sábado, junho 17, 2006

Provocação sem bola

Então e a judoca Telma Monteiro – que conquistou há cinco dias, na Finlândia, o titulo de campeã da Europa – não merecerá patrióticas bandeirinhas nacionais hasteadas em tudo o que é sitio, desde as janelas dos prédios aos tejadilhos dos táxis, passando por portas de mercearias e supermercados, átrios de centros comerciais, bombas de gasolina, cartazes publicitários e ecrãs de televisão?! E haverá 15 mil mulheres dispostas a formar uma nova bandeira humana para homenagear uma jovem atleta de alta competição, com apenas 20 anos, que já arrebatou duas medalhas de ouro, uma de prata e cinco de bronze em campeonatos europeus e mundiais de juniores, de sub-23 e de seniores – e que, neste momento, lidera o ranking mundial de judo na sua categoria (-52 Kg)?!
Estas perguntas são uma provocação, bem sei. O judo não é um desporto popular e mediático que atraia as massas (tanto em sentido próprio com figurado) e mereça um investimento «patriótico» das televisões, da banca, do petróleo, da cerveja sem álcool, e de empresas nacionais e multinacionais de refrigerantes e de artigos desportivos. Quem é que quer ouvir em ippon, yuko, waza-ari ou koka, quando o orgulho da pátria se traduz em off sides, corners, penalties, dribles, fintas, pontapés e golos? E quem é que já ouviu falar no Centro Cultural e Desportivo Construções Norte-Sul, o clube de Almada que a Telma Monteiro representa? Mais: quem é que imagina os sacrifícios que esta jovem atleta olímpica de alta competição tem de fazer e as dificuldades em angariar patrocínios, apesar do notabilíssimo currículo desportivo que ostenta?
É muito mais fácil e mediático encher as primeiras páginas dos jornais e abrir os telejornais com as derrotas, humilhações e fiascos das selecções nacionais de futebol – tanto a principal (Mundial 2002) como a olímpica (Olimpíadas 2004) como, agora, a de sub-21 (Euro 2006) – do que com o feito, inédito, da primeira portuguesa a conquistar o titulo de campeã europeia de judo. Falo desta modalidade desportiva bastante exigente, quer em termos físicos e psicológicos quer em termos técnicos e tácticos, como poderia falar de outras modalidades desportivas que em Portugal já teve magníficos praticantes, como o atletismo, hoje sem infra-estruturas físicas que permitam o treino adequado (em Lisboa, quase só resta o Estádio Universitário). Não me espanta, por isso, o lamento do velho professor Eduardo Cunha (tem 80 anos e ainda treina): «Tenho medo de verdade que Portugal seja campeão mundial de futebol. Porque aí é que acaba tudo!»
Gosto muito de futebol, percebo que ele seja um poderoso factor de identidade e ficaria radiante se os «nossos pés da Pátria» conquistassem o título mundial. Mas custa-me a engolir o desprezo a que são votadas outras modalidades desportivas em Portugal. Sobretudo custa-me a perceber esta insólita associação entre patriotismo e publicidade no futebol. Nunca fui marxista, leninista, maoísta ou trotskista, mas não tenho a menor duvida de que o capital não tem pátria. É tão evidente como o jogo de futebol.

Alfredo Barroso in Diário de Noticias

quinta-feira, maio 25, 2006

Estes não brincam

Se alguns pensavam que a final da Taça de Portugal iria ser um «remake» do ano passado enganaram-se. Tal como o ano passado, um dos finalistas tinha-se sagrado há poucos dias campeão. A equipa adversária foi a mesma: o histórico Vitória de Setúbal. Só que a atitude deste campeão foi diferente da do ano passado. O FCP que se sagrou campeão este ano foi de poucos festejos e pouco champanhe. Comemoraram quanto baste, no Dragão, a conquista do campeonato, fecharam-se em copas, adoptaram um «low profile» e assim foi até ao dia do jogo. Dos próprios adeptos também pouco se viu nos festejos do campeonato. O que se passaria?
O meu Benfica foi campeão o ano passado depois de mais de uma década de jejum. Houve festa rija entre os adeptos, jogadores e demais figuras. Grande negócio e grande furo para os media. Mas ainda havia mais uma final para disputar. A ser ganha, o Benfica concretizava algo que não conseguia há duas décadas: a «dobradinha! Mas que importava isso?! O que é que aconteceu? Loucura, desleixo, pouco profissionalismo, uma autêntica irresponsabilidade.
O Benfica sagra-se campeão no Bessa, vem em festa todo o caminho, chegando a Lisboa de madrugada. No dia seguinte há folga - e o Vitória treinava - depois houve, curiosamente, uma gala no Porto onde o plantel do Benfica e o seu treinador foram homenageados. Em vez de ir só este e, no limite, o capitão de equipa... foram todos. Toca a ir para o avião para estar na gala nocturna. Depois foi a homenagem na Câmara de Lisboa (que só deveria ter acontecido depois da final da Taça) na segunda-feira - e o Vitória treinava. O jogo era domingo e os treinos no Benfica só começaram três dias antes, na quinta-feira - e o Vitória há muito que estava empenhado e concentrado. Os treinos à porta escancarada com adeptos eufóricos e os jogadores em descompressão e com descontracção total - e o Vitória treinava serenamente em sossego. Para o Benfica o jogo ou era favas contadas ou então, qual cigarra de La Fontaine, haja diversão que depois logo se vê.
Domingo, final da Taça de Portugal 2004/2005. O Benfica teve um entrada promissora e ao intervalo ganhava 1-0. Mas um Vitória bem mais fresco virou o marcador. 1-2 e arrecada a taça. Quem viu o jogo percebia que os atletas encarnados, às tantas já não corriam… arrastavam-se, marcaram um golo e ficaram na expectativa.
O F. C. Porto não foi em cantigas, mostrou maturidade e profissionalismo e depois... bem depois foi o que se viu. O Porto fez a «dobradinha» e a seguir houve festa rija. Para a próxima já sabem embora seja imperdoável uma equipa profissional fazer aquilo que fez. Não admira que o Benfica só faça «dobradinhas» «quando o Rei faz anos»

PS. Ao que parece esta república que ninguém pediu nem sufragou vai mudar a sua designação para República Futebolística Portuguesa. À boa maneira terceiro mundista, na final da Taça de Portugal estavam nada mais nada menos que o Nº 1 da república, Cavaco Silva; o número 2, Jaime Gama; o numero 3, José Sócrates e inúmeros ministros, Secretários de Estado e Deputados. O que é mais grave é que esta situação é recorrente. Só não vi os titulares dos órgãos judiciais. Será que também estavam presentes e eu não os vi ou reconheci?

quarta-feira, maio 10, 2006

Que património histórico?


«Dubitando ad veritatem prevenimus»

É com relativa frequência que se invoca a riqueza e vastidão do património histórico do Torrão como argumento para visitar a nossa terra. Mas será que o património histórico do Torrão é assim tão vasto e rico de tal forma que mereça ser visitado? Ou será que pode mesmo ser visitado? Ou será que está suficientemente preservado e em condições de ser visitado? Eu duvido! E receio que, infelizmente, não seja bem assim senão vejamos:

Comecemos pelo Obelisco de Algalé que invoca um trágico acontecimento decorrido no período da mais sangrenta das guerras civis portuguesas (1832-1834) que opôs Liberais e Absolutistas. Quem quiser visitar este monumento... não pode pois como tal se situa em propriedade privada e como o portão está fechado a cadeado só arrombando o portão ou pulando a cerca e invadindo propriedade privada é que alguém pode ver tal património. Quanto ao obelisco estamos conversados!

A Capela de S. João da Ponte encontra-se encerrada mas quem quiser ver alguma coisa perde o seu tempo pois esta não tem rigorosamente nada lá dentro.

O Convento de Nossa Senhora da Graça é outro caso perdido. Só mesmo o exterior do convento é que pode ser «apreciado» embora este se encontre bastante degradado com as paredes enegrecidas e com algumas partes já sem o reboco. Se alguém quiser ver o que está lá dentro não vale a pena o esforço pois o mais que vai encontrar são os bens dos actuais proprietários. Na verdade, além de não haver qualquer obra de arte no seu interior foi o convento vendido estando deste modo nas mãos de privados e portanto alguém só vê o interior do convento se os actuais proprietários autorizarem. Este monumento é hoje uma triste sombra daquilo que deve ter sido quando foi concluído.

O Monte da Tumba está em estado de abandono há vários anos. Quem visitar o lugar encontra desleixo, abandono... um monumento desprezado.

A Calçadinha Romana é outro exemplo de património abandonado. Na verdade, da última vez que lá estive até houve alguém que se deu ao luxo de a cortar com uma cerca improvisada para não deixar passar ovelhas. Para além disso há partes que estão coberta de ervas e silvas.

As fontes são um bom exemplo de património bem preservado embora algumas sejam recentes (Fonte do Poço de Cima – 1901, Fonte da Ponte - 1915). Uma das mais antigas é a Fonte Santa que, fazendo fé no que é dito no site da Junta de Freguesia do Torrão, é um vestígio da época romana. Contudo, o que não é dito é que a sua forma actual data do século XVIII sendo a sua bela traça um exemplo da arquitectura da época. Quem olha para a fonte identifica quase instantaneamente o seu estilo barroco. Infelizmente isto não é dito informando-se apenas que a fonte tem uma conduta de 100 metros – um pormenor; interessante mas um pormenor na medida em que ninguém vê a conduta nem se vai pôr a medi-la. Pode ter 100, 50, 200 ou 1000 metros que é absolutamente irrelevante.

A Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi de facto restaurada em 1999 mas como raramente alguém lá vai e não se faz a manutenção do espaço, começa a dar os primeiros sinais de degradação. Quem quiser visitar a ermida encontra-a fechada contudo, se o conseguir, vale a pena visitar o seu interior.

O Palácio dos Viscondes do Torrão é onde funciona actualmente o lar de terceira idade havendo contudo algumas parcelas que não estejam nas mãos da Santa Casa da Misericórdia do Torrão mas, mais uma vez, de privados. Ao contrário do que é dito no site da Junta de Freguesia, não foi restaurado. Está a ser restaurado há cerca de uma década estando uma parte de facto restaurada sendo ainda necessários mais uns bons anos até ficar restaurado na totalidade. São ainda visíveis alguns frescos nas paredes mas não vale a pena visitar o interior porque como as coisas estão é perigoso.
Termino comentando o facto de aqui ter sido cometido um erro de gestão. Este edifício tem, na minha opinião, mais vocação para ser um edifício de poder do que um lar da terceira idade até porque para ter acesso aos quartos tem que se subir umas escadas íngremes não muito recomendadas a pessoas na terceira idade. Porque é que não foi realizado um protocolo entre o Governo e a Misericórdia para em vez de construir um posto da GNR de raiz se aproveitar o edifício para ser o posto e ser construído um lar de terceira idade de raiz que não teria necessariamente de ficar no local onde se ergue o actual posto? Infelizmente o mal está feito e a miopia de que dirige o país e as instituições está à vista!

A Igrejinha de S. João fica parcialmente submersa quando a barragem de Vale de Gaio enche na totalidade. Não passa de uma ruína.

A Igreja de S. Fausto (ou Fraústo) está apenas reduzida às suas quatro paredes estando a área interior delimitada por estas, ocupada com um imenso silvado.

A Igreja da Matriz está no estado descrito no anterior artigo. Há anos que as suas paredes não são caiadas e em algumas paredes há partes cujo reboco caiu ficando o tijolo exposto. Para além disso há muitos anos que uma figueira brava e inúmeras ervas daninhas subsistem no telhado minando as paredes e o telhado com as suas raízes e a humidade.

