Em relação aos bombeiros, não seria viável a unificação das corporações
de bombeiros num único corpo nacional, num modelo semelhante ao da PSP
ou GNR, com um comando geral, sedeado no interior do país, por exemplo
em Castelo Branco, e vários comandos regionais e locais e uma hierarquia
definida, militarizados ou semi-militarizados o que permitiria
certamente uma melhor coordenação e organização, com uniformes e
equipamento comuns e houvesse no seio desta corporação divisão por
especializações (Serviços de saúde, Brigada de intervenção química,
Brigada de combate a incêndios, Brigada de sapadores, Divisão aérea,
Brigadas especiais - de elite - que actuam em cenários de grande
catástrofe como terramotos, tsunamis, atentados terroristas, etc.) e se
caminhasse no sentido de um profissionalização cada vez maior em que os
elementos de cada divisão apenas tinham determinadas tarefas e se
acabasse com o modelo das associações humanitárias, corpos sociais e
sócios (que implica descriminação dos cidadãos entre sócios e não
sócios.) e que implicam uma gestão pouco transparente e possíveis
negócios paralelos?
Paulo Selão in Pedra no Chinelo, «A praga dos incendiários»; 20 de Julho de 2005
Ora
aí está o dedo bem colocado na ferida. Pensamos, e já desde 2005, que
as ditas associações humanitárias deviam acabar e haver uma unificação
dos corpos de bombeiros numa estrutura semelhante à da PSP e com uma
progressiva profissionalização dos efectivos.
De facto também a
instrução e disponibilidade deixam muito a desejar. Os bombeiros
portugueses são valorosos, abenegados, bravos mas são também, e não
tenhamos medo das palavras, uma tropa fandanga que não prima em grande
medida pela disciplina - basta ver por exemplo a forma desleixada e sem
garbo, como alguns se fardam e actuam nos teatros de operações. Do ponto
de vista de preparação física para enfrentar as mais duras condições, a
esmagadora maioria, uma catástrofe; gente com baixíssima capacidade
aeróbica, gente obesa, gente que não se cuida ou prepara minimamente,
homens já com alguma idade, jovens imaturos que menosprezam o risco e
que vão para o teatro de operações e vivem aquilo como se fosse uma
aventura e mais: muitos efectivos são semi-analfabetos, e pior, alguns
comandantes sofrem do mesmo mal. Há comandantes que pura e simplesmente
terão certamente dificuldade em ler uma carta topográfica ou
meteorológica bem como outras lacunas. Basta abrirem a boca para se
perceber imediatamente. Na verdade, como afirma Brandão Ferreira,
qualquer pessoa pode ser comandante de um quartel de bombeiros. Até é
possível um bombeiro de 3ª (equivalente a praça) ascender a comandante
(muitas vezes por conhecimentos, cunhas ou por um «golpe de asa»).
E depois, deveria - deveria porque não existe - existir um corpo de
oficiais para enquadrar toda esta gente. Apesar de legislação produzida
em 2008 prever a existência de oficiais bombeiros no terreno não se vê
nem um.
Também ao nível da formação esta deveria ser diferenciada num modelo
semelhante ao usado na PSP. Deveria haver (e há) uma escola nacional de
bombeiros a ser frequentada apenas para aqueles que seguem a carreira de
bombeiro e uma escola superior de bombeiros - à semelhança da escola
superior de polícia ou das escolas superiores militares - destinada à
formação daqueles que seguirão a carreira de oficiais sendo esta uma
escola de ensino superior ministrando curso de engenharia (quimica,
civil, florestal), protecção civil, física, química, psicologia,
adminstração, gestão, etc. sim porque nem nas escolas superiores
militares nem nas escolas superiores policiais há cursos de oficiais -
isso não existe - há sim cursos superiores que conferem uma licenciatura
e/ou mestrado mas devido à natureza do ensino estes licenciados são
enquadrados nas carreiras de oficiais com o posto mais baixo e depois
vão progredindo na carreira como se pode ver aqui e aqui por exemplo.
Esta deve ser uma formação rigorosa do ponto de vista intelectual,
físico e moral - à semelhança do que ocorre nas referidas escolas
superiores militares e de policia - donde saem os oficiais para comandar
as unidades, quartéis e operações. Gente altamente formada e preparada,
à altura de enfrentar grandes e graves desafios.
Paulo Selão in Pedra no Chinelo, «Carne pra canhão - crónica de um desastre anunciado... e perpétuo?»; 2 de Setembro de 2013
Fonte: Edição do jornal «Correio da Manhã» de 12 de Setembro de 2013
Para ler os artigos em causa na íntegra:
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