domingo, setembro 30, 2012

Uns e outros

Foi na passada Quinta-feira, quando regressava de Évora, que constatei, ao entrar nas Alcáçovas, que também a vila vizinha foi aforada pelo Rei D. Manuel I, passam este ano cinco séculos, ao observar um bonito e grande pendão, chamemos-lhe assim, alusivo ao evento, para que quem ali passe saiba que aqui se comemoram os 500 Anos do Foral; sem vergonhas, com orgulho e brio.
 Desprevenido e sem a «pistola» à mão - é assim que designo a minha companheira de mil e uma fotos - apenas me restou deslocar à Junta de Freguesia para mais e melhor esclarecimento. Surpresa ainda maior e mais agradável tive quando verifiquei que também no edifício da Junta estava pendurado um pendão, denotando bom gosto, oportunidade e empenhamento total da autarquia.
 Entrei. Sempre simpáticas e extremamente prestáveis, as funcionárias explicaram tudo acerca do evento. Perguntei se porventura a Junta não teria um programa das comemorações e se, em caso afirmativo, não faziam o obséquio de me facultar um exemplar. Tinham acabado de ser impressos. Devo ter sido uma das primeiras pessoas a receber um exemplar. Foi com todo o gosto e amabilidade que me presentearam com um exemplar.
Hoje, Domingo, voltei às Alcáçovas já de «pistola» em punho para vos facultar a vós, caros leitores, todas as imagens.
Digitalizei também todo o folheto que me foi facultado ajudando também a divulgar o evento. Bem que gostaria de divulgar o OUTRO evento também mas infelizmente...
 
Alcáçovas: Aqui quem não sabe fica sabendo
 

 
 À entrada da vila das Alcáçovas
 
 

 Fachada do edifício da Junta de Freguesia das Alcáçovas
 






Programa das Comemorações dos 500 Anos do Foral de Alcáçovas - Folheto impresso e distribuido pela Junta de Freguesia das Alcáçovas


Mas também o Torrão comemora os 500 Anos do seu Foral. Infelizmente a diferença não poderia ser maior. Não quero ser injusto pois ainda não terminou o tempo para fazer o que há a fazer e já decorreram iniciativas e mais estarão planeadas. Mas - e desgraçadamente há sempre um mas - a leitura que faço é que tanto na Câmara de Alcácer do Sal como na Junta do Torrão desconheciam ou esqueceram o facto (pessoalmente aposto na primeira hipótese) e posteriormente nunca houve e continua a não haver muita vontade política para comemorar condignamente a efméride e se essa foi agendada e organizada foi-o apenas pela força das circunstâncias - todas e mais algumas - embora a inércia ainda seja muita e haja notóriamente má vontade, isto a meu ver e não me devo de enganar muito pois já conheço o método e a inércia e por aqui me fico.
Até à data tem havido apenas iniciativas avulsas e um paliativo com a «prata da casa», e uns cartazes a anunciar actividades, mostras... tudo muito vago, tudo muito generalista, embora haja algumas datas e eventos planeados em concreto. Porém mais uma vez, não há divulgação nem para «consumo interno» nem para «consumo externo».

Pergunto:
Porque não seguir o exemplo das Alcáçovas?
Porque não aproveitar o outdoor que está à entrada do Torrão?
E o edifício da Junta do Torrão com uma torre e uma fachada daquele tamanho completamente nuas. Não deveria também ser colocada ali qualquer coisa bem visível? E tanto que se gasta em publicidade e agora...
Porque não há uma divulgação do evento nas redes sociais?
Porque não foram impressos e distribuidos pelas redondezas folhetos com a programação em detalhe? Porque não divulgar o evento nos jornais, rádio e televisão?

Por uma razão muito simples: Porque infelizmente - são os factos quem o demonstra - não há um programa definido, coerente, estruturado, planificado. Tão só. O que é pena pois se há lugar onde deveria de haver esmero, brio, orgulho, competência, organização e disponibilidade total deveria ser na freguesia do concelho de Alcácer do Sal por um lado porque não somos menos do que ninguém, por outro, porque os torranenses e a memória histórica do Torrão e daqueles que já morreram, daquelas gerações de torranenses, nossos antepassados merecem, merecem que os honremos e depois porque D. Manuel I, o Rei Venturoso - um dos maiores chefes de Estado portugueses e aquele que foi sem dúvida, o homem mais poderoso do seu tempo, epíteto que é dado actualmente ao Presidente dos EUA -  foi aclamado Rei de Portugal justamente em Alcácer do Sal.
No entanto, tal como afirmei, espero sinceramente estar enganado e não estar a ser injusto. O futuro o dirá. Por enquanto fiquemos com o modo de fazer de uns e de outros, atentemos nas diferenças e tiremos ilações.


Torrão: Aqui quem não sabe não fica sabendo... fica da mesma
 

À entrada da vila do Torrão


 Outdoor da Câmara de Alcácer à entrada do Torrão. Pena é estar sub-aproveitado e apenas um pouco desactualizado
 

 
Fachada do edifício da Junta de Freguesia do Torrão
 
Programa das Comemorações dos 500 Anos do Foral do Torrão

quinta-feira, setembro 27, 2012

A caminho dos 100.000

É este o impressionante número de visitas que tem um blog de província, desde que foi implementado um contador de visitas, isto é, 2009. Obrigado a todos. O número mágico está mesmo aí ao virar da esquina.

Esta geração de políticos está à rasca

Eles estão com medo. Pela primeira vez desde que me lembro é visível na cara dos políticos portugueses. Não só dos que momentaneamente ocupam o governo mas de toda a classe política, da esquerda à direita, sente-se o pânico absoluto em relação a tudo o que se está a passar. O rebuliço na sociedade civil está finalmente a fazer-se ouvir. As medidas que tomam, a forma como se dirigem às pessoas, os gestos comprometidos, o discurso a pinças, o medo de falar do passado que compromete todos e a forma estrategicamente elaborada como abordam o futuro são demonstrativos. Estão aterrorizados. Estão com medo.
A culpa, essa é exclusivamente deles. O medo que sentem hoje é proporcional à forma desabrida e irresponsável como ousaram conduzir este país durante décadas. A forma como assistem à derrocada do status quo que os alimentou, status quo que lhes permitiu terem a arrogância de viver acima das possibilidades e gerirem um país como se de uma tasca se tratasse, está a desnorteá-los. Quem sempre se alimentou deste género de expedientes está lívido. Está a gelar-lhes o sangue o pulsar cada vez mais forte de quem está farto de mentiras. A democracia é bela por isto mesmo. Porque no limite, mais perigoso do que um político amedrontado é toda uma nação acossada, um povo humilhado, oprimido e desesperado. E o povo manda. Sempre. Desta ou daquela forma. A votar ou na rua, a mudar o país.
Nota-se nas caras fechadas, nos seguranças nervosos e nos apupos constantes. Sejam qual for o partido político são sempre mal recebidos. A desconfiança é tal que o espectro político é hoje uma mancha sem cores verdadeiramente definidas. É cinzenta. Poucos ou nenhuns acreditam na política, nos políticos e nas suas intenções. A gestão partilhada deste pequeno território tem sido de tal forma irresponsável a nível político que os portugueses neste momento só querem vê-los calados, mudos ou a abrirem a boca para um pedido de desculpas mais do que justificado por tudo o que nos têm feito. E tem sido tanto, mas tanto. A era dos abusadores políticos está prestes a terminar.
Comeram a carne, agora roam-nos os ossos.


Tiago Mesquita in Expresso

O Pão do Torrão no Portugal em Directo - Informação



 Portugal em Directo visita as Padarias Reunidas do Torrão e mostra o típico e afamado pão do Torrão, um pão genuínamente alentejano.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Perguntar não ofende!

