Se
persistir a política de vistas curtas, a miopia de muitos autarcas em criar
dificuldades para distribuir facilidades, apesar de ser pela via legal, muitas
vezes sem ser pela via da corrupção ou do tráfico de influências, mas antes para
mostrar poder, o interior do país continuará a definhar, o país não sairá da
crise profunda em que se encontra.
(…)
Autarcas
de Portugal, não deixem crescer mais os vossos serviços públicos, porque o
custo de os suportar cairá fatalmente nos vossos munícipes. E os munícipes
descontentes vão-se embora. Não ficam. Só os velhos, doentes ou dependentes é
que não escapam a esta fatalidade.
José Gomes Ferreira, O Meu Programa de Governo – Propostas para uma economia mais produtiva e para uma sociedade mais equilibrada
Já não é a primeira nem a segunda vez. Na verdade, desde que o actual executivo municipal tomou posse - há um ano - já terão sido mais de meia dúzia os chamados plenários gerais de trabalhadores vinculados à Câmara Municipal de Alcácer do Sal.
Ora perguntará o leitor, o
que é um plenário geral de trabalhadores?
Um plenário geral de
trabalhadores mais não é do que uma reunião de todos os funcionários de todos
os escalões da câmara, reunião essa convocada pelo executivo e onde serão
discutidos assuntos que este coloca em agenda.
Não, ninguém descobriu a
pólvora. Isto não é coisa nova. Nos anos 70 havia um programa na RTP onde o
então Primeiro-Ministro vinha falar de alguns temas aos portugueses. Eram as célebres
«Conversas em Família» do professor Marcello Caetano. Ora parece que as
conversas em família estão de volta… pelo menos a Alcácer do Sal.
A última das conversas em família do executivo municipal teve lugar na Quinta-feira passada, dia 20 de Novembro. Toda a minha gente, todos os trabalhadores da câmara e até da moribunda EMSUAS foram convocados. Todos! E lá foram ouvir a aula do professor Proença.
Ora parece que o tema da
última conversa em família foi o orçamento; o municipal e o do Estado. Tudo
estaria bem não fosse haver sempre alguém que faz aquelas perguntas, chatas, que ninguém
faz, alguém que faz as chamadas «one million dollar questions». Já que se falou de
orçamentos e de números era importante - e a questão põe-se mesmo e é
pertinente – saber quanto é que isto custou (e custa) aos cofres do município. Aliás,
quanto é que a coisa ao todo já custou?
Ora vamos lá a ver (só) o
último caso. Na passada Quinta-feira, logo pela manhã toda a gente rumou ao
Auditório Municipal e a coisa durou toda a manhã.
No caso do Torrão, toda a gente abalou pela manhãzinha. A partida foi às oito da manhã e a chegada pela hora do almoço. Nem um funcionário da câmara se viu durante a manhã, tudo esteve parado.
Imagens: Câmara Municipal de Alcácer do Sal (Facebook)
No caso do Torrão, toda a gente abalou pela manhãzinha. A partida foi às oito da manhã e a chegada pela hora do almoço. Nem um funcionário da câmara se viu durante a manhã, tudo esteve parado.
Porquê a necessidade de
paralisar totalmente o funcionamento da autarquia para dar conhecimento do
orçamento municipal? E até… do Orçamento do Estado?
Já agora, alguém percebeu
alguma coisa? Alguém saiu de lá a saber o que é o PPI, o PPA, o FAM, etc.,
etc., etc.? Por acaso terá sido dito quanto é que a câmara vai gastar com os
processos judiciais que tem em cima, alguns bem interessantes certamente? A
começar pelos tais, os da Comporta que a TVI trouxe à baila.
Qual a necessidade do
executivo inteiro apresentar o Orçamento Municipal? Para se desresponsabilizar?
Para sacudir a água do capote? Para se desculpabilizar? Aliás, tem a
necessidade de se desculpabilizar? Já?!
Ora está bem de ver que a
explicação não é técnica mas política e vista pelo prisma, pela objectiva, pela
tendência política do executivo.
Mas vamos lá então fazer
umas continhas. Durante uma manhã inteira ninguém naquela câmara trabalhou.
Duas carrinhas saíram do Torrão. Todos os funcionários tiveram forçosamente que
comparecer. Isto é, no mínimo, usar os meios da CMAS para doutrinar
politicamente.
Mas agora vejamos: gastos
com combustível de duas viaturas – isto se não vieram cá de propósito busca-los.
Isto no Torrão mas ainda há os outros pontos do concelho. Outra questão: Quanto
ganha em média um funcionário por hora? Agora multiplique-se por quatro horas e
por centenas de funcionários! Já para não falar no facto de que uma câmara inteira esteve
totalmente paralisada e dos munícipes que precisaram de resolver algum problema
bateram literalmente com o nariz na porta. Quanto custou? Quem pagou?
E já que se falou de orçamento
também seria importante falar de uma coisa que se chama produtividade, um dos
grandes problemas da economia nacional. Ora parece que este tipo de medidas não
é coisa amiga da produtividade. Aliás, se há serviços que não são produtivos
são justamente os serviços camarários – e isso não é de hoje nem de ontem – mas
há que espalhar demagogia e como tal nenhum executivo tem a coragem política
para dizer que «o rei vai nu». É que sem produtividade não há orçamento que
resista. Só a título de exemplo, o Largo das Palmeiras daqui a pouco há três
meses que foi iniciado e se se descuidarem muito só para o ano estará
totalmente terminado.
Resumindo e concluindo, quem
paga as «conversas em família» do executivo municipal? Quem paga estes comícios
encapotados? - o que chamar a isto senão um comício? Um comício encapotado. Pago
por quem? Pago pelos do costume.
Como dizem alguns; pagam os
desempregados, pagam os pobres, os mais pobres. Pagam e pagam com língua de
palmo… estas e outras.
Ah é verdade, o concelho de
Alcácer do Sal foi aquele onde o desemprego mais cresceu e é um dos mais pobres
do país. É sempre importante ter tal sempre bem presente. É mais o desemprego e
a miséria do que é a vida.
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