E assim vai o Torrão regredindo e tendo cada vez mais caracteristicas próprias de uma aldeia. Uma aldeia grande, mas uma aldeia».
Há cerca de quatro meses atrás, quando proferi esta frase, estava longe de pensar sequer que esta realidade estivesse bem mais próxima, fatalmente mais próxima. Nada mais enganoso.
O Torrão já teve em tempos duas escolas primárias e cada uma delas tinha quatro turmas com uma média de 15 alunos. Este ano lectivo, sinais dos tempos, apenas nove alunos iriam entrar na escola. Iriam, porque quatro estão em risco de não entrar. Chamam-lhes condicionados.
Ao que consta, o governo terá emitido um despacho que altera as condições de acesso ao ensino primário. Antes, alunos com cinco anos de idade mas que perfizessem os seis durante o ano lectivo podiam frequentar a escola. Com o novo despacho apenas os alunos que façam os seis anos até ao início do ano lectivo podem frequentar a escola sendo que os outros vão... para a lista de espera, ficam no limbo pois nem podem ir para a primária nem podem ficar no pré-escolar. Desta forma, todos aqueles que tiveram o azar, digamos assim, de nascer depois de 15 de Setembro não se podem juntar aos colegas. Pode-se dizer que são discriminados em função da data de nascimento - em Portugal já se vê de tudo.
Ora das duas uma: ou quem governa não tem consciência das medidas que toma (e nem é preciso ir a Lisboa) nem da realidade do país ou isto é uma estratégia maquiavélica de ajudar a fechar escolas e desertificar o interior do país.
Mas o berbicacho que já é grande ainda vai ficar maior simplesmente porque se com nove alunos dificilmente abriria uma turma para a primeira classe, com cinco ainda menos pelo que o «mal irá ser distribuído pelas aldeias» isto é, os cinco miúdos vão ser colocados junto com os alunos da segunda e da quarta classe. Está-se mesmo a ver o resultado. Ora se todos fossem para a turma da segunda classe ainda vá lá; agora para a quarta classe? E depois repare-se no absurdo, cinco miúdos e mesmo assim não podem ficar todos na turma da segunda, indo «dois gatos pingados» para uma turma e os restantes para a outra.
Ora como é bom de ver, quem não está a achar graça nenhuma, como se deve calcular, são os pais dos miúdos os quais já dizem que na turma da segunda classe ainda... enfim, vá lá... já na turma da quarta classe nem pensar, ponderando mesmo a hipótese dos seus educandos não frequentarem o ensino no Torrão.
Infelizmente, e de acordo com algumas fontes mais ou menos credíveis, mais uma vez, procurou-se pôr os pais à margem pois reza a estória que a Associação de Pais teria reunido na Quinta-feira no edifício da Junta de Freguesia sem que os pais - de apenas nove alunos... é que se fossem cinquenta, por exemplo, é que seria impeditivo - fossem chamados a contas. Acontece que teria havido alguém que se «descuidou» no Facebook e tornou sem querer pública a reunião pelo que os pais irromperam pela reunião dentro querendo naturalmente ter voto na matéria.
Será mais uma vez, a política do esconde-esconde, do jogo de sombras, o discutir em surdina e em circuito-fechado a prevalecer? Há quem queira manter para sempre e a todo o custo os torranenses na escuridão, na caverna... a tal caverna do senhor Platão? Não será uma mais-valia todos os torranenses estarem devidamente informados para que, conscientes da realidade, estarem devidamente unidos? Não é dever de quem tem conhecimento de causa informar até porque o dever de informar e de ser informado está consagrado na Constituição? Não é a cidadania mais ou menos participativa em função da informação que passa para os cidadãos? Sonegar informação não implica directamente uma castração de cidadania que se quer activa e participativa como deve ser numa democracia que faça jus ao nome? Não será mais útil todos se concentrarem nos problemas ao invés de perder tempo com processos judiciais infames como forma de tentar amedrontar todos aqueles que queiram informar, ser informados e discutir os problemas e como forma de afastar vozes incómodas da discussão política (outro direito/dever constitucional), à boa maneira de antigamente, nomeadamente aqueles que são desempregados de longa duração e cujo único rendimento que têm é a parca reforma dos seus progenitores? Não sei! Ficam as questões.
Ora por coincidência - ou não - alguns dos dirigentes da associação de pais - que nem representa todos os pais - estão também nas listas, nomeadamente na lista da Assembleia de Freguesia pela situação, pelo poder político actual, no qual há ainda quem exerça também funções autárquicas no presente mandato, portanto está-se mesmo a ver. Não se põe em causa de forma alguma a boa fé de ninguém mas convenhamos que como diz o ditado «à mulher de César não lhe basta ser séria, há que parecer» e esta forma de fazer as coisas não parece que seja de todo séria nem transparente e certamente que não haverá ninguém de boa fé que afirme o contrário. Infelizmente insiste-se.
Mas como estamos em período eleitoral autárquico seria importante, a meu ver, que os principais candidatos autárquicos de todas as forças políticas, primeiro tivessem conhecimento de causa, e depois, se o entendessem, exprimissem a sua opinião, nomeadamente aqueles que ainda exercem funções e que se recandidatam, como é o caso da Sra. Vereadora da Educação e nº3 na lista do PS à Câmara pela terceira vez, do Sr. Presidente da Junta de Freguesia do Torrão e recandidato pela quarta vez também pelo PS, bem como do Sr. Presidente da Assembleia de Freguesia e também Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas do Torrão e também mais uma vez recandidato pelo PS.
Não basta propaganda - e isto é válido naturalmente para todas as candidaturas; nem os torranenses nem ninguém deve votar em função de quem apresenta mais cartazes eleitorais, em função de gostos pessoais, em função de slogans, símbolos, partidos ou ideologias, tudo conceitos vagos e ocos que não resolvem problema algum mas sim em função de quem defenda políticas de verdade e de transparência, em função de ideias, de propostas, de opiniões, do que pensam sobre diversos assuntos. Não faz sentido votar em pessoas, na minha modesta opinião, de quem não se lhes conhece uma única linha de pensamento, que não falam, que não publicam um texto, um artigo de opinião com a agravante de alguns estarem há anos no poder... em silêncio.
Esperemos, e isso é o mais importante, que todas as crianças tenham a mesma oportunidade e que não sejam prejudicadas. Quanto à carência de alunos... aí receio bem que pouco ou nada se possa fazer a menos que houvesse algo que atraísse gente para cá e fosse suficiente para quem mora cá não tivesse que sair.
Serão os torranenses «uma espécie» em vias de extinção?
QUO VADIS TORRÃO? QUO VADIS?*
* Expressão latina que significa «Para onde caminhas»
** Música: Promentory - The Last of the Mohicans (O último Moicano; filme)
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