quarta-feira, janeiro 09, 2013

Factura sim mas...

Na maioria das vezes, de tão rotinado que é o ser humano e de tão enraizados que estão os hábitos que perdê-los é uma carga dos trabalhos.
Vem agora o Ministro da Finanças, qual cobrador implacável, querer pôr fim à chamada economia paralela que lesará o erário público em milhões e que será um dos responsáveis pelos altos impostos - como se alguns negócios ruinosos, reformas sumptuárias, milhões atirados para os pobres banqueiros quais bóias de salvação que os salve do naufrágio em que eles próprios se colocaram, clientelas vastas e etc. e tal não tivessem o mesmo resultado, iste é, delapidação do Tesouro Nacional.
Esta filosofia parte do princípio de que são apenas os cidadãos comuns, trabalhadores por conta de outrém e pequenos empresários que fogem ao fisco. É claro que os grandes empresários, as grandes multinacionais, os grandes clientes dos bancos, os quais (bancos) arranjam esquemas para que os seus (grandes) clientes fujam, etc., isto é, todos aqueles que fogem descaradamente e que põem o seu capital a passar férias prolongadas nas Bahamas, nas Ilhas Caimão, etc. esses não são responsáveis. O responsável, o aldrabão, o contumaz é o «Zé Povinho» e ponto final parágrafo.
Assim sendo cria-se agora o novo processo de facturação que tem como doutrina-base pôr o cidadão a fiscalizar e a fazer o serviço que compete ao Estado, fazendo deste, no limite um sicofanta do sistema; uma nova velha doutrina, na linha de outras, que volta a ser posta em prática em Portugal com algumas outras à mistura que devem preocupar todos e que se englobam nessa estratégia sombria, obscura e de contornos pouco claros para não dizer totalmente desconhecidos.
É pois imperioso que os portugueses se mantenham hoje mais do que nunca unidos e vigilantes - vigilantes do sistema e não cairem no erro ou na tentação se serem vigilantes uns dos outros. Quem não nos conhece sabe lá o que nós somos - no limite até podemos ser ASAE. E mesmo conhecendo... sabe Deus. Aí às vezes é onde a coisa ainda é pior.
Foi numa conversa que surgiu por acaso que se me foi feita luz no espírito.
Deve-se pedir factura? Deve! Mas de forma selectiva.
Disse-me essa pessoa, que há muito que pede factura quando vai aos grandes hipermercados, às multinacionais, às gasolineiras, quando carrega o telemóvel, nas farmácias, etc pois se o não fizermos toda essa gente pode fugir e nós é que somos os responsáveis. Fez-me ver os milhões que não eram facturados o que aumentaria os lucros deles. Disse-me ainda que jamais pedirá factura aos pequenos comerciantes, aos pequenos empresários, aos pequenos negociantes até porque estes já estarão vergados por uma enorme carga tributária.
Pessoalmente, não tenho (não tinha e ainda não tenho) por hábito pedir factura até porque muitas vezes alguns nos perguntavam se queriamos factura ou não e se sim que teríamos que pagar mais. Claro que aí ninguém e nem eu, claro, queríamos factura. Pagar mais? Era o que faltava! Pois fiquei a saber que isso é ilegal e que se alguém o fizer que podemos fazer queixa desse agente comercial à ASAE. Não se paga mais por se pedir factura seja lá onde for. Se temos que pagar x é x que pagaremos independentemente de se pedir factura ou não.
Comecei ontém a pôr tal em prática. Doravante é isso que farei e penso que é isso caros leitores a melhor solução. Factura sim e sempre áqueles grandes empresários, aos que ganham somas chorudas, aos que têm lucros fabulosos, nem que seja pela compra de um rebuçado (a soma de muitos rebuçados...) e quanto aos outros, aos pequeninos, nada disso. Deixem-mo-los em paz que a conjuntura está dificil e no limite se estes cessarem a sua actividade a economia ainda mais débil ficará e não sairemos dessa espiral nem deste infernal ciclo vicioso o qual as grandes sumidades do Terreiro do Paço parece que anda não viram - ou se calhar até viram; ou se calhar até é isso que se pretende, isto é, liquidar de vez a economia nacional, liquidar de vez a Nação à semelhança do que se fez ou pretendeu fazer há séculos atrás. [1]
Sendo o Homem um animal de hábitos é dificil perder vícios e certamente muita gente não pedia factura por desconhecimento, por pensar que pagava mais e por hábito de não pedir - é um facto - e mesmo por uma questão de rapidez. Eu por pouco que não me esquecia e deixava passar mais uma vez. Deve ser dificil esquecer já. Era esta minha experiência, caros leitores, que convosco quero partilhar e apelar ao bom senso, ao cuidado e à atenção de todos... a bem da Nação.


[1] Vide a série «Reis de Portugal»

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