ser apanágio de antigos sargentos do Exército, da Marinha... e quiçá até da Força Aérea se bem que dessa espécie não conheço nenhum... daí o «quiçá». Discursos hipnotizantes, discursos de ir levando a água ao seu moinho, discursos anestesiantes... «pra boi dormir».
Tenham cuidado! Tenham muito cuidado! Para a próxima, antes de ir ouvir um discurso de um qualquer ex-sargento - daqueles que a juntar ao pecúlio da aposentadoria como servidor do Estado ainda ganham uns cobres da política, da música ou de quaisquer outras nobres artes - tomem um café bem forte para não se deixarem dormir.
Começa por sensibilizar para o problema do vândalismo contra propriedade pública - o que é vergonhoso, lamentável e dos quais tenho dado eco a alguns que se passam por cá - acaba a dizer uma verdade de Lapalisse: A Câmara é composta por pessoas e que estas também erram(!!!). Lili Caneças não diria melhor. Quem diria! O problema é que erram demasiadas vezes e pior: incorrem inúmeras vezes nos mesmos erros. Errar é humano de facto e é universal. Errar não é estupidez; é-o apenas incorrer sempre nos mesmos erros. Esse é que é o drama!
Esse é contudo o mote para o que vem a seguir. O Sr. Vereador da Cultura incita-nos a aprender a dar o nosso contributo em vez de nos concentrarmos a criticar, quais treinadores de bancada a ver futebol. É a cultura da bola ou uma bolada na cultura! Acontece que o Sr. Vereador recebe, mais pataco menos pataco, trezentos contos dos antigos em troca do seu rico contributo. Eis um bom exemplo para aprendizagem. É claro que o contributo de que fala e a que apela, é a custo zero ou não fosse este o país dos voluntários. Apela-se muito por cá ao voluntariado, que é o mesmo que ao trabalho a custo zero. Acontece que por detrás de uma legião de voluntários há sempre alguém, espertalhão, que coordena, que manda... e que mama. E não é pouco.
No caso da Câmara, os otários dariam o contributo (de borla, claro) e suas excelências colhem os louros e os ouros. É óbvio que para o Sr. Vereador o ideal é o laborioso contributo de todos e de perferência sem críticas. Se em vez de críticas todos aplaudissem efusivamente quais focas ou macaquinhos amestrados certamente que já não se lamentava. Quanto às críticas, o Sr.Vereador, reconheceu que erra; se erra é criticado; ponto final.
Não discorre porém que a crítica é ela própria uma forma de contribuir? Quem critica e discute é porque está atento e quer participar e no entanto o Sr. Vereador reduz os munícipes, cidadãos deste Concelho, a «treinadores de bancada». É o que nós somos aos olhos dele? Treinadores de bancada? E a participação democrática e a livre opinião, críticas... de treinadores de bancada, claro está. Curiosamente em época de eleições todos são lestos em defender a participação dos munícipes e depois quando se apanham servidos a tão falada participação dos cidadãos reduz-se a opiniões de «treinadores de bancada».
Bem, futebolisticamente falando, se a equipa que está no relvado não suporta os apupos do público nas bancadas tem bom remédio: renuncia ao jogo, abandona o relvado e recolhe aos balneários. É tremendamente simples.
Da parte que me toca, continuarei a dar algumas tácticas as quais já se provou que têm resultado; e como têm resultado! E darei o meu contributo e tempo ainda que gratuitamente pois aqui sou simultâneamente colaborador, coordenador e executante; aqui sou independente, autónomo e sem amarras. Aqui ninguém colhe os frutos do meu trabalho.
E por fim termina afirmando que esta é uma terra maravilhosa. Depende da perspectiva. Muitos apesar de provávelmente concordarem, têm partido em busca de outras maravilhas que por cá não encontram. E muitos outros ainda estarão para partir.
É maravilhosa para alguns. Se calhar para ele e para outros do mesmo naipe por enquanto vai sendo maravilhosa e se calhar daqui por uns tempos deixará de pensar assim. Só a título de exemplo, Cuba é um paraíso para os turistas e um inferno para a maioria dos que lá vivem e que até fome passam. Depende...
Com maravilhas e pérolas destas estamos bem entregues... até um dia.
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