E finalmente a Igreja da Misericórdia também chamada Igreja de Nossa Senhora da Albergaria. Depois de muitas décadas de abandono e degradação foi finalmente restaurada, de acordo com o site da Junta de Freguesia, em 1994. É um monumento que vale a pena visitar pois o seu interior apresenta-se em condições sendo de destacar o altar em talha dourada e quatro retábulos de Arte Sacra datados do século XVI que retratam episódios da vida de Cristo.
Quero contudo deixar um reparo a uma situação que eu não sei se é um grave erro e desconhecimento da Historia de Portugal ou se é apenas um «lapsus calami». Antes de abordar esse assunto, chamo a atenção a quem fez ou está a fazer o site da Junta de Freguesia do Torrão para uma gralha que tem de ser corrigida. A dita gralha está na data de construção da igreja que não foi, obviamente, 1945. Basta os autores do site verem a bibliografia que consultaram para verificarem que a data apontada é 1495. E agora vamos à situação: Quem fez o site não é o responsável pois os seus autores limitaram-se a transcrever exactamente o que está escrito na única fonte bibliográfica que, tudo leva a crer, consultaram – Timeo hominem unius libri – que eu sei bem qual é pois tenho um exemplar desse livro, sobre o Torrão, em minha casa e quando o li pela primeira vez imediatamente me apercebi da situação e quando agora li o que estava escrito no site identifiquei imediatamente de onde tiraram a informação pois nem sequer se deram ao luxo de ser originais, de apresentar a história da igreja usando outras palavras. É pois dito que, e passo a citar «D. Margarida de Areda (a fundadora) era contra a ideia de esta Igreja fazer parte das Misericórdias e devido a isso as obras de construção da Igreja na altura pararam e só foram concluídas em 1636, quando finalmente a Igreja foi englobada nas Misericórdias por ordem do Cardeal D. Henrique». E é aqui que reside o busílis da questão. O texto é um pouco confuso e absurdo – embora já tenha lido o livro há algum tempo só há pouco menos de um ano é que tenho um blog e só agora é que surgiu a oportunidade de comentar tal facto pois só agora é que o tema pôde ser englobado. Por aquilo que me é dado a entender, a forma como eu, e certamente muito mais gente, interpreta o texto é a seguinte: as obras foram iniciadas, ainda no século XV, mas como se pretendia anexar a futura igreja às misericórdias, a fundadora, que não viu a coisa com bons olhos, mandou parar as obras reiniciando-se estas mais tarde, estando finalmente concluídas em 1636. Tal só veio a acontecer quando a igreja foi finalmente englobada nas misericórdias por ordem do Cardeal D. Henrique. Da maneira como está escrito, somos levados a entender que o processo se deu de forma linear e acelerado, na última etapa. Que já bem no século XVII é que o imbróglio se resolveu quando D. Henrique interveio e, de uma vez por todas, mandou englobar a igreja nas misericórdias o que implicou o rápido recomeço das obras e a sua rápida conclusão. Ora a história não é assim tão linear. Pelos vistos, o monumento começou a ser construído ainda no século XV e só terminou nos anos trinta do século XVII logo quando é dito que «... as obras de construção da Igreja na altura pararam...» é um pouco absurdo e impreciso. Mas o que é que se quer dizer com altura?! Em que altura foi? O processo não demorou meia dúzia de anos mas sim quase um século e meio ou mais precisamente, uns longos 141 anos daí que não se possa saber, olhando para o que está ali escrito, em que altura as obras pararam. Ainda no século XV ou só no século XVI? No início? Quando este já ia entradote? Na primeira metade? Na segunda metade? Não se sabe!
Embora não me esteja a apoiar em qualquer documento nem tenha consultado qualquer bibliografia o que leva a que o que vou escrever de seguida não passe de pura especulação, a explicação que para mim é a mais plausível parece ser esta:
A Igreja de Nossa Senhora da Albergaria começou a ser construída ainda no século XV, mais exactamente em 1495 no entanto alguém com o necessário poder político e/ou eclesiástico determinou que a futura igreja deveria ser englobada nas misericórdias. Contudo esta deliberação encontrou a viva oposição de D. Margarida que de imediato mandou parar as obras. Ao que tudo leva a crer, este contencioso deve ter tido início já no século XVI pois a primeira misericórdia a ser fundada no Reino (que foi a de Lisboa) só nasceu a 15 de Agosto de 1498. Seja como for, o impasse deve ter durado até à morte da fundadora e, ao que tudo indica, continuou nos anos seguintes. A situação só viria finalmente a ser desbloqueada com a intervenção directa do Cardeal D. Henrique que ordenou que a futura igreja deveria ser englobada de uma vez por todas nas misericórdias. Fosse porque motivo fosse, o que é certo é que infelizmente na referida obra sobre o Torrão não foi escrito a data em que esta decisão foi tomada daí que não saibamos se D. Henrique tomou esta decisão na qualidade de Arcebispo de Évora ou de Rei de Portugal. Contudo, aquilo que se deve sublinhar é que a decisão surge, de certeza, mais de meio século depois do início das obras pois D. Henrique torna-se Arcebispo de Évora em 1545 e Rei de Portugal em 1578. Contudo tal decisão nunca poderia ter sido tomada nem no século XVII nem nos últimos vinte anos do século XVI pois D. Henrique morre em 1580.
O que é certo é que a decisão não implicou que as obras fossem retomadas de imediato mas provavelmente, décadas depois da morte do Cardeal-Rei, já bem dentro do século XVII, sendo as obras concluídas, enfim, em 1636. Esta é que será certamente a versão mais correcta acerca da conturbada construção desta igreja.

Contudo, o que importa, resumindo e concluindo, é que o tão propalado património histórico, em boa parte, ou está arruinado ou nas mãos de privados ou não passa de um vestígio que ainda subsiste. Se alguém quiser visitar o Torrão única e exclusivamente para visitar o património histórico levado por certa publicidade enganosa será defraudado e perderá o seu tempo. Agora, quem vier visitar a nossa terra pelo seu, aí sim, vasto e rico património natural, a sua riqueza gastronómica, a sua pacatez e a sua arquitectura tipicamente alentejana e queira aproveitar para ainda assim visitar os vestígios históricos e os poucos monumentos que ainda conservam alguma da sua riqueza e esplendor verá o seu tempo por bem entregue.

quarta-feira, abril 26, 2006

Nada acontece por acaso

Será apenas coincidência o facto de somente um dia depois de Bin Laden ter voltado a dar sinais de vida numa mensagem, que entre outras coisas, vem justificar ataques contra civis por, segundo ele, serem tão responsáveis - pela agressão ao Islão - quanto os seus governos, ter ocorrido um atentado numa zona turística egípcia junto ao Mar Vermelho? Embora o ataque tenha ocorrido num país muçulmano cuja principal receita provém do turismo e a maioria das vitimas mortais sejam egípcios não há dúvida de que o alvo dos atentados eram os turistas ocidentais que por ali gozavam as suas férias.

quarta-feira, abril 12, 2006

Estranho silêncio

Um atentado terrorista no Paquistão matou 52 pessoas e fez centenas de feridos. É o maior atentado registado no país nos últimos 20 anos. Até agora a única reacção de condenação partiu da China. O resto é silêncio. «Somos todos nova-iorquinos» dizia-se por altura do 11/9; «Somos todos espanhois» dizia-se a 11/3; «Somos todos londrinos» foi dito a 7/7. Então, agora ninguém é paquistanês?

sábado, abril 08, 2006

Uma ideia feliz... e uma grande falta de vergonha!


Pode-se dizer que agora é que Junta de Freguesia do Torrão acaba de entrar no século XXI. Na verdade quem quiser já pode visitar no seu site, na Internet, cuja morada é: http://www.torrao.freguesias.pt/.
Já tive oportunidade de o visitar. É um site bem conseguido, arrumado e interessante. Em suma, é um site feliz. Mas no melhor pano cai a nódoa! O que se passa é que neste é dado a conhecer o património da freguesia onde se faz uma breve resenha que é devidamente acompanhada por uma foto. Então não é que infelizmente foi colocada como imagem ilustrativa a foto acima, da Igreja Matriz, que demonstra bem o estado a que chegou o dito património e em especial esta igreja? Nem se quer ninguém se deu ao luxo de «maquilhar» a imagem ou colocar uma fotografia antiga onde a torre apareça caiada, alva e não negra como carvão e com uma barra branca (cuja altura é aquela até onde a cana alcança). Desafortunadamente que grande publicidade se faz... ao desleixo! Mostre-se o património do Torrão, que não é tão rico como se pensa até porque boa parte está ao abandono e arruinado, mas que esteja bem preservado. É já nos próximos dias que se realiza a procissão anual que decorre sempre por esta altura e ainda a histórica igreja se apresenta vergonhosamente degradada pelo menos no exterior. Aproveite-se a primavera e o verão para fazer uma restauração de fundo neste monumento. Do que é que estão à espera?! Mãos à obra e que as próximas fotografias mostrem um património bem preservado.

quinta-feira, março 30, 2006

Chamadas de atenção

Quero partilhar através deste meu blog uma mensagem de correio electrónico que me foi enviada. A mensagem tem a ver com um dos recursos naturais mais importantes e do qual alguns analistas prevêm que possa vir a existir um conflito pelo seu controlo: a água. A água potável é um bem e assiste-se cada vez mais à sua escassez. Eis algumas coisas que devemos fazer:

Onde deitar o óleo dos fritos em casa? Informações de um técnico de Saúde Ambiental, vamos colaborar. Mesmo que não façamos muitos fritos, quando os fazemos, deitamos o óleo na pia ou por outro ralo, certo? Este é um dos maiores erros que podemos cometer. Por que fazemos isto? - Perguntam vocês. Porque infelizmente ninguém nos diz como fazer, ou não nos informamos. Sendo assim, o melhor que temos a fazer é colocar os óleos utilizados numa daquelas garrafas de plástico (por exemplo, as garrafas de refrigerantes ou até a do próprio óleo), fechá-las e colocá-las no lixo normal (ou seja, o orgânico). Todo o lixo orgânico que colocamos nos sacos vai para um local onde são abertos e triados. Assim, as nossas garrafinhas são abertas e vazadas no local adequado, em vez de irem juntamente com os esgotos para uma ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais, e ser necessário dispender milhares de euros a mais para o seu tratamento. UM LITRO DE ÓLEO CONTAMINA CERCA DE 1 MILHÃO DE LITROS DE ÁGUA: o equivalente ao consumo de uma pessoa no período de 14 anos(!). De nada adianta criticar os responsáveis pela poluição...se não fizermos a nossa parte, será muito difícil.
Obs.: Se optares por enviar para os teus amigos, o meio ambiente ficará muito grato, afinal é para o bem de todos. Só o homem degrada o meio ambiente. Só o homem pode recuperá-lo.

Fiz mais do que isso; coloquei-o num local onde pode ser lido por quem visitar o «Pedra». Quanto a mim como ecologista que sou e acérrimo defensor da Natureza faço sempre o que está ao meu alcance pelo bem e harmonia do planeta, da nossa Terra. Na verdade, um dos meus lemas é o de que devemos deixar o mundo tal como o encontramos. Vá lá, não custa nada! É com estas e outras medidas igualmente importantes que se poupa água e o mais importante é que tal deve ser feito sempre, durante todo o ano e não apenas no Verão ou em periodos de seca como se fartam de apregoar os media. Desde o Verão passado nunca mais falaram em poupança de água.

