quarta-feira, dezembro 13, 2017
Conversas Subversivas 27
Neste «Conversas Subversivas» vamos analisar os últimos desenvolvimentos no que toca ao concelho de Alcácer do Sal e em particular à freguesia do Torrão.
1 - Alcácer está por estes dias no centro das atenções no que à ficção nacional diz respeito. E se é certo que já antes os cenários idílicos já fizeram parte de outros trabalhos agora a coisa é mais séria pois a trama desta novela que passa na TVI, centra-se em Alcácer do Sal e a personagem principal masculina é «só» justamente da terra de Pedro Nunes.
É bom que os autarcas estejam atentos e «arrumem a casa», para usar uma expressão que lhes é tão familiar.
2 - Tal como se previa, a freguesia do Torrão está a pagar com língua de palmo o facto de ter votado em sentido contrário relativamente ao resto do concelho. O que era totalmente imprevisível é a forma mesquinha, extremamente dura e quase pessoal com que a coisa está a ser feita - está-se perante um caso autêntico de bullying político na medida em que se responsabiliza (e pune) por atacado toda uma freguesia... e nem as crianças são poupadas (sim, Vitor Proença e o PCP também as responsabilizam). Mas se o PCP quer procurar responsáveis devia de ir bater à porta do Sr. Silva. O maior responsável político pela derrota sofrida foi ele e isso não pode ser escamoteado e Vitor Proença se for intelectualmente escorreito e fizer jus à sua experiência política terá que forçosamente concluir que o Sr. Silva não seguiu o manual das boas práticas políticas.
Parece que não vai haver concerto de Natal.
Ao contrário de anos anteriores parece que o concerto de Natal c'est fini. De recordar ainda que em 2013 e 2014, como aliás se pode ver aqui e aqui, um dos convidados foi a Orquestra Clássica (e não Metropolitana como eu referi) do Sul veio tocar ao Torrão. Mas depois... foi para Alcácer. Era mal empregada para o Torrão.
Parece que as luzinhas este ano estão escassas.
Para quem gosta e faz questão de ter luzes de Natal... saiba que em 2014 foi assim:
Que medidas deve tomar o Executivo da Junta de Freguesia?
Bem, com tibiezas não vai longe.
3 - Passado mês e meio sensivelmente desde a tomada de posse, o Sr. Montinho está a fazer tudo o que não devia.
A página de Facebook já é outra???
Parece que o logótipo também já foi às malvas.
Expedito nestas coisas e no entanto no que toca a publicar orçamento... nada.
Veja lá! Olhe que foi promessa eleitoral!
E a publicação online dos editais de convocação das sessões da Assembleia de Freguesia?
Mas afinal a participação é apenas teórica ou é para levar a sério?
É para isso, antes de mais, que as páginas nas redes sociais e os sites servem.
CARO LEITOR, AINDA CONTINUA A ACOMPANHAR O PERCURSO OU JÁ OS «LARGOU DA MÃO»? TEM SEGUIDO OS ACONTECIMENTOS OU JÁ SE COMEÇOU A ABSTER?
NÃO VAI ÀS SESSÕES DA ASSEMBLEIA DE FREGUESIA - PELO MENOS? NÃO SE ABSTENHA!
terça-feira, novembro 07, 2017
Conversas Subversivas 26
Na nossa conversa de hoje, ainda o rescaldo das autárquicas mas antes um ponto prévio.
No ponto prévio, o famoso concerto solidário para com as vitimas dos incêndios.
AGORA HÁ UMA NOVA TÁCTICA: NÃO É A QUENTE. DEIXA-SE ARREFECER E COMO QUEM NÃO QUER A COISA...
Mas... e o outro dinheiro? Onde anda? Há gente que se queixa. Três meses depois e nada.
Dinheiro reverte na íntegra? E o IVA? E como é distribuído?
O que é triste é que depois de tudo o que se sabe ainda há quem contribua.
CONCERTO SOLIDARIO NÃO RESOLVE NADA.
2 - Situação em Barcelos
- Vereação começa a fazer mossa a Costa Gomes e a um PS minoritário. Tal como previsto em conversa anterior.
Não só votou contra a proposta de cinco vereadores a tempo inteiro como foi chumbada a delegação de competências da Câmara no Presidente. Vai tudo a reunião de Câmara.
- Situação na Assemblleia Municipal
PS elege a sua lista mas à custa dos independentes que não lhes interessa hostilizar a Câmara.
