segunda-feira, setembro 16, 2013

A última aventura

O bairro dos castelos é um bairro pacato e tranquilo; demasiado tranquilo. Mas essa tranquilidade pode ter os dias contados.
No princípio de Junho, a Câmara Municipal enviou um ofício aos moradores - estranhamente apenas alguns - a fim destes irem a uma sessão de esclarecimento na Sociedade 1º de Janeiro Torranense que decorreria dia 14 de Junho pelas 18 horas. Era uma sessão onde seria apresentado um plano de requalificação da zona. Quando todos pensavam que se tratava de melhorar ruas e substituir condutas eis que surpreendentemente o «coelho que sai da cartola» é o projecto para rasgar uma nova rua paralela à Rua General Humberto Delgado.
Uma nova rua???!!!
O bairro dos castelos é habitado em larga maioria por uma população envelhecida ou semi-envelhecida, é a zona antiga do Torrão e mais, é uma bairro quase deserto e depois dele só há campo. 
A Rua General Humberto Delgado só por si não é nenhuma avenida movimentada, lotada e com elevado tráfego, senhores. Não é! Se passaram ali dez carros ou dez pessoas por dia já é muito. Ora a ser assim a nova rua será para quê? Só se for para passarem raposas, texugos, saca-rabos...
Qual é a importância ou a mais-valia que tal rua vem trazer?
Segundo consta, este é um projecto com décadas. Mas o facto de haver um projecto tem que implicar que este obrigatoriamente seja executado? Imagine-se um indivíduo que tem um quintal e adquire um cão. Este projecta a construção de uma casota para o animal. Entretanto o cão morre. Ainda assim vai construir a casota só porque esta foi projectada?!
Há ainda quem refira que ali passa um ramal de esgoto e por isso tem que se fazer a rua até porque os serviços não teriam acesso a eles. Será? E que tipo de problemas houve até hoje?

Um outro problema gravíssimo é que esta rua não irá ser desenhada onde hoje estão terrenos sem construção. Não! A nova rua vai rasgar terrenos e propriedades. Esta já é uma área habitada por isso estranha-se quando vemos nas promessas eleitorais daqueles que são poder há 8 anos afirmar que querem lotear o bairro dos castelos.

Excerto do panfleto de campanha do Partido Socialista (PS) com a referida proposta


Como se disse, ali moram pessoas de alguma idade. A dita rua irá partir terrenos em dois, rasgar propriedades, destruir árvores de fruto, hortas de onde os moradores retiram algum do seu sustento. Há até um caso em que a rua ficaria quase em cima de um prédio de habitação. Isto é de uma violência de todo o tamanho. Pessoas desta idade, quando sujeitas a tal stress geralmente esmorecem e perdem a razão de viver. Vamos condenar pessoas à morte? E o senhor Presidente da Junta não deve defender todos os seus «fregueses»? Já ouviu as suas queixas? Por acaso já algum responsável visitou o local? Conhecem a situação? E se a casa ou a propriedade de algum destes responsáveis fosse afectada será que também iriam por diante?



 A referida casa de habitação e a fita a assinalar a passagem da rua


 Mais um local de passagem




 Mais em pormenor a casa e a propriedade que será partida em duas pela referida rua

 Como se pode ver, depois disto é campo. A vila do Torrão termina aqui

 Mais dois locais de passagem da rua

 Como se vê, é campo. Quem usará uma rua no meio do campo? E para que serve?





Os locais de passagem


Ainda há pouco tempo especulou-se que a ideia seria fazer ali uma parque de estacionamento. A ser verdade, era um erro. O bairro dos castelos é um bairro periférico e esquecido. Os eventos principais ocorrem da Praça Bernardim Ribeiro para cima. Ninguém se daria ao luxo de estacionar ali e sítios, terrenos baldios para estacionar é coisa que não falta.

Como é o caso deste, junto ás piscinas e da Rua 5 de Outubro. É privado mas a autarquia podia negociar e tentar adquiri-lo. Fazia aqui um bom parque de estacionamento misto (ligeiros e pesados).



O antigo largo da feira também era uma boa opção. Também é privado.


Este terreno baldio, onde os serviços camarários depositam alguns materiais tais como areias e britas, e perto do posto da GNR também não é uma má alternativa. Inclusive os motoristas de veículos pesados gostam de estacionar aqui por uma questão de segurança. (para saber mais clique AQUI)



 Estes terrenos privados também são uma boa alternativa pois em dias de grande movimento não há lugares de estacionamento de cheguem. Pode-se dizer que são tudo terrenos privados. Também aqueles onde querem implementar a rua são. E para o projecto ser executado, as referidas propriedades ou são expropriadas ou há acordo. Seja como for, não é uma operação sem custos.


 É neste largo do depósito que aqueles que vão às procissões estacionam as viaturas.