Face às imagens retratadas abaixo gostaríamos de perguntar, em primeiro lugar, aos senhores Presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vereador do Pelouro das Obras Públicas, Presidente da Junta de Freguesia do Torrão:
 
Se esta casa fosse o seu domicílio, gostaria que a rua em frente à sua porta e ao longo de toda a fachada, estivesse neste estado?
 
Melhor ainda, se esta fosse efectivamente a sua casa será que a rua em frente à sua porta e ao longo de toda a fachada ainda estaria neste estado?
 
 
Por fim, perguntamos a todos e a cada um dos nossos leitores, torranenses em particular, gente com família e filhos pequenos mais susceptíveis a sofrer quedas face à irregularidade do piso:
 
Se esta fosse a sua casa, caro leitor, gostaria que a rua em frente à sua casa estivesse neste estado?
 
Esta casa situa-se no Torrão, Rua General Humberto Delgado, no bairro dos castelos, e não é uma casa desabitada. Aqui mora uma familia, munícipes que têm tantos direitos como todos os outros nomeadamente o direito de terem a rua em frente à sua casa nas devidas condições, competência essa que é da exclusiva responsabilidade dos serviços autárquicos.
 
Se observarmos em pormenor, verificamos, e é isso que a última imagem mostra, que foi erguido recentemente pelo município, e bem, um muro de contenção de terras do terreno - justamente propriedade camarária - a montante. E no entanto infelizmente ninguém reparou para o outro lado da rua e completou o serviço na área asfaltando devidamente aquela porção da rua.
 
Vá lá meus senhores! São estes pequenos pormenores que fazem toda a diferença e são estes pequenos pormenores que arrasam a imagem das instituições e de quem é titular de um cargo público. Não procuremos bodes expiatórios, nos blogues, nos artigos de opinião, em suma, na opinião livre dos cidadãos e eleitores, para explicar as nossas falhas, os nossos erros, o nosso mau trabalho até porque assim o trabalho desenvolvido nunca poderá ser considerado um trabalho sério.
Os moradores desta zona da vila, que também é Torrão, queixam-se amiúde de abondono por parte daqueles que se dizem ao serviço de todos; queixam-se sobretudo da falta de arranjo e limpeza das ruas, da retirada dos ecopontos do largo do depósito, da não eliminação das ervas daninhas, entre muitas outras queixas. E tenhamos sempre em mente que são os pequenos pormenores, estes e outros pequenos pormenores, que fazem toda a diferença.
 






domingo, setembro 23, 2012

Catastroika - A anatomia da crise

Retire-se toda a tralha comunista, aliás a alternativa proposta ainda que implicitamente, não é nova; é coisa do passado. Ao invés, atente-se nos aspectos factuais do filme.
Leia-se a entrevista de John Perkins, que se chama a si próprio de assassino económico, como complemento e depressa nos colocaremos questões do género:
Serão estas medidas uma cartilha implementada em todos os países visados?
Viveremos ainda numa real democracia ou estará esta enferma e será uma farsa?
Estarão as eleições, tal como referido no filme, reduzidas apenas a um mero concurso de popularidade estando as políticas já formatadas e definidas de antemão independentemente de quem vier a constituir governo?
Viveremos ainda em democracia ou esta será apenas já de fachada, sendo o âmago do regime uma ditadura mas uma ditadura inteligente, que aparenta garantir os direitos e liberdades dos cidadãos e não uma ditadura formal com repressão, suspensão das liberdades, polícia política, preseguições?
Estarão os países a ser invadidos, não da forma clássica pela «manu militari», mas pela via económica?
A forma cássica de ditadura, nomeadamente existente no século XX, tinha origem num golpe ou pronunciamento militar. O governo que daí emergia era formado por militares, oficiais generais e oficiais superiores e designava-se Junta Militar. O líder da Junta Militar, o ditador, era o oficial general mais graduado e na maioria das vezes mais velho. Isto leva inevitávelmente à pergunta:
Estaremos a assistir a uma nova forma de ditadura? Não uma ditadura militar mas uma ditadura tecnocrática que ao invés de ser regida por uma Junta Militar, composta por militares, é regida por uma Junta Tecnocrática, composta por banqueiros, executivos de grandes multinacionais estrangeiras, gestores, economistas, etc.

Pertguntas inquietantes as que nos mostra este documentário grego.



O porquê de todas as coisas

Tenho  constatado relativamente à manifestação do passado dia 15 e relativamente a esta última, frente ao Palácio de Belém, que muita gente não compreende o porquê da situação, que é uma fatalidade a austeridade e que não adiante protestar pois é o capital injectado que permite que Portugal não vá cair na bancarrota, que defende a tese de que estas são manifestações da gente do sistema, do funcionalismo público, dos que querem continuar - perdoe-me a expressão caro leitor - a mamar, dos apaniguados, dos «barrigudos», etc. Defendem ainda que uma grande camada da população estava mal habituada e que chora porque está a ver ir pelo ralo as férias exóticas, as Play Station dos meninos, os montes alentejanos, os jipes, etc.;  que, enfim, Portugal endividou-se e que tem que honrar os compromissos. Claro está que alguns dos que defendem tais posições e que certamente não foram a estas ou não irão a futuras manifestações por óbvias razões:

São os meninos, os ignorantes que cairam na política de paraquedas para se servirem e não para servirem, são a familia, os Amigos. Faltam aí muitos ainda. Faltam os que estão espalhados por aí encafuados na província, nas Juntas, nas Câmaras, nas escolas, nas instituições privadas, os que se encaixaram com jogadinhas e não com mérito e que por lá andam pelas suas capelinhas uma vida inteira a fazerem o que querem e a gozarem com os outros apesar de já terem há muito provado a sua infinita estupidez, incompetência e vulgaridade e que se tivessem vergonha na cara já há muito que se tinham ido embora mas que continuam a fazer nada ou a fazer porcaria e a servirem-se dos transportes, dos bens e das influencias e posições.

Mas em parte dou-lhes razão! A manifestação é desses que outros tais afirmam, sublinho, também é deles. Mas é também daqueles que não têm loja, nem templo, nem partido - e se calhar por isso é que também não têm emprego – e que trabalham 12, 13, 14 e mais horas por dia, uma vida inteira para ganharem para a casa, para os filhos e… para uma corja de parasitas e que portanto não passam da cepa torta tal como o hospedeiro que não medra por estar minado de parasitas; é dos desempregados; é dos reformados, dos que trabalharam uma vida inteira muitos deles de sol-a-sol; é daqueles que constatam que os combustíveis, o gás a electricidade são dos mais caros da Europa senão do mundo – aliás os aumentos dos combustíveis são uma pouca vergonha que raia a infâmia. Por dá cá aquela palha sobem e para enganar os otários por vezes descem um cêntimo ou dois para passadas duas semanas subir três ou quatro; é daqueles que constatam que para pagar Portugal é campeão, é onde se paga mais mas para receber é o país onde menos se recebe. Ressalvo no entanto a curiosidade de, desde o dia 15 de Setembro, dia da mega-manifestação, já terem sido anunciadas duas descidas no preço dos combustíveis. - a última depois da manifestação frente ao Palácio de Belém na passada Sexta-feira. Curioso, não?
 



 
 
 Sabe caro leitor, eu considero que as pessoas tolerariam a austeridade se vissem que o Estado também era tão austero quanto aquela austeridade que quer impôr. Mas não é! Os portugueses estão, tal como a caricatura de bordalo Pinheiro, na pele de uma mula carregada por todos os outros que se montam em cima dela. Que exemplo dá o Estado quando tem quase cem mil viaturas topo de gama ao serviço até de obscuros assessores? – veja o que diz o Correio da Manhã.
 
