À semelhança de Fátima, também o Torrão tem três mistérios - ou três segredos, conforme preferirem - para os quais até hoje ninguém conseguiu uma explicação cabal.
E que mistérios são esses?
1 - Cortes de electricidade
Vem este mistério em primeiro lugar porque o último grande corte de energia eléctrica no Torrão foi... há escassas horas e durou «só» uma hora e meia.
Este é um daqueles mistérios que tem duas explicações. Uma delas diz que há uma bifurcação neste ponto e que o Torrão ora é fornecido a partir de Évora ora é a partir da barragem e que quando o sistema está «indrominado» que acontecem as ditas falhas. Outra teoria mais bizarra dá conta de que serão estorninhos a provocarem os «blackouts». Acontece que os cortes podem ser a qualquer altura do dia ou da noite e com quaisquer condições atmosféricas. Estranho. Outra pergunta igualmente estranha: Só há estorninhos no Torrão?
Quanto ao corte desta manhã, provavelmente vão dizer que foi o transformador XPTO que estoirou. Pode acontecer mas calha sempre ao Torrão?
2 - A Igreja Matriz do Torrão
Mas há mais um mistério. Onde quer que se vá num raio de 70km do Torrão, só para não ir mais longe, todas as igrejas em todas as localidades vizinhas estão pintadas e arranjadas. Seja Alcáçovas, Vila Nova da Baronia, Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo, Alfundão, S. Brás do Regedouro, etc. Não há nem uma localidade onde a Igreja Matriz não esteja devidamente preservada. A título de exemplo ainda há pouco tempo a igreja das Alcáçovas sofreu um profundo restauro.
Vem-se para o Torrão, é o que se sabe. É uma carga de trabalhos. A explicação é que o IGESPAR, actualmente Direcção Regional de Cultura do Alentejo não permite que se pinte o edifício com tinta mas tão só com cal. Depois há ainda a tese que diz que a coisa é do Estado e não se pode pintar. E depois há ainda uma tese mais peregrina que dá conta de que a igreja não é pintada simplesmente porque pintor algum quer fazer o serviço.
Até o cata-vento da torre... caiu num dia de ventania, levaram-no para o estaleiro municipal e entretanto ninguém sabe dele. É bom de ver que já deve ter sido vendido como ferro velho. Com o dinheiro apurado no ferro velho fazem-se brutas jantaradas. A torre está bonita, como se pode ver.
Até o cata-vento da torre... caiu num dia de ventania, levaram-no para o estaleiro municipal e entretanto ninguém sabe dele. É bom de ver que já deve ter sido vendido como ferro velho. Com o dinheiro apurado no ferro velho fazem-se brutas jantaradas. A torre está bonita, como se pode ver.
Não, não a vale a pena só tomar medidas nos últimos seis meses de mandato. O mandato é de 48 meses e não de seis meses. A estratégia de fazer tudo no último semestre para alegrar os tolos já passou. Hoje em dia a memória de um mandato está à distância de um clique.
3 - O espólio arqueológico do Torrão
Outro mistério. Nem um caco do espólio arqueológico achado no Torrão fica na vila e porquê? Porque diz que a lei não o permite. É verdade. Segundo consta, os achados têm que ser levados porque a coisa é da competência do Estado e depois poderão eventualmente regressar se se fizer umas solicitações e tal. Mais uma história para burros.
Monte da Tumba, Centro Escolar do Torrão, Castelos, zona da passagem do Canal de Rega do Alqueva... não há nem um local onde o espólio não desapareça e no Torrão não fica nem um caco. Curiosa esta lei que é tão rígida no Torrão mas não nas redondezas. Há inclusive casos de herdades conceituadas onde se fizeram achados arqueológicos e o espólio está lá exposto em museus temáticos. No museu do Torrão depois o que temos em exposição é uma canastra, um tabuleiro carunchoso, um pão velho petrificado, uma foice e dois caniços e pronto, a justificar abertura todos os dias, gastos com electricidade e até dois funcionários. O regabofe total para os do costume pagarem, como diz o Sr. Jerónimo do PCP quando fala dos adversários políticos mas que não olha para o modus operandi dos seus camaradas.
Aliás, há ainda outra curiosidade: Nesta freguesia, e neste concelho em geral, todas as escavações arqueológicas ficam a meio.
O Monte da Tumba foi escavado há trinta anos. O que ali se achou foi por acaso, porque um cidadão belga ali resolveu construir uma casa. Entretanto pagou-se uma fortuna ao homem, o terreno foi expropriado e desde então nem derrubaram a casa para continuar a escavar, nem escavaram mais, nem preservaram, nem nada. Vão de vez em quando mondar as ervas para mostrar serviço.
Os Castelos foi a mesma coisa. Ainda nos anos oitenta derrubaram duas oliveiras centenárias. Passaram-se os anos, nem escavaram e o que estava escavado entretanto já está enterrado.
O Centro Escolar foi a mesma coisa. O projecto teve que ser alterado, gastou-se com essa brincadeira umas boas dezenas de milhares de euros e entretanto a escavação começou e não acabou. Inclusive fez-se alarido que se tinha achado um mosaico romano, a preto e branco e que era uma peça única. Pois a «peça única» está enterrada debaixo do pó. Nunca mais nada foi escavado e também aqui a estratégia passa por ir mondando as ervinhas. Temos ainda um caso curioso, que nada tem a ver com o Torrão mas que é ilustrativo: a escavação em Santa Catarina de Sítimos. Fez alarde a escavação. Andava tudo ufano porque se tinha encontrado um esqueleto de cão e que pela idade dos achados que este deveria ter sido o primeiro cão a ser domesticado na Península Ibérica. Morreu tudo na casca Nunca mais se ouviu falar do assunto, nem do Bobby. E já nem vamos falar do Museu Municipal, que está encerrado há anos. Um problema bicudo que vinha do anterior executivo mas que este prometeu que iria resolver. Já passou metade do mandato e se não dão corda aos sapatinhos ainda não é desta. Nós até sabemos porque é que aquilo não ata nem desata.
Portanto não é só no Torrão. Mas depois é ouvi-los falar do património histórico e da riqueza patrimonial.
Uma sugestão: Já que fazem tantas prestações de serviço, porque não fazem uma com uma empresa do ramo, como a Era, por exemplo, que em dois meses já escavou mais do que o gabinete de arqueologia da Câmara escavou em dez anos? À Câmara bastava só um ou dois arqueólogos e pronto. E claro que nem era para escavar pois já se vê que não dão conta do recado e cavar faz calos nas mãos. O conforto do gabinete é bem melhor.
Bem sabemos que se calhar neste tipo de empresas não haverá família ou amigos para encaixar mas caramba não se deve(deveria) governar só a pensar nos amigalhaços.
Resumindo e concluindo, é caso para dizer, malditas leis estas que só se aplicam ao Torrão. Então nos outros lados tudo se resolve e no Torrão nada se resolve. Porque será?
Se calhar a explicação nada tem de sobrenatural. É um caso de simples incapacidade e incompetência e ainda fraqueza. Falta gente que bata o pé e não ande a medo.
Só uma perguntinha para terminar: A quem interessará este estado de coisas?
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