sábado, novembro 01, 2014

PENSAMENTOS MANHOSOS – Arrogância


Nos tempos que correm, Portugal mudou realmente muito, se para melhor ou pior é o que falta saber. A relação entre as pessoas mudou e a razão dessa mudança traz-me à ideia “Pensamentos Manhosos”. As pessoas pensam que ganharam uma importância que na realidade não têem. Alguns “espertos” perceberam que o facto de se dizer: O seu voto conta, o seu parecer conta, auto-convence as pessoas disso mesmo. Tretas! Ninguém conta para nada nas contas de quem está disposto a conquistar tudo. Mas o caricato é que realmente as pessoas se convencem que contam. E para se auto-convencerem que contam chegam a inventar cargos, títulos e situações espampanantes na convicção de que isso os torna realmente mais visíveis e importantes. Eu acho muito triste quem usa e abusa dos títulos e competências mas que no fundo carrega a sua ignorância que cai à mínima beliscadura, à mínima confrontação com quem realmente sabe. Doutor para aqui, Engenheiro para ali, Empresário para acoli, Arquitecto para acolá. Reparem que ninguém diz, Pedreiro para aqui, Mecânico para ali, Varredor para acoli, Pastor para acolá. E de cima dos seus títulos aprendem logo a manter distâncias não só pelo olhar como pelo seu ar “Arrogante”. Nos países por onde tenho andado as pessoas gostam de ser conhecidas pelos seus nomes, pelas suas obras, pela sua real competência. Um protótipo de arrogância é esse rapaz que agora é presidente de um clube de futebol. Chega a rasar o ridículo. Um jovem que está a começar a vida e já a destilar arrogância por todos os poros. Um país em que as pessoas passam a vida a queixar-se e a chorar mas que são incapazes de pedir ajuda ou de reconhecer a sua situação. Onde ninguém reconhece que vive do Rendimento Social de Reinserção mas o dinheiro sai dos cofres do Estado. Onde até o facto de se estar a receber do fundo de desemprego é sinónimo de desprestígio. Eu sei que são várias as razões para essa ocultação que vai desde se andar a trabalhar a negro e portanto não há que dar com a língua nos dentes não vá o diabo tecê-las. Por sinal ainda hoje aqui na conversa com um jovem amigo que está há pouco tempo na Bélgica ele me falou exactamente desta situação que o enfada em Portugal. Todos sabem de tudo. Todos falam de tudo. Sem regras. Todos reclamam a liberdade que Abril lhes trouxe ainda que não tivessem contribuído em nada para isso. Tudo na vida tem uma maneira de ser feito correctamente. Hoje em dia não se pode inventar sem nexo. As pessoas têem de deixar de se achar mais importantes umas que as outras. Se não houvesse quem limpasse as ruas e recolhesse o lixo todas as outras profissões não podiam exercer. Todos reclamam que os fins de semana são para descansar e sair com a família sem se lembrarem que se não houvesse quem trabalhasse ao fim-de-semana, deviam ser bem aborrecidos os ditos. Ainda esta semana passada um agente da autoridade disse a uma vítima de agressão que ás 2 horas da manhã não são horas de apresentar uma queixa, quando a senhora acabara de ser agredida. A vítima acabou assassinada. Mas então isto tem algum sentido? Todos os arrogantes deste mundo têem de perceber que somos todos iguais, com os mesmos direitos e os mesmos deveres. Claro que terão de haver sempre pobres senão coitados dos ricos... não existiam. Tem de haver doentes senão os médicos não fazem cá falta. A única coisa que, assim à primeira vista, não faz cá falta nenhuma são realmente os arrogantes. Temos de respeitar quem trabalha e produz e quem infelizmente não consegue arranjar forma de contribuir para a comunidade. Não é necessário andar tudo aos beijinhos uns com os outros como está a tornar-se moda, mas também não é necessário tratar qualquer semelhante com arrogância e do cimo do seu ordenado ou posto de trabalho ou mesmo do seu título pois o que não faltam neste mundo são títulos e canudos a passar muito mal e a dormir eu sei bem onde. Há uma base que eu sempre segui: um bom patrão tem o dever de pagar o menos possível pelo que produzimos e nós temos sempre que reclamar o máximo de dinheiro pelo nosso trabalho. Quando este equilíbrio for atingido o mundo vai viver em paz e progredir.

Uma boa semana para todos e pensem.

Jorge Mendes

Bruxelas, 29/10/2014

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