 
E o que me diz, caro leitor, dos gestores milionários pagos a peso de ouro, com telemóvel e combustível com plafond ilimitado e «carrinho» às ordens? Como acha que o povo reage quando é notícia que um sem-abrigo que rouba um chocolate, de uma poderosa cadeia desupermercados, para se alimentar, vá a julgamento, o Estado gaste um valor maisde 100 vezes superior ao valor do bem subtraído, o réu seja condenado a pagaruma multa incomportável para o seu bolso e os «galifões do BPN e outros mais que surriparam milhões num esquema que faz da burla de Alves Reis, um simples roubo de rebuçados, que escondem o dinheiros nas off-shores passam incólmes e que para cúmulo é o Estado, diga-se contribuinte que tem que tapar buracos de milhares de milhões? 


 
 
A típica justiça para os «pilha-galinhas», expressão usada na Idade Média, é o que se constata ainda por cá. Que credibilidade merece uma justiça assim? Sem justiça não pode haver liberdade.
 
 
E da actuação da GNR e PSP, instruídas para a caça à multa - quando o Ministro Gaspar com todo o despudor vem dizer que o Estado prevê arrecadar 90 milhões de euros em multas – recorrendo ao mais baixo que pode haver, emboscando-se pelas estradas do país fora como vulgares salteadores de estrada, que pela dimensão e capacidade de actuação e poder fazem dos bandos do Zé do Telhado e do Diogo Alves uma brincadeira de crianças? E o «bom exemplo» que dão, inclusive ministros - a prepotência, o agir impunemente, a atitude pedagógica? Como é que os portugueses vão respeitar tais «autoridades» e  um tal Estado?
Carro da Brigada de Trânsito, em Évora, «bem estacionada» mesmo ao lado do tribunal
 
 
 
E quanto às listas de «especialistas» que têm vindo a público nas redes sociais de meninos e meninas na casa dos vinte, acabados de sair das Universidades, como já referido acima, que «têm a sorte» de ir parar aos gabinetes governamentais receberem somas avultadas da ordem dos milhares de euros por mês com subsídios e tudo, ferindo o principio da igualdade, enquanto os seus colegas, e que se calhar saíram com uma média superior a eles e que vão para o desemprego porque não têm aquele factorzinho que nós sabemos e que tem como expoente máximo Passos Coelho, que assim que terminou o seu curso de gestão foi nomeado para… o conselho de administração de uma empresa? Sorte? Génio? Hummm…Ou os embusteiros académicos como Relvas….  e outros esquemas do género? Tudo gente que, a maior parte não sabe articular dois pensamentos, não sabem escrever, nem fazer contas, nem sabem a tabuada?
 
 
 
Eu próprio constatei ao vivo e constata-se basta estar atento. Estudantes que são especialistas sim mas é a apanharem valentes bebedeiras, aliás a queima é um dos pretextos para tal desiderato. Eu tive colegas, do curso de matemática, que tinham disciplinas em conjunto comigo, que era de física, que quando o professor fez no quadro uma conta de dividir daquelas da primária para explicar a divisão de polinómios ficaram a olhar para aquilo como boi para palácio. Muitos há que não leem a não ser revistecas manhosas e que têm nos big brothers e casas dos segredos os seus programas favoritos… é esta a sua cultura!  São estes os futuros Dr. e afins, os especialistas;  atrevidos e aventureiros. Tão atrevidos que gozam ainda por cima com um povo inteiro com os otários porque espertos são eles porque treparam e foram bem sucedidos. Por isso eu digo que isto já não vai com manifestações-folclore que eles assistem das janelas a rir a bandeiras desbragadas como atrevidos e velhacos e gozões que são. Fosse esta manifestação do dia 15 um fiasco e o que seria o gozo. Assim todos ficaram com medo, cobardes como são. A polícia, tenho  a plena convicção,  tinha (e tem) instruções emanadas do mais alto nível, do próprio Ministério da Administração Interna para ficar muda e queda, o PSD e o Primeiro-Minsitro silenciados, o CDS, dúbio e tentando passar incólume por entre as gotas de chuva, dá uma no cravo e outra na ferradura.
Eu tenho 36 anos, sou licenciado e estou a tirar um mestrado e não sou especialista nem nada que se pareça e nem me considero assim. Eu só não trabalho nem uma hora sequer porque estou desempregado, excepto para o mestrado e para outras actividades onde trabalho tanto fisica como intelectualmente mais que certa gente que se arrasta por aí uma vida inteira e que eu tenho denunciado e continuarei a denunciar. Eu constato que gente que andou comigo à escola na primária, no ciclo preparatório, etc, e sei bem o que valem (dizendo melhor, o que não valem) e onde estão encaixados. Porque será?

A realidade é essa pelo país fora. Eu concordo que a função pública em particular é um caso de parasitismo, de gente que  na maior parte dos casos só consegue entrar com esquemas e jogadinhas, constituída ao nível das Câmaras e Juntas por enxames, redes e teias de familiares e amigos uns dos outros, que pouco ou nada fazem, que é imensa, que têm imensas regalias mas também sei que ainda assim também há muitos e bons servidores da «res publica». Gente competente, prestável e disposta a ajudar os colegas e os utentes ou clientes de determinados serviços. Infelizmente também há a escória que apenas se move numa lógica de prejudicar os colegas e gozar ou maltratar os utentes dos serviços, os quais tratam como animais e consideram como cães já para não falar de outros abusos como os pequenos-almoços de horas e a desconsideração e insultos aos cidadãos da parte daqueles que trabalham nas ruas.  
 Está mais do que na hora de dizer, aos trastes que há anos se espalham por aí como uma praga, que o seu tempo de validade acabou, que já estão mortos e que ainda não se aperceberam e que não podem perpétuamente roubar o lugar que é por direito próprio dos mais jovens, dos mais capazes, daqueles que, ao contrário do que alguns dizem por aí, são gente bem formada e que também são bons técnicos, não são analfabetos e têm infinitamente mais competências e habilitações. A esses sim, deixem-nos trabalhar, são esses que trabalham - ao contrário do que alguns senhores dizem - e que trabalham sim seriamente.
O primeiro aviso foi dado a 11 de Março de 2011. Novos e mais vigorosos avisos foram dados no passado dia 15 e dia 21 de Setembro e mais se seguirão.
 
 
Povo de brandos costumes? Então fiem-se na virgem e não corram... Por enquanto já são «oferecidos» timidamente tomates e ovos mas quem sabe se o povo, agradecido e encorajado por pedagógicos exemplos vindos de outras paragens, não perde a timidez e começa a mimar tão excelsas criaturas com alguns presentes e outras guloseimas. De facto, face a tudo o que foi aqui exposto, convenhamos que merecem.
 
 

sábado, setembro 22, 2012

A receita é sempre a mesma...

... tão antiga e no entanto tão moderna. Só variam os actores conjunturais mas o método, a forma, os objectivos são sempre iguais.
Esqueça a data: 1870. Leia o texto e descubra as diferenças, caro leitor.
Terrivelmente actual. Tão actual que até arrepia.


sexta-feira, setembro 21, 2012

Declaração de interesse

Só para deixar claro que a mudança de imagem e de layout do Pedra no Chinelo foi efectuada por volta das 20 horas do dia 20 de Setembro.

quinta-feira, setembro 20, 2012

Eu não sou Monárquico!

Na babilónia de ideias e de conceitos do actual debate “República versus Monarquia”, eu quero afirmar aqui, sem qualquer subterfúgio, que não sou Monárquico!

A Monarquia terminou em 1820 e não a quero de volta. E não quero também de volta a Monarquia que lhe sucedeu, a chamada “Monarquia Constitucional”, derrubada em 1910. Vivo bem, e creio que os meus concidadãos também vivem bem, sem a verídica Monarquia do século XVIII e sem a Monarquia com alcunha do século XIX.

Sou pela República! Sou republicano! Sou aliás visceral e radicalmente republicano!

A República ( Res publica ou Coisa pública) tem, entre nós, uma longa e nobre tradição, bem viva antes do século XVIII. É com essa Tradição que me identifico.

Eis o que nos diz Duarte Nunes de Leão na “Crónica del-Rei D. Fernando”: “em cortes que para isso ajuntou fez algumas leis muito úteis à república, e naqueles tempos muito necessárias.”

Na orientação que traçou para o seu reinado, escreveu o rei D. Sebastião numa das suas “Máximas”: “Gavar os homens, e cavaleiros que tiverem bons procedimentos, diante de gente, e os que tiverem préstimo para a República e mostrar aborrecimento às coisas a ela prejudiciais”.

Depois da Restauração de 1640, exarou o Doutor Vaz de Gouveia na “Justa Aclamação”: “o poder dos reis está originariamente nos povos e nas repúblicas, que delas o recebem por forma imediata.”

Não julgo ser necessário alongar aqui as citações comprovativas da República portuguesa ao longo dos séculos, mas cumpre lembrar que foi quando as Cortes deixaram de reunir, no século XVIII, que começou a haver cada vez mais Monarquia em Portugal.

Depois, a temática política do século XIX tratou de inventar o antagonismo, colocando, de um lado, os chamados “monárquicos” e, do outro, os chamados “republicanos”. Os primeiros diziam defender o Rei, os segundos defender a Res publica. Estava instalado um pernicioso divórcio. Em abono da verdade, os republicanos tinham motivo para classificar os seus adversários como monárquicos. Não eram outra coisa ou, melhor, eram apenas isso. Pouco lhes importava o bem da Res publica, da Coisa pública. Quando o republicanismo se tornou consciente e organizado, os seus adversários, se bem que adoptando a alcunha de constitucional, aceitaram de bom grado a qualificação de monárquicos. Diziam defender o Rei e era, com efeito, à sombra do poder do monarca, à sombra do suposto “poder de um só”, que eles usufruíam das benesses do poder do Estado. E foi só quando o Rei D. Carlos se opôs à rapina que a coisa deu para o torto. Por isso o mataram e, depois de derrubada a Instituição Real, só às atenções mais distraídas causou escândalo a adesivagem em massa que os ditos monárquicos fizeram à novel “República”. Tinha sido feita uma mudança de tabuleta na mesma droga e não foi difícil abrigarem-se nela. Estamos nisto vai para mais de um século.

Hoje, o que me separa de um “soi-disant” republicano, mas de um republicano que queira mesmo o bem da República, é fundamentalmente isto: ele quer para a República um presidente eleito; eu quero que a República remate pela chefatura dinástica de um Rei. Ele defende a Presidência da República; eu defendo a Instituição Real na chefia do Estado.

Eu não sou Monárquico; sou Realista!

José Manuel Quintas in Lusitana Antiga Liberdade

quarta-feira, setembro 19, 2012

Ano lectivo com mau arranque no Torrão


Aos solavancos. É assim que podemos descrever o arranque do novo ano lectivo. Na verdade, o ano lectivo no Torrão não começou da melhor maneira pois segundo as nossas fontes, os alunos do 5º e 6º anos ainda não têm docente da disciplina de Educação Musical e, mais grave ainda, os alunos do 7º, 8º e 9º anos não têm docente de Matemática e não há uma data concreta para a normalização da situação.

Esta última situação é particularmente grave na medida em que a matemática é uma disciplina fundamental e mais grave se torna ainda relativamente aos alunos do 9º ano pois estes irão ter exame no fim do ano e irão entrar no próximo ano num novo e decisivo nível de estudos pelo que a boa preparação faz toda a diferença.

Sendo a matemática uma disciplina tão cara, e bem, ao ministro Crato e sendo ele um grande apologista do rigor e da exigência e tendo em conta o elevado número de professores não colocados, estranha-se estas deficiências. Urge rectificar estas situações o mais breve possível para bem dos alunos.

terça-feira, setembro 18, 2012

A Falácia

Autoria: Fernando Venâncio

Tudo começou em 1967, em Coimbra. Sopravam no Mundo ventos de mudança, e esses eram fortes, mesmo em países sob ditadura, como o Brasil, que a tinha fresca, e Portugal, que a tinha eterna. As plácidas margens do Mondego assistiam, nesse ano, a uma não menos idílica confraternização de portugueses e brasileiros. A universidade coimbrã tomara a iniciativa de um Primeiro Simpósio sobre a Língua Portuguesa Contemporânea, que haveria de ficar também único, mas ninguém o sabia então. Reunia ele a fina flor da linguística e da cultura no nosso idioma: os brasileiros Antenor Nascentes, Mattoso Câmara, Sílvio Elia, Gladstone Chaves de Melo e os portugueses Jacinto do Prado Coelho, Vitorino Nemésio, Maria de Lourdes Belchior, Luís Lindley Cintra e Herculano de Carvalho. Só faltavam realmente Celso Cunha, ausente por motivos desconhecidos, e Manuel Rodrigues Lapa, impedido de pôr pé na universidade pelos subservientes ao regime.
Numa resolução firmada por nomes sonantes, o Simpósio propôs uma «unificação da ortografia portuguesa». Considerava-se urgente «um verdadeiro e eficaz acordo» na matéria, sacrificando «preconceitos e hábitos há muito adquiridos».
Defendia-se uma grafia «simplificada», não menos «científica» que «a dita etimológica». Isto soava a revolucionário, e era-o. Atacava-se o «problema» das consoantes não articuladas (factura, recepção) por simples eliminação delas, resolviam-se as acentuações divergentes (fenómeno,fenômeno) com a geral supressão de acentos nas esdrúxulas, e encorajava-se uma futura, suplementar «simplificação» desse sistema ortográfico já «unificado».

