Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, As Farpas, "8 - Dezembro de 1871":
«A emigração é decerto um mal.
Porque aqueles que se oferecem mostram ser, por essa resolução, os mais enérgicos e os mais rijamente decididos; e num país de fracos e de indolentes, é um prejuízo perder as raras vontades firmes e os poucos braços viris.
Porque a emigração entre nós, não é como em toda a parte a transbordação de uma população que sobra, é a fuga de uma população que sofre;
Porque não é o espírito de indústria, de actividade, de expansão, de criação, que leva os nossos colonos, - como leva os ingleses à Austrália e à Índia - é a miséria de um país esterilizado que expulsa, sacode e que instiga a emigrar, a procurar longe o pão;
Porque a emigração, tomando o rumo dos países estranhos, contraria a necessidade de regularizar interiormente uma emigração de província a província;
Porque a emigração em Portugal não significa - ausência - significa abandono: o inglês por exemplo vai à Austrália, à América, fazer um começo de fortuna - para voltar a Inglaterra, viver, casar, acabar de enriquecer, servir o seu país, a sua comuna, trazer-lhes auxílio da vontade robustecida, da experiência adquirida, do dinheiro ganho; para Portugal ninguém volta, a não vir provido de boa fortuna, ser improdutivo, burgês retirado, inutilidade a engordar.»
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