E já agora aproveito para lembrar que é nesta altura que se deve começar a fazer a limpeza das matas e dos terreno baldios em redor das habitações, em suma, a preparar o terreno e a fazer a prevenção, de forma a reduzir o risco de incêndios de forma que quando vier a estação quente estejamos mais bem preparados para fazer frente a esta ameaça. Se não se fazer nada então um dia deixarão de haver incêndios pura e simplesmente porque já não haverá mais nada para arder.
Não posso contudo deixar de estar apreensivo. O Governo farta-se de apregoar meios e medidas de restruturação dos agentes que combatem os fogos que espero resultem mas... ainda por cima este depara-se com reações corporativistas dos bombeiros que ameaçam mesmo só combater os incêndios dentro de certos limites e com a demissão de vários comandantes operacionais tudo isto enquanto o bom do povão se está nas tintas para o assunto e apenas espera com ansiedade e descansado da vida o campeonato de futebol isto só até as coisas começarem, literalmente, a aquecer. Ou me engano muito ou este ano, infelizmente, vai ser semelhante aos outros e depois no rescaldo da tragédia, já no Outono lá vai a RTP pôr no ar mais uma conversada (Prós e Contras) sobre os fogos e que deve(ia) ser feito. E um dia quando o Governo tiver outra coloração lá se vai desmantelar tudo o que este fez e criar novas medidas até um dia outro... e assim sucessivamente num ciclo imbecil e infernal e enquanto isso... E nunca mais saimos disto!

quinta-feira, março 09, 2006

Mais uma


E ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica olé oóóóóó...

segunda-feira, março 06, 2006

Equívocos


O prometido é devido! Aquando da publicação do primeiro conjunto de equívocos patrocinados pelo presidente desta abananada república que está de malas aviadas, no blog O Monárquico, eu prometi que lá mais para o fim do mandato, quando este já estivesse mesmo de saída que publicaria mais uns equívocos protagonizados por tal personagem. E que bem que fiz pois as situações caricatas aconteceram mesmo até ao fim.
É claro que para os apaniguados do regime, os ditos intelectuais, os ditos VIP, aqueles que são apelidados de figuras públicas ou de inteligência da nação esta foi, num exercício de pura sabujice, de pura subserviência uma presidência histórica, equilibrada, positiva, a melhor até que Portugal teve. Agora eu afirmo: Se esta presidencia foi a melhor que Portugal teve imagine-se as piores! De facto, de 1996 até 2006 foram muitos os acontecimentos que ficarão nos anais de História agora esta presidência... só se for pelas argoladas, algumas bem graves, cometidas pelo seu titular.
Posta esta introdução passamos aos factos... históricos que a lista é longa.

1. Condecorar com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, Rodriguez Ibarra, Presidente da Junta da Extremadura e portanto governador espanhol de Olivença sabendo-se que Portugal tem um diferendo territorial com Espanha acerca da soberania desta localidade;

2. Conceder indulto a um recluso que, pasme-se, tinha-se evadido do estabelecimento prisional. Segundo a Associação Contra a Exclusão pelo Desenvolvimento, citando dados do Ministério da Justiça, morreram nas prisões portuguesas 42 reclusos só nos primeiros 5 meses de 2004 sendo que dois terços estavam em prisão preventiva estimando-se que este número possa atingir os 70 mortos até ao fim desse ano. Segundo dados do Conselho da Europa, em 1997, Portugal esteve no topo da lista de países com maior número de mortos nas prisões – 106. Ficando mesmo à frente de países como a Rússia, Moldávia, Arménia e Eslovénia (!). Em 2000 o número desceu para 60 mas ainda assim Portugal só foi ultrapassado pela Moldávia, Arménia, Eslovénia e Ucrânia (!). Quantas intervenções e apelos fez o senhor Presidente da República relativamente a esta matéria? Zero!! Limitando-se apenas a reuniões, com os Ministros da Justiça, nas vésperas de Natal para conceder indultos. Há muito que já se justificava uma abertura presidencial dedicada ao meio prisional. Porque é que tal nunca foi realizada? Terá tido o senhor Presidente desprezo de ir ás prisões portuguesas? Porventura teria esquecido o slogan da sua campanha para o segundo mandato «Por todos nós»?


3. Discursar em língua estrangeira (inglês) nas Nações Unidas quando outros Chefes de Estado optaram por o fazer na sua língua, como por exemplo o presidente do Brasil, Lula da Silva;

4. Falar dos problemas e dos erros da Justiça em Portugal apenas porque e quando o caso Casa Pia estava na ribalta e havia figuras políticas e mediáticas envolvidas, no entanto manteve o silêncio quando o processo FP 25 prescreveu tendo como consequência a condenação e a prisão daqueles que colaboraram com a Justiça e a ilibação dos suspeitos de terrorismo;

5. Partir para a Grécia, na companhia da família, para assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos quando o país ardia e havia populações inteiras que se debatiam com o flagelo do fogo, sem se dar ao trabalho de estar no terreno mesmo por pouco tempo que fosse para dar apoio moral a todos quanto estiveram envolvidos na catástrofe;

6. Autorizar a permanência do estandarte presidencial, o símbolo do Chefe de Estado e que assinala a sua presença em determinado lugar, no local onde os jogadores de futebol se preparavam para o campeonato europeu. Já agora porque não deixar tal símbolo no local onde se treinam atletas de outras modalidades, a bem da igualdade, como os atletas Olímpicos, Paralimpicos bem como os atletas de Hóquei em patins, modalidade em que Portugal é uma superpotência? Assim como assim já se vê de tudo...

7. Condecorar os jogadores da Selecção Nacional de futebol mesmo sem que estes tenham ganho nada na Selecção enquanto seniores e em particular sem que estes tenham ganho o Euro 2004, independentemente do facto de terem no entanto deixado uma boa imagem e de terem competido com muita dignidade, limitando-se a ficar em segundo lugar com um adversário que, com todo o respeito pela selecção da Grécia, tinham obrigação de ganhar e num desporto em que ser segundo é ser o primeiro dos últimos e posteriormente não condecorar nem os atletas Olímpicos (onde os segundos e terceiros lugares contam) que tiveram prestações fantásticas nomeadamente em modalidades em que nunca um português ganhou ou sonhou vir a ganhar, nem os atletas Paralímpicos que têm sempre prestações fabulosas. Nem sequer o F. C. Porto, que fez duas épocas magníficas, vencendo a taça UEFA, a Liga dos Campeões e a taça Intercontinental, foi agraciado com uma condecoração presidencial. Porquê?

8. Aquando da formação do novo Governo devido à demissão de Durão Barroso, arrastar por tempo indeterminado a sua decisão sobre se devia convocar novas eleições ou nomear um novo Governo tornando-se deste modo um factor de instabilidade e de falta de sensatez, quando deveria ter sido o inverso. Para o ridículo ser completo, assistiu-se a uma romaria de personalidades a Belém, quanto a mim desnecessária. Este acontecimento deixou bem visíveis as fragilidades de um presidente da república;

9. Comentar a política e os assuntos internos e, mais incrível ainda, criticar o Governo (de cor política diferente da sua, bem se vê) no estrangeiro;

10. Afirmou categoricamente que iria participar activamente no referendo sobre a Constituição Europeia, se este tivesse ido avante, fazendo inclusive campanha pelo «Sim» - mesmo que fosse pelo «Não» – indo não só totalmente contra os princípios de equidistância, neutralidade e imparcialidade que um Chefe de Estado no sistema politico português deve ter, ou pelo menos deveria ter, como iria irremediavelmente entrar em contradição consigo próprio pois o Sr. Sampaio afirmou numa entrevista à SIC que, e passo a citar, «o presidente da república deve estar acima das disputas e ser equidistante de todos os partidos políticos». Bem, como uma campanha eleitoral, mesmo que seja para um referendo, é por definição uma disputa e como o senhor presidente fazia questão de se envolver; logo este deixaria de estar acima de disputas. Por outro lado, como os vários partidos políticos, com e sem assento parlamentar, iriam estar com toda a certeza nos dois lados opostos e como o senhor presidente iria tomar partido por um dos lados lá se vai a equidistância. Para tornar o assunto ainda mais surrealista, o senhor Presidente da República Portuguesa tornou pública esta tomada de posição, mais uma vez, no estrangeiro. Será que a algum membro de alguma Família Real europeia ou, em particular, a algum Soberano(a) lhe passou semelhante coisa pela cabeça?

11. Por inabilidade e/ou falta de bom senso comprou uma «guerra» com a população de Canas de Senhorim e depois escuda-se, num acto de pura cobardia política, atrás de comunicados lacónicos e prepotentes da Presidência enquanto que pessoalmente actua arrogantemente como se nada tivesse acontecido ou falando em desafio à Democracia! Havia necessidade?

Nota pessoal- Desafio à Democracia é o facto de existir uma república, que foi imposta a Portugal, por terroristas sem que tivesse sido dada até hoje oportunidade ao povo português para se pronunciar sobre o assunto.
Desafio à Democracia é o facto de Portugal ser um dos poucos se não mesmo o único país onde os portugueses ainda não se pronunciaram sobre uma única questão europeia e vamos lá a ver se o Referendo sobre a Constituição Europeia vai mesmo para a frente. A sensação que dá (basta ver a clareza da pergunta proposta) é que o poder político não quer definitivamente dar a voz ao povo português, sobre esta matéria, usando como pretexto a abstenção, não vá este pregar alguma partida! Haverá actualmente em algum país da U.E. uma classe política que considere o povo tão ignorante e medíocre e a sua opinião tão desprezível e inútil como a classe política portuguesa?
E finalmente, desafio à Democracia foi andar com os 5 candidatos oficiais (verdadeiros príncipes da república) à presidência «ao colo» nomeadamente a recebe-los em Belém e ignorar os candidatos independentes ou de formações partidárias mais pequenas (os bastardos da república).

12. Que destino é que foi dado ao avultado prémio que recebeu no decurso dos seus compromissos institucionais? Segundo uma edição online do jornal El Mundo a Casa Real Espanhola doou mais de 170.000 €, resultantes da venda de DVDs do casamento Real, à Associação dos Familiares das Vítimas dos Atentados de 11 de Março. Para além disso, até agora nenhum membro da Casa Real Espanhola se furtou a participar em qualquer evento promovido pela citada associação. Porque é que o senhor Presidente da República Portuguesa não doou o prémio que recebeu (cerca de 18.000 contos), por exemplo, à Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios ou ás vitimas dos incêndios florestais. Se o fez, a imprensa não o divulgou. Mas sinceramente duvido, pois se o presidente tivesse tomado tal atitude a imprensa imediatamente «bradaria aos quarto ventos» tal acto.

13. Afinal qual foi a posição oficial do presidente da república acerca do envio de militares da GNR para o Iraque? Pessoalmente estava contra mas a nível oficial acomodou-se e ficou em silêncio.

14. O período da crise política provocada com a dissolução do Parlamento, pelo presidente da república, foi fértil em equívocos. A saber, dissolver o Parlamento na véspera da aprovação do Orçamento de Estado – um dos diplomas mais importantes, se não mesmo o mais importante para a vida do país – permitindo-se ficar refém da maioria pois esta, perante tais circunstâncias, exigiu garantias prévias de que o Chefe de Estado aprove o documento pois caso contrario poderia não estar disponível para o viabilizar. Para além disso o Parlamento que vai aprovar o Orçamento de Estado está «ferido de morte» pelo anúncio de dissolução, como afirmou o presidente do referido órgão de soberania, como «ferido de morte» está o Governo demissionário (ou pré-demissionário) que o elaborou.

15. Curiosamente, apesar de na minha modesta opinião ser desnecessário, para tomar a mesma decisão sobre a mesma matéria, o mesmo Presidente perante a mesma situação – de «lançar a bomba atómica» e convocar eleições antecipadas – não convocou a mesma romaria de personalidades a Belém, que se verificou em Julho. Foi como se anteriormente tivesse necessidade de dar explicações, ou pelo menos precisasse de justificar posteriormente que ouviu várias personalidades antes de tomar uma decisão, podendo uma delas ser vista como… «contra natura». Percebe-se a sua angústia! «É a decisão mais difícil que alguma vez tive que tomar!» exclamou então. É natural! As circunstâncias levavam o Presidente a talvez ter que tomar uma decisão que podia ser vista por quem o apoiou como uma traição. Aliás o então Secretario Geral do PS, Ferro Rodrigues, denotou publicamente que se sentia exactamente assim… traído. Este ponto fraco da chefia de Estado republicana permite-me especular que se o Presidente da República fosse militante do PSD haveria uma elevada probabilidade de se ter verificado a situação inversa.

