Eu acho que andamos todos embaralhados, pelo menos eu, com a Cultura e a Educação. Enquanto a Educação, no meu entender, deve pautar pelos modos como tratamos os nossos semelhantes e a sociedade que nos rodeia em geral, a Cultura deve tratar-nos a nós próprios, os nossos conhecimentos gerais e particulares, constituindo aquela parte imaterial do nosso ser que nos vai acompanhar depois da morte porque tudo o resto deixamos cá nesta terra. É sempre o nosso grau de Cultura que marca a nossa maneira de ver tudo o que nos rodeia. A nossa abertura de espírito está directamente proporcional à nossa Cultura Geral. Educação é aquilo que recebemos dos nossos pais e educadores mais directos e que temos o dever de transmitir aos nossos filhos. Cultura é um capital que só nós próprios podemos adquirir. A Educação apesar de vasta, tem um limite, a Cultura não tem limites e nunca se esgota. Por muito que estudemos há sempre algo mais para aprender e nunca conseguimos aprender tudo. Dentro da Cultura há os Generalistas que constituem a esmagadora maioria e há os Especialistas que são uma minoria que aprofunda os conhecimentos mais num determinado tema. Reparem que cada vez mais as pessoas dizem: Isso são coisas do passado, não interessa, o que lá vai lá vai, isso são coisas de velhos. Não penso assim. Se não soubermos o passado não entendemos o presente e muito menos nos interessará para onde vamos. È exactamente aqui que começa um dos piores flagelos da Humanidade. Uma vez uma pessoa disse-me que preferia que o filho fosse mais esperto do que inteligente. Isto é uma coisa muito triste para se desejar a um filho. Reparemos neste caso que úultimamentetem flagelado a sociedade Portuguesa: Violência doméstica. Temos aqui uma das maiores provas de falta de Cultura da humanidade. Algumas pessoas estarão em desacordo, porque alguém lhes disse que na Índia e no Paquistão são Povos muito Cultos e a violência doméstica é encarada naturalmente. Mas isto é a mesma coisa que festejar o Carnaval em Portugal todo descascado em pleno Inverno, só porque os Brasileiros o fazem em pleno Verão. Ninguém é de ninguém. Só a Cultura permite entender que o facto de uma pessoa gostar de nós não faz dela o nosso brinquedo pessoal. Que levará uma pessoa a maltratar outra que a ama ? Como é que alguém ousa pensar que tem o direito de maltratar e até mesmo matar outro ser humano? Outro exemplo de falta de Cultura é a ganância. Então vocês acham que alguém se dava ao trabalho de nos conceber só para virmos a este mundo trabalhar, ganhar muito dinheiro e depois morrer e deixar cá tudo? Não terá mais lógica de que fomos concebidos e enviados a esta terra para ganharmos Cultura, conhecimentos, para depois da morte serem utilizados noutro patamar de vida? Talvez a chave esteja realmente na descoberta do futuro mas isso está reservado a alguém que penso ainda não nasceu. Antigamente o Mundo para mim era uma enormidade que se estendia do Torrão a Alcácer e nem sabia o que havia para sul do Torrão. Só sabia que Alcácer devia ser o fim do Mundo pois até tinha de me levantar muito cedo, de tomar banho e pentear-me para lá ir. Depois apercebi-me que havia mais coisas e que para sul do Torrão ficavam, Odivelas, Ferreira e Beja. Hoje de calções e chinelos meto-me num avião e vou onde calha, sem me ter de pentear. Este meu último acto já será mais uma falta de Educação, pois tenho dever de não meter nojo aos outros, do que uma falta de Cultura, sendo na mesma uma falta. Embora distintas a Cultura e a Educação estão directamente ligadas pois se não tivermos um pouco de Cultura não entendemos o que é a Educação. Uma das pessoas que mais tem influenciado a minha vida foi uma figura que existia no Torrão na minha infância de nome Manuel Farelo, que não sabendo ler nem escrever era um exemplo de Educação e Cultura pois até ditava cartas dirigidas a Salazar e recebia correspondência do mesmo. Nessa altura eu passava a infância na casa da minha tia Emília, dona da Farmácia, e era o meu tio João Faria que escrevia e lia as cartas ao Sr. Manuel Farelo. Eu era miúdo e ficava maravilhado à mesa a ouvir os comentários dos meus tios ao jantar, sobre o facto. O Sr. Manuel Farelo, dono de uma força descomunal, que lhe permitia levantar a “Pedra Oca” e ajudar uma parelha a desatascar o carro, era um homem de poucas falas mas sempre com uma saudação correcta e com um poder de filosofar que até hoje nunca percebi onde o foi buscar. Hoje a Cultura está ao alcance de quase todos e ficará inculto quem não tiver Educação suficiente para perceber a falta que a Cultura faz.
Uma boa semana para todos e pensem.
Jorge Mendes
Bruxelas, 04/12/2014
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