É muito triste o que se testemunha em Portugal, e aquilo que os governantes
fizeram a este país, sem aparentemente se sentirem, nem incomodados, nem
preocupados, não só com o estado da nação, mas também com o que fizeram e ainda
farão a muitas pessoas, decorrentes das suas más políticas, injustiças e em
alguns casos até mesmo corrupção. A culpa não é certamente de todos, nem de
apenas alguns, é provavelmente de muitos que sempre puseram os seus interesses à
frente dos interesses do país.
O que menos consigo tolerar, é o que
obrigam as pessoas a fazer por causa daquilo que eles próprios, não tiveram
culpa, ou não contribuíram para tal. Famílias a desmembrarem-se por não
conseguirem apoiar os seus filhos, tendo estes que imigrar, não por uma causa
que os possa orgulhar, como uma ascensão na carreira profissional, mas
simplesmente pela necessidade de sobreviver. Não conseguem optar pelo seu
próprio país para construir uma carreira profissional, porque ele já não tem
nada para oferecer nos próximos anos, ou quem sabe décadas. Uma sentença que
custa entender, e viver com ela.
A falta de profissionalismo, de
honestidade e responsabilidade ao longo dos anos, praticada por aqueles que
foram, e alguns ainda são, senhores influentes neste país, leva-me a pensar que
temos muito que mudar se queremos voltar à vida e sair do estado de
coma.
A escolha de gestores públicos de grandes empresas, que mexem com a
nossa economia, não podem ser feitas por "amigos" que estão no poder. Estamos a
escolher pessoas chave para o desenvolvimento do nosso país, não estamos a
eleger alguém para gerir um pequeno negócio que pouco impacto tem na economia.
Foram anunciadas medidas para a eleição de cargos públicos através de concursos
públicos, mas até estes concursos estão viciados por forma a servirem os
interesses de quem procura dar trabalho a um amigo ou familiar. Tem de haver
mais transparência e profissionalismo em funções que são cruciais para o
desenvolvimento do estado Português.
Porque não se recrutam gestores
públicos, como se recrutam gestores de grandes empresas privadas, ou seja, com
provas dadas e sobre um escrutínio elevado e no interesse da empresa e não de um
determinado indivíduo? Existem muitas pessoas competentes no nosso país e fora
dele, com mais competências que muitos gestores públicos. Um exemplo que denoto
claramente, até porque sou da área, são membros do governo que não tem qualquer
conhecimento de matérias, como as tecnologias de informação que podem resolver
muitas coisas, e que por falta deste conhecimento gastam milhões do
contribuinte. Um exemplo claro disso são tecnologias que estão disponíveis no
mercado, desenvolvidas por empreendedores e em parceria com universidades de
topo em Portugal, para a detecção de fogos. Sempre lhes foi dito que não há
dinheiro. Mas afinal gasta-se dez vezes mais a apagar fogos em vez de os
prevenir com tecnologias adequadas.
Outro exemplo é a fuga aos impostos, nomeadamente o IVA. Com a tecnologia que
temos hoje em dia, é perfeitamente possível controlar esta fuga através de
sistemas informáticos que obriguem as caixas registadoras a reportarem
automaticamente às finanças. Só agora parece terem acordado para esta realidade.
A incompetência num sector tão importante como o sector das tecnologias de
informação leva ao desperdício de milhões de euros. É o mesmo que ter alguém a
gerir uma empresa que tudo fazia de forma manual, e que não entende
absolutamente nada de tecnologia, não podendo automatizar os seus processos,
perdendo competitividade no mercado e acabando por morrer.
Não se dá
oportunidade aqueles que têm o conhecimento, que querem usa-lo em benefício do
país, pela incompetência de outros que não a conhecem e que têm medo de evoluir
sob pena de se penalizarem a si mesmo. Recentemente estive numa reunião num
ministério, onde um dos participantes que era membro do governo, em forma de
desabafo me comentou que é um desespero estar a trabalhar no estado. Este membro
do governo sempre fez uma carreira profissional em grandes empresas privadas, e
só está há um ano no governo, tempo suficiente para dizer que já se quer ir
embora por sentir que nada se faz e pela não objectividade do seu trabalho.
Imagine-se a ter 5 reuniões por dia, todos os dias, para no fim não fazer nada.
Para quem está habituado a concretizar projectos, como acontece no privado, fica
com um sentimento de não realização e até de culpa, por estar ali a gastar
dinheiro para nada evoluir.
Um governo que não tem dinheiro, e que mantém
milhares de pessoas a trabalhar, é o mesmo que uma empresa sem clientes mantendo
toda a sua equipa. Gasta-se mais a manter posições que estão meramente a cumprir
funções como "robots", que a usa-las para algo em concreto, fazendo algum
investimento que posteriormente gere economias e emprego. Sem produzirmos
estamos não só a acumular mais despesa, como também a não criar riqueza, e é
isso que se passa no estado.
Para Portugal sair do seu estado de coma,
talvez tenhamos de voltar a examinar os "médicos" que estão a tratar deste
doente crónico.
Nuno Carvalho in Negócios on line
Sem comentários:
Enviar um comentário