16. Não informar, previamente, o presidente do Parlamento da sua intenção de dissolver o respectivo órgão de soberania. Acabou por reconhecer publicamente o lapso argumentando que se esquecera. Compreende-se perfeitamente! O senhor Presidente da República tem todo o direito de se esquecer como qualquer pessoa. Ninguém é perfeito! No entanto, onde é que estavam os assessores da presidência? Para além disso essa foi a segunda vez que o sr. Sampaio dissolveu o Parlamento!

17. Segundo alguma imprensa, terá informado em primeiro lugar o líder da Oposição (curiosamente o actual líder do partido a que pertence o Presidente da República) e só depois é que informou o Primeiro-Ministro.

18. Se tomou a decisão de dissolver o Parlamento a 30 de Novembro porque é que não convocou os partidos políticos com assento parlamentar e o Conselho de Estado (como manda a Constituição) imediatamente a seguir ao feriado de 1 de Dezembro de modo a que não só o Decreto de dissolução fosse publicado com celeridade como também para explicar imediatamente ao País as razões da dissolução e pôr um fim imediato à crise política. Ao convocar só para a semana seguinte o Conselho de Estado e os partidos políticos não só arrasta mais uma vez a crise como fica sobre fortíssima pressão, principalmente dos que se sentem lesados com a decisão, para que se explique o que não o poderá ou deverá fazer antes de ouvir os partidos e o Conselho de Estado pois isso seria de facto, como afirmou o senhor presidente, uma tremenda falta de respeito para com as referidas entidades. E assim mais uma vez o senhor Presidente da República torna-se, escusadamente, o foco de instabilidade;

19. Explicar tardiamente ao país – quase duas semanas depois – as razões que o levaram a dissolver o Parlamento. Curiosamente justificou a decisão baseando-se nos erros, inépcia e instabilidade no seio do Governo. Agora pergunta-se, se o problema era o Governo porque é que este não foi demitido e só o Parlamento, que tinha uma maioria estável e que podia gerar um novo Governo é que foi dissolvido?

20. Não participar nas comemorações do 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência, preferindo antes lembrar o 1º de Dezembro Dia Mundial da Luta Contra a Sida. Fez bem, pois a Sida é um terrível flagelo que ameaça toda a Humanidade e é importante que se assinale um dia de luta contra a sida, mas o Chefe de Estado não fazer uma única referência que fosse à Restauração da Independência de Portugal e estar ausente das comemorações é preocupante. Será que faz parte da estratégia de integração europeia ignorar que Portugal um dia se libertou do jugo de uma nação estrangeira e se tornou novamente um País independente?
Nas comemorações do 365º aniversário da Restauração alguém viu o senhor presidente da república?

21. Segundo a imprensa, os gastos dos partidos na campanha eleitoral para as legislativas de 20 de Fevereiro ascendem a mais de 7 milhões de euros que serão suportados pelo Estado (pelo menos no que toca aos partidos com assento parlamentar). Para além disso, há ainda as despesas com o pessoal das mesas de voto (cerca de 50€ num dia). Também são remunerados e são pagas pelo Estado. Tal conjuntura foi despoletada pelo senhor Presidente da República, o mesmo que no seu discurso de 1 de Janeiro de 2005 apelava ao saneamento das finanças e à consolidação orçamental;

22. Defender, a pouco mais de um mês das eleições legislativas, a alteração do sistema eleitoral de forma a que seja facilitada a obtenção de maiorias absolutas sabendo que (não acredito que um político tão experiente seja ingénuo) pode influenciar o eleitorado, pois o Presidente da República é sempre a figura política mais popular e consensual pois não está exposto ao desgaste da governação nem é, ou raramente é, atacado pelos vários partidos políticos e comunicação social. Não admira que os vários partidos, da esquerda à direita, se tenham insurgido levando até o Presidente do Governo Regional da Madeira (PSD) a apelidar o senhor Sampaio de «inefável». Embora este tipo de declarações e provocações sejam usuais no senhor Alberto J. Jardim. Entende-se nas entrelinhas, inefável na ajuda à obtenção de uma maioria absoluta para o PS. Só o Partido Socialista (o partido, recorde-se, do Presidente do qual já foi inclusive líder) que viria a obter maioria absoluta, apoiou a iniciativa presidencial. Não está em causa se é o PS ou outro partido qualquer poder vir a ser beneficiado, o que está em causa é a inoportunidade de tal declaração, que pode ser, como foi, entendida como uma quebra de isenção, embora haja quem defenda que a isenção do Presidente não foi posta em causa. Pessoalmente, parto do princípio que as pessoas agem de boa fé e como tal não faço juízos de valor. Deste modo, não ponho em causa a seriedade e honestidade do senhor Jorge Sampaio no entanto, politicamente, não acredito na sua isenção e equidistância mas compreendo-o pois é natural que o seu coração penda para o partido de que é militante e que o apoiou para a Presidência da República. O problema da chefia de Estado republicana não é apenas de seriedade, ou falta dela, é o de mostrar que ela existe. «À mulher de César não lhe basta ser séria, é preciso parece-lo»;

23. Pouco mais de um mês antes das eleições legislativas o Sr. Jorge Sampaio, dando uma de Oposição, afirma que existe uma obcessão desmesurada com as questões económicas e que não é só de deficit que vive o país ou que existe mais para além do deficit. Passado pouco mais de um mês depois das eleições das quais resultou um novo Governo de cor politica diferente (a mesma do presidente da república) eis que o Sr. presidente vem afirmar numa nova abertura da presidência que os portugueses devem estar dispostos a aceitar sacrifícios e que a recuperação económica do país só se fará com rigor e disciplina. Como diria o grande Fernando Pessa: «E esta hein?!»

24. Participar na cerimónia de entrega de diplomas na Universidade onde o seu filho se formou. Mais, esteve na cerimónia de entrega de diploma aos licenciados sendo um deles o seu filho. Até aqui tudo bem, não fosse o facto de ter estado na cerimónia não como pai mas como Chefe de Estado entregando pessoalmente os diplomas aos novos licenciados e, claro, ao seu filho. Assim todos estes licenciados (e obviamente também o seu filho) têm o privilégio de pôr no seu currículo que receberam o diploma das mãos do presidente da república, o que é, para eles, uma mais valia. Já outros licenciados que tiraram os respectivos cursos em outras Universidades ou que não foram colegas do seu filho não têm direito a receber o seu diploma das mãos do presidente da república. É a igualdade e a ética republicanas mais uma vez em acção;

25. Visita a França com objectivo principal de divulgar a língua portuguesa e no entanto leva na sua comitiva um artista que canta em língua estrangeira;

26. Salvo erro um dos números do Semanário, de Abril, tinha como titulo «Belém receia vitória do Não» ao aborto. Mas alguém que seja realmente equidistante receia que qualquer parte seja ela qual for e sobre que matéria for possa ganhar umas eleições ou um referendo?!

27. Presidência aberta sobre sinistralidade: Exercício de demogogia, boa disposição e à vontade, até mesmo ambiente de camaradagem e fraternidade com ministros do PS, em contraste, relação fria, distante e até com algum incómodo e pouco à vontade com ministros do Governo do PSD-CDS. Será que um Rei ou Rainha daria tratamento diferenciado aos Governos democraticamente eleitos em função da sua origem partidária?

28. Propõe, em pleno verão - num ano de grande seca - a disseminação de campos de golfe por todo o país sabendo-se que estes são um enorme sumidouro de água... e de dinheiro. Não são muito recomendáveis em tempo de seca e mais do que campos de golfe onde apenas alguns podem desfrutar, o que Portugal realmente precisa é de escolas, hospitais, e outras infraestruturas básicas. Quando ouvi esta afirmação (típica de um novo riquismo e de dirigentes do terceiro mundo) fiquei de queixo caído! Não era para menos!

29. De acordo com o «Expresso», na sequência do «arrastão» de Carcavelos, os serviços da presidência resolvem pedir informações à embaixada de Cabo-Verde para saber «se o presidente corria riscos na visita que ia fazer à Cova da Moura». Ao que parece, foi o próprio embaixador daquele país africano, Onésimo Silveira, quem comentou o assunto durante uma reunião com associações cabo-verdianas em Portugal. Então o presidente não tem as polícias ou os serviços de informação da república para lhe fornecer os dados que pretende em relação a um bairro periférico da capital do seu próprio país indo procurar informações sobre o que se passa em território nacional a uma embaixada de um país estrangeiro?!

30. O crispado presidente que coabitou com os governos PSD/CDS-PP dá lugar a um outro presidente que funciona como um caixa de ressonância do governo PS. O que se exige é que um Chefe de Estado não seja nem oito nem oitenta;

31. 10 de Junho de 2005: Agradecimentos (com gozo ou sinceridade?) feitos por Sampaio a D. Afonso Henriques por ter, supostamente, aberto a porta para a implantação (eu diria imposição) da república em Portugal. Querem lá ver que tão genial mente ainda vai ganhar o Premio Nobel da Física por ter descoberto uma Teoria do Caos dependente do tempo. De acordo com a «velha teoria» uma pequena perturbação num qualquer ponto do espaço pode desencadear um acontecimento de grandes proporções a milhares de quilómetros de distância. É célebre a afirmação de que, segundo esta teoria, o bater das asas de uma borboleta na China pode desencadear uma tempestade no outro lado do mundo. De acordo com o que foi dito em Guimarães, um evento ocorrido num dado ponto no tempo desencadeou um outro evento centenas de anos depois (propagação no tempo). De génio... é um orgulho e um enlevo!

32. Condecorar o treinador de futebol, José Mourinho não pelo que ganhou em Portugal mas pelo que ganhou em Inglaterra;

33. Condecorar a banda irlandesa U2 pelo seu empenho na luta contra a pobreza. Para condecorar os U2 havia a ONU, havia a UNICEF, havia a União Europeia agora o presidente português...? Não havia necessidade! Na verdade, Sampaio interrompeu as ferias (e o Golfe) por causa da condecoração mas não as interrompeu por causa dos fogos que destruíam o seu país! Para cúmulo a cerimónia foi do mais degradante que houve, com os elementos da banda, em especial o seu vocalista, Bono, a mostrarem um total desrespeito para com o Chefe de Estado português não só pelos modos como também pela indumentária escolhida. Bono chegou mesmo a ir receber a condecoraçãozinha da república, em pleno Palácio de Belém, de chapéu à cowboy e óculos escuros (peças que nunca se dignou a tirar mas que deveriam ter sido retiradas, por ele, em consciência e num sinal de respeito para com o país e a instituição que o condecorava ou por exigência do protocolo). Alguma vez a Rainha de Inglaterra ou o Rei de Espanha ou uma Chefia de Estado como deve ser permitiriam tal coisa? Permitiu-a o chefe da abananada república portuguesa. Tal acontecimento deu um arzinho de terceiro mundismo a Portugal. Um facto triste e ao mesmo tempo hilariante...

34. Numa visita que fez a uma escola, assistiu a uma aula de inglês – não foi por acaso. O Governo pretendia incluir o ensino da língua inglesa logo na primária – e, inclusive, ensinou as crianças a pronunciarem correctamente a palavra «thank you». «Põe-se a língua entre os dentes assim... th...th...thank... thanks... thank you...» dizia e exemplificava ele. Dias depois el-lo de visita a França a discursar em francês afirmando, com firmeza... e fineza, que «é preciso combater a ditadura da língua inglesa no mundo!». Afinal em que é que ficamos?

