Sou democrata, realista e royalista. Muitos dos países com a maior satisfação do seu povo com relação ao seu governo são monarquias. Por exemplo os nórdicos, a Holanda, a Bélgica, o Canadá e o Japão. Todos são monarquias democráticas, pouco burocráticas, com elevado nível de descentralização e de liberdade económica. Não têm impostos baixos para os lucros com capital, mas o sector público não é despesista e a intransparência é limitada.
Estes países há séculos deixaram de ser ditaduras e há décadas têm boa educação, também cívica. Têm alta produtividade e competitividade. O trabalhador sueco ganha o dobro de um luso e o TSU lá é o dobro do de cá e mesmo assim as empresas lá estão a exportar o dobro do que exportam aqui; a pergunta é, “qual é a mágica”? Quando em plena crise alguns desses países, como a Suécia, cresceu em 2011 com quase 5% a pergunta é repetida.
Em 01/03/10 eu disse no Prós e Contras da RTP que não estávamos em crise, mas em depressão estrutural. Disse ainda que a história mostra que só um estadista tem a coragem, o discernimento e o carisma para implementar as medidas radicais necessárias para mudar a estrutura de poder dos cartéis e das corporações, condição indispensável para mudar uma estrutura arcaica. E não há real democracia sem democracia económica, equidade de oportunidades e uma justiça atempada.
Os EUA teve um Roosevelt que o fez e, ao contrário da receita da Troika, aumentou a despesa pública na depressão dos 1930. No Reino Unido um Churchill foi para as ruas ouvir e falar com o seu povo e mobilizá-lo contra um governo alemão que jurava ser o salvador da Europa. O Japão destruído pela mais mortífera arma jamais inventada, reergueu-se em poucos anos sob a égide de um monarca que ouvia o seu povo e articulava os poucos recursos que ainda sobraram. Foram homens corajosos, a enfrentar fortes interesses, para o bem comum. Foi a austeridade para todos.
Não cabe a mim avaliar políticos/política. Mas como consultor internacional aprendi a avaliar a coragem e a competência de líderes em momentos de crise. Nesta depressão e com a previsão de, se a política não mudar, chegarmos ao défice público de 7% e a uma perda de 4% no PIB ainda em 2013 e aos 26% de desemprego em 2014, não vejo nenhum actual político com as características para trazer a luz ao fim do túnel.
Um rei pode focar no bem de todos, não dos que ganham com a actual estrutura. Um rei em geral fala pouco e faz o que precisa, mesmo que os poderosos do seu reino não gostem. Um rei sabe discernir entre uma manifestação corporativa e uma popular. E sabe a hora de actuar. Não será hora de mudar?
Jack Soifer
Membro do Conselho de Prospectiva do IDP
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