As Actas do Simpósio surgiram no ano seguinte, 1968, e continham estas destemidas sugestões. Mas a ditadura brasileira entrara em fase raivosa, enquanto a portuguesa iniciava um descongelamento. Não era altura de atentar-se em consoantes e acentos. A semente ficara, porém, lançada, e bastava aguardarem-se tempos propícios.
Eles surgiram em Julho de 1975, quando a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) e a Academia Brasileira de Letras (ABL) abraçaram o programa traçado em Coimbra. Na proposta conjunta, desapareciam as consoantes não articuladas e confirmava-se a eliminação de acentos em esdrúxulas, só com o cosmético recuo de mantê-los quando idênticos em Portugal e no Brasil (ânimo,fêmea). Era uma regra, esta, que obrigaria brasileiros e portugueses a conhecerem, ao pormenor, a pronúncia uns dos outros. Simplesmente, no agitado Verão político português de 75, uma reforma ortográfica era a menor das prioridades, e o assunto morreu ali.
Anos transcorreram. Num congresso linguístico brasileiro, em 1981, fez-se o premente voto de uma «ortografia simplificada» que uniformizasse a representação gráfica de cada som. Ante tal radicalismo, o linguista Antônio Houaiss lembrou a vantagem de contactar os demais utentes do idioma. Pela mesma altura, em entrevista ao Expresso, Lindley Cintra afirmava deverem os portugueses «habituar-se» a escrever ativo, adotar, objeto, correção. Tempos depois, falando ao semanário O Jornal, o excelente filólogo confidenciava ser intenção das Academias o retomar das negociações que a revolução portuguesa intempestivamente estorvara.
À primeira vista, dir-se-ia lógico, e desejável, suprimir na escrita letras que não soam. O cenário que Cintra descrevia figurava-se sedutor, paradisíaco. Mas nem tudo são rosas. Alertado por estas movimentações na frente ortográfica, o autor destas linhas publicou no Jornal de Letras, em Setembro de 1984, um artigo sobre estes temas. Era um texto longo e convenientemente discreto, intitulado «Ortograficamente adeus». Enunciava as vantagens e os limites de uma «ortografia simplificada» do português, propondo o cavalheiresco assumir das divergências que se revelassem fatais. A «simplificação» exigiria exame ponderado, e a «unificação» não era opção indiscutível. A eliminação das «consoantes mudas» (de que se fazia uma exposição circunstanciada) era matéria não negociável. Apelava-se a que nenhuma decisão fosse «produto de conclaves», descrevia-se um programa de debate aberto e bem conduzido, e propunham-se «testes exaustivos» às propostas, assim como um plano de «exequibilidade pedagógica». Tão sensatas razões iriam ficar desatendidas.
Os deuses iam em adiantado enlouquecimento, como logo em 1986 se provaria.
Pergunta-se: o que pode levar indivíduos de reconhecida qualidade científica a propor, e tornar a propor, medidas que um exame crítico, mais ou menos aturado, demonstra serem descabeladas, irresponsáveis, quando não idiotas? A resposta poderá espantar, mas tem de ser dita: tudo nasce desse embalador e entorpecente aconchego chamado «Lusofonia».
Envoltos nessa doce quentura, mesmo os mais perspicazes espíritos perdem o tino. Em nome de uma fraternidade» que só existe nos seus delírios, exercem um poder duradouro que ninguém controla, nem eles próprios.
A persistência em propostas como as geradas naquele encontro coimbrão só se entende postulando uma obnubilação mental colectiva, um clima muito espontâneo e inofensivo, que se gera (que «rola») em congressos, festivais, jantares e serões «lusófonos», mas é desastroso na hora das decisões que condicionam décadas, ou séculos, e que exigiriam a cabeça fria dos sábios académicos e o concurso de outra gente competente. Só que o aconchego lusófono se alimenta de forças primárias, fetichistas, para lá de toda a racionalidade, em pleno obscurantismo.
Exemplo recente é a euforia com o exotismo «presidenta», como se adoptá-lo operasse um amplexo transatlântico a dona Dilma.
Eduardo Lourenço disse-o, há muito, com outra diplomacia: «A comunidade luso-brasileira é um mito inventado apenas pelos portugueses. Nunca formaremos um conjunto.» E mais: «Para o nosso presente mútuo seria urgente rever, de uma ponta à outra, toda essa história imaginária, hipócrita e nefasta nos efeitos produzidos, que se esconde sob a etiqueta de relações culturais entre Portugal e o Brasil.»
Isto foi escrito em 1989, em «Imagem e miragem da Lusofonia». Mas não ajudou.
A nossa Academia funciona já cronicamente em «modo» lusófono. Os políticos não quiseram ficar atrás, e foram assinando de cruz tudo quanto prometesse mais «lusofonia».
O ano de 1986 foi inesquecível. Em Maio, as Academias portuguesa e brasileira tornaram público um Acordo de «Ortografia simplificada», gizado no Rio de Janeiro.
Era o regresso das propostas coimbrãs em todo o seu esplendor. Seriam abolidos os acentos gráficos em todas as palavras esdrúxulas (fabrica, palacio) e num bom número de graves (facil, album). Permitia-se, sim, a resolução de «ambiguidades contextuais», abrindo largas portas à criatividade individual.
Suprimia-se quase totalmente o hífen, gerando curiosas grafias (bemestar, malingua). Neste ponto havia insistido o negociador português João Malaca Casteleiro, da Universidade de Lisboa, com grande pesar do colega Lindley Cintra. Sem grande novidade, eliminavam-se as consoantes não articuladas (cf, ct, pç, pt., etc.), mas agora facultativas quando articuladas «numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente», o que, na prática, deixava a inteira decisão ao escrevente. No texto, tudo isto vinha formulado em bizantinos volteios.
Em confidência a Francisco Belard, jornalista do Expresso, dizia Antônio Houaiss, secretário-geral do convénio, que o «excesso de acentos agudos» acabara. «Tira-se o acento e cada um fala como sempre falou, sem problemas culturais.» Custa associar tamanha leviandade a um dos maiores e mais influentes filólogos brasileiros do seu século. Na realidade, Houaiss estava ali a fazer um frete. Sabemos hoje que as propostas mais subvertoras haviam sido levadas ao Rio pelos negociadores portugueses.
Sabemos também que, um mês após assinatura do Acordo, Cintra se distanciaria delas. «Lamento profundamente», declarava, «não termos apresentado publicamente o que se ia fazer». Agora era tarde, e restava ao bom Houaiss proteger os desvairados companheiros de aventura.
Se ratificadas, as propostas viriam, no dizer de José António Saraiva, director do citado semanário, criar «quase uma nova língua». Nova? Melhor se diria «extraterrestre». Tive oportunidade de ilustrá-lo num artigo no JL, onde incluía esta pilhéria: «A secretaria está hoje doente, disse o chefe da secretaria. Eu ultimo a agenda, e você… secretaria? Seria uma solução. Seria e pratica. Pois, você quanto mais pratica melhor. Pratica e eficiente, ajuntou, pousando a pasta aos pés da secretaria. Incomodo? Nenhum, disse ela. Duvidas? Muitas, disse ele, e continuas. Ainda assim publicas… Sim, sem estimulo publico. E, claro, estimulo o publico. Mas sobre isto silencio.»
Hoje, passado um quarto de século, é-nos quase comovente a ingenuidade daqueles académicos portugueses e brasileiros, nitidamente convictos de que uma cidadania adulta iria submeter-se a semelhante barafunda. Na altura, porém, um enternecimento seria a pulsão menos esperável nos muitos portugueses atentos e críticos.
O linguista Ivo Castro foi o autor (com Inês Duarte e Isabel Leiria) desse pequeno monumento ao nosso idioma que se chamou A Demanda da Ortografia Portuguesa (João Sá da Costa, 1987). O professor declarava não procurar a polémica, sobretudo «não estando ainda fechadas as apostas», mas percebia-se-lhe uma descrença no êxito da sua intervenção. Estava, sim, ultrapassada uma adesão inicial ao Acordo. «A nova Ortografia não passa de um conjunto de hábitos a adquirir e a mecanizar», dissera à imprensa, pedindo uma célere ratificação. Passado um ano, no livro, vincava que os negociadores do Acordo haviam evitado qualquer consulta aos colegas linguistas portugueses, entretanto quase unânimes na rejeição do mesmo. Insistia em pontos irrecusáveis: a previsível influência da nova escrita sobre a pronúncia, o enganoso de uma «simplificação» que vinha exigir especiosas operações mentais, a patente falta de coerência do próprio texto acordado. A obra de Ivo Castro informava, ainda, abundantemente sobre os longos meses do debate, informação que uma antologia, A Questão do «Acordo Ortográfico» (Maia, 1988), viria complementar.
Pela calada, as propostas académicas foram retiradas para «reformulação». Não sem um empurrãozinho político. No Verão de 1986, os chefes da diplomacia brasileiro e português tinham declarado: «As duas partes entendem que o acordo recente a que os técnicos chegaram não é definitivo.» No primeiro dia do ano seguinte, Carlos Reis, catedrático em Coimbra, escrevia no Diário de Notícias: «Mau, mesmo mau, em 87, seria que o Acordo fosse ratificado às escondidas, sem se aproveitar o capital de empenhamento e reflexão que a sua discussão provocou.»
Pouco depois, em inícios de 1988, a Academia tinha pronto um «Anteprojecto de Ortografia Unificada» mais um. Sobre ele se debruçou a Comissão Nacional da Língua Portuguesa (CNALP), criada na dependência directa do primeiro-ministro Cavaco Silva, visando a auscultação, em matéria de idioma, de linguistas, professores e instituições. Num parecer de Junho de 1989, a Comissão congratulava-se por as novas propostas serem menos «controversas, inadequadas e incorrectas» que as anteriores, mas tinha de apontar-lhes «numerosas insuficiências» linguísticas e técnicas. O parecer desaconselhava, entre mais, a eliminação das «consoantes mudas» (adoptar, efectivo) pelo seu previsível efeito: o fechamento (os linguistas chamam-lhe «elevação», «recuo» ou «redução») da vogal anterior.
Teriam os nossos académicos aprendido, finalmente, com tantas saídas em falso? Tudo iria mostrar que não.
Em meados de Outubro de 1990, desta vez em Lisboa, reuniram-se delegações dos países de fala portuguesa. Um novo Acordo ia ser elaborado. Do Brasil chegou Antônio Houaiss, novamente sozinho. Pelo nosso país tomavam parte Malaca Casteleiro, autor do «Projecto de Ortografia Unificada» ali sobre a mesa, o infatigável Lindley Cintra e mais cinco membros da agremiação lisboeta.
Ao contrário do Encontro no Rio, acessível à imprensa, este era secreto. As suas resoluções ficariam em sigilo até 1 de Novembro, permitindo que fossem os Governos os primeiros informados. Em duas sessões diárias, no vetusto edificio da Academia das Ciências, foram sendo analisadas e aprovadas’ as «Bases» do Acordo. Logo no primeiro dia de trabalhos, 9 de Outubro, ficava estabelecida a eliminação das consoantes não articuladas. A duração prevista dos debates foi respeitada, tudo correu sobre rodas. «A unanimidade e o consenso foi [sic] a tónica das sessões», anotava um participante, num emocionado «diário». Ao terceiro dia, na sessão da tarde, era definitivamente aprovado o Acordo. Tomava-se, ainda, um «compromisso» (termo do nosso diarista): produzir e publicar um «Vocabulário Ortográfico Comum» até 1 de Janeiro de 1992. As novidades passariam a vigorar dois anos mais tarde.
Ali tínhamos, pois, naquele Outono de 1990, um novo conclave, a resguardo de olhares estranhos, ultimando um produto para ávidos e submissos utentes. O grande lexicógrafo Houaiss havia sublinhado, na primeira sessão de trabalhos, a conveniência de se terem em conta os «contributos, críticas e sugestões» publicamente expressos. Esta anotação do diarista é preciosa. Ela demonstra que o «Projecto» ali apreciado não resultara de qualquer «aprofundado debate» nos países signatários, como depois se lerá no texto do Acordo. Nem podia, de resto, resultar, já que, em Portugal, tal debate jamais se deu. O Acordo conteve, pois, desde o início, uma falácia factual, tornada depois «mentira de Estado», como acertadamente escreveu António Emiliano, professor da Universidade Nova de Lisboa.
Não seria esta a única deselegância. Quando, mais tarde, for redigida por João Malaca Casteleiro uma «Nota Explicativa», saída em Agosto de 1991 no Diário da República, há-de ler-se que o Acordo de 1986 «ficou inviabilizado pela reacção polémica contra ele movida sobretudo em Portugal». É uma formulação de mau perder. Mas há mais. A propósito da «abolição dos acentos gráficos», lemos que «foi contestada por uma larga parte da opinião pública portuguesa, sobretudo por tal medida ir contra a tradição ortográfica». Era o menos ponderoso dos motivos da contestação.
Mas assim se geram as mitologias. Não, a Academia teve sempre razão, a medida era óptima (perdão, «otima»), e seria hoje de uso comum, não fossem os portugueses tão botas-de-elástico. O desportivismo, está visto, não é o forte dos académicos.
O Acordo de 1990 lucrou com alguma benévola desatenção dos críticos. Depois do desconchavo de 1986, qualquer texto mais ponderado era um alívio. O produto continuava decerto mauzinho, mas sentia-se que aquele levantamento colectivo debelara uma catástrofe. O pior tinha passado.
Adormentada grandemente a contestação (só o jurista Vasco Graça Moura, desde sempre mordaz analista do empreendimento, apostrofou como “pateta» a nova versão das antigas “calamidades»), a iniciativa passou para os impacientes da nova ortografia. Em 1995, aparecia o primeiro estudo em abono das mudanças, «Novo Acordo Ortográfico, Afinal o Que Vai Mudar?» (Texto Editores), obra de José Victor Adragão. O conhecido linguista (e excelente divulgador) declarava não ver «grandes objecções a que periodicamente se ajuste, simplifique e actualize a escrita das palavras». Confessava, sim, que as «explicações» (aspas no original) dadas na «Nota Explicativa» do Acordo deixavam mais dúvidas do que certezas. Só não informava quais. No Expresso, em Março de 1996, a pretexto deste livro, apontei as perplexidades técnicas que o Acordo suscitava.
Mas também eu estava atingido pelo sedativo. «Este Acordo, insípido, defensivo e tecnocrata constitui mesmo assim um mal menor, um passo a tremelicar de hesitações, mas na direcção certa.» Mais tarde, iria descobrir um «lado bom» ao Acordo. Mas não adiantemos.
As novas disposições ortográficas, não extasiando ninguém como produto linguístico, entusiasmavam os convencidos de que uma «unificação» da grafia do português garantiria algum protagonismo planetário. Em versão mais modesta, cria-se que a nova grafia ia trazer uma «aproximação» dos «povos irmãos» utentes do nosso idioma. Era a hora e a vez dos estratégicos e dos líricos.
O mais persistente paladino do Acordo como instrumento de «estratégia linguística» foi, até hoje, Carlos Reis. Interessa-lhe, escrevia em 2008 no JL, a «coesão» da presença no Mundo dos países de fala portuguesa, constatando que «o futuro da Língua Portuguesa depende hoje do Brasil, mais do que de Portugal», e apontando como fito «contrariar o poder hegemónico de duas ou três línguas» no concerto internacional. Já os líricos são mais primários. No último mês de Julho, no Público, Jorge Miranda lançava a pergunta: “Por que razão havia de ser o português europeu a determinar a língua escrita em confronto com o português do Brasil?» O grande constitucionalista diz-se convicto de que “a verdadeira defesa do português não pode consistir no conservadorismo ortográfico». Essa oratória não passa de um reconfortante assobiar para o lado.
Os prazos ambicionados em 1990 acabaram, sabemos, impiedosamente subvertidos. O Brasil, o primeiro país a adoptar o Acordo, fê-lo em 2009, com publicação simultânea, e unilateral, de um “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa». Em Portugal, foram tomadas em 2008 as disposições legais para a entrada em vigor. No ano seguinte, a Porto Editora pôs no mercado um «Vocabulário» homónimo do brasílico, elaborado por Malaca Casteleiro. Mas só este ano, 2011, o país dispôs de uma ortografia oficial, a do «Vocabulário Ortográfico do Português», elaborado no Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) por uma equipa chefiada por Margarita Correia. A Academia das Ciências informava, entretanto, ter iniciado a produção de um terceiro “Vocabulário», de que nada seguro transpirou. Certo é isto: que, em Portugal, a aplicação do Acordo só será obrigatótia em 2015. Precavidos, porventura sábios, Moçambique e Angola não deram ainda qualquer passo.
Hoje que dispomos de «Vocabulários» oficiais, brasileiro e português, muita coisa se esclareceu. E, antes de mais, que esses vocabulários nunca haveriam podido ser um único, o chamado «Comum», que só existiu no reino da falácia. Fomos então enganados? Claro que fomos. Só nos resta, pois, desenganarmo-nos. De caminho, concedamos que o engano também bateu à porta dos azarados académicos. Ainda em 2007 Malaca Casteleiro clamava pelo «vocabulário comum», um «instrumento necessário à implementação» do Acordo, que, insistia, continuava «válido e aplicável».
Muito em breve o Estado português iria subsidiar um vocabulário «português» da sua lavra, um passo lógico, inteligente, mas que era a total e pública desautorização de tudo quanto Casteleiro representara até aí, e até afirmara, como o ser «reduzido», em Portugal, o número de vocábulos afectados pelo Acordo, afirmação oportunista em que também insistia Evanildo Bechara, o académico que sucedera a Houaiss no comando brasileiro. De resto, a necessidade de tal «Vocabulário» era tão óbvia que, em Maio de 2008, em vésperas da votação parlamentar, o linguista João Andrade Peres, da Universidade de Lisboa, em artigo no Público, lançava um último e esperançado apelo. Nada conseguiu. O sonho «lusófono» dos políticos portugueses voava já em piloto automático.
A sério: teria sido perfeitamente viável uma lista internacional, em papel ou formato digital, das centenas de milhares de vocábulos do nosso idioma, com as suas eventuais variantes sonoras, e portanto ortográficas, válidas no espaço da língua portuguesa, até com indicação da sua aplicabilidade «geográfica». Essa lista mostraria, a quem ainda duvidasse, o falhanço de anos e anos de encenação académica «unificadora», mas mereceria um prémio de coerência. Mais ainda: uma lista assim existe de facto, e continua acessível, hoje, 18 de Agosto de 2011. Chama-se «Vocabulário de Mudança» e está, de há anos, no Portal da Língua Portuguesa, da responsabilidade do ILTEC, o mesmo que aloja o nosso «Vocabulário» oficial. Nessa lista, as formas próprias brasileiras são dadas como «não aconselháveis», mas obviamente legítimas, em Portugal. Consulte-se, pela sua espectacularidade, a letra «R», com largas dezenas de vocábulos nesta situação. Trata-se de um entendimento irrestrito, já denominado «terrorista», do Acordo (entendimento que os autores dele, honra lhes seja, nunca impugnaram). Os «Vocabulários» oficiais, o brasileiro e o português, decidiram-se, sabemos, por uma leitura restritiva, simpática, do texto do Acordo. Mesmo assim, uma comparação entre os dois permite descobertas assombrosas.
Um ponto de ordem: a análise que segue vai centrar-se na supressão das «consoantes não articuladas». Outros aspectos do Acordo afiguram-se muito menos problemáticos, como a omissão do acento em veem ou joia, o uso de minúscula nas estações e meses do ano (primavera, agosto), a eliminação do hífen em «haver» (hei de, hão de) ou em compostos como paraquedas e autoestrada. Mais discutível é a supressão do acento em para e pára, que soam diferentemente no português europeu e deveriam continuar desambiguados. Como ler doravante «João, para o carro!» sem informação extratextual? Bizarro é, também, o uso facultativo do acento em certas formas verbais, tornando indecifrável, em Portugal, um bilhete que diz «Pagamos hoje» ou «Não demos nada». Simplesmente, a questão das «consoantes mudas» tem bem maiores, e mais onerosas, implicações. Um exemplo disso, em versão simplificada: só a supressão do «c» em finais de tipo -acção (o cálculo é do investigador Francisco Miguel Valada, num artigo em Diacrítica) produz um aumento exponencial de «excepções», num sistema de regras que, até hoje, quase não as conhecia. Para um Acordo que visava «simplificar», é obra.