35. Afirmar que ouviu todos os candidatos (quando ainda não eram ainda verdadeiramente candidatos mas pré-candidatos) às presidenciais quando na verdade apenas ouviu os 5 (pré) candidatos principais e mais mediáticos (os candidatos oficias da república; os do sistema, como dizia o outro). Pode-se sempre dizer que aqueles que não recebeu são oriundos da extrema-esquerda ou não têm qualquer expressão eleitoral. Mas e então Jerónimo e Louçã não são também eles oriundos da extrema-esquerda?! E Garcia Pereira? E todos os pré-candidatos? Mas esses ainda se compreende pois eram alvos a abater. Pelo menos dois deles (Manuela Magno e Luís Filipe Guerra) foram compulsivamente afastados num processo pouco pacífico e muito polémico. Não foram ouvidos porquê? Até a Comunicação Social os ignorou. Recomendo a todos os leitores deste artigo que visitem os sites e blogues (se ainda não foram retirados) destes candidatos enjeitados e verão ainda melhor a pouca vergonha que se verificou. Sendo assim, ou ouvia todos ou não ouvia nenhum. Onde é que está a equidistância e a neutralidade sempre tão apregoadas?

36. Não comparecer nas cerimónias fúnebres do sargento português dos Comandos morto no Afeganistão. Atitude bastante distinta daquela levada a cabo pela chefia de Estado espanhola, onde a Família Real esteve em peso e com dignidade nas cerimonias fúnebres dos soldados espanhóis que também encontraram a morte no Afeganistão.

37. Num artigo publicado no jornal O Diabo, de 20 de Dezembro, relacionado com o drama dos portugueses assassinados na Africa do Sul, o padre Gabriel, Presidente do Fórum Português Contra a Criminalidade na Africa do Sul (FPCCAS) acusa Sampaio de que «nunca respondeu às cartas enviadas nem nunca fez qualquer declaração» e afirma taxativamente que «Há um desinteresse total por parte da Presidência da República relativamente à situação dos portugueses na Africa do Sul». O FPCCAS chega mesmo a afirmar que perdeu totalmente o respeito pelas autoridades portugueses e em particular pelo Presidente da República que «se resigna ao silêncio, quando mostra ser o homem das presidências abertas, e que, mesmo em fim de mandato, não deixa boas impressões à sua comunidade na Africa do Sul» e encontra como explicação o facto de estes cidadãos «não poderem votar nas eleições presidenciais». Este semanário termina noticiando que, tal como mandam as regras do bom jornalismo, tentou obter, junto da Presidência da República, uma reacção às críticas do padre Gabriel. A resposta obtida foi o silêncio... Que mais é que eu posso dizer?!

38. Mesmo em fim de mandato, comete o erro, de «cair de pára-quedas» em plena campanha eleitoral para as legislativas e pré-campanha eleitoral para a presidência cabo-verdianas. Curiosamente, ao que parece, em Cabo-Verde os titulares de certos órgãos de soberania, tais como a presidência da república, quando se recandidatam ficam com o mandato anterior suspenso até ás eleições. A ideia deve ser para que todos os candidatos estejam em igualdade de circunstâncias; para que todos sejam apenas candidatos sem que haja um que seja simultaneamente candidato e titular de um cargo. Enfim... É nesta altura que o Sr. Sampaio resolve fazer uma visita oficial a este país e visitar o seu homologo cabo-verdiano embora este (já) não fosse Chefe de Estado pelas razões acima citadas. Fosse por desconhecimento da situação – configura um caso (mais um?) de incompetência dos serviços da presidência da república; dos assessores ou do protocolo – fosse por outra razão qualquer o que é certo é que com esta visita que não foi nada conveniente estalou a polémica tendo o candidato adversário do candidato presidente suspenso atacado violentamente o presidente português, acusando Sampaio de parcialidade e favorecimento de uma candidatura por ter visitado um candidato e não ter visitado o restante. Mais uma... em fim de mandato!!! Haveria necessidade?!

39. Ultima pérola – Afirmar que políticas de continuidade é coisa que não existe e que todos os governos começam sempre do zero. Isso explica muita coisa... No que diz respeito a Espanha – estabilidade política, economia fortíssima (já maior do que a economia canadiana e que justifica a entrada de Espanha no G8), um dos países da UE com saldo orçamental positivo, etc. - e EUA, por exemplo, e no que diz respeito a Portugal – que nem é preciso dizer nada.

Tendes razão! É um texto longo, chato, moroso... contudo a culpa não é minha no entanto tereis que reconhecer que os factos não deixam de ser, no mínimo, divertidos até mesmo... quixotescos. Quero apenas, para finalizar este assunto, deixar claro que estes equívocos ocorreram no último quarto do mandato presidencial. Agora imagine-se se estivessem aqui todas as pérolas que ocorreram em 10 anos!
Estejamos agora atentos ao senhor que se segue que, para começar, viu o seu pecúlio orçamental ser aumentado em 6% isto num país que se debate com uma crise orçamental, onde o poder de compra é cada vez menor e onde os salários aumentaram apenas pouco mais de 1%. E se antes a presidência já era dispendiosa agora mais dispendiosa fica. Na verdade, de acordo com a revista Exame de 2 de Novembro, a Presidência da República Portuguesa custou-nos, em 2005, a módica quantia de 13,325 milhões de euros – é paga a peso de ouro e depois o titular do cargo e os seus colaboradores ainda se saem com aqueles equívocos e asneiras todas! Refere ainda esta revista que, entre 2003 de 2004, a verba que lhe foi atribuída cresceu 7,7%. Agora com a aposta no controlo das despesas do Estado, os custos com a Chefia de Estado republicano sobem «apenas» 6% (!), em 2006, ou seja, sobem de 13,325 milhões de euros para 14,125 milhões de euros. O mesmo artigo refere ainda que a Casa Real Espanhola é 41,7% mais barata (!) tendo em 2004 um orçamento de 7,51 milhões de euros. Em 2005 este valor subiu para os 7,78 (+3,5%) e em 2006 o seu orçamento volta a subir apenas mais 3,5% para os 8,048 milhões de euros, sendo o mais barato de todos os departamentos do Estado espanhol e isto num país que tem um balanço orçamental positivo. Para além da Casa Real espanhola, e exceptuando a Casa Real Britânica, há ainda outras Casas Reais europeias poupadas. É o caso da dinamarquesa que gasta apenas 8 milhões de euros e da holandesa e da belga que consomem cada uma delas pouco mais do que 7 milhões cada uma. Nada mau para um tipo de Chefia de Estado que tem a fama de ser luxuosa, faustosa e dispendiosa. Está visto, uns têm a fama e outros o proveito e isso explica muita coisa!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

A vingança dos pequeninos

Tinha que acontecer mais dia menos dia. O Chelsea de José Mourinho sofreu uma pesada derrota por 3-0 frente a um modesto clube. Muitos havia que esperavam por isto. No dia seguinte eis os tablóides ingleses e outros a vangloriarem-se e a troçar de Mourinho ainda para mais quando este na véspera havia dito que o Chelsea seria campeão antes da Páscoa. Esquecem-se que isto acontece e que não é por morrer uma andorinha que vai acabar a Primavera. No entanto os pequeninos, os invejosos e os mesquinhos já tiveram o seu efémero dia de glória. A glória maior essa está guardada para quem é grande e para quem a merece.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Garotices

Primeiro foi a cena caricata do envio, por parte dos dirigentes do CDS, da fotografia do antigo líder dos democratas cristãos, prof. Freitas do Amaral, para a sede do PS quando Freitas aceitou o convite para integrar o governo de Socrates.
No domingo, foi a vez do chefe do governo «calar a boca» a Manuel Alegre, o socialista que foi candidato à presidencia desta república contra o candidato oficial do partido chefiado por José Socrates, quando este reagia aos resultados das presidenciais. Bem pode Socrates afirmar que foi coincidencia... É caso para dizer que em vez de «A mim ninguém me cala!» Alegre passe a dizer «A mim ninguém me cala... excepto Socrates».
Posteriormante quando so comunistas se preparavam para reagir aos resultados eis que Cavaco salta de casa para desviar as atenções dos jornalistas acabando os comunistas furiosos de punho em riste a gritar «Não nos calam».
Francamente parecem crianças a disputar um brinquedo. Portugal merece muitissimo mais respeito e os portugueses (e como alguns fazem questão de dizer; e as portuguesas) que eles dizem representar e para os quais dizem quer o melhor estão fartos de tanta futilidade e birrinhas estúpidas.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Bicentenário da morte de Bocage (1805 – 2005)


Apesar do ano do bicentenário da morte do poeta Bocage ter sido em 2005, não quero deixar passar em claro a alusão ao acontecimento ainda para mais agora que se aproxima a estreia de uma série na RTP sobre o poeta setubalense. À semelhança do que fiz anteriormente, aqui presto uma singela homenagem a um poeta único, pelo menos na História de Portugal pelos seus poemas de teor corrosivo, caustico, sarcástico, irónico, erótico e até pornográfico.


Magro, de olhos azuis, carão moreno

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n’altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
Inimigo de hipócritas e frades:

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou cagando ao vento.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Descubra as diferenças

Atentemos nos seguintes discursos. Um foi proferido, como sempre acontece no dia 1 de Dezembro por S.A.R. o senhor D. Duarte de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa. O outro é a tradicional mensagem de Natal proferida pelo Chefe de Estado espanhol S.M. o Rei Juan Carlos. Finalmente, o terceiro discurso foi a costumeira mensagem de Ano Novo proferida pelo Chefe do Estado português SEXA (Esta nova sigla aparece no site da Presidência e deduzo que signifique Sua Excelência. Hilariante até nisto...) Presidente da República Portuguesa Sr. Jorge Sampaio.
Vou-me abstrair de fazer comentários e as minhas conclusões não serão aqui publicadas. Quem ler este artigo e os respectivos discursos que tire as suas próprias conclusões.

