E chegámos ao Natal, talvez a única festa tradicional que realmente me toca na sensibilidade. Eu sei que é muito controversa esta quadra pois será muito difícil para quem está só, está doente ou dorme na rua não a achar uma crueldade. Uma quadra que pretende lembrar o nascimento de um Ser que traria felicidade e amor ao mundo devia efectivamente zelar por isso. O Natal transformou-se, ou por outra, foi transformado ao longo dos anos numa quadra em que se acentuam as desigualdades, o consumismo, as falsidades e, por isso, se descaracterizou completamente. A Missa do Galo que era sempre à meia-noite passou para a hora a que der mais jeito ao Padre. As filhoses passaram para o Carnaval. Já ninguém faz as searinhas que tinhamos de regar todos os dias com água, que primeiro punhamos na boca, e que cresciam ao escuro, normalmente debaixo das nossas camas ou fechadas em armários. O sapatinho à chaminé passou de moda e resume-se a uma troca de prendas directamente. Pessoalmente nunca fui de dar prendas, embora sempre receba, pois nunca percebi porquê, é um acto que me emociona desmasiado, tanto dar como receber. Prefiro a harmonia e a paz desta quadra. Até como cada vez há menos e são mais estreitas as chaminés, o Pai Natal é impedido de trabalhar. Relativamente ao Pai Natal eu nunca percebi porque é que se há-de impedir as crianças de sonhar, nem vi o benefício de impedir uma criança de descobrir mais tarde, por ela própria, todo o mistério. O bacalhau com batatas virou moda, pois na minha infância comia-se a carne de porco em conserva, frita na consoada. O perú, que era sempre o almoço do dia de Natal, é comido também ao jantar se der mais jeito. Eu confesso que nunca fui em modernices e que de há 40 anos a esta parte que nos habituámos, na nossa casa, aos nossos rituais que, felizmente, temos conseguido manter tanto quando estamos sozinhos como quando tenhamos a família reunida. Os postais de Boas Festas que comprávamos aos pacotes e escrevíamos com o nosso punho transformaram-se em sms, e-mails, onde com uma só lenga-lenga encaminhamos de uma só vez para toda a gente, impedindo assim também os carteiros de trabalhar... mais. Só uma coisa não mudou e não sei se mudará algum dia: A falsidade dos votos. Finge-se que se perdoa a quem nos ofendeu mas a acção é apenas válida por 24 horas, quando é. Deseja-se tudo do melhor para o ano mas que não seja melhor que o nosso. Podem crer que na noite da consoada sempre fico perturbado com o pensamento fixo naqueles que, por qualquer razão, não podem ser felizes nesta noite. Nunca nos deitamos antes da meia noite pois para nós, não sei porquê, o Menino nasceu a essa hora. Todos os anos nesta noite ouvimos a mesma música de Natal da Nana Mouskouri e o Last Christmas do George Michael. Desde há muitos anos que esta semana do Natal sempre me transporta à reflexão interior. Penso apenas na razão que levará à maldade de umas pessoas, e à bondade de outras, pois eu acredito que ainda há muita gente boa. Procuro pôr de lado os podres deste Mundo não para ignorá-los mas para me dar a mim próprio uma trégua. O mês de Dezembro que costuma ser horrível em catástrofes naturais para a humanidade, este ano, à parte da ilha do Fogo, até tem estado sereno e esperemos que assim se mantenha. Nas próximas 2 semanas não haverão “Pensamentos Manhosos” porque é o meu período de balanço e projectos interiores, e voltarei dia 10 de Janeiro 2015. Digamos que se trata do meu retiro espiritual que me ajuda a repensar o que esteve menos bem no passado e a pensar a forma de melhorar o futuro. Assim sendo quero também dizer-lhes que estou grato pela atenção em crescente que têem vindo a merecer aqui no Pedra no Chinelo estes meus “Pensamentos Manhosos” que outra função não têem que de provocar algum debate e exposição de ideias e uma troca de pontos de vista que para mim têem sido muito úteis. Quero desejar na pessoa do Paulo Selão, os votos de crescimento do Pedra no Chinelo que, com as suas virtudes e os seus defeitos, tem vindo a ser precioso tantos nas reacções que provoca, por vezes desagradáveis mas que o Paulo enfrenta com realismo e até estoicismo, como nas chamadas de atenção sobre problemas na nossa terra que por vezes até não passam de distracções. Para todas e todos e respectivas Famílias:
UM SANTO NATAL E QUE 2015 VENHA REPLETO DE TUDO O QUE MAIS DESEJAREM DE BOM.
Umas boas 2 semanas para todos e pensem, mas desta vez mais no ser humano.
Jorge Mendes
Bruxelas, 20/12/2014
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