Por: Jorge Mendes
Pois
cá estamos mais uma vez a “Pensar Manhosamente” e desta vez sobre a Emigração.
Emigra-se pelas mais variadas razões: Por mais salário, por aventura, por
saturação, por opção política - sim ainda se emigra por opção política - por
razões sentimentais. Desde sempre se emigrou e continuar-se-á a emigrar. Os
resultados dessa emigração não serão os mesmos para todos embora a grande
maioria consiga um substancial melhoria de vida. Eu, que há 40 anos salto de um
lado para o outro penso muitas vezes: E se nunca tivesse emigrado? Não tenho
resposta. Podia ter morrido, podia ter-me saído a lotaria... nunca saberei o
efeito daquilo que nunca fiz. Emigrar comporta sempre uma complexa mistura de
sentimentos entre os quais alegria, tristeza, saudade, receio, incerteza. A mim, o que mais me tem marcado emocionalmente é saber que nasci no mais fantástico
País da Europa e que, por causa de uns quantos imbecis e crápulas que
destruíram as condições básicas de vida dos Portugueses, sou obrigado a esta
contínua procura de segurança e bem-estar. Quando não pude com eles recusei-me
a juntar-me a eles. Bati estrategicamente em retirada porque nunca me
submeterei a incapazes que só brilham à custa do brilho dos outros. Sempre me
fiz respeitar e respeitei os países que me acolheram. Nunca, mas nem uma só
vez, me senti descriminado em qualquer lugar. Nunca me senti nem mais nem menos que
nenhum outro cidadão em qualquer parte do mundo e talvez esse facto me tenha
dado esta forma de encarar a Europa abertamente e sem receio. Dezenas de vezes
que fui cantar à Alemanha para alemães e sempre fui recebido correctamente.
Contra aquilo que uma grande percentagem de Europeus pensam, eu acredito que
400.000.000 de pessoas a trabalhar no mesmo sentido têem muito mais força que
40 grupos de 10.000.000 de pessoas a trabalhar cada um para seu lado e
desorganizados. A Batalha de Aljubarrota dá-nos bem esse exemplo de organização
mas os que mais dizem de olhos postos no céu que o passado serve de exemplo ao
futuro, pura e simplesmente estão-se nas tintas para a teoria. Contrariamente
ao que uma grande percentagem também pensa, eu acho que quantos mais partidos
políticos houverem maior será a dispersão de esforços e aumentarão os
pretendentes a mandões. Enquanto o mundo for gerido por partidos políticos
sejam eles quais forem, este não avança no sentido das pessoas mas sim dos
interesses de alguns “chicos-espertos”. A emigração nunca será uma solução
correcta sobre o ponto de vista humano. Enfraquecem-se as raízes e as ramificações
vão perdendo qualidades. Cada um poder governar a vida junto da família, dos
amigos e da terra que o viu nascer dá uma outra dimensão à própria vida.
Durante os últimos 2 anos estive a trabalhar numa organização que minoriza o
sofrimento dos que vivem sós e dos que andam pelas ruas e podem crer que vi, e
continuo a ver, os efeitos devastadores que a emigração tem naqueles que por
uma razão ou outra não tiveram sorte. Em terras distantes quando se acaba o
dinheiro e não se encontra meio de ganhar mais ... a vida é de uma dureza
horrível. Nestes países por onde ando as coisas também não estão fáceis para
todos. Eu sei que há uma enorme diferença entre os 14,7% de desemprego em
Portugal e os 8,5% na Bélgica, os 8% da Holanda, mas não consigo compreender essa
mania generalizada entre os Portugueses de que a Espanha com 24,47% é que é
bom. A União Europeia tem 26.000.000 de desempregados. Cuidado antes de
emigrar. É que já devem saber que os tais “Tugas espertos” estão a ganhar campo
de manobra e a exportar ”velhaquice” em grandes quantidades. Não acreditem em
promessas e cantos de sereia.
Eu
costumo dizer que a emigração não é melhor nem pior, apenas diferente, mas eu
só tenho “pensamentos manhosos”. Que cada um decida o que lhe dita a cabeça e o
coração e que tenha muita sorte.
Uma boa semana
para todos e pensem.
Jorge Mendes
Bruxelas, 22/10/2014
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