terça-feira, março 27, 2012

O borrão

Esta é mais uma daquelas pérolas que trazemos aqui ao conhecimento de todos. Quem quiser ver o espécime ao vivo que aproveite antes que leve sumiço. Encontra-se afixado na vitrine da Junta de Freguesia do Torrão e revela os montantes que a Câmara Municipal transfere para diversas instituições. Até aqui tudo bem, não fosse o documento estar pejado de gralhas e algumas bem graves. Poderá até ser irrelevante. Consideramos que não. Gralhas e erros desta natureza são inadmissíveis, são erros reveladores de uma incompetência atroz, de uma incompetência confrangedoura. São erros mais próprios de alunos de primária do que de órgãos de governo, órgão de poder e com toda a certeza, são impróprios de gente que não ganha pouco. Como é possível que tantos erros e gralhas tenham passado despercebidos a todas essas almas? E depois as aparências contam... e muito! Afinal de contas, o hábito faz o monge, não é mesmo? Ainda se fosse para «consumo interno», mas não; é algo que é para ser tornado público...
Para começar, os vinte e quatro mil seiscentos e sessenta e sete euros e setenta e cinco cêntimos, da Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba, convertem-se em dois milhões quatrocentos e sessenta e seis mil setecentos e setenta e cinco euros no total. Pois evidentemente! Como? Fácil! A vírgula ou melhor, a ausência dela. É a vírgula que separa a parte inteira de um número, da parte não inteira. Aliás nas outras cifras é a vírgula que faz essa separação e depois neste caso.... Os pontos põem-se eventualmente de mil em mil unidades, isto é, 1.000 (mil), 1.000.000 (um milhão), etc. Mas não é obrigatório. Usa-se em números muito grandes para facilitar a sua leitura. Nesta caso a disposição dos pontos acaba por estar mal feita (bastava que ambos os pontinhos recuassem uma casa para a esquerda) mas a leitura é essa: 2 milhões, 466 mil..., etc.
Junta de Freguesia do Torrão: 22.644,98€ convertem-se na totalidade em... 24.644,98€. Ficámos sem saber qual o valor correcto; se o valor parcial se o valor total. Ficamos a saber que 22.644,98 +0 +0 = 24.644,98€. São só 2000 de diferença. Pouca coisa.
E por fim, o «must»:
Bombeiros Voluntários de Alcácer do Sal: 55.881,79 + 42.838,18 =97.719,97€??? ERRADO. 55.881,79 + 42.838,18 = 98.719,97€. É suposto na contabilidade saber-se fazer contas. Depois do português temos agora também a matemática?! O Paulo Selão dá explicações de matemática. Não de matemática de primária mas se for preciso faz-se o sacrifício... e o pacote de oferta ainda inclui a prova dos nove e tudo.
Agora a sério: o que aqui está estampado à vista de todos nós é a falta de capacidade de análise... no mínimo. Até assusta a forma leviana como documentos oficiais e que envolvem dinheiros públicos são assinados assim sem mais não e com gralhas da ordem dos milhares de euros.
Inacreditável. É que comem a papinha toda, toda que lhes põem à frente. Toda. Se a papinha estiver envenenada caem fulminados na hora. Pouca dúvidas restam de que se, por absurdo, lhes colocassem em cima da secretária a sua sentença de morte para assinarem, assiná-la-iam de cruz.
E assim um documento oficial e público mais não é do que um borrão e uma burrada. Quem o redigiu, não sabemos mas quem o assinou fica irremediávelmente ligado a tamanha pérola.
É só mais uma.



P.S. - E ainda ficámos a saber que a CMAS adopta duas grafias: o português, como neste caso, e que é de louvar, e o «acordês», o português híbrido e mutilado do famigerado Acordo Ortográfico. Do mal o menos.

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