Mensagem do 1º de Dezembro de 2005 de SAR o Senhor Dom Duarte de Bragança

Neste 1º de Dezembro passam 365 anos sobre a data em que o povo português pegou em armas para reafirmar a sua independência. São tantos anos quanto os dias do calendário, e que nos convidam a um balanço da vida nacional. Enquanto à nossa volta, a natureza faz cair as folhas de Outono e assistimos a efémeras agitações políticas, devemos auscultar as expectativas mais profundas dos portugueses, tal como o fizeram os Restauradores de 1640. Durante este ano, no território continental e nas regiões autónomas, visitei numerosos concelhos, quer a convite das autoridades locais, quer das Reais Associações e outras personalidades. Vi progressos económicos que, infelizmente, nem sempre respeitam essas outras riquezas que são o nosso património natural e arquitectónico. Mas também tive a oportunidade de ver que o Estado gasta parte dos nossos recursos em obras de luxo de país rico, enquanto continuamos a ter um nível de desenvolvimento humano próximo de alguns países, com os quais não gostaríamos de nos comparar. Não podemos gastar como se fossemos um país do "Primeiro Mundo" e ter uma formação, uma educação e um estilo de vida próximo do "Terceiro Mundo". Ou seja, gastamos como ricos e trabalhamos como os países pobres, de uma maneira desorganizada e com falta de planificação. Num ano de confrontos com minorias étnicas e religiosas em França, visitei em Portugal Associações de Solidariedade Social que realizam um bom trabalho de integração de jovens já nascidos em Portugal. Considero muito importante o apoio destas instituições na educação da chamada terceira geração e creio que todos deveriam ajudar esses jovens, seja por solidariedade, seja por prudência. Tal como em anos anteriores, realizei viagens e visitas de representação ao exterior, por vezes com minha mulher, viagens que, é oportuno referi-lo, jamais custaram um único euro ao erário nacional. Na Europa Central, a convite dos governantes, visitei a Bulgária e a Sérvia-Montenegro onde tive contactos com a população. São países que aspiram a integrar-se na União Europeia: mas nas suas bandeiras e escudos restabeleceram as coroas nacionais, como já sucedera na Rússia, Polónia e Hungria. Afirmam assim a vontade de iniciar um novo ciclo histórico, sem Por convite dos respectivos Governos Regionais, visitei a região da Galiza e a cidade autónoma de Ceuta. Em ambas fui muito bem recebido e testemunhei o apreço que essas regiões espanholas Visitei Comunidades Portuguesas na Bélgica, França, Luxemburgo, Suíça e Estados Unidos, e mantive contactos com personalidades desses países. São 4 milhões e meio de portugueses que lamentam que o português não seja uma língua ainda mais internacionalizada, devido à falta de uma grafia uniforme entre portugueses e brasileiros. Devemos bater-nos para que a língua de Fernando Pessoa e Luís de Camões, a língua de Gilberto Freyre e de Jorge Amado, a língua de Craveirinha e Luandino seja língua de trabalho na Organização das Nações Unidas.Entretanto, o calendário nacional é marcado pela aproximação das eleições presidenciais de 2006. Em primeiro lugar, saúdo os candidatos presidenciais. Desde 1976, o cargo de Presidente tem sido desempenhado por personalidades dignas e com provas públicas dadas. Teoricamente, o cargo é uma instituição democrática para a qual qualquer cidadão nacional pode ser eleito e permite ao eleitorado uma importante decisão sobre o nosso futuro. Mas apesar do formalismo da Constituição, só é candidato viável quem atingiu o topo de uma carreira político-partidária, promovido pelos aparelhos partidários, dificilmente encontrará independência fora deles. Em segundo lugar, congratulo-me que nas Comissões de Apoio dos candidatos mais destacados participem monárquicos convictos, tal como me congratulo que muitos outros permaneçam de fora. Para mim, isso significa que a ideia de monarquia se tornou transversal ao sistema político. Como tive ocasião de afirmar "Os portugueses devem perceber que a proposta dos monárquicos não é de "derrubar a República" e as suas instituições democráticas, mas sim de "dar um Rei à República." E agora acrescento que o nosso objectivo deverá ser a "democracia real", a democracia presente aperfeiçoada pela identidade histórica e pelas expectativas de um Portugal mais justo. Em terceiro lugar, e pensando no art.º 288 da Constituição que impõe "a forma republicana de governo", quero agradecer publicamente a todos quantos se têm batido nas Revisões Constitucionais - na de 1982, de 1992, de 1996, de 2004 - para que desapareça esse "ferrolho ferrugento". Em Abril de 2004, em sede de revisão constitucional, 108 deputados – contra 89 – votaram a favor da eliminação do "ferrolho" constitucional, aproximando-se bastante da maioria necessária de 2/3. Em representação de todos os deputados que ao longo destes anos continuam a apoiar esta causa, destaco, por já falecidos, os nomes de José Luís Nunes, Nuno Abecassis, e Francisco Sousa Tavares. Como herdeiro dos Reis de Portugal, continuo disponível para os grandes desafios colocados aos Portugueses, para servir a Pátria e para garantir a democracia através da instituição real. Um Rei representa não só o Estado democrático, de que é o garante, mas a Nação de cujos interesses permanentes é o guardião. Creio – e cada vez mais acompanhado me sinto – que a mais valia das instituições republicanas diminui à medida que se consolida a democracia e novas ameaças surgem Não vou insistir que as instituições republicanas nasceram sob o signo do sangue de D. Carlos e D. Luís Filipe de Bragança. Sobre esse sangue derramado no Terreiro do Paço, erigiu-se a República e os seus primeiros 16 anos de instabilidade seguidos por 48 anos de ditadura também republicana. Cortado brutalmente o fio condutor da evolução para formas superiores de liberdade e realização histórica, Portugal afastou-se do progresso político das nações politicamente mais felizes da Europa. Sabemos hoje que esse atentado terrorista da Carbonária merece a esmagadora repulsa do povo português. Conforme sondagem recente, 76.5 % da população considera-o "um crime horroroso", 18,8% "um mal necessário" e 4,6% "uma coisa boa para o país". Aproximando-se mais um aniversário do regicídio, quero exprimir o meu profundo repúdio pela violência e pelo terrorismo como forma de afirmação política, em qualquer parte do mundo. A 1ª República destronou o Rei mas a Democracia e a defesa da Res publica jamais foi o programa dos que a si próprios se designavam por "democráticos" e "republicanos". O regime implantado em 5 de Outubro de 1910 instituiu, em rigor, o "governo de uma plutocracia contra os interesses de uma grande massa de deserdados". Na 2ª República, ou Estado Novo, governou um homem solitário; a representação política seguiu o modelo do partido único. A oposição emocional entre república e monarquia, como o ainda faz certa propaganda republicana, tem pouco sentido no mundo actual da democracia. Causa estranheza falar de "ética republicana", quando existe uma só ética universal, expressa pelas religiões e pela moral nos princípios da liberdade, justiça e compaixão. Os velhos mitos da propaganda republicana são como um feitiço que se vira contra o feiticeiro. Recentemente, uma publicação nacional demonstrou que, conforme os Orçamentos de 2005, o Rei de Espanha receberá 7,8 milhões de Euros enquanto ao Presidente português cabem 13,32 milhões de Euros. Contas feitas ao PIB e à população, a Presidência da República portuguesa custa dezoito vezes mais por habitante que o Rei de Espanha! Nós preferimos naturalmente Portugal, mas decerto que não é por este motivo! Tenho apelado na comunicação social, nacional e internacional que vivemos um tempo de vésperas, um tempo de novos desafios a enfrentar com novas soluções... Na actual globalização das actividades económicas e financeiras, da tecnologia e da informação, o modelo clássico do Estado republicano atravessa uma profunda crise porque não responde às aspirações de identidade nacional. Os especialistas têm demonstrado esta crise em poucas palavras. E como creio que disse Albert Einstein, "os problemas de uma sociedade não podem ser resolvidos ao nível das soluções que os criaram". Os mercados nacionais, isto é, os espaços económicos protegidos do exterior que se afirmaram no passado, já não passam de sobrevivências, sem significado decisivo, a não ser para as pequenas empresas. O espaço económico europeu está aberto à maior parte das empresas que no caso das multinacionais que operam em Portugal, até preferem deslocalizar-se para Espanha. É cada vez maior o grau de autonomia dessas grandes empresas em relação às políticas definidas pelos governos dos Estados nacionais. Os Estados Europeus perderam o poder de cunhar moeda – como o escudo da República em Portugal – e de controlar os instrumentos das politicas monetárias, e vêem a sua liberdade orçamental gradualmente limitada. Com a abertura das fronteiras, têm dificuldades nas políticas fiscais e no domínio da redistribuição, para já não falar das dúvidas sobre a evolução do Estado Providência, e sobre a capacidade para garantir o pleno emprego. O declínio das prerrogativas nacionais é patente nas áreas da informação, da comunicação e da cultura. As novas tecnologias mudaram as fronteiras. À escala mundial afirma-se uma cultura mediática que condiciona todas as culturas Se a isto somarmos a internacionalização do crime organizado, o terrorismo, o tráfico de armas e de drogas, a proliferação nuclear, as questões ambientais e os fluxos migratórios, conclui-se que se reduziu de forma drástica a margem de manobra dos Estados europeus, nos planos interno e externo. Muitos dos domínios de acção que no passado estavam reservados à soberania nacional deram lugar a uma soberania partilhada e a um processo de integração que parece incontornável. Ao mesmo tempo, constato que as monarquias europeias se encontram entre os Estados mais desenvolvidos do mundo, conforme relatórios da OCDE e das Nações Unidas. Não afirmo que um rei resolve tudo; afirmo, sim, que um rei é sinal do caminho das boas soluções. No país e no mundo, surgem novos movimentos de revitalização regional, de revalorização dos poderes locais e de fascínio pelas singularidades culturais e pelas identidades territoriais. Cada Povo sente a necessidade de contrabalançar o esvaziamento do papel do Estado pela afirmação da sua identidade, entendida como realidade sociológica gerada a A rejeição do Tratado Constitucional Europeu, contra a opinião das elites governantes, teve muito a ver com isto. Com todo o respeito, não se trata de problemas para um Presidente da República.São problemas de uma outra escala; de como iniciar uma nova época histórica e de criar pontes entre civilizações. O nosso país merece um novo protagonismo nesta nova época. É neste contexto que a democracia real ganha cada vez mais adeptos em Portugal. Um dos desafios que se colocam aos portugueses é o de melhor utilizarem o seu sentimento identitário, em nada contraditório com a sua integração europeia, a sua pertença lusófona e a sua presença atlântica. Das últimas eleições presidenciais, conhecemos a elevada abstenção e a ausência de participação popular. Destas, só conhecemos ainda a falta de recenseamento dos jovens até 21 anos (só 30% se recensearam), que não recebem qualquer educação para a cidadania.Sendo ponto assente, em democracia, que o eleitorado tem sempre razão, então a maioria do Povo não se revê na imagem que a chefia do estado republicano tem dado de si própria. E isto não pode deixar de constituir matéria de reflexão política para o futuro. Os enormes desafios que se colocam ao País exigem mais do que nunca um Chefe de Estado que seja o representante simbólico da identidade nacional, o garante da coesão e um factor de união entre todos os portugueses, a instância suprema capaz de imprimir ao Estado o sentido permanente da prossecução do interesse nacional. Tenho para mim que só a figura de um Rei pode ser referência indiscutível para a Justiça, para a Defesa Nacional, para as Relações Externas, para Administração Pública. Julgo que os monárquicos aprenderam a lição. Um Rei não se deixa envolver em Se os Partidos Políticos são o "sal e pimenta" das democracias, e da liberdade de expressão, alguém tem de estar aparte deles – os Tribunais – e acima deles - o Rei, mantendo a chama da Identidade Nacional, tão importante num mundo cada vez mais globalizado e culturalmente indiferenciado. A magistratura de influência, não se resolve com a figura passageira de um Presidente da República; o nosso modelo constitucional semi-presidencialista confere-lhe poderes demasiados para intervir no governo mas não lhe dará nunca a distância nem a imparcialidade suficiente perante os portugueses. Por isso, a instituição real que durante oito séculos corporizou a identidade nacional surge, enquanto referência moral e histórica, como uma solução política de normalidade constitucional a merecer cada vez mais a reflexão nacional. Nesta nova fase de democracia consolidada mas de independência ameaçada, Portugal precisa de um Chefe de Estado que tenha a consciência que somos Europeus, Atlânticos e Lusófonos, nesse verdadeiro triângulo estratégico, referido há cem anos por um dos mais puros paladinos monárquicos do séc. XX, o então capitão Henrique de Paiva Couceiro. Comecei por afirmar que os anos que passam consolidam o prestígio das nações. Mais ainda no caso de uma Pátria como Portugal. Neste sentido queria concluir anunciando duas novidades, em meu nome e da Duquesa da Bragança. Em primeiro lugar, anuncio a intenção de criar em 2006 um "Prémio" que recompense os talentos e o serviço à comunidade prestados por cidadãos nacionais e no espaço da lusofonia. Finalmente, conto que, para o ano, se Deus quiser, o nosso filho Afonso, ao fazer dez anos esteja presente no seu "primeiro" 1º de Dezembro. Tal como sempre eu e a minha família, ele está a ser preparado para servir Portugal.


MENSAJE DE NAVIDAD DE SU MAJESTAD EL REY

Palacio de La Zarzuela, 24 de diciembre de 2005

Me dirijo a todos vosotros en este tradicional mensaje de Nochebuena para compartir, brevemente, algunas reflexiones y expresaros de corazón, junto a la Reina y a toda mi familia, nuestro mayor afecto y mejores deseos de felicidad en estas fechas navideñas.

Dedicamos nuestros sentimientos de especial cercanía y cariño a cuantos padecen cualquier tipo de sufrimiento o grave dificultad. Esta noche no quiero ni puedo olvidar a quienes este año han fallecido en su entrega a los demás; les dedicamos nuestro más emocionado recuerdo, al tiempo que abrazamos a sus familias en el dolor; que el ejemplo de solidaridad que nos han dado, y que tanto valoramos, nos sirva a todos de guía para seguir construyendo una España siempre mejor.