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Um eventual leitor brasileiro há-de perguntar-se que há, nisto, de tão espantoso. Eu explico. No português europeu, duas palavras como nação e fracção soam diferentemente, pelas consoantes iniciais, decerto, mas também porque o primeiro «a» de nação soa fechado (como o «a» carioca no final de «casa») e o de fracção soa aberto. Ora bem, essa abertura é indicada por aquele «c» mudo. Existem actualmente (a informação é de Francisco Valada) cerca de 3.000 palavras em que esse «a» é fechado (ligação, ocupação) e 45 em que é aberto (distracção, redacção). Se o «o» desaparecer da escrita, nós, os que conhecemos bem a língua, saberemos onde fechar e onde abrir. Mas a próxima geração encontrará já dificuldade, e a seguinte ainda mais. Muito provável é que, lentamente, esse «a» pretónico, hoje aberto, passe a fechar-se, como é geral tendência do português europeu, onde a redução do vocalismo é associado com «cultura» e pertença à elite, e como, para cúmulo, chega a acontecer onde articulamos o «c» e o «p» (bactéria, factual, capcioso), o que é um aviso eloquente para agirmos com redobradas cautelas. Mas não é tudo ainda. Também o «e» e o «o» que antecedem o «c» e o «p» ditos mudos (director, recepção, adoptivo) soam abertos, e também aí o desaparecimento da consoante escrita convidará a reduzir esse «o» a «u», e esse «e» a nada. Visto que quase todas essas palavras são ricas em derivações, os vocábulos afectados (e portanto, a prazo, em risco de corrupção) somam até vários milhares, já que são aqui dezenas os verbos em jogo (fraccionar, seleccionar, detectar, baptizar, interceptar). O bloguista Bic Laranja escreveu um dia: «O pê de adoptar é tão sonoro quanto a vogal o.» É de uma exactidão que dói.
Um brasileiro não tem estes problemas. A sua norma vocálica sustenta-se numa regularíssima metafonia (variação no timbre da vogal, conforme for tónica ou não). No Brasil, as duas vogais pretónicas de recessão e recepção soam idênticas (é – è), distinguindo-se os dois vocábulos pelo «p» articulado do segundo vocábulo. Em Portugal, as pretónicas de recessão são insonoras, enquanto recepção soa «r’cèção»: sem «p» articulado, mas com «e» aberto.
Estas bizantinices portuguesas podem explicar uma atitude brasileira parecida com falta de solidariedade. E é pena. Porque estamos aqui no absoluto cerne destes problemas: o nosso magnífico idioma tem duas ortografias porque tem sistemas vocálicos divergentes. O fosso entre os dois vai-se, mesmo, alargando. Mil acordos ortográficos não conseguiriam uma reaproximação dos dois sistemas. Importa aceitá-lo com naturalidade e não interiorizá-lo como um drama. Hoje os brasileiros já precisam de legendar filmes portugueses, mas daqui a 200 anos os romancistas brasileiros ainda serão, como hoje, os que melhor lemos no original.
Mas há mais, e aqui se mostra o destempero deste Acordo. As sequências cç, pt e semelhantes são um terreno movediço, altamente instável, tanto no Brasil como em Portugal. As duplas grafias, mesmo as nacionais, sempre sem indicação de preferência, virão criar insegurança nas escolas, nos jornais, nas editoras, nos indivíduos. Mas não menos inquietante é constatar que as duas instabilidades, a portuguesa e a brasileira, são entre elas descoincidentes, e até irredutíveis. Os «Vocabulários» oficiais vieram pô-lo, sem dó, em evidência. Assim, há variações permitidas no Brasil (aspecto/aspecto, susceptível/susceptível) e impossíveis em Portugal. Do mesmo modo, há variações permitidas entre nós (conetar/conectar, assético/asséptico) mas vedadas a um brasileiro.
Não chegando já as perplexidades da variação portas adentro, seremos continuamente confrontados, em publicações e na Net, com a variação brasileira, e futuramente, com a africana. Se alguma «unificação» nos espera, é a de nos tornarmos crescentemente inseguros.
Para que a desgraça fosse realmente perfeita, o Acordo veio presentear-nos com descoincidências gráficas até agora inexistentes. A grafia pré-Acordo camuflava um bom número de divergências sonoras, como percepção, excepcional, invectivar. Na nova situação ortográfica, estas diferenciações tornam-se particularmente gritantes e geradoras de perturbação nos menos avisados, que poderemos ser todos. Único e triste consolo: as tabuletas com «RECEPÇÃO» no Brasil e «RECEÇÃO» em Portugal serão outras tantas caretas chasqueando, dia e noite, dos nossos inventivos «unificadores».