São oscilantes e não entram em jogos poiltico-partidários. Vão capitalizar.
Mas também eleitos do PSD.
Apoios (Mesa AM, orçamentos, contas de gestão) não são gratuitos. Envolvem contra-partidas.
Não é bom. EXECUTIVO ESTÁ REFÉM.
3 - Situação em Alcácer do Sal
- Há video de Vitor Proença a agradecer a vitória? Olha... fizeram tantos. Uma série de vídeos, todos dizem a mesma coisa - NADA - e agora é o que se vê.
Vê como funciona o embuste?
E o discurso de tomada de posse?
Só espero que alguém nomeadamente PS tenha gravado para mais tarde recordar.
Por falar em embuste há atrasado referi que o embuste estava em marcha.
No discurso, e nas intervenções individuais nas redes (CONCERTADO) dizem todos que foram insultados, que foram ofendidos, que ofenderam as famílias...
Mas:
Troca de galhardetes é «normal» em campanhas, em quezilia.
Mas toda essa rapaziada... fizeram-no a coberto. Leziria e Zé de Alcacer. FAZENDO-SE PASSAR COMO GENTE DO PS.
Não só gente ligada ao PS foi visada como também alcacerenses com opinião foram também mimoseados.
PORQUÊ?
DUPLO PROPOSITO.
1 - JUSTIFICAREM PURGAS NOMADMENTE TRABALHADORES DA CAMARA E OUTROS E OSTRACISAÇÃO. HERESIA TEREM CONCORRIDO OU APOIADO «QUEM NÃO DEVIAM».
DEMOCRACIA PCP EM ACÇÃO.
2 - VITIMIZAREM-SE AOS OLHOS DOS ELEITORES DE FORMA A SEREM VISTOS COMO MÁRTIRES.
RESUMINDO:
ISTO ESCONDE UM PROPOSITO: DE PERSEGUIÇÃO.
O BOM GOVERNANTE É MAGNÂNIMO E TEM ELEVAÇÃO DE ESPÍRITO.
NÃO CAI NA TENTAÇÃO NEM PERDE TEMPO COM VINGANÇAS MESQUINHAS.
E o PS? Não reage.
DEVIA RESPONDER NA MESMA MOEDA; COMBATER FOGO COM FOGO. EMBUSTE COM EMBUSTE. MENTIRA MUITAS VEZES REPETIDA...
PS NÃO É OPOSIÇÃO. EM ALCÁCER UMA OPOSIÇÃO FORMAL, POLÍTICA E EFECTIVA NÃO EXISTE. É UMA OPOSIÇÃO QUE É FEITA POUCO ANTES DAS ELEIÇÕES MAS NO QUOTIDIANO NÃO EXISTE.
MAS DEVIA CONTINUAR... NOMEADAMENTE NAS REDES SOCIAIS.
4 - No Torrão, o Sr. Silva foi vencido mas não convencido.
PERDEU, FICOU COM AZIA E NÃO EVITOU A BOCA MAS...
- DIZ QUE VAI VOLTAR!!!
Mas podendo ter saído pela porta grande, não.
A passagem de testemunho não dignifica nada nem Assembleia nem Junta de Freguesia do Torrão pois foi feita numa sala exígua, cheia de gente e com um calor desgraçado... tipo sardinhas em lata.
Podia ter sido na biblioteca ou mesmo no museu mas... lembra-se? O Torrão vai pagar com língua de palmo ter votado diferente. Já começou a pagar.
Já em Alcácer do Sal, a tomada de posse da Assembleia e da Câmara Municipal foram no auditório mas... não se engane. Foi para a fotografia. Doravante as sessões decorrerão no salão exíguo do edifício camarário.
Eis o embuste ao mais alto nível. Refinado!
segunda-feira, outubro 30, 2017
Conversas Subversivas - Especial
O tema da conversa de hoje, feita a partir da Falperra, um dos locais fustigados pela mais recente vaga de incêndios.
Complementam-se e desenvolvem-se aqui os pontos focados o que não feito ali para não tornar demasiadamente longa a exposição em vídeo.
