sexta-feira, junho 26, 2015

Conversas em família, parte II


Mais de seis meses depois, e sentindo o chão a fugir cada vez mais debaixo dos pés, o executivo municipal, mostrando um nervosismo crescente e cada vez mais evidente, resolve meter mãos à obra e realizar um novo «plenário geral de trabalhadores», o qual teve lugar no passado dia 16 de Junho.
Pese embora o facto de haver quem julgue, seja por ingenuidade, seja por outro qualquer motivo, que estes plenários são de natureza sindical, o que é facto é que não são mais do que reuniões convocadas pelo executivo municipal, logo entidade patronal, num formato típico das «Conversas em família» tão em voga nos anos 70.
Cada vez mais acossado e isolado, o executivo refugia-se em manobras de propaganda e acções demagógicas como é o caso dos referido plenários onde durante duas longas horas, todos os serviços camarários do Município de Alcácer do Sal vão encerrar com óbvios transtornos para os munícipes. Como se não bastasse, não sabem fazer contas o que, diga-se em abono da verdade, não é de admirar. Na verdade não são duas horas; são duas horas por cada funcionário. Sabendo que a Câmara de Alcácer tem cerca de 4 centenas de funcionários é só multiplicar 2 horas x 400 funcionários = 800 horas. Se o valor-base médio por hora for de 6 euros (e estou a fazer uma estimativa por baixo), 800 horas x 6€ = 4800€ (quase mil contos), é quanto custa esta «brincadeira» aos contribuintes. Poder-se-á afirmar que aquela verba será sempre despendida pois o ordenado dos funcionários é certo independentemente do que aconteça nesse período de tempo. É verdade, mas a produtividade nessas duas horas é zero e todos os serviços municipais estarão paralisados. Essa é que é a questão.
Para além disso, e no caso do Torrão, há que ter em conta ainda outras despesas como a saída das carrinhas com o pessoal - gastos em combustível - a que se junta mais horas às referidas duas horas pois se tivermos em conta que são precisos 45 minutos para ir e ouras 45 minutos para voltar, às duas horas juntemos mais hora e meia.


E tudo isto para quê?

A ter em conta os vários testemunhos, para nada mais a não ser um espectáculo degradante do qual, por tudo o que ali se passou, devemos nutrir as maiores preocupações.
Ao que parece, o plenário serviu para o executivo dar antes de mais uma aula, mostrando em power point gráficos de dados dos quais a esmagadora maioria dos que ali estavam não entendeu patavina. Seguidamente, foi a vez de invocar as despesas e má gestão do anterior executivo. Desta vez, a revelação de que o anterior executivo liderado por Pedro Paredes teria alegadamente deixado 1 milhão de euros de dívida escondida. Ora a pergunta que se põe é: então uma revelação desta natureza não deve ser feita antes de mais nos lugares próprios - reunião de Câmara e sessão da Assembleia Municipal?
E depois não basta recitar como um mantra que há despesa escondida e má gestão. Há, antes de mais, que ir ao fundo da questão, auditando as contas e seguidamente há que esclarecer não apenas os trabalhadores mas todos os munícipes. Não basta dizer que há dívida; há que dizer onde é que foi contraída a dívida, quando foi contraída a dívida e em que sectores foi contraída a dívida.
Mas como se tudo isso não bastasse, há ainda outra coisa bem mais grave que ali foi comunicada. A fazer fé em várias fontes, foi ainda comunicado que os fardamentos de todos os funcionários vai mudar. E isto porquê? Pasme-se: Por causa do logotipo!!!
Com a entrada do PCP na câmara, o novo executivo declarou guerra a tudo o que fosse conotado com os seus antecessores. A sanha vai ao ponto de, por causa de um simples emblema, mudar todo o fardamento dos funcionários. Ora posto isto pergunta-se: E o que vai fazer a câmara com os fardamentos antigos? Vai jogar para o lixo? Vai colocar em caixotes e guardar numa casa escura? O que vão fazer com inúmeros polos, blusões, fatos-de-macaco, bonés, etc? Quanto vai custar uma «brincadeira» destas? É isto necessário?
Ora se o problema é o emblema, porque é que estes senhores não mandam fazer uma série de emblemas e os dão aos funcionários para estes colocarem nos fardamentos por cima do anterior símbolo? Não sairia mais barato?

No mais recente Boletim Municipal, o presidente Vitor Proença fala das dificuldades dos portugueses decorrentes de políticas governativas erradas e das «duras realidades» com as quais vivemos e de «pesadíssimos encargos» decorrentes da pesada dívida e desequilíbrio nas finanças nacionais. Pois é, mas são precisamente estas e outras medidas deste calibre, estes e outros erros de governação - não apenas nacional mas também local - que contribuem para a situação que hoje vivemos. São gastos supérfluos e desnecessários; é má gestão, más práticas, má política.
Face a isto, peguemos nas palavras do presidente Vitor Proença para dizer que «está nas mãos dos portugueses, incluindo a população de Alcácer do Sal, romper com estas políticas e dar mais força a um novo rumo» e seguidamente dar-lhe razão: «Mais do mesmo? Não, obrigado!»
Posto isto, nunca é demais rematar com uma pergunta muito simples e óbvia: QUEM PAGA?
Como se todos nós não o soubéssemos de antemão.


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