España es una gran Nación. Las últimas décadas de nuestra historia no tienen precedentes en términos de paz, progreso y libertad. Nuestro modelo de convivencia se ha convertido en referencia para otros. Nuestra economía presenta una buena salud. Seguimos generando empleo, creciendo por encima de la media europea; y, aunque quede mucho por hacer, nuestro nivel de bienestar, sistema asistencial, equipamientos, transportes o infraestructuras se aproximan a los más avanzados.

No ha sido fácil llegar hasta aquí. Lo conseguido es fruto de los sacrificios de todos los españoles, que supieron superar rencores y divisiones, mirar al futuro y trabajar día a día para hacer de España el país moderno, justo y solidario del que podemos sentirnos orgullosos.

Es ampliamente mayoritario el convencimiento de que lo que hemos logrado se lo debemos a la reconciliación, a la concordia y al amplio consenso que permitieron alumbrar nuestra Constitución.

Sin ella, sin el respeto y la lealtad a sus reglas, valores y principios y sin el esfuerzo de todos, no podría explicarse ni la modernización vivida por España, ni la envidiable estabilidad política, económica y social que hemos venido disfrutando.


Vemos que nuestro país es hoy una realidad de libertad y progreso, organizado territorialmente en el respeto a su rica pluralidad y diversidad. Tenemos motivos para sentirnos particularmente orgullosos del rico patrimonio histórico, cultural y lingüístico de España.

Cierto es que vivimos avances y también algunas dificultades. Y debemos esforzarnos por resolverlas de común acuerdo. Para ello, debemos recurrir al diálogo responsable y sincero, dentro del respeto a nuestro marco constitucional, utilizando los cauces institucionales y democráticos, favoreciendo siempre el predominio de lo que nos une, nunca de lo que nos pueda separar, fomentando la concordia, el consenso y el respeto mutuo que han hecho posible nuestra estabilidad y progreso.

Mi mensaje de esta noche es bien sencillo. Frente a las tensiones y las divisiones, debe prevalecer -por parte de todos- la firme determinación de intentar superarlas desde la moderación y el sosiego, mediante la búsqueda del más amplio consenso en el marco de las reglas, principios, y valores de nuestra Constitución. Todo lo que se ajuste a estas pautas será siempre más sólido, más seguro y, sobre todo, más integrador.

Confío plenamente en que las instituciones y los partidos del arco constitucional sabrán siempre servir fielmente al interés general, y al deseo mayoritario del pueblo español de preservar y ensanchar nuestra armónica convivencia.

En su esfuerzo cotidiano, la Corona no olvida lo mucho que siempre queda por hacer para superar carencias o resolver problemas, promoviendo la solución de las necesidades de los más humildes, de quienes por ser los más desfavorecidos y vulnerables, más necesitan ser escuchados y atendidos.

A todos nos duelen las cifras de ciudadanos que viven en España por debajo del umbral de la pobreza, en contraste con las que avalan nuestro sostenido crecimiento económico. Una sociedad solidaria y de progreso, como la española, debe comprometerse con todo empeño en la lucha contra la pobreza, la marginación o la exclusión social. Debe mantenerse vigilante para corregir desigualdades, extender las oportunidades de empleo, mejorar la cobertura sanitaria y la protección social, atender a discapacitados, a personas dependientes, o facilitar el acceso a la vivienda.

Terminar con el terrorismo sigue siendo un objetivo prioritario e inaplazable. Sus instigadores, encubridores y autores materiales no han cejado en sus objetivos, amenazas y extorsiones. Su profunda crueldad está presente en las cicatrices de tantas familias de víctimas, a las que nos debemos y cuyo dolor nunca podremos compensar. Para acabar con esa lacra debemos incrementar nuestros esfuerzos, sabiendo que contamos con los instrumentos del Estado de Derecho, la acción de la Justicia y de las Fuerzas y Cuerpos de Seguridad, y con una creciente cooperación internacional.

También nos preocupa el drama de la inmigración ilegal. No podemos tolerar que prospere el tráfico de seres humanos. Tampoco debemos permitir que inmigración sea sinónimo de muerte, explotación, o discriminación. Como nueva realidad social de grandes dimensiones, la inmigración debe ser abordada por todos con profundo sentido de la responsabilidad.

Nuestro propio éxito nos ha hecho, lógicamente, más dependientes del exterior. Evitemos encerrarnos en nosotros mismos. No olvidemos que muchos retos y oportunidades se sitúan más allá de nuestras fronteras, en áreas cada vez más lejanas y competitivas. En este nuevo siglo, más que nunca, la defensa de los intereses de España y de los españoles exige del Estado actuar en el exterior con la máxima cohesión de todos: instituciones, fuerzas políticas, y agentes económicos y sociales. Si no somos capaces de sumar fuerzas, si no concentramos adecuadamente nuestros esfuerzos, debilitaremos nuestra capacidad de acción y de negociación exterior; y serán otros quienes se beneficien de esa debilidad.

Pienso a menudo en los jóvenes. Os necesitamos. Vosotros sois capaces de contagiar ilusión, dinamismo, frescura de ideas y solidaridad. Sabemos de vuestra identificación con nuestro sistema de vida en democracia que hace de España un país libre, dinámico y moderno. De ahí la importancia que, para el futuro, tiene vuestro compromiso con el modelo de convivencia de nuestra Constitución. Un compromiso al que debemos corresponder con el apoyo y estímulo a vuestros anhelos de mayor participación y mejor formación.

Llevo años insistiendo en que la mejora de la educación y el fomento de la innovación tecnológica son tareas prioritarias. No estamos solos en el mundo. La competencia exterior resulta implacable. De la calidad educativa y del progreso tecnológico depende en gran medida que España pueda mantener y acrecentar sus niveles de progreso y bienestar. Para ello, sólo hay una receta: más y mejor educación, más y mejor innovación.

Con motivo del Treinta Aniversario de mi proclamación como Rey, han dominado en mí sentimientos de satisfacción por lo mucho que ha cambiado España, de admiración y gratitud a los españoles por su continuado esfuerzo, por su generosidad y solidaridad; también sentimientos de fe en el futuro, de rotunda convicción de que, si juntos hemos llegado hasta aquí, es todavía mucho más lo que unidos podremos seguir alcanzando.

A lo largo de estos años he tenido la grata ocasión de hablar con españoles de todas partes, de muy distintas edades, ideas y ocupaciones, lo que me ha permitido conocer de cerca las alegrías, anhelos y preocupaciones de muchísimas personas, trabajadoras y honestas, fieles a sí mismas, a quienes agradezco su labor.

Tengo plena confianza en España y en los españoles. Siempre podréis contar con mi entrega ilusionada y mi permanente voluntad de servicio, con mi empeño por sumar esfuerzos para afrontar nuevos retos y objetivos, y con mi más firme compromiso y el del Príncipe de Asturias con el futuro de España. Para la Corona, el año concluye con el muy feliz nacimiento de la Infanta Leonor, que amplía y garantiza la continuidad en la sucesión.

Para terminar, quiero reiterar la permanente necesidad de actuar con grandeza de miras para seguir haciendo de España un país cada vez más moderno, unido, justo y solidario, preparado para alcanzar nuevos éxitos. Os animo a trabajar con ese espíritu y con ese horizonte, contribuyendo, día a día, al desarrollo de vuestros pueblos y ciudades, de vuestras Comunidades Autónomas y, en suma, del conjunto de España.

Eso y mucho más es lo que merece España, y merecéis todos y cada uno de los españoles.

A todos dirijo un abrazo cargado de profundo afecto, con mis mejores deseos de paz, felicidad y prosperidad para estas Fiestas y el Nuevo Año 2006. Unos deseos que hago extensivos a cuantos españoles viven, trabajan o prestan servicio fuera de nuestras fronteras, así como a los numerosos extranjeros que han escogido a España como hogar y contribuyen a nuestro desarrollo.

Buenas noches.