Ponto 1 - Era difícil resistir
Em Pedrógão, e apesar das tentações e pulsões, e devido à censura da opinião pública, ainda houve algum recato mas desta vez perdeu-se a vergonha toda. Nas redes sociais o regabofe foi total. Mais uma vez, e tal como já referido noutras ocasiões, reduz-se o problema à governação esquecendo nomeadamente a ciência e outros factores. De forma acrítica e irracional aborda-se o tema como quem aborda um jogo de futebol. Na verdade, o próprio relatório do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais é sobre isso bem explícito na seguinte passagem: "As redes sociais suportaram um amplo debate sobre o tema, considerando-o sob as mais diversas perspectivas. O próprio debate político foi muitas vezes centrado na tragédia de Pedrogão, nem sempre na busca de consensos ou de posições construtivas, mas antes no sentido de explorar de modo parcial os trágicos acontecimentos e os sentimentos que haviam suscitado."
O espírito de facção, sempre presente, não contribui certamente para melhorar o que quer que seja mas apenas causa ruído e contribui para que tudo fique da mesma.
Muitos, senão a grande maioria, nem perdem tempo a ler os relatórios. Alguns inclusive desvalorizam-nos. Curioso é também a forma como se procura escamotear o relatório acima citado. Sendo certo que foram produzidos dois relatórios por duas equipas distintas; um pela chamada Comissão Técnica Independente, encomendado pelo Parlamento; e outro da autoria do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, da Universidade de Coimbra, coordenado pelo Prof. Domingos Xavier Viegas, o que é facto é que imprensa e comentadores apenas citam o primeiro e omitem o segundo. Quase parece deliberado pois o primeiro é mais técnico e de dificil «digestão» enquanto o segundo parece ser mais claro e com uma linguagem mais simples sendo mais vocacionado para leigos dando a sensação de se tentar conduzir a opinião pública para aquele relatório de forma a, por iliteracia cientifica, muitos abandonarem a leitura ou simplesmente nada compreenderem. Em termos estruturais este último também é mais claro.
De referir ainda que, devido ao mediatismo inevitável, estes trabalhos têm sido muito badalados quase dando a sensação de que é a primeira vez que se faz um trabalho desta natureza. Ora tal não é assim visto que a equipa de Xavier Viegas já tinha elaborado outros trabalhos os quais são citados no referido relatório - "O estudo deste incêndio reveste-se de uma dificuldade e complexidade muito superiores a todos os que foram realizados anteriormente pela nossa Equipa (Viegas, 2004, 2009, 2013, 2017; Viegas, et al., 2012, 2013)". Andou-se estes anos todos a «pregar no deserto».
2 - É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique da mesma?
Que nem a Ministra nem o Secretário de Estado da Administração Interna tinham condições políticas nem pessoais para continuarem nos respectivos cargos, inclusive depois do 15/10, era sabido. Que nunca poderiam levar a cabo as mudanças que se impõem, era óbvio tendo em conta antes de tudo que a sua autoridade estava irremediavelmente abalada.
Muitos foram aqueles que andaram durante semanas a pedir demissões como se as demissões resolvessem o que quer que fosse. Ainda para mais a meio da tempestade nunca é boa ideia mudar a tripulação.
Sendo certo que, ninguém o assume, que o desnorte na Autoridade Nacional de Protecção Civil, a qual se encontra, não tenhamos medo de o assumir, decapitada e totalmente desarticulada, vivendo estes últimos dias de uma época estival fora de tempo com o credo na boca e «sobre brasas» pelo que demissões políticas era acrescentar problemas aos problemas.
O nosso receio é que aqueles que procuram desviar as atenções, criar uma cortina de fumo, são aqueles que querem que alguma coisa mude para que tudo fique da mesma, são aqueles que apenas querem levar a cabo meras operações de cosmética pois se aqueles que se indignaram e exigiram a cabeça dos referidos governante, não ficaram agora escandalizados por os verem assumir os seus lugares de deputados. Aquilo que se passou foi pois uma mera dança de cadeiras; mudou alguma coisa e tudo ficou da mesma. E não vale o argumento do «foram eleitos» porque podiam muito bem ter renunciado aos respectivos mandatos. Portanto nem a Constança foi de férias e as preocupações com a exposição pública agora já não se põem.
3 - Um país de líricos; sempre avesso à ciência
3.1. - Documentários que devem ser vistos
Antes de partir para os desenvolvimentos deste tópico, recomendam-se estes documentários:
3.2. - Fogo: Inimigo ou aliado da floresta?
Quem não se lembra das brochuras que eram distribuídas na escola onde o fogo era retratado como o inimigo Nº1 da floresta? A floresta indefesa, as árvores apavoradas e as chamas cruéis com ar de mau. Mas será mesmo assim?
