quinta-feira, setembro 12, 2013

Levam tempo mas chegam lá

Em relação aos bombeiros, não seria viável a unificação das corporações de bombeiros num único corpo nacional, num modelo semelhante ao da PSP ou GNR, com um comando geral, sedeado no interior do país, por exemplo em Castelo Branco, e vários comandos regionais e locais e uma hierarquia definida, militarizados ou semi-militarizados o que permitiria certamente uma melhor coordenação e organização, com uniformes e equipamento comuns e houvesse no seio desta corporação divisão por especializações (Serviços de saúde, Brigada de intervenção química, Brigada de combate a incêndios, Brigada de sapadores, Divisão aérea, Brigadas especiais - de elite - que actuam em cenários de grande catástrofe como terramotos, tsunamis, atentados terroristas, etc.) e se caminhasse no sentido de um profissionalização cada vez maior em que os elementos de cada divisão apenas tinham determinadas tarefas e se acabasse com o modelo das associações humanitárias, corpos sociais e sócios (que implica descriminação dos cidadãos entre sócios e não sócios.) e que implicam uma gestão pouco transparente e possíveis negócios paralelos?

Paulo Selão in Pedra no Chinelo, «A praga dos incendiários»; 20 de Julho de 2005


Ora aí está o dedo bem colocado na ferida. Pensamos, e já desde 2005, que as ditas associações humanitárias deviam acabar e haver uma unificação dos corpos de bombeiros numa estrutura semelhante à da PSP e com uma progressiva profissionalização dos efectivos.
De facto também a instrução e disponibilidade deixam muito a desejar. Os bombeiros portugueses são valorosos, abenegados, bravos mas são também, e não tenhamos medo das palavras, uma tropa fandanga que não prima em grande medida pela disciplina - basta ver por exemplo a forma desleixada e sem garbo, como alguns se fardam e actuam nos teatros de operações. Do ponto de vista de preparação física para enfrentar as mais duras condições, a esmagadora maioria, uma catástrofe; gente com baixíssima capacidade aeróbica, gente obesa, gente que não se cuida ou prepara minimamente, homens já com alguma idade, jovens imaturos que menosprezam o risco e que vão para o teatro de operações e vivem aquilo como se fosse uma aventura e mais: muitos efectivos são semi-analfabetos, e pior, alguns comandantes sofrem do mesmo mal. Há comandantes que pura e simplesmente terão certamente dificuldade em ler uma carta topográfica ou meteorológica bem como outras lacunas. Basta abrirem a boca para se perceber imediatamente. Na verdade, como afirma Brandão Ferreira, qualquer pessoa pode ser comandante de um quartel de bombeiros. Até é possível um bombeiro de 3ª (equivalente a praça) ascender a comandante (muitas vezes por conhecimentos, cunhas ou por um «golpe de asa»).
E depois, deveria - deveria porque não existe - existir um corpo de oficiais para enquadrar toda esta gente. Apesar de legislação produzida em 2008 prever a existência de oficiais bombeiros no terreno não se vê nem um.
Também ao nível da formação esta deveria ser diferenciada num modelo semelhante ao usado na PSP. Deveria haver (e há) uma escola nacional de bombeiros a ser frequentada apenas para aqueles que seguem a carreira de bombeiro e uma escola superior de bombeiros - à semelhança da escola superior de polícia ou das escolas superiores militares - destinada à formação daqueles que seguirão a carreira de oficiais sendo esta uma escola de ensino superior ministrando curso de engenharia (quimica, civil, florestal), protecção civil, física, química, psicologia, adminstração, gestão, etc. sim porque nem nas escolas superiores militares nem nas escolas superiores policiais há cursos de oficiais - isso não existe - há sim cursos superiores que conferem uma licenciatura e/ou mestrado mas devido à natureza do ensino estes licenciados são enquadrados nas carreiras de oficiais com o posto mais baixo e depois vão progredindo na carreira como se pode ver aqui e aqui por exemplo.
Esta deve ser uma formação rigorosa do ponto de vista intelectual, físico e moral - à semelhança do que ocorre nas referidas escolas superiores militares e de policia - donde saem os oficiais para comandar as unidades, quartéis e operações. Gente altamente formada e preparada, à altura de enfrentar grandes e graves desafios.

Paulo Selão in Pedra no Chinelo, «Carne pra canhão - crónica de um desastre anunciado... e perpétuo?»; 2 de Setembro de 2013
 




Fonte: Edição do jornal «Correio da Manhã» de 12 de Setembro de 2013


Para ler os artigos em causa na íntegra:

A praga dos incendiários

Carne pra canhão - crónica de um desastre anunciado... e perpétuo?


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