Mensagem de Ano Novo

Palácio de Belém 01 de Janeiro de 2006

Portuguesas, Portugueses
O ano que passou ficou marcado por um conjunto de dificuldades internas e externas, de crises com repercussão directa sobre a nossa comunidade nacional e consequências para a posição internacional do nosso País.
Em Fevereiro realizaram-se eleições gerais antecipadas. Os portugueses não só elegeram uma nova maioria parlamentar, como quiseram dar a maioria a um só partido político. Com essa decisão, fortaleceram as condições de estabilidade política e institucional, que considero indispensáveis para efectivar o conjunto de reformas políticas, económicas e orçamentais sem as quais não será possível combater eficazmente as tendências de crise.
Portugal precisa de recuperar o caminho do crescimento, do desenvolvimento e da confiança. Neste momento a minha preocupação vai para a situação de muitos portugueses que enfrentam grandes dificuldades no seu emprego e na sua vida.
Com a minha solidariedade, quero garantir que todos estamos empenhados em melhorar a situação social do nosso País.
Apontei aos diversos Governos a necessidade e urgência dessas reformas, quer aos Governos de coligação entre o Partido Social-Democrata e o Partido Popular, quer aos Governos do Partido Socialista. Todos eles puderam contar com a solidariedade institucional do Presidente da República, e com o meu empenho constante em revelar toda a extensão dos problemas, de modo a poder mobilizar a vontade nacional para os resolver.
Não aceito, e sei que os Portugueses também não aceitam, um País adiado ou conformado, e, menos ainda, o regresso a uma existência apagada e ao isolamento mesquinho, que marcou os longos anos sombrios do Estado Novo. A democracia portuguesa que é liberdade, pluralismo e Estado de direito, não deve deixar de ser também solidariedade, justiça, modernização e desenvolvimento.
Esta confiança no nosso destino colectivo não a podemos perder.
Quero, a este propósito, referir os problemas da justiça que tanto preocupam os portugueses. Este tema foi um tema permanente ao longo dos meus dois mandatos como Presidente da República. Como era minha obrigação, procurei, por um lado, antecipar a crise na justiça para a evitar, enquanto tal foi possível. Como me competia, tenho contribuído para conter os piores efeitos da crise.
As democracias modernas assentam no princípio da separação de poderes, respeitando sempre, em todos os casos, o princípio da unidade do Estado. Só quem não compreende o sentido último da democracia política, pode querer transformar o bom princípio da separação de poderes numa regra de competição e rivalidade entre os pilares da constituição democrática.
A democracia moderna é sinónimo da liberdade, do pluralismo político e do primado do direito. Nesse sentido, a própria democracia é posta em causa quando a Justiça não protege suficientemente as liberdades e direitos fundamentais, que são a razão de ser primeira do Estado de direito.
No mesmo sentido, o lugar constitucional do Presidente da República e o seu mandato para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas exige da sua parte uma atenção permanente às instituições judiciárias e seu funcionamento.
Portuguesas, Portugueses,
Em 2005, comemoraram-se os trinta anos das independências de Moçambique, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe e de Angola, quatro novos Estados africanos de língua portuguesa. Também em Timor-Leste se celebrou a data da primeira proclamação da independência, em Novembro de 1975.
Pela minha parte, quis associar Portugal a essas comemorações, tanto na celebração do 25 de Abril, como, no caso de Angola, participando pessoalmente, a convite do Presidente da República angolana, em cerimónias realizadas em Luanda a 11 de Novembro.
Tomei essa decisão por entender que podemos assumir, com sentido de responsabilidade, as dificuldades de um processo de descolonização tardio, que se sucedeu ao movimento militar de 25 de Abril e se precipitou durante o período revolucionário de transição. Como todos sabem, o regime autoritário do Estado Novo, não efectuou a descolonização; depois do 25 de Abril, no meio das perturbações revolucionárias, não foi, infelizmente, possível controlar esses processos de transferência de soberania em todos os casos, com consequências dramáticas em Angola e, sobretudo, em Timor-Leste.
Trinta anos depois, com a reconciliação nacional, a paz regressou a Angola, enquanto uma viragem extraordinária tornou possível a auto-determinação democrática e a independência dos Timorenses. Em ambos os casos, como era nosso dever histórico e, no caso de Timor-Leste, reforçado por uma obrigação constitucional, pudemos contribuir para esse desfecho final.
Sem negar que houve períodos de luz e períodos de sombra, podemos ter orgulho na nossa história e na força dos nossos vínculos com as nações que falam a mesma língua. É essa a base sólida das nossas relações fraternas com Timor-Leste e com Angola, bem como com Moçambique, com Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e com a Guiné, unidos com o Brasil na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Portugueses, Portuguesas,
O ano de 2005 foi o pior ano da crise europeia. Como todas as crises profundas, as suas causas são complexas e não se podem resumir nem a um só factor, nem, muito menos, a um único momento. Não é menos verdade, porém, que certos momentos adquirem a força de uma revelação como sucedeu com os referendos negativos em França e nos Países Baixos, que rejeitaram o Tratado Constitucional da União Europeia.
O nosso destino está indissociavelmente ligado ao destino da União Europeia e a crise europeia, a mais grave desde a sua fundação, tem de ser resolvida, solidariamente, pelo conjunto dos Estados membros. No passado, a nossa atitude em relação à integração europeia, mesmo depois da adesão plena à Comunidade, foi, frequentemente, passiva. Permanecemos demasiado tempo distantes da política europeia, como que prisioneiros de um nacionalismo arcaico, de um Portugal que não se envolvesse nas questões da Europa continental. Estes preconceitos foram, como sempre, prejudiciais para a projecção dos interesses portugueses, que reclamavam uma presença constante na primeira linha da construção europeia, em todos os domínios - na moeda única, nos acordos de Schengen, nas políticas de defesa e segurança.
Uma viragem histórica, com Portugal a ocupar o seu lugar na frente da construção europeia, iniciou-se na década de 1990, mas, neste momento, a exigência é ainda maior. Portugal tem de poder contribuir para a resolução politica da crise europeia, sem a qual a sua própria crise nacional não pode ser ultrapassada. A resposta à crise não pode ser o retraimento e o recuo para uma rectaguarda inexistente. A resposta à crise impõe que recuperemos a dinâmica de integração, que é o garante da estabilidade e da coesão da União Europeia e, como tal, uma condição permanente da paz nas relações, tão profundas, entre as democracias europeias. A recente aprovação das perspectivas financeiras para 2007/2013 é um acontecimento positivo que devemos ter presente.
Neste dia, quero saudar com especial afecto os portugueses que vivem fora de Portugal, mas que mantêm intacta a ligação à terra onde nasceram. De igual modo, saúdo com muita simpatia todos os estrangeiros que vivem entre nós e que, no respeito pelas nossas leis, contribuem para o progresso de Portugal. A humanidade com que os ajudamos a integrarem-se é não só um dever que temos para com eles, mas uma condição para sermos uma comunidade coesa.
Quero dirigir igualmente uma palavra especial a todos os militares portugueses que integram missões internacionais de paz, aos quais quero expressar a nosso solidariedade e reconhecimento.
Portuguesas, Portugueses
Vamos eleger um novo Presidente da República. A eleição ocorre, como todas as eleições desde o 25 de Abril de 1975, num quadro de normalidade que assegura o respeito integral pela vontade dos cidadãos portugueses e a legitimidade da sua escolha politica.
Por outro lado, a próxima eleição presidencial vai ter lugar num quadro de estabilidade constitucional, marcado por um forte consenso nacional sobre o estatuto institucional do Presidente da República e sobre a função presidencial. Eleito pelo voto directo dos seus concidadãos, o Presidente da República ocupa o vértice do nosso regime constitucional e é como tal reconhecido pelos Portugueses, que se revêem no seu alto magistério, marcado pelas pesadas obrigações de defender os interesses nacionais do Estado e garantir a democracia portuguesa.
Todos os indicadores demonstram o elevado prestígio do Presidente da República, o que confirma a sua posição como um factor insubstituível de unidade entre todos os Portugueses.
Sei que os Portugueses valorizam a próxima eleição presidencial. O Presidente da República é o primeiro garante da democracia portuguesa e o responsável último da independência nacional.
Apelo aos portugueses a que participem nesta escolha tão importante para o nosso futuro.
Caros compatriotas.
Neste dia especial para todos, e muito especial também para mim, quero desejar a todas as Portuguesas e a todos os Portugueses um Bom Ano Novo. Por maiores que sejam as dificuldades do presente, vamos vencê-las. Tenhamos esperança no futuro de Portugal.

Far-se-á justiça


Foi com enorme alegria que li, há pouco mais de uma semana, no Correio da Manhã que estão sendo feitas diligências no sentido de trasladar para Portugal os restos mortais da Rainha D. Maria Pia, de Itália para o nosso país. Actualmente, D. Maria Pia é a única Rainha de Portugal que não está sepultada em solo luso. Na verdade, citando Eduardo Nobre in Casa Real D. Maria Pia foi «a Rainha que Portugal esqueceu». Afirma ainda Eduardo Nobre que «Portugal nunca soube retribuir a paixão que D. Maria Pia votou ao seu país de adopção, onde, mais do que esposa, mãe e avó de reis, foi uma Rainha que marcou indelevelmente a sua época». «Quase um século após da sua morte, Portugal não se interessou ainda por recolher da Basílica de Superga os restos mortais da Rainha D. Maria Pia, para que repousem no Panteão de S. Vicente, ao lado do marido, dos filhos e dos netos» e termina, não só acusando Portugal de que «Mais que ingratidão, mais que injustiça, trata-se de um esquecimento que nos envergonha» como lança ainda «... o apelo para que se promova urgentemente o regresso a Portugal dos despojos da Rainha D. Maria Pia, com as honras nacionais que a todos os títulos lhe são devidos, e com o carinho e respeito que a sua memória nos merece»; parece que o seu apelo foi escutado! Portanto, ao concretizar-se tal evento far-se-á justiça sobre uma das mais carismáticas e populares Rainhas de Portugal. Mas qual o porquê de tanta popularidade e porque é que a sua memória nos merece tanto carinho e respeito?
D. Maria Pia de Sabóia nasceu em Turim a 16 de Outubro de 1847. Era filha de Victor Manuel, Príncipe do Piemonte e futuro Rei de Itália e de D. Maria Adelaide Francisca Reinero Elisabete Clotilde. Em 1862 foi pedida em casamento pelo Rei D. Luís I realizando-se este em Turim por procuração em 27 de Setembro de 1862. A jovem Rainha embarcou, em Génova, a bordo da corveta Bartolomeu Dias, no dia 29 de Stembro chegando a Lisboa seis dias mais tarde. Foi recebida entusiasticamente, em Portugal, no dia 5 de Outubro de 1862.
D. Maria Pia manteve-se sempre distante em relação aos acontecimentos políticos. Durante o reinado de D. Luís I, interveio de forma determinante apenas quando se deu a revolta de 19 de Maio de 1870. À noite, quando o marechal duque de Saldanha, à frente dos revoltosos foi cercar o palácio da Ajuda intimando à demissão do ministério presidido pelo duque de Loulé, a Rainha, afirmou aí a sua energia e coragem de forma notável. Posteriormente, a 2 de Outubro de 1873, estando a banhos em Cascais e tendo ido passear com seus filhos ao longo da costa até um local chamado de Mexilhoeiro, correu grande perigo a sua vida. Ao ver uma onda que lhe arrebatara os filhos, a heróica Rainha lançou-se à agua para os salvar e seria irremediavelmente arrastada para o mar vítima da sua dedicação maternal se em seu auxilio e dos príncipes não viesse o faroleiro da Guia, António de Almeida das Neves, que conseguiu arrastar para terra a Rainha e os filhos. Por este acto foi a heróica soberana agraciada com a medalha de ouro concedida ao mérito, filantropia e generosidade, por carta régia de 3 de Outubro de 1873, sendo também recompensado o seu heróico salvador com uma condecoração e pensão vitalícia.
O Inverno de 1876 foi rigorosíssimo, havendo grandes inundações, que deram origem a enormes tragédias, ficando muitas famílias completamente na miséria. Por iniciativa da bondosa Rainha logo se organizou uma comissão para angariar donativos para socorrer as vítimas das inundações. Os donativos recebidos ascenderam a mais de réis 200.00$000, formando D. Maria Pia um fundo especial com que depois foi socorrendo muitas das famílias vítimas da dureza dos Invernos. Na sessão da câmara dos deputados de 9 de Janeiro de 1877, o deputado da oposição Osório de Vasconcelos exaltou a iniciativa de Sua Majestade a Rainha, propondo o deputado Barros e Cunha que a câmara «prestando à caridosa iniciativa de Sua Majestade a Rainha por bem usar, em beneficio das vitimas das inundações, a homenagem que lhe deve em nome do povo que representa, resolve que este voto seja lançado na acta das sessões, e que uma grande deputação deponha aos pés da augusta princesa o tributo do seu reconhecimento.» A sociedade francesa L’encouragement au biem conferiu a D. Maria Pia a grande medalha de honra, na sessão de 27 de Maio de 1877. Quando ainda neste mesmo ano a fome atingiu os povos do Ceará em consequência das grandes secas que houve por aquelas paragens, a Rainha de Portugal propôs e foi aprovado que do cofre dos donativos destinados às vitimas das inundações fosse retirada a quantia de réis 36.000$000 destinada a socorrer as infelizes vitimas de tal calamidade.
D. Maria Pia fundou ainda na Tapada da Ajuda a Creche Victor Manuel, que foi inaugurada em 1 de Novembro de 1878, tendo sido construído um edifício próprio para aquele fim. Esta Rainha foi ainda uma grande entusiasta da então recém criada Organização Internacional da Cruz Vermelha sendo uma das maiores impulsionadoras da criação da Cruz Vermelha Portuguesa.
Quando circulou em Lisboa a noticia da lamentável desgraça do incêndio do teatro Baquet do Porto em Março de 1888, a Rainha D. Maria Pia partiu imediatamente de comboio numa noite de temporal, vestida de luto, pois de luto estava aquela cidade, para juntar as suas lágrimas às de tantos infelizes, correndo pelas vielas mais sórdidas do Porto, e becos escuros, a levar conforto a desgraçados que agonizavam, distribuindo esmolas a todos os infelizes que encontrava. Ali no Porto foi logo aclamada como mãe dos pobres e anjo da caridade, títulos esses que já há muito que havia conquistado pela sua beneficência. Era Grã-mestra da Ordem de Santa Isabel, Grã-cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, condecorada com a Ordem das Damas Nobres de Maria Luísa, de Espanha, presidente e protectora de muitas corporações de beneficência do Reino, e especialmente, da Associação das Creches.
Viu falecer pouco tempo depois o seu marido, o Rei D. Luís I, em 19 de Outubro de 1889, em Cascais, o que lha causou profundo desgosto e em 1 de Fevereiro de 1908 sentiu a dolorosa perda de seu filho, o Rei D. Carlos I e de seu neto, o Príncipe Real D. Luís Filipe, vitimas do infame atentado terrorista do Terreiro do Paço. Foi obrigada a sair de Portugal, no dia 5 de Outubro de 1910, aquando da imposição da república, exactamente 48 anos depois de ter chegado ao nosso país indo para o exílio em Itália.
O trágico desaparecimento de seu filho e neto, e os posteriores acontecimentos tornaram-na meio demente. Viria a falecer no palácio de Stupinigi a 5 de Julho de 1911. Ainda assim, na hora da morte, pediu que lhe virassem a cabeça na direcção de Portugal pois queria fechar os olhos na direcção do país que a acolhera em festa quase 50 anos antes.