Passou há dias, na SIC e mais concretamente no programa «O Futuro Hoje» mais umas ideias empreendedoras made in Minho ou, mais concretamente, made in Braga.
Na introdução escreve-se o seguinte:
«Na era das startups e das empresas com ideias que avançam e conquistam apoios, umas vencem e outras não. Braga é um dos pólos onde de desenvolvem algumas destas ideias. Deste modo, o "Futuro Hoje" voltou uma vez mais à cidade minhota. O programa de hoje começa com a ideia de acabar com as muitas passwords que perseguem as pessoas».
Mais uma vez, e se dúvidas ainda há, temos o Minho, e Braga em particular, na vanguarda do que de melhor e mais hi-tech se faz em Portugal. Muitos há lá para baixo que me dizem, quando eu comparo o Minho com o Alentejo, que não há comparação possível. Realmente têm razão: Não há comparação possível. Comparo sobretudo no sentido do Alentejo se poder equiparar. Estes tais esquecem contudo que ainda nos anos oitenta e início dos anos noventa a região do vale do Ave e do vale do Cávado eram assoladas pelo flagelo do desemprego e eram das regiões mais pobres e deprimidas do país. Contudo aqui arregaçaram as mangas e meteram mãos à obra. Dinamismo, empreendedorismo, iniciativa são palavras-chave. Aqui ninguém ficou a carpir mágoas, culpou o poder central ou implora por regionalização e anda a perder tempo com abaixo-assinados a pedir por uma "região-piloto" no Minho. Aliás, se estivessem à espera do poder central estavam bem amanhados até porque Lisboa fica a cerca de trezentos quilómetros mais coisa menos coisa. Aqui inclusive há muita gente que me pergunta estarrecida como é possível estando o Alentejo, nomeadamente o Alentejo Litoral, tão perto de Lisboa, do Porto de Sines e do Algarve e estar assim tão desolado?
Na verdade, o «hinterland do Porto de Sines, no qual se inclui Alcácer do Sal, é de uma desolação assombrosa. Como é possível, estando aquele que é considerado um dos portos com melhores condições naturais da Europa ali, que o sector secundário seja tão incipiente? Nem industria, nem investigação nem nada.
Repare-se no exemplo flagrante do sector corticeiro. A extracção de cortiça faz-se sobretudo no Alentejo. Ora onde está sediada a indústria corticeira? No norte! Sabem onde fica localizada a Corticeira Amorim, líder mundial (nas palavras deles) do sector? Próximo de Espinho. Portanto, num sector em que a matéria-prima está essencialmente no Alentejo, é a região norte que mais usufrui não se criando condições para atrair grandes empresas transformadoras para ali. Por consequência, um sector que poderia garantir emprego continuamente no Alentejo, garante-o apenas sazonalmente, isto é, entre os meses de Junho e Agosto, época em que se faz a extracção. Cortiça essa que é toda escoada em estado bruto para as indústrias transformadoras do sector, as quais permanecem a norte. Não há engenho nem arte para aliciar os industriais a ali se fixarem dizendo-lhes que têm ali a matéria-prima e também meios e infraestruturas com capacidade para escoar o produto; fazendo-lhes ver que têm o porto de Sines, o porto de Lisboa e Espanha a meio caminho.
Portanto, e por oposição ao Minho, no Alentejo, a coisa não ata nem desata e aqui limitam-se a lamentar e a vociferar contra o poder central, acusado de todos os males.
Temos o exemplo flagrante de um tal de congresso de nome AMAlentejo Tróia 2016 que decorreu por estes dias em Tróia, como o nome indica, e, como não podia deixar de ser, a pedra de toque foi justamente acusar o poder central pelo facto desta ser uma região deprimida defendendo-se uma maior estatização. Repare-se bem: Enquanto uns põem mãos à obra outros optam passivamente por pedir, por reclamar mais Estado. Ou seja, o que se propôs ali em tal tugúrio, para resolver o (gravíssimo) problema estrutural do Alentejo, é, por um lado, a criação de uma «região-piloto» e por outro lado, e como consequência, a injecção de fundos isto por implicação directa pois com a criação da dita «região-piloto» aceder-se-ia à gestão do «bolo» que neste momento está nas mãos da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional local - CCDR-A
Braga - e o Minho - exportam para todo o mundo. Já o Alentejo, e em especial Alcácer do Sal, nem ao norte do país conseguem chegar ou se chegam é de forma muito tímida e incipiente. A título de exemplo, nem a famosa pinhoada de Alcácer do Sal consegue chegar sequer à sede da sua freguesia mais meridional.
Em suma, com estas manobras congressistas, com uma cajadada procuram matar-se dois coelhos: por um lado sacode-se a água do capote responsabilizando outros por algo que é em muito responsabilidade sua. Por outro lado, pedem-se mais fundos, sem que haja garantias destes serem posteriormente injectados na economia local, e serem em grande parte destinados a alimentar a clientela voraz, os amigalhaços, as prestações de serviço e aumentarem os seus próprios pecúlios. Não esquecer que regionalização implica a criação de mais «tacharia».
Ora não é por acaso que tal tese encontra no Sr. Presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal um dos mais fervorosos entusiastas pois passados três quartos do seu mandato tudo o que tem para apresentar aos alcacerenses é uma mão, ou melhor, as duas mãos, cheias de coisa nenhuma. Portanto há que criar truques de ilusionismo - de qualidade duvidosa - para tentar a todo o custo esconder tão crua realidade que está à vista de todos. E, a talho de foice, bem que se poderia avaliar ainda a dúzia de anos de Vítor Proença à frente dos destinos de Santiago do Cacém, outro dos concelhos do Alentejo Litoral. Recentemente um tal de Henrique Raposo num tal livro chamado «Alentejo Prometido» dá uma pequena ideia da vida que ali há como também da diferença entre norte e sul, ou seja, entre «les uns et les autres».