O fogo é um elemento natural. Desde sempre as florestas estiveram à sua mercê. Ora a teoria evolutiva diz que as espécies evoluem no sentido de sobreviver. Se isso é válido para o mundo animal também o é para o mundo vegetal. Desta forma como se explica que espécies tais como os eucaliptos e mesmo os pinheiros segreguem resinas inflamáveis? Como se explica a casca que seca e se desprende dos eucaliptos? Como se explica que as pinhas quando sobreaquecidas são autênticas bombas incendiárias projectando-se a dezenas e mesmo centenas de metros?
Será que estamos a analisar a realidade correctamente? Bem sabemos como certos mitos são criados e como é difícil mudar o paradigma.
Partindo do princípio que a evolução vai no sentido de criar resistência e adaptabilidade de uma espécie ao meio a conclusão que se pode tirar é que algumas espécies não só estão adaptadas ao fogo como precisam dele. Algumas árvores são bastante resistentes ao fogo. As cápsulas das sementes dos eucaliptos precisam de muito calor e as pinhas... bem, o que as faz abrir? O que fazemos para tirar os pinhões? Colocamo-las ao sol ou mesmo... exacto, ao lume! As pinhas abrem ao lume, com elevadas temperaturas. E porquê as projecções absurdas que conseguem? Caramba, é uma forma de disseminação. O fogo não só abre as pinhas de forma a que estas libertem as sementes como as leva a serem projectadas.
Bem se sabe que a madeira apodrecida e as árvores moribundas são potenciadoras de doenças nas árvores vivas. O fogo ajuda a eliminar a manta morta em excesso, queima tudo o que possa potenciar doenças nas árvores; em suma, tem um enorme poder regenerador. Na verdade, poucos dias após um incêndio vemos vegetação a crescer de forma bastante significativa. Na verdade, os pastores e agricultores conhecem o imenso poder regenerador do fogo. Não é por acaso que fazem queimadas. Não é por serem pirómanos ou por terem problemas com a bebida. Eles sabem que o fogo regenera a floresta.
O fogo é um elemento natural. Contra-natura e talvez o maior inimigo da floresta e de nós próprios talvez seja o Homem. Ao suprimir o fogo permite-se enormes acumulos de combustível com o potencial de desencadear os chamados mega incêndios. Na verdade, os relatórios abordam o tema do Paradoxo do Combate aos Incêndios. É cada vez mais ponto assente na comunidade cientifica que o fogo se deve combater com fogo.
A forma massiva de combater incêndios tem poucas décadas. Sempre se combateram incêndios mas com meios modestos até aos meios usados hoje. Suprime-se o fogo e permite-se que o combustível se acumule. Não se queima, não se limpa e ainda se acrescentam matérias inflamáveis como pneus, plásticos, etc. Sendo certo ainda que há milhões de anos praticamente a única fonte de ignição eram as descargas eléctricas da atmosfera comparando com os dias de hoje em que estas são muito mais diversificadas que vão desde cabos eléctricos, negligência, dolo, acidentes. As queimadas sempre existiram, limpeza é que não daí serem muitas as situações que fogem do controlo. Eis a receita para o desastre. Junte-se um Verão particularmente seco e quente e temos todas as variáveis em jogo para desencadear a tempestade perfeita. O Homem é o principal potenciador de fogos de severidade extrema. A floresta precisa de fogo mas o fogo extremo provoca danos massivos. O Homem é portanto também a maior fonte de desequilíbrio no ecossistema.
3.4. - Saber o que se está a combater
Calcula-se que um evento extremo desta natureza liberta em 15 minutos tanta energia como a bomba atómica lançada sobre Hiroxima. Só o incêndio de Pedrógão Grande, de acordo com o que foi estimado nos relatórios, libertou uma energia da ordem dos 13 TJ (Tera Joule), o que equivale à explosão de 3000 toneladas de TNT. Se se converter este valor em KWh, isto equivale à energia eléctrica necessária para alimentar um lar médio durante os próximos 300 anos. A potência libertada foi da ordem 565 GW (Giga Watt), ou seja em quatro dias, foi gerada uma potência equivalente à potência gerada pelo parque eólico mundial num ano.