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Será ainda possível travar, entre nós, este estranho fruto da ingenuidade, da arrogância e da incompetência? Neste momento, inícios de Agosto de 2011, são 126.653 os portugueses que assinaram um «Manifesto contra o Acordo Ortográfico», um número que continua a crescer. Uma «causa» do Facebook, «Não ao Acordo Ortográfico», congregou até agora 116.134 adesões. São números impressionantes, e a exposição pública dos aderentes, peculiar nestas declarações, sugere aquele tipo de cidadania que os políticos sérios mais procuram.
Em domínio menos quantitativo, sublinhe-se o facto de, nos 20 anos de suspensão do processo, não ter aparecido um único estudo «linguístico» em defesa do enxovalhado Acordo. Publicaram-se obras expositivas, mais ou menos apologéticas, como a citada de Adragão, A Questão Ortográfica (Editorial Notícias, 1993), de Edite Estrela, e O Acordo Ortográfico (Flumen/Porto Editora, 2009), de Francisco Álvaro Gomes. Mas todos os estudos técnicos e analíticos, levados a cabo em universidades e instituições profissionais, foram frontais na reprovação das propostas académicas. No árnbito da divulgação, destaquem-se Acordo Ortográfico: a Perspectiva do Desastre (Alêtheia, 2008), de Vasco Graça Moura, uma robusta ponderação jurídica, O Fim da Ortografia (Guimarães, 2008), de António Emillano, apavorante análise das consequências imediatas do Acordo, e Demanda, Desastre, Deriva (Textiverso, 2009), de Francisco Miguel Valada, uma exposição detalhada, e devastadora, das incongruências do produto. As intervenções de Emiliano na imprensa foram recolhidas em Apologia do Desacordo Ortográfico (Verbo, 2010).
O debate prossegue, empenhado, no diário Público, de posição redaccional anti-Acordo, mas acolhendo todas as opiniões em causa. A mesma largueza, com a suplementar dádiva do arquivamento, é patenteada no «Ciberdúvidas da Língua Portuguesa», o mais informativo sítio na Net em matérias correntes do idioma, sendo utilissima a sua secção de «Dúvidas linguísticas». Um idêntico serviço de esclarecimento é oferecido na página da Priberam. Nos blogues pessoais, o debate encontrou um clima particularmente animado.
Destaquem-se o «Linguagista», de Helder Guégués, porventura o melhor do género entre nós, e o acima referido «Bic Laranja».
E, todavia, o Acordo revelou um «lado bom», ainda que intrinsecamente perverso, ao inaugurar um conceito de «ortografia» de implicações ainda insuspeitadas. Até hoje, os critérios de grafia do português foram a «etimologia» e a «tradição», e só de forma implícita a «pronúncia» efectiva. Este Acordo subverteu drasticamente o esquema, consagrando a «pronúncia» (culta, obviamente) de cada comunidade de língua portuguesa como critério fundamental, e decisivo, da grafia. Parecerá incrível, mas um Acordo «unificador» abriu caminho para uma imparável diferenciação gráfica nos países que usam o nosso idioma. Precipitação? Ingenuidade colectiva? Um último ardil de Antônio Houaiss? Quem o souber um dia o dirá.
Está visto. Mesmo que agora, sensatamente, os políticos portugueses desactivem um processo ainda perfeitamente reversível, o primado da «pronúncia» (que ninguém questionou) está doravante firmado nos juízos e procedimentos da nossa grafia. E, para começar, e bem, ele conduzirá, em Portugal, à manutenção das consoantes não articuladas. (O aludido artigo de Francisco Miguel Valada, em Diacrítica, 24/1, 2010, esclarece como). Pode parecer um paradoxo, mas um tudo-nada de raciocínio leva lá depressa.
E o futuro? O futuro é risonho. Esta terá sido a última tentativa de «unificar» a ortografia do português. No Brasil, uma nova geração de linguistas apresta-se a tomar as rédeas. Ela vai já quebrando tabus morfológicos e sintácticos, e quebrará os ortográficos também. As várias pronúncias «cultas» em território brasileiro não escondem um vasto âmbito de uniformidade sonora, mormente em contraste com Portugal. Um dia, essa considerável uniformidade vai, sobretudo no âmbito das consoantes, reclamar a adequação gráfica que a etimologia e a tradição lhe sonegaram, e não é a pronúncia portuguesa, mesmo culta, que irá estorvar tal anseio. Os portugueses e outros «irmãos de língua» encontrarão aí um venturoso estímulo.
E pronto. Lançada esta promissora semente, e devidamente agradecidos os nossos aprendizes de feiticeiro, pode o infeliz e falacioso Acordo entrar agora, tranquilo, no esquecimento.

