sexta-feira, setembro 06, 2013

A delicada e perigosa questão síria

Já vimos o «filme» no Iraque em 2003 com a questão das armas de destruição em massa, facto que, apesar, dos inspectores da ONU chefiados por Hans Blix, no terreno, afirmarem não terem provas ou ser algo improvável, o regime americano insistia e apresentava provas que mais tarde veio provar-se serem falsas, pese embora o facto de Durão Barrroso e Paulo Portas jurarem a pés juntos que viram as provas e que acreditavam piamente nelas, bem como outros, na famigerada cimeira dos Açores onde Barroso foi o mordomo de serviço dos senhores da guerra. O resultado foi o que se viu.

A história parece agora repetir-se com a questão das armas químicas usadas na Síria. Que armas químicas estão ou foram usadas, isso parece não haver duvidas, contudo os EUA, repetindo o erro do Iraque e apesar da prudência pedida por outras potências, estão desenfreados e mortinhos para se lançarem na aventura síria.

Para além disso, a questão é uma falsa questão. Então vai-se intervir porque teriam sido usadas armas químicas que supostamente mataram milhares de sírios e não se interviu quando já morreram de facto milhares de pessoas devido ao uso de armamento convencional? Não parece ser um pretexto um tanto ou quanto fraco?

Por outro lado, deita-se mão do velho argumento e alude-se ao facto da Síria ser uma ditadura. Bem, quanto a isso parece não haver nada a fazer pois os povos do Médio Oriente e norte de África pelo que se tem visto não sabem viver em democracia como o provam as experiências falhadas do Iraque, Egipto, Líbia, etc. As ditaduras aqui funcionam como autênticos tampões que impedem as pulsões e o caos generalizado. Democracia imposta à bomba já se viu que não funciona. Aliás é uma forma pouco democrática de promover a democracia.

Em seguida temos outra questão: não há objectivos concretos. O que se pretende? Derrubar Assad? Uma expedição punitiva? Ajudar os insurgentes os quais tudo indica têm a Al-Qaeda por detrás e que a haver ataque tem nos americanos um grande aliado? Forçar Assad a abandonar o poder? Os americanos já se aperceberam disso e já sobem a parada com o Secretário de Estado, John Kerry a pôr já a hipótese de uma invasão terrestre.

Há contudo analistas que advogam o perigo de riscos incalculáveis e vislumbram mesmo nesta crise preocupantes paralelismos com 1914 e o despoletar da Primeira Guerra Mundial, nomeadamente o facto das diplomacias falharem e a política externa dos estados estar ao serviço de agendas belicistas.
Temos depois a questão da Rússia que poderá envolver-se directamente no conflito bem como a China, a qual poderá inclusive fazer mover o seu peão norte-coreano - pois os seus interesses estão aqui em jogo -  e o Irão, o mais forte aliado de Assad. Chamo inclusive a atenção para o artigo «Mísseis de Agosto: a iminência de um conflito global» publicado por Miguel Castelo-Branco no seu blog «Combustões» onde se afirma que «Falharam os mecanismos que podiam evitar que o conflito atingisse proporções por ora inimagináveis: a conferência de paz prevista para se realizar na Suiça não aconteceu; os mercenários terroristas pagos pelas petro-monarquias wahabistas e pelos EUA não vingaram; a guerra tende a espalhar-se pelos países circunviznhos da Síria; o Conselho de Segurança da ONU não consegue encontrar um entendimento; os EUA, França e Grã-Bretanha pretendem calcar os fundamentos plasmados na Carta das Nações Unidas; a Rússia surge como grande potência disposta a correr todos os riscos para se afirmar como obstáculo às investidas imperialistas.
Tal como em 1914, a diplomacia falhou e a política externa dos Estados parece estar ao serviço de agendas belicistas, parecendo não haver a mais pequena margem para um acordo genérico. Ora, o ataque dos EUA e seus parceiros implicará, tudo o indica, o envolvimento directo da Rússia numa guerra no earth land, situação que expõe o poder marítimo a riscos incalculáveis.A acontecer, os parceiros ocidentais terão de contar com o envolvimento directo de Israel, pelo que o Irão (e talvez a China) serão chamados a secundar o governo sírio mas, sobretudo, a Rússia.
Podemos estar, pois, na iminência de uma grande guerra no Médio Oriente e, até, de uma conflagração mundial cujo resultado é incerto. Um dia, os manuais de história dirão que neste Agosto de 2013 o Ocidente foi humilhantemente derrotado nos areais do Médio Oriente e que nesse Agosto se iniciou a retracção dos EUA enquanto potência global».

Não esqueçamos ainda que uma nova guerra na região levará a uma escalada no preço do petróleo, algo que irá acrescentar mais crise à crise financeira nas depauperadas economias ocidentais em recessão e que os EUA são cada vez mais um colosso com pés de barro que de dia para dia correm o risco de implodir e colapsar sob o peso da sua gigantesca dívida, como aliás podemos ver e ouvir em diversos artigos e livros.

Ao contrário de 2003, as redes sociais, a internet e meios de comunicação alternativos, fazem frente e combatem as notícias produzidas pelos media tradicionais os quais não estão livres da suspeita de estarem também eles ao serviço de agendas belicistas, manipulando a opinião pública. Nunca como hoje, a guerra da informação (e contra-informação) foi tão importante e aguerrida. Há quem garanta que os EUA estão a forjar provas e que hackers terão interceptado e-mails comprometedores de oficiais de alta patente americanos como se pode ver AQUI.

Veremos se o princípio do fim do domínio americano não começará nas areias escaldantes da Síria. Convido-vos agora a verem estes dois pequenos filmes, para que se perceba melhor o que está em jogo, antes que sejam censurados e misteriosamente possam vir a desaparecer do Youtube, pratica que começa a ser preocupantemente corriqueira para os campeões da democracia. Aliás, costuma dizer-se que em qualquer guerra, a «verdade» (seja ela qual for) é sempre a primeira vítima. E já agora sigam alguns destes conselhos; nunca se sabe.






Sem comentários: