É neste aspecto desolador que se encontra a Fonte de Vale de Semedeiros, na estrada entre Alcácer do Sal e o Torrão.
Já há dois anos o assunto tinha sido abordado aqui. O que é que se fez então? Nada.
Entra nova gente a prometer restaurar o património entre outras coisas e o que se fez? Até agora nada. Uns e outros até agora só mostraram incompetência, insensibilidade, incúria, negligência, desprezo...
Esta fonte está localizada na União de Freguesias de Alcácer do Sal. É uma bonita imagem. Deviam de a ter levado à BTL.
Ainda assim não há uma pequena verba para reparar esta fonte? Em uma semana e com algumas dezenas de euros esta fonte ficaria como nova, ficaria atractiva. Assim é o que se vê.
Não é assim que se promove o turismo.
Mas se calhar até é do interesse que as fontes fiquem neste estado. Só mudam mesmo as moscas pois o resto...
Sobre esta matéria diz-nos José Gomes Ferreira no seu livro «Carta a um Bom Português» o seguinte:
Sabes tu que há Câmaras Municipais em Portugal que não
autorizam a construção de reservatórios ou depósitos particulares de água nos
projectos de moradias novas, nem que seja para captar a água das chuvas recolhida
nos beirais?
E que já há Câmaras Municipais que não autorizam
construções novas em sítios onde não exista rede pública de água?
Sabes porquê?
Querem garantir clientes para os seus próprios sistemas de
distribuição, mesmo que estes não precisem. Mesmo que estes tratem de prover o
auto-abastecimento.
Já vimos muito negócio à volta do sector, com a maioria a
pagar e alguns a receber. Muito mais negócios, ou negociatas, ainda havemos de
ver neste sector.
Sabes, às grandes corporações nacionais e sobretudo às
multinacionais do sector da água não interessa nada a utilização livre desse
bem. Mesmo pelos proprietários das terras onde a água nasce.
Farão de tudo para pressionar os governos no sentido de
restringir o uso livre de água pelas populações.
O próprio presidente da multinacional Nestlé, num vídeo
sobre o futuro da água, questiona o direito de acesso universal e gratuito a
este bem. Está na internet. Podes ver e indignar-te. E repassar para alertar
toda a gente contra o perigo que esta abordagem representa para a humanidade.
E sabes, é tão fácil aos governos empurrar as populações
para o uso de água que tem que ser paga. Basta invocar a necessidade de
tratamento do líquido. A insalubridade de certas fontes. O risco de utilizar um
bebedouro de forma não controlada.
Agora repara como há cada vez mais fontes de aldeias e
vilas por esse país fora sem controlo de qualidade da água. Fontes
comunitárias, postas à disposição de vizinhos para outros vizinhos, de
particulares para comunidades, fontes postas à disposição de todos.
Repara como há cada vez mais letreiros a dizer: «Água
impropria para consumo humano». E cada vez menos fichas técnicas de serviços
municipalizados afixadas ao lado a atestar a composição e o estado da água
dessas fontes.
Julgas que é porque todas as fontes ficaram de repente
poluídas? Desengana-te. Nalguns casos, sim, na maior parte, não.
Não lhes interessa que tu consumas essa água em regime
livre. Não interessa aos serviços municipalizados das Câmaras, às
concessionárias privadas de sistemas de águas, às empresas nacionais e às
grandes multinacionais de água engarrafada, aos hipermercados que a vendem.
É um cerco, percebes? Muito discreto, quase invisível, mas
é um cerco.
Dá-lhe luta, a esse cerco. Dá-lhes luta, a esses
interesses.
Recusa aceitar privatizações de mais serviços municipais de
água.
Quando ouvires falar da entrada de privados no capital da
ADP, mesmo até 49%, desconfia. Não deixes privatizar a água no teu país. Eles
querem é arranjar negócios para os amigos.
A água é vida. Vida é para todos. É o maior direito da
humanidade. Maior do que a garantia de ter pão à mesa. Porque com a água cada
um pode criar o seu pão, semear, plantar, cultivar, criar animais. Por isso, o
acesso à água deve ser o maior direito público e não objecto de negociatas.
Olha para os exemplos de Barcelos e de outros municípios
onde se privatizou a gestão da água? O que se ganhou com isso?
Maiores preços, mais negociatas, mais compensações
financeiras pelo não aumento total do preço que os operadores queriam.
Onde é que já vimos isso? Nas PPP rodoviárias! Um perigo.
Há um princípio altamente perniciosos na argumentação a
favor das virtudes da privatização de certos serviços públicos.
O Estado tem de deixar de fornecer serviços porque não tem
dinheiro para pagar os salários e os custos de bens e serviços de consumo
intermédio. Entende-se que os operadores privados fazem melhor esse serviço e
basta o Estado pagar uma quantia menor para encaixar a diferença.
Pois… em quase todos os casos, o serviço custa mais ao
Estado como serviço externo, garantindo lucros avultados a privados que não
gerem melhor coisa nenhuma. E a conta a cargo do contribuinte, essa vai sempre
subindo…
No caso da água, deixa de se pagar alguma coisa à Câmara
Municipal pelo serviço, passa a pagar-se muito mais a uns senhores
engravatados. Mas a troco de quê?
Melhor serviço?
Não…
Preço mais reduzido?
Não, pelo contrário.
O que ganhaste?
Não ganhaste nada, perdeste.
No preço a pagar e noutra coisa:
Uma administração de uma SMAS é uma emanação de uma Câmara
Municipal. Não a consegues controlar directamente, indirectamente pensas que
podes penalizar quem a nomeou, nas urnas, através do voto.
Mas como controlar democraticamente uma administração de um
serviço privatizado de águas com contrato até por 40 anos? Não há controlo
democrático nenhum. Em praticamente nada. As decisões arbitrárias ficam
escondidas nas alíneas dúbias dos contratos de concessão preparados por
eminentes escritórios de advogados muito antes de a concessão ser feita.
Sim, é outra forma de dizer que este é um Estado capturado.
Não deixes privatizar o sector das águas em Portugal em
circunstância nenhuma.
Rejeita programas de partidos políticos que te prometam
essa medida. Aliás, começa mais cedo. Rejeita essa ideia logo na primeira
conversa de café em que alguém falar disso. Para eles perceberem que estás
atento.
Para eles, decisores políticos conluiados com interesses
privados, perceberem que não terão chão fértil para fazer essa sementeira. Nem
no bairro, nem na cidade, nem na região, nem no país. Já chega de conluios perniciosos
de interesses no sector das águas em Portugal.
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