Portanto, já se constatou que alternativas ao estacionamento há. Contudo, e pelo que se lê na propaganda eleitoral, aquilo que de facto se quer ali fazer é um loteamento. Perdão? Um loteamento?
Bem, em primeiro lugar, como se viu, os terrenos estão edificados. Destrói-se o que existe? Pelos vistos... 
E constrói-se o loteamento onde? Em cima da fonte da Partina? No pego do Moirão? No Porto da Azinheira?
Segundo, este é um bairro velho. Desvirtua-se a traça como aliás foi feito em Rio de Moinhos e que o candidato do PS à câmara criticou  no seu blog - coisa que eu próprio considero também um atentado por tal monstruosidade desvirtuar uma aldeia onde predomina a arquitectura tradicional.
Terceiro, tapam-se caminhos que dão acesso a olivais e propriedades?
E mais importante. Constroi-se um loteamento para quem?
O Torrão está desertificado. Os jovens saem do Torrão. O bairro dos castelos em particular é um bairro envelhecido, esquecido, semi-deserto, sem actividades. Quem iria adquirir esses lotes? E mais: há um loteamento que foi iniciado há sete anos e que está abandonado: o Bairro de Nossa Senhora do Bom Sucesso.



Iniciado por volta de 2007, eis aquele que seria o Bairro Nossa Senhora do Bom Sucesso


Para que serviria um novo loteamento? Prevê-se algum «salto» no Torrão? A obra seria executada pelo município ou adjudicada? Seria para dar trabalho a alguém? E quanto custaria?

Eis a questão mais pertinente: os custos. Os terrenos por onde passaria a dita rua são terrenos privados. Para ser ali aberta uma rua das duas uma: ou a câmara negoceia com os proprietários ou a câmara expropria. Seja como for, tem que fazer despesa. Depois dos custos com a aquisição dos terrenos, para abrir uma rua, recorrer a maquinaria, os materiais, a colocação de condutas de água e esgoto, o asfalto, etc. também não é grátis. Qual o valor que tal obra acarretaria para os cofres do município?
Mas agora vejamos: ali já moram pessoas e o bairro dos castelos tem ruas degradadas. Então porque não investir na requalificação do que já existe em vez de embarcar em aventuras sem nexo?




 A rua transversal às ruas Gago Coutinho e Sacadura Cabral está neste estado lastimável como as imagens documentam.








 É neste estado que está o pavimento da Rua Sacadura Cabral. O bom senso mandava que em vez de ideias peregrinas, houvesse dispêndio de verbas com estas ruas que há anos estão neste estado.









 A Rua Gago Coutinho seria uma das transversais ao dito arruamento. Está num estado semelhante ao da Sacadura Cabral. As imagens falam por si.


 Esta travessa perpendicular à General Humberto Delgado por nunca ter sido asfaltada ou sequer calcetada e devido ao desnível é uma boa fornecedora de pedras e de terra à rua asfaltada, como se vê. A situação torna-se especialmente dramática quando ocorre uma chuvada maior como aliás se pode constar aqui. Esta situação foi inclusive abordada por um munícipe numa sessão da assembleia de freguesia há cerca de dois anos  tendo então o Sr. Presidente da Junta afirmado que depois das primeiras águas a coisa fazia-se. Está à vista!





A Rua General Humberto Delgado também está um mimo, como se pode ver. E se houve uma pequena intervenção foi graças à acção do Pedra no Chinelo como se pode ver aqui e aqui.







 Apesar de asfaltado acima e abaixo, este troço ficou adiado para as calendas gregas. De referir que esta é uma estrada que liga o bairro dos castelos ao posto de saúde e á usada preferencialmente pelos habitantes do bairro dos castelos.

Como se pode ver, há muita coisa para reabilitar. Haja sensibilidade e bom senso. Haja uma acção lógica e coerente. Haja sentido de responsabilidade e faça-se uma gestão como deve ser da coisa pública.
Não embarquemos em ideias peregrinas. Há quem queira dar o passo maior que a perna. Já foi semeado o caos e a destruição por outros pontos do Torrão e do concelho. Ainda não sairam de uma e já se queriam meter noutra.



 O caos que se abateu sobre a Rua de Nossa Senhora do Bom Sucesso, há dois anos, ainda está bem presente na memória dos torranenses.




 Em Alcácer, o RUAS (Regeneração Urbana de Alcácer do Sal), obra importante sem dúvida, mas que devido a má planificação, por não se ter optado por fasear a obra e por vicissitudes várias, arrasta-se, deixando moradores e comerciantes nas zonas intervencionadas à beira de uma ataque de nervos e já nem vamos falar na questão dos custos daí advindos porque aí então...

O bairro dos castelos é um bairro tranquilo e pacato. Ninguém precisa ou pediu sequer uma nova rua e muito menos ninguém pediu alvoroço. Da última coisa que a vila do Torrão precisa é de mais uma rua, ainda por cima «onde Judas perdeu as botas».

Quanto aos moradores do bairro dos castelos, não caiam no erro de estarem descansados, relaxarem e pensarem que é só promessas e que nunca ninguém fará ali nada, como já alguns me disseram. Confrontem os candidatos às eleições do próximo dia 29 sobre esta situação. Por falar nisso, já algum candidato ali foi visitar o bairro, principalmente aqueles que promovem tão mirabolante ideia?
Fiem-se no deus e na virgem e não abram os olhos... depois das eleições e da tomada de posse, só se não calhar, entram por ali dentro com as máquinas, guarda e tudo, como temos visto em outros casos na televisão, e escavacam tudo. Só é enganado quem quer e quem avisa...


     Música: Symphony of destruction - Megadeth

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