quarta-feira, outubro 30, 2013

Revista de Turismo do Distrito de Setúbal - o concelho de Alcácer do Sal em 1944: 1ª parte


 Capa e cabeçalho editorial da Revista de Turismo do Distrito de Setúbal


Os presidentes das câmaras municipais do distrito de Setúbal - entre eles o de Alcácer do Sal - à época



Alcácer do Sal

Os seus importantes melhoramentos municipais

ALCÁCER DO SAL data do ano VIII da dominação romana. Fundaram-na os lusitanos em homenagem a um feito de armas, quando surpreenderam um ataque da moirama, que atravessara o estreito comandada por Bogud.
Mas ao regressar a África tanto despojos como glória lhe ficaram sepultados no Oceano, pois foram surpeendidos por uma violenta tempestade.
Diz a lenda que foi êste o prémio de terem profanado o templo da deusa Diana ou Salácia, que existia junto ao Sado, pouco mais ou menos onde depois se ergueu a vila.
Verdade ou não, o que é certo é que o templo foi reconstruído e com êle cirada a vila, que primitivamente se chamava Salácia.
Vieram depois os romanos, e, como César lhe concedeu a categoria de Município no antigo direito romano, deram-lhe o título de Urbs-Imperatoria ou Salacia-Urbs-Imperatoria.
Mas em 715 os árabes conquistaram-na e, para não serem surpreendidos por um ataque, construiram uma nova muralha emvolta do castelo, à qual se acolhia a população. A vila mudou então de nome; passou a chamar-se Alcácer de Salaria, o que, com o rodar dos tempos, se transformou na actual denominação.
Era, porém, chegada a época da fundação da nacionalidade; D. Afonso Henriques, depois de imensas batalhas e cercos, conquista-a para a dominação portuguesa em 24 de Julho de 1158.
Mas não acabou aqui, como seria natural, a disputa da linda vila de Alcácer do Sal. Em 1191, os sarracenos voltam a conquistá-la para o domínio do Miramolim, só voltando à posse dos portugueses em Outubro de 1217, no reinado de D. Afonso II.
De tôdas estas lutas ficou o testemunho do seu castelo, que alguns pretendem ter sido o mais forte de tôda a península no tempo da dominação romana e árabe.
Foi nêle que, em 1501, se celebraram os esponsais da infanta D. Maria de Espanha com o rei D. Manuel de Portugal.
Actualmente Alcácer é uma vila magnífica, a que o Sado empresta um encanto admirável. O progresso também aqui chegou e tem transformado a vila de maneira a fazer sobressair as suas fartas belezas naturais.
Por isso se impõe uma visita do forasteiro, que dará por bem empregado o seu tempo, especialmente por altura das suas festas e romarias, umas que se realizam em Setembro, ao Bom Jesus dos Mártires, outras, a romaria à aldeia de Santa Catarina, em quinta-feira da Ascensão. Será o pretexto para visitar os monumentos da vila, bem dignos de serem admirados.
Além do seu famosos castelo, de que atrás traçamos uma resenha histórica, contam-se, de entre êsses monumentos, as igrejas de S. Tiago, Matriz e dos Frades, e, a dois quilómetros de Alcácer, num lugar pitoresco e muito interessante, a ermida do Senhor dos Mártires. Há ainda um passeio a recomendar nesta peregrinação pelos templos: a visita à ermida da Senhora da Maceira, a cinco quilómetros a nascente da vila.
A Câmara Municipal de Alcácer, à frente de cujos destinos se encontra, desde 1933, o seu vice-presidente em exercício, sr. António Xavier do Amaral, tem levado a efeito uma notável série de melhoramentos, a que é de todo o ponto justo fazer referência, embora e síntese. Assim, entre essas obras, contam-se as seguintes como mais importantes:
Fornecimento de enrgia eléctrica à vila; abastecimento domiciliário de águas à sede do concelho; canalização de esgotos em tôda a vila; substituição ou grande reparação dos pavimentos das vilas de Alcácer e Torrão; melhoramentos - com serviço próprio - da limpeza e saneamento desta última localidade; instalação de uma Estação anti-sezonática; aquisição de terreno para os Correios e Telégrafos; estudo e projecto do abastecimento de águas à vila do Torrão; grande reparação e acabamento do novo edifício das escolas do Torrão; construção de um edifício escolar nos Casebres, freguesia de São Martinho, em colaboração com o Município de Montemor-o-Novo; uma fonte na freguesia de São Martinho; construção de uma estrada de Alcácer para o sítio da Ameira; construção de uma escola na freguesia de Santa Catarina; reparação dos edifícios de quási tôdas as escolas das freguesias rurais; construção de uma nova ponte sôbre o Rio Sado, em Alcácer; início de outra nova ponte sôbre a Ribeira de Santa Cartarina; construção de um grupo de moradias pela Casa do Povo de Alcácer ; construção da sede da Casa do Povo de Alcácer (pela Casa do Povo); idem, de um edifício-creche pela mesma Casa do Povo; e, finalmente, construção (actualmente em grande actividade e já em muito adiantado estado) de duas grandes obras de hidráulica agrícola: as barragens do Pego do Altar  e de Vale de Gaio, que virão revolucionar a economia de tôda a região do Sado. São as maiores obras do país, no género.
Depois destas obras, contam-se como maiores aspirações de Alcácer do Sal a construção do mercado fechado, a construção do edifício dos Correios, o abastecimento de águas e a aprovação de um plano de urbanização, que permita e oriente o desenvolvimentos das construções urbanas, plano já entregue a um competente arquitecto.
Alcácer tem um valor diminuto como vila industrial; mas em compensação é muito grande o seu valor comercial e agrícola. O poder de compra da da população permite a existência desafogada de algumas centenas de establecimentos. O concelho é rico na produção de trigo, cevadas e favas. Mas onde é mais rico é na produção de arroz. Um têrço da produção do País é oriundo do concelho de Alcácer. A cortiça é outro grande factor de riqueza agrícola da região, pois algumas centenas de milhares de arrobas são extraídas anualmente.
Ora tudo isto concorre naturalmente para o bem estar e desenvolvimento da linda vila de Alcácer do Sal, cuja população concelhia subiu em dez anos de 16 para cêrca de 23 mil habitantes. E decerto maior bem estar e progresso contaria hoje Alcácer se alguns dos seus filhos melhor dotados ou mais favorecidos pela sorte nêle residissem e nêle gastassem algum do seu dinheiro... A vila ficar-lhe-ia reconhecida. E também êles teriam a satisfação de ver progredir a sua terra, que se distingue entre as mais lindas do Sul do País.







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