Perante eventos poderosos e catastróficos tais como incêndios de severidade extrema, sismos, maremotos, erupções vulcânicas; em suma, fenómenos que libertam quantidades brutais de energia, é plausível e sensato que sejam amadores a lidar com estes fenómenos? A Natureza não se compadece com discussões estéreis e políticas de faz--de-conta. É fundamental criar estruturas de comando intermédias e superiores com uma grande base cientifica e formativa. É preciso criar um corpo de oficiais para enquadrar esta gente. Não podem ser cursozecos de dois ou três meses. Têm que ser cursos pesados, com uma grande carga de conhecimentos teóricos e técnicos nas áreas da física, geofísica, física da atmosfera, liderança, gestão, etc. E anos de experiência para comandar ao nível de topo. Uma das recomendações do relatório da equipa coordenada por Xavier Viegas diz justamente que "Recomendamos um grande cuidado na seleção dos quadros de Comando da estrutura da ANPC e dos Bombeiros. Defendemos que em todos os escalões haja uma melhor qualificação dos agentes de proteção civil, para conferir aos cidadãos a segurança e confiança de que serão socorridos sempre por pessoas qualificadas e da máxima competência. Reconhecemos que uma resposta mais pronta nas emergências carece de uma maior profissionalização dos Bombeiros."
4 - O que fazer?
Lutar contra forças da natureza é inglório e um trabalho votado ao fracasso. Pouco se pode fazer. O que se pode é melhorar e muito na articulação, organização, capacidade de análise, evacuação das populações bem como sensibilizá-las. Estas têm que ser PROACTIVAS - Sim, são os relatórios quem o diz.
Sendo certo que ninguém gosta de viver no meio de uma floresta ou mato calcinado, pelo contrário, prefere uma floresta verde a qual no entanto é maltratada acrescentando ainda o enganador Portugal sem fogos, vai-se deixando arrastar a situação até ao dia em que tudo acontece.
Urge pois limpar, queimar e não despejar lixo nas matas.
Conclusão
O Governo reage pavlovianamente despejando rios de dinheiro, celebram-se contratos secretos. Os lobbies são poderosos e é mais a demagogia e a defesa acérrima do clube e a troca de galhardetes do que a seriedade e a ponderação. Acrescentando o facto de que são os mesmos que há décadas andam por ali e que se promete tudo e pouco se faz, acredita-se aqui que infelizmente a coisa irá continuar. Resta saber em que dimensão.
Quem não se lembra das brochuras que eram distribuídas na escola onde o fogo era retratado como o inimigo Nº1 da floresta? A floresta indefesa, as árvores apavoradas e as chamas cruéis com ar de mau. Mas será mesmo assim?
O fogo é um elemento natural. Desde sempre as florestas estiveram à sua mercê. Ora a teoria evolutiva diz que as espécies evoluem no sentido de sobreviver. Se isso é válido para o mundo animal também o é para o mundo vegetal. Desta forma como se explica que espécies tais como os eucaliptos e mesmo os pinheiros segreguem resinas inflamáveis? Como se explica a casca que seca e se desprende dos eucaliptos? Como se explica que as pinhas quando sobreaquecidas são autênticas bombas incendiárias projectando-se a dezenas e mesmo centenas de metros?
Será que estamos a analisar a realidade correctamente? Bem sabemos como certos mitos são criados e como é difícil mudar o paradigma.
Partindo do princípio que a evolução vai no sentido de criar resistência e adaptabilidade de uma espécie ao meio a conclusão que se pode tirar é que algumas espécies não só estão adaptadas ao fogo como precisam dele. Algumas árvores são bastante resistentes ao fogo. As cápsulas das sementes dos eucaliptos precisam de muito calor e as pinhas... bem, o que as faz abrir? O que fazemos para tirar os pinhões? Colocamo-las ao sol ou mesmo... exacto, ao lume! As pinhas abrem ao lume, com elevadas temperaturas. E porquê as projecções absurdas que conseguem? Caramba, é uma forma de disseminação. O fogo não só abre as pinhas de forma a que estas libertem as sementes como as leva a serem projectadas.
Bem se sabe que a madeira apodrecida e as árvores moribundas são potenciadoras de doenças nas árvores vivas. O fogo ajuda a eliminar a manta morta em excesso, queima tudo o que possa potenciar doenças nas árvores; em suma, tem um enorme poder regenerador. Na verdade, poucos dias após um incêndio vemos vegetação a crescer de forma bastante significativa. Na verdade, os pastores e agricultores conhecem o imenso poder regenerador do fogo. Não é por acaso que fazem queimadas. Não é por serem pirómanos ou por terem problemas com a bebida. Eles sabem que o fogo regenera a floresta.
