sábado, março 23, 2013
Bem-aventurados aqueles que têm um líder assim
Há pouco mais de uma semana, em Roma, na milenar e denominada Cidade Eterna, emergiu de uma obscura e restrita eleição cujo colégio eleitoral se reúne à porta fechada e no mais profundo dos sigilos, designada Conclave – palavra que resulta da fusão das palavras latinas cum clave que significa precisamente com chave, fechado à chave – cujo cerimonial remonta à Idade Média, um homem já idoso, afável de expressão calma e tranquila e de uma bonomia assombrosa., vindo do fim do mundo, como ele mesmo afirmou e que desde então não tem parado de surpreender o mundo e a mim próprio em particular devo confessar. O eleito é, para além de um líder religioso, um Chefe de Estado; o Chefe do Estado teocrático do Vaticano, o mais pequeno e sui géneris Estado do mundo não só porque consiste num mini-enclave no coração da cidade capital (Roma) de um outro estado europeu, gigantesco comparativamente a ele mas que não só o tolera como também com ele colabora e protege, a Itália; mas também porque de entre todos, é regido por uma secular, estranha e única fórmula política: O Estado do Vaticano é uma Monarquia Electiva Absoluta Teocrática e o seu Chefe de Estado, denominado Papa a quem é dado o título protocolar de Sua Santidade. Ao mandato/reinado vitalício de um Papa é dado o nome de Pontificado o qual só termina com a morte ou resignação do seu titular. Este homem é também simultaneamente líder da Igreja Católica Apostólica Romana. Devo de antemão fazer uma declaração de interesse não por preconceito ou desprezo para com os católicos mas simplesmente para que os meus caros e ilustres leitores me vejam como uma pessoa insuspeita relativamente ao assunto. Eu, pelo menos até ao dia em que vos escrevo este pequeno texto, não professo a religião católica. Aliás não sou seguidor de qualquer religião. Sou aquilo que chama de agnóstico – o que é diferente de ser ateu. Aquando da sua eleição como Papa, num dos passos do formal e pesado cerimonial medievo, ao lhe ser perguntado porque nome queria ser chamado durante o seu Pontificado, respondeu simplesmente Francisco. Apesar de agnóstico, como vos disse, a eleição de um Papa desperta-me interesse não apenas porque o evento é mediático e único e se reveste de uma simbologia própria e deveras antiga mas também porque não é frequente. Na verdade, com este, é o segundo Conclave que assisto embora tenham já decorrido três durante o período da minha existência. Porém do Conclave de 1978 não guardo qualquer recordação pois era muito pequeno. Decorridas quase duas semanas de Pontificado, tenho seguido com interesse e perplexidade o percurso de S.S o Papa Francisco I pela simples razão de que este é um líder de facto. Em pouco mais de uma semana já é um líder carismático e inspirador para milhões de homens, mulheres e crianças não apenas católicos diga-se de passagem. Francisco I é uma verdadeira lição para o mundo. Por mais do que uma vez, logo nos seu primeiros actos oficiais, quebrou o inflexível protocolo Vaticanista. Prescinde de viatura oficial preferindo viajar no autocarro em conjunto com os «seus irmãos Cardeais» aquando do fim do Conclave e apresentação ao mundo, telefonou para o recepcionista da casa onde esteve hospedado para agradecer pessoalmente o tratamento enquanto ali esteve, pagou a estadia do seu bolso, foi buscar os seus pertences pessoalmente e tantos outros actos que não vou aqui referir para não me tornar exaustivo. Premeditado? Programado? Talvez se possa dizer que sim. Pessoalmente não creio. A verdade vem sempre ao de cima e tarde ou cedo a máscara cai quando toda uma linha de acção é artificial. Em Francisco I tudo me parece terrível e assombrosamente simples, autentico, genuíno e espontâneo. Pequenos nadas que fazem a diferença entre o carisma e a insignificância. Que diferença faz para com todos aqueles pseudo-líderes que por aí pululam pelo mundo fora e em particular por este nosso Portugal e que vão desde directorzecos de escolas e demais isto e aquilo passando por presidentezecos de junta e de (ou da, conforme a preferência) câmara, políticos ou melhor dizendo, pseudo-políticos menores, ministros, secretários, assessorzecos de meia tigela e semi-letrados… Quanta gente boçal, pequenina, vulgar e insignificante mas soberba como só os tolos sabem ser, que se acham grandes mas que quando postos à prova e perante a primeira adversidade tremem que em varas verdes e claudicam sem honra nem glória. Coitados, que pena me despertam! Felizmente e apesar de tudo devo referir por uma questão de justiça que no meio dessa gente menor ainda há outros poucos é certo, de primeiríssima água. Como foi para mim – e não devo ser o único a pensar assim - vulgar e pequenina a presença fugaz e insignificante do Sr. Silva, o Chefe de Estado que coube em sorte a Portugal, e da sua Maria diante da figura majestosa e simultaneamente paternal, cordial e simples de Francisco I! Como foram fenomenal e magistralmente eclipsados em apenas uma semana. Eis um líder em toda a sua plenitude. A gota de água, o gesto que mais me impressionou (o que não é fácil) e que dissipou todas as dúvidas do meu espírito relativamente ao Papa Francisco, foi quando este vislumbrou no meio da multidão um deficiente profundo, mandou parar a viatura em que seguia (mais uma quebra de protocolo… e de segurança) e a ele se dirigiu, o acarinhou e beijou. Um pequeno gesto que indubitavelmente deu uma infinita tranquilidade e paz de espírito àquele desgraçado que podia inclusive morrer a seguir e que certamente morria feliz e em profunda paz. O Papa Francisco I é talvez e cada vez mais o meu primeiro ídolo, será, confesso, a primeira vez que sou fã (com racionalidade e não histerias) de alguém. E porquê? Simplesmente porque me revejo em Francisco I o qual representa tudo aquilo que é defendido neste blog. A sua profunda preocupação social, a protecção aos pobres – de facto nos pobres e na pobreza está a génese da escolha do nome Francisco – a busca pela justiça, pelo que é justo, as questões ambientais, o Poder visto como serviço; para Francisco, Poder é servir – como aliás é o título de um livro seu – e não servir-se como alguns vão fazendo, servindo-se a si, à família e aos amigalhaços. Poder é servir. Não tenham medo de ser bons. Não enveredem pelo caminho da destruição e da morte. Preocupem-se e cuidem uns dos outros, dos animais e da natureza. Cuidem das crianças, dos velhos, dos doentes, dos fracos, dos desprotegidos. Já tudo isto ele disse. Acção e palavra, palavra com acção, palavras simples e sábias e não palavras ocas inseridas em retóricas floridas e artificiais. Como eu me identifico com este novel Papa! Confesso que continuo agnóstico mas o Papa Francisco I será para mim, sem a mais pálida sombra de dúvida, uma referência e uma fonte inspiradora. Aliás, já o é.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário