A XIII Feira do Livro está aí e com ela muitas actividades. No Jardim Público a partir das 21 horas. Não deixemos contudo de visitar a Feira do Livro pois ler é dos melhores prazeres que se pode ter. Ficam as imagens para abrir o apetite... e algo mais.
Olhemos para este retrato e atentemos na descrição que o retratado nos deixou de si mesmo num soneto intitulado justamente de «Auto-retrato»:
AUTORETRACTO
Magro, de olhos azues, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em niveas mãos por taça escura
De zelos infernaes letal veneno.
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hypocritas, e frades.
Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Sahiram delle mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.
Magro, de olhos azues, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em niveas mãos por taça escura
De zelos infernaes letal veneno.
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hypocritas, e frades.
Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Sahiram delle mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.
Às vezes coisas destas acontecem. Será que o retratado é Camilo Castelo Branco?
É caso para citar o poeta, já agonizante, dizendo: «Já Bocage não sou!».
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
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