O fogo é um elemento natural. Contra-natura e talvez o maior inimigo da floresta e de nós próprios talvez seja o Homem. Ao suprimir o fogo permite-se enormes acumulos de combustível com o potencial de desencadear os chamados mega incêndios. Na verdade, os relatórios abordam o tema do Paradoxo do Combate aos Incêndios. É cada vez mais ponto assente na comunidade cientifica que o fogo se deve combater com fogo.
A forma massiva de combater incêndios tem poucas décadas. Sempre se combateram incêndios mas com meios modestos até aos meios usados hoje. Suprime-se o fogo e permite-se que o combustível se acumule. Não se queima, não se limpa e ainda se acrescentam matérias inflamáveis como pneus, plásticos, etc. Sendo certo ainda que há milhões de anos praticamente a única fonte de ignição eram as descargas eléctricas da atmosfera comparando com os dias de hoje em que estas são muito mais diversificadas que vão desde cabos eléctricos, negligência, dolo, acidentes. As queimadas sempre existiram, limpeza é que não daí serem muitas as situações que fogem do controlo. Eis a receita para o desastre. Junte-se um Verão particularmente seco e quente e temos todas as variáveis em jogo para desencadear a tempestade perfeita. O Homem é o principal potenciador de fogos de severidade extrema. A floresta precisa de fogo mas o fogo extremo provoca danos massivos. O Homem é portanto também a maior fonte de desequilíbrio no ecossistema.
3.4. - Saber o que se está a combater
Calcula-se que um evento extremo desta natureza liberta em 15 minutos tanta energia como a bomba atómica lançada sobre Hiroxima. Só o incêndio de Pedrógão Grande, de acordo com o que foi estimado nos relatórios, libertou uma energia da ordem dos 13 TJ (Tera Joule), o que equivale à explosão de 3000 toneladas de TNT. Se se converter este valor em KWh, isto equivale à energia eléctrica necessária para alimentar um lar médio durante os próximos 300 anos. A potência libertada foi da ordem 565 GW (Giga Watt), ou seja em quatro dias, foi gerada uma potência equivalente à potência gerada pelo parque eólico mundial num ano.
Perante eventos poderosos e catastróficos tais como incêndios de severidade extrema, sismos, maremotos, erupções vulcânicas; em suma, fenómenos que libertam quantidades brutais de energia, é plausível e sensato que sejam amadores a lidar com estes fenómenos? A Natureza não se compadece com discussões estéreis e políticas de faz--de-conta. É fundamental criar estruturas de comando intermédias e superiores com uma grande base cientifica e formativa. É preciso criar um corpo de oficiais para enquadrar esta gente. Não podem ser cursozecos de dois ou três meses. Têm que ser cursos pesados, com uma grande carga de conhecimentos teóricos e técnicos nas áreas da física, geofísica, física da atmosfera, liderança, gestão, etc. E anos de experiência para comandar ao nível de topo. Uma das recomendações do relatório da equipa coordenada por Xavier Viegas diz justamente que "Recomendamos um grande cuidado na seleção dos quadros de Comando da estrutura da ANPC e dos Bombeiros. Defendemos que em todos os escalões haja uma melhor qualificação dos agentes de proteção civil, para conferir aos cidadãos a segurança e confiança de que serão socorridos sempre por pessoas qualificadas e da máxima competência. Reconhecemos que uma resposta mais pronta nas emergências carece de uma maior profissionalização dos Bombeiros."
4 - O que fazer?
Lutar contra forças da natureza é inglório e um trabalho votado ao fracasso. Pouco se pode fazer. O que se pode é melhorar e muito na articulação, organização, capacidade de análise, evacuação das populações bem como sensibilizá-las. Estas têm que ser PROACTIVAS - Sim, são os relatórios quem o diz.
Sendo certo que ninguém gosta de viver no meio de uma floresta ou mato calcinado, pelo contrário, prefere uma floresta verde a qual no entanto é maltratada acrescentando ainda o enganador Portugal sem fogos, vai-se deixando arrastar a situação até ao dia em que tudo acontece.
Urge pois limpar, queimar e não despejar lixo nas matas.
Conclusão
O Governo reage pavlovianamente despejando rios de dinheiro, celebram-se contratos secretos. Os lobbies são poderosos e é mais a demagogia e a defesa acérrima do clube e a troca de galhardetes do que a seriedade e a ponderação. Acrescentando o facto de que são os mesmos que há décadas andam por ali e que se promete tudo e pouco se faz, acredita-se aqui que infelizmente a coisa irá continuar. Resta saber em que dimensão.
Fonte: Jornal O Diabo
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