Algumas autarquias em Portugal prestam um serviço medíocre às suas populações. Uns por ignorância, outros propositadamente, os autarcas deste país incluem nas programações culturais autênticos atentados à inteligência dos seus munícipes.
Ao observarmos as programações culturais de alguns concelhos do nosso país somos invadidos por um misto de tristeza e indignação.
Queremos que fique claro que, para a nossa publicação, a animação e o divertimento das pessoas são partes indispensáveis de um quotidiano que se pretende saudavelmente diversificado. O que se pretende com o presente artigo é tão e somente alertar para algumas confusões que se pretendem passar às pessoas e gerar alguma reflexão em torno desta temática.
Nos dias que correm, as pessoas andam tão preocupadas com problemas reais no seio dos seus lares, alguns de natureza económica e outros daí advindos, que por vezes nem se apercebem que há quem as faça passar por “tolas”.
É com indignação que nos vamos apercebendo, nos vários encontros que vamos mantendo com grandes valores da música portuguesa, que chegámos a um ponto em que é mais fácil o pelouro da cultura de uma autarquia gastar do seu orçamento 15000 euros no espetáculo de um intérprete de música ligeira, que nunca na sua vida soube o que é estudar música, ou que, e isto é mais grave, nunca soube sequer o que é compor uma música ou escrever um poema, do que incluir na sua programação cultural um grupo de música de câmara ou uma orquestra por valores bem abaixo.
As televisões não ficam isentas de responsabilidades. Basta ligar um dos canais a operar em sinal aberto num domingo à tarde e veja-se que não há preocupação nenhuma em etiquetar devidamente o que ali se passa. Se não é grave que se passe a já referida animação ou, em alguns casos “palhaçada”, inadmissível é, que muitos dos eventos onde se passa aquele “holocausto” cultural, se inserem em certames realizados com orçamentos destinados à cultura das autarquias.
As autarquias, com as suas feiras e feirinhas, tascas e tasquinhas, nas quais dizem estar a dinamizar e a valorizar a cultura das suas gentes, mais não estão a fazer do que a amesquinhar os seus próprios concelhos e a empurrar os seus reais valores culturais para outras esferas.
Hoje, é mais fácil encontrar um músico português numa orquestra sinfónica em Berlim, Paris, Londres, Nova Iorque e tantos outros países do que num evento cultural promovido por uma autarquia portuguesa.
Caro leitor, quando puder, passe pela nossa secção “Entrevistas” e veja quantos músicos já entrevistámos e cuja obra é valorizada de Madrid a Berlim.
Temos pena que, nos raros exemplos de autarquias que apostam numa programação cultural equilibrada, não haja um maior incentivo e não lhe seja dada a merecida visibilidade na comunicação social.
Mais uma vez questionamos os nossos leitores: Será justo que as autarquias continuem a confundir as pessoas dando-lhes animação e divertimento com embalagem de cultura?
Sabemos, mas sabemos mesmo, que a maior parte dos concelhos de Portugal têm pessoas que se dedicam à cultura de forma séria e profissional mas são “apagadas” e “escondidas” por governações repletas de autarcas que nunca leram um livro ou que nunca ouviram música. É a todas estas pessoas que, com o seu saber e a sua arte, poderiam elevar e propagar o nome do seu concelho pelo mundo, e que lamentavelmente são ignoradas, que dedicamos este artigo.
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