sábado, fevereiro 21, 2015

PENSAMENTOS MANHOSOS – “Rádios”

Quando eu tinha 16 anos, a maneira mais fácil que me garantia cama e mesa para sair da pasmaceira em que vivia, e que de forma nenhuma correspondia ao que eu queria que fosse a minha vida, resolvi ingressar na Marinha de Guerra Portuguesa, como rádiotelegrafista, Aí começou a minha relação com a rádio. Depois, aproveitando as ausências de um colega de camarata que deixava a viola dele em cima do armário quando saía da unidade, comecei a aprender a tocar viola sózinho. Em 1969 fui enviado para a Radionaval de Ponta Delgada e foi aí que comecei a escrever as primeiras canções e a fazer os primeiros “Concertos”. Fazia cantigas sobre a minha namorada e sobre a terra que sempre considerei como minha, o Torrão. Escrevia sobre as saudades que tinha do «Largo do Zé Balsinha», da minha escola, dos meus amigos, etc. Quem me conhecia ficava encantado e achava uma maravilha e fui andando assim até me aperceber que afinal o resto do mundo nem conhecia a minha namorada e nem sabia onde ficava o Torrão e por isso aquilo que eu escrevia para eles era tinto. Comecei a alargar os temas e quando saí da Marinha, já casado com a tal namorada que ainda hoje namoro, comecei a ingressar em bandas de baile e como não era grande guitarrista fui logo parar a cantor. Cantei em grandes bandas a nível nacional e com músicos fantásticos, compus nessa altura uma canção para tocar como inédito num grupo que se chamava e chama Miúda da Escola, que se tornou um caso sério na zona onde eu morava, Cruz de Pau e arredores, ao ponto de ainda hoje me pedirem para a gravar... mas nunca calhou. No tempo em que para se registar obras tinha de saber-se escrever bem, pelo menos, comecei a escrever mais a sério e a registar o que fazia. Hoje já faço parte dos mais antigos membros dessa prestigiosa Sociedade Portuguesa de Autores , com centenas de músicas editadas. Quando a música deixou de ser para ouvir e passou a ser apenas para saltar e as letras deixaram de ter métrica, quando começámos a ter mais cantores que no Brasil e autores à «pázada», quando começámos a achar graça a toda a espécie de ordinarices, fiz como os outros do meu tempo: passei a escrever e a guardar na gaveta.
 Quando me apercebi que o público chama cantor português a um tipo que sempre cantou canções alemãs e música portuguesa a todos os “covers” que vêem do Brasil, resolvi criar uma rádio para passar a Música Portuguesa que todos dizem adorar mas ninguém quer ouvir. E foi assim que nasceu a Rádio Jota Mendes Música. E está já em actividade também uma TV social onde passo, por enquanto, vídeos daquilo que eu considero música, mas onde brevemente vão ter a possibilidade de me ouvir e ver. Trata-se de uma rádio apenas para os amantes verdadeiros e conhecedores de música portuguesa - além dos meus amigos que diariamente me vão visitar e passar algum tempo comigo. Claro que também lá passo as grandes músicas de outros países. Eu apercebi-me que duas das minhas músicas no Youtube (cerca de 50) têem mais de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) visitantes. Eu já tenho idade para saber o meu lugar na música e sei perfeitamente! Dentro de 2 semanas estará no mercado nacional mais um CD onde estão 3 temas meus, o que me enche de orgulho e me dá a certeza que há artistas neste país que não foram pelo tal caminho do «é estrangeiro é bom». É que no estrangeiro também já há gente má suficiente.
Desde 27 de Janeiro passado, com a ajuda de um grande amigo, o Santos, estou a emitir, e já a atingir os 1.000 visitantes, pelo que estou feliz. Já nos anos 70 eu passava em televisões de outros países, mas em Portugal não tinha valor para isso. A única vez que fui a um programa na televisão portuguesa o entusiasmo foi tanto que fomos obrigados a repetir a mesma música, o que é quase impensável em televisão.
Como andam uma série de figurões a incutir nas pessoas que as músicas que eles cantam foram eles que as fizeram, quando alguns nem escrever o nome deles sabem, vou aproveitar para repôr e esclarecer, que por exemplo, «O meu Montinho», que entrou no filme da elevação do Cante Alentejano a Património Cultural da Humanidade é uma letra e música minha e não popular. Assim sendo a minha rádio tem por fim esclarecer ou até ser esclarecida musicalmente. Para ouvir a boa música sertaneja e os espectaculares "covers" da musica americana há muitas Rádios.


Uma boa semana para todos e pensem.

Jorge Mendes
Bruxelas, 20/02/2015


NOTA: Para quem quiser ouvir a Rádio Jota Mendes Música basta clicar aqui: http://xat.com/Jota_Mendes_Musica




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