Transcrição Daqui

TRABALHO PRECÁRIO: Agrupamento de Escolas do Torrão abre concurso para preenchimento de vaga

O Agrupamento de Escolas do Torrão, após a devida autorização emanada da Direcção Regional de Educação do Alentejo, abriu concurso com vista ao preenchimento de um posto de trabalho (precário e apenas a tempo parcial) com duração de apenas três meses - entre Setembro e Dezembro -  para realização de serviços de limpeza. A remuneração base prevista é de 3,19€/hora num total de 106 horas (média de 2 horas por dia) pelo que no fim dos três meses o salário total ascenda à astronómica quantia de 338,14€ ou seja, cerca de 112,71€ por mês.
Para quem estiver interessado, o prazo para concorrer é de 10 dias úteis a contar da data da publicação em Diário da República (11 de Setembro) - portanto até ao dia 25 deste mês. Para informação mais detalhada consulte o Diário da República, referente a este assunto, clicando AQUI
Atentos e sensibilizados com a dificil situação de muitas familias e sabendo do elevado número de desemprego que grassa por todo o país e em especial na freguesia do Torrão - onde o desemprego sobe diáriamente e se verifica um exodo, leia-se emigração, dos mais jovens - damos aqui o alerta caso alguns dos nossos muitos leitores estejam interessados. É que apesar de precário e de tudo o resto, já lá diz o ditado que para o pobre tudo é esmola.
Para terminar, lançar apenas o apelo para que, e face à situação do país e dos torranenses em especial, haja decoro e respeito - da parte do sistema e daqueles que firmes que nem lapas apenas observam a crise (dos outros) pelo canudo - pela má fortuna alheia e portanto haja transparência durante todo o processo e que este seja um concurso limpo e justo e não um «fato à medida» dos do costume (leia-se familia, Amigos e afins daqueles que os torranenses sabem) com «jogadinhas» pelo meio.


Procedimento Concursal

Pela autorização que me foi conferida pela Direcção Regional de Educação, declaro aberto o procedimento concursal comum para preenchimento de um posto de trabalho em regime de contrato a termo resolutivo certo a tempo parcial, com duração total de cento e seis horas para a categoria de assistente operacional, entre Setembro e Dezembro de 2012.
Os interessados que reúnam os requisitos indicados nos pontos 7 e 8 do aviso de abertura devem apresentar a sua candidatura mediante o preenchimento de formulário próprio no prazo de 10 dias úteis a contar da data da publicação do aviso supracitado.

A Directora: Maria Madalena Soares Serra
 

«O diabo esconde-se nos pormenores»...

«Foi o Rei D. Carlos um antecipado e por isso foi assassinado para que a desordem e mediocridade continuassem a campear» - António Sardinha (1887-1925)

... disse em tempos o silencioso inquilino de Belém.

1891. Também então Portugal atravessava uma crise económico-financeira e encontrava-se na bancarrota, fruto da conjuntura internacional e também da endémica instabilidade e má gestão governativas.

O que fez o Chefe de Estado de então?


Anos mais tarde este Rei e a sua familia, em especial o seu filho mais velho de apenas vinte anos de idade, haveriam de ter o devido agradecimento:





A recompensa dada por aqueles que foram pioneiros do descalabro e da pouca vergonha.

Hoje os resultados estão à vista: