sexta-feira, outubro 18, 2013

Democracia do Sul: O Torrão em 1933 - 2ª parte

Indicações úteis e noticiário
sôbre os valores e actividades da vila e freguesia do Torrão

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Classificação - Vila, séde de freguesia, anexa ao concelho de Alcácer do Sal - Comarca de Alcácer do Sal - Distrito de Setúbal - Província da Estremadura Transtagana - Dista 34,5 quilómetros da séde do concelho, 87 da capital do distrito e 129 de Lisbôa.
População da freguesia - 5.337 habitantes.
População da séde da freguesia - 3.688 habitantes.
Núcleos de população anexos à freguesia - São Romão, Rio de Moínhos, Casa Branca do Sado e Porto de Rei. A população dêstes núcleos atingia em 1930 cêrca de 1.700 habitantes. Em todos aqueles lugares já há algumas casas comerciais de relativa importância.
Situação - Esta freguesia confina ao norte, com as freguesias de Santa Catarina de Sítimos e Alcáçovas; ao poente, com a de Vale de Guiso e Grândola; ao sul, com a de Odivelas; ao nascente, com a de Vila Nova da Baronia.
Superfície da freguesia - De norte para sul, abrange cêrca de 30 quilómetros, e de nascente a poente, cêrca dos 35.
Clima - Excessivamente ardente no verão, e muito frio no inverno.
Aspectos da propriedade urbâna e rural - A propriedade urbâna, isto é, os melhores prédios da vila, estão na posse do grandes e médios proprietários, havendo no entanto um grande número de casas térreas que são pertença de seareiros e de alguns trabalhadores rurais que ganham à jorna. A propriedade rural é constituída na sua quási total extensão, por importantes e vastas herdades, tôdas elas, presentemente, submetidas à cultura intensiva e exploradas, na sua maior área, pelos próprios donos, e a outra parte que é sempre relativamente pequena, costumam entrega-la aos seareiros nas seguintes condições: - O 4º ou o 5º da colheita, nos terrênos limpos ou pouco matosos; a exploração gratuita, durante três anos, em terrênos de charneca aonde avulte a cêpa. A pequena propriedade circunscreve uma área regular, limitando os subúrbios da vila, com courelas, vinhas, olivais e algumas hortas, que são, duma maneira geral, cultivadas e administradas pelos seus donos.
Da vida económica e social
- Em virtude das facilidades concedidas pelos grandes proprietários aos seareiros e aos trabalhadores assalariados, a miséria entre êstes não se faz sentir grandemente, e anos tem havido em que as terras que lhes são cedidas ao quarto e gratuitamente, lhes teem dado o mais que suficiente para realizarem algumas economias. Dêste relativo bem-estar resulta não se conhecer nesta vila, entre a gente humilde do povo, aquele acentuado espírito de revolta contra os ricos como é vulgar e freqùente notar-se noutras terras do País, aonde o egoísmo dos potentados se revela feroz e intransigente.
Convenções, carácter e costumes - Convenções: são tôdas aquelas que se teem transmitido de geração a geração, com leves alterações de época para época, mas que pouco teem influído na psíquica deste povo. Persiste ainda um acendrado culto por certas tradições e uma teimosa consagração por preceitos que reputamos demasiado envilecidos. Carácter: O torranense é, em regra, rude, mas em compensação, nota-se na sua alma, uma forte expressão de altivez e generosidade, muito semelhante à do alentejano. É pouco falador e comunicativo. Só revela a sua alegria - uma alegria sã e jovial - nos dias festivos de apoteótica solenidade, em baptisados, em casamentos ou em actos aonde se comemore o aniversário dum parente ou de uma pessôa amiga. Fóra disso, o torranese é concentrado e pensativo, preocupando-o bastante o trabalho e a existência do lar. Costumes: São absolutamente alentejanos, tanto na fôrma de receber o forasterio como na convivência social. A própria indumentária e o estilo das habitações é o que há de mais alentejano. Sómente a pronúncia é que difere um pouco... mas não muito.
Como vive o comércio - As principais casas comerciais desta vila, póde dizer-se, vivem desafogadas, não havendo conhecimento de casos de insolvência.
Como vive a indústria - Aqui não há nenhuma indústria fabril, mas há, no entanto, duas importantes fábricas de moagem e descasque de arroz, que trabalham todo o ano e cuja vida, segundo informações que colhemos, decorre com certo desafogo. Os pequenos ofícios tais como: ferreiro, sapateiro, carpinteiro, abegão, alfaiate, ferrador, albardeiro, barbeiro e funileiro, pedreiro, etc., etc., vivem bem ou mal, conforme o grau de prosperidade da lavoura da região e as condições económicas usufruídas pelo trabalhador rural.
Taxa dos salários auferidos pelas classes asalariadas
- Trabalhadores rurais: - no inverno, entre 7$00 e 8$00 por dia; no verão, nos trabalhos e ceifa, entre 17$00 e 20$00 por dia; nas tiragens de cortiça, entre 10$00 e 12$00 por dia, e nos trabalhos de debulha, entre 8$00 e 10$00 por dia. Os operários dos pequenos ofícios e artes, auferem, em regra, no inverno, entre 12$00 e 14$00 por dia, e no verão, entre 16$00 e 18$00 por dia.
Preços dos géneros de primeira necessidade - Farinha em rama, 10 quilos, 1$60; farinha peneirada, 10 quilos, 20$00.

Pão ..................  1$80 o quilo
Toucinho .............  8$00    "
Linguiça ............. 16$00    "
Chouriço ............. 14$00    "
Carne de carneiro.....  4$80    "
Carne de cabra .......  4$00    "
Batata ...............   $60    "
Arroz ................  3$20    "
Assucar (branco) .....  4$80    "
   "    (amarelo) ....  4$40    "
Café ................. 10$00    "
Azeite ...............  7$00 o litro
Vinagre ..............  1$00    "
Petróleo .............  1$60    "
Leite ................  2$00    "
Feijão branco ........  1$80    "
Grão de bico .........  1$40    "

Custo da renda das casas - Prédios térreos: com quatro dependências, entre 350$00 e 400$ por ano; com mais dependências, entre 450$00 e 500$00 por ano; prédios de 1º andar; entre 700$00 e 1.000$00 por ano.
Modêlo das habitações - Prédios térreos: fachada lisa e baixa, com 5 a 6 metros de altura, sem janelas e uma única porta de entrada. A largura das habitações não vao além dos 10 metros, e o fundo regula entre os 20 e os 25 metros de comprimento, visto quási todos os prédios térreos se fazerem beneficiar de um quintal. Prédios de 1º andar: variam consoante o gôsto e o capricho dos seus proprietários. Há-os vistosos e alegres, com janelas de sacada, abastecidas de viçosas e pujantes vasos de flôres, que emprestam à fachada alta e larga, um tom de luz que acaricía, que se recorta e inspira no rodapé de muitas côres, geralmente o azul celeste, que é duma graça ingénita e duma expressão verdadeiramente rústica.
Os prédios térreos com as chaminés esguias e negras rentes ao beiral, são já muito poucos, mas contudo tem o seu característico tradicional, que se vai desfazendo na recordação nostálgica do Passado.
Feiras - Realiza-se uma nos dias 2 e 3 de Agôsto de cada ano, que costuma ser muito concorida e importante na transacção de gados, especialmente das espécies bovina, caprina e ouvina. Esta feira mete também corredoura.
Mercados - Não se realizam.
Festas tradicionais - Efectuam-se duas no ano, conhecidas pelas festas de Nossa Senhora das Dôres e Nossa Senhora do Bom Sucesso, que geralmente teem logar em Setembro e Outubro.
Correio e Telégrafo - Esta vila tem estação telégrafo postal, rêde telefónica inter-urbana e cabine para serviço público.
Vias de comunicação - (caminho de ferro) - a estção mais próxima - Sul e Sueste - é a de Alcáçovas, que fica a 20 quilómetros de distância do Torrão. Diligências - Efectua-se uma todos os dias, saindo do Torrão às 6 horas da manhã para a estação das Alcáçovas, aonde chega às 8.30, feita por carro de molas que transporta as malas do correio e conduz passageiros e bagagens. Camionagem - Durante o dia passam por esta vila diversas carreiras de auto-cars com destino a Beja, Sines e Évora. A carreira de Évora é feita por um excelente auto-car da emprêsa António Morais Pinto, que sai do Torrão às 8 horas da manhã e chega à estação das Alcáçovas uma hora depois fazendo ali a ligação com outro auto-car da mesma Emprêsa, que faz também carreiras diárias entre Viana do Alentejo e aquela mesma estação.
Descânso semanal - À quinta-feira.
Principal comércio da vila e da freguesia - Trigo, azeite, cortiça, arroz, batata, carvão, gados, mel e cêra.
Principais produções da freguesia - Cereais, azeite, cortiça, gados, queijos, lãs, arroz, batata, carvão, lenhas e madeiras, mel e cêra.
Exportação - em larga escala: trigo, cortiça, azeite, arroz, porcos gôrdos e gados, batata, carvão, mel e cêra.
Indústrias mais importantes da freguesia - Moagem de cereais e fabrico de azeite.

Estatística das principais produções agrícolas desta freguesia 

Média da colheita obtida em anos regulares
Trigo ........... 6.000 moios
Aveia ........... 2.500   "
Cevada ..........   700   "
Fava ............ 3.500   "
Milho ...........   800   "
Arroz ........... 4.000   "
Grão de bico ....   200   "
Azeite .......... 15.000 decalitros
Vinho ...........  5.000 almudes
Cortiça ......... 70.000 arrobas
Carvão vegetal .. 65.000  "
Batata ..........  7.000  "
Lã branca .......    400  "
Lá preta ........  1.500  "

Gados
Lanígero - a espécie perdominante na freguesia - Animais de alfeire, 4.500; de ventre, 15.000.
Suíno - Animais de alfeire, 4.800; de engorda, 1.200.
Caprino - Fêmeas, 500; sementões, 50.
Vacum - Animais de ventre, 400; vacas leiteiras, 10; animais de trabalho, (bois), 450; vacas bravas, 200, bois bravos, 150.

 Apicultura
 Em tôda a fregusia do Torrão existem cêrca de 6.000 cortiços. Produção de mel por cada cortiço: 2 litros. Total da produção de mel nos 6.000 cortiços: 12.000 litros. Produção total de cêra de todos estes cortiços: 1.800 quilos, aproximadamente, todos os anos.


 Relação das casas comerciais e industriais existentes na freguesia do Torrão

Comércio - Establecimentos de fazendas: 8; de Mercearias, 18; Talhos, 3; Padarias, 6; Tabernas, 13; Cafés, 2; Pensões, 1; Adegas, 2; Farmácias, 1; Escritórias de Comissões e Consignações, 2; Correspondentes Bancários, 2; Estalagens, 2.
Indústria - Fábricas de Moagem, 2; Lagares de Azeite, 10; Fornos de Telha e Tijolo, 2; Fábricas de Cortumes, 1; Sapatarias, 5; Alfaiatarias, 3; Oficinas de Ferreiro e Serralheiro, 6; de Carpinteiro de Carros, 4; de Albardeiro e Colchoeiro, 1; de Ferrador, 3; de Carpintaria Civil, 1; de Funileiro, 1; Atelieres de Barbeiro, 5; Atelieres de Modista, 2.

Serviços de Saúde

Médico: O ex.mo sr. dr. Mário Soares Vieira, facultativo Municipal, com residência fixa nesta vila.

Corpos Administrativos

Junta de Freguesia - Presidente, Emílio da Silva Carvalho; Secretário, José Raimundo Estêvão; Tesoureiro, Josefredo Augusto da Silveira.

Autoridade Civil

Regedor - Raimundo de Mira Santos
Juíz de Paz - Augusto da Encarnação

Funcionalimo Público

Pôsto do Registo Civil - Augusto da Encarnação
Correios - Chefe da Estação, Alberto Amaral Brites. Distribuidor-postal, Acácio Mariano do Santos. Guarda-fios, José da Cruz.
Professores Primários - Do sexo masculino, João Martins de Almeida e Augusto da Encarnação. Do sexo Feminino, D. Maria Celeste de Barros Encarnação e D. Vitória Guimarães Martins de Almeida.

Autoridade Militar

Pôsto da G.N.R. - Comandante, Joaquim Cambetas, 1º cabo. Praças de Infantaria: Joaquim Grilo, Manuel António Rodrigues, José Mata Mouros, Francisco Gômes Calado e Miguel Correia de Almeida. Praças de Cavalaria: Miguel António e Gualberto Guerreiro.

Vida Associativa

No movimento associativo, a vila do Torrão únicamente conta com o seguinte organismo de carácter recreativo:
Sociedade 1º de Janeiro Torranense - Fundada em 1929. Tem a sua séde no Largo de São Francisco, da mesma vila. Número de sócios actualmente, 163. Jóia, 10$00. Cóta, 3$00 mensais. Os seus fins são: Proporcionar ao associados o maior números possível de distracções: concêrtos, instrução de música, bailes, jogos lícitos, etc. Direcção: Presidente, Francisco da Silva Selão; Secretário, Vicente José Rodrigues; Tesoureiro, Jerónimo Banha (?); Vogais, João José Martins e Manuel António Telo.

Instituições de beneficência

Hospital da Misericórdia - Instituição bastante antiga cuja fundação supõe-se datar dos princípios do século XVI. Teve noutras épocas vida desafogada que lhe era facultada pelos muito bens imóveis que possuía, e pelas constantes e avultadas ofertas que famílias nobres que aqui viveram até à extinção do morgadio, tão generosamente lhe dispensavam. Parte dos seus bens teem sido usurpados pelo Estado e, supômos, que em tempos por particulares...
Presentemente luta êste Hospital com tremendas dificuldades financeiras, vivendo dos seus parcos rendimentos e do produto de algumas festas que uma vez ou outra , um grupo de benfeitores realiza em seu benefício.
Provedor do Hospital - Manuel Joaquim da Silva; Escrivão, António Gil Monteiro Deveza; Escriturário - João Martins de Almeida; Tesoureiro - José Paulo Coêlho; Vogais: Guilherme Rodrigues Telo, Simão José Gaio e Joaquim José Martins.
Médico assistente: Dr. Mário Soares Vieira. Enfermeiro - Vitorino José Lopes.
Consulta - das 12 às 16 horas.
Séde do Hospital - Rua de Nossa Senhora da Albergaria.
Comissão de assistência - Fundada em 14 de Agôsto de 1932. Promove a distribuição de uma refeição diária e 1$50 em dinheiro, ao domingo, a 40 pobres. Por acasião das festas de maior solenidade do ano, faz-se a distribuição de várias peças de vestuário aos pobres mais necessitados e dá-se-lhes géneros em quantidade. As dádivas das pessôas amigas desta instituição aumentam de valôr e de qualidade em vésperas de dias festivos, e daí o motivo porque então, o números de contemplados chega a ultrapassar a média vulgar de todos os dias.
Esta instituição conta presentemente com um número regular de sócios que contribuem com diversas importâncias que vão de 10$00 até 100$00 mensais. Outros há que prestam o seu auxílio só com a entrega de géneros. A distribuição da refeição diária é feita numa dependência do edifício do Hospital da Misericórdia.
Direcção - Presidente, Francisco Mendes Palma; Secretário, Manuel Carneiro Bretão; Tesoureiro, Belarmino Cordeiro Peres Ramires.









 
Continua...

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