Contudo a força de tradições não diria ancestrais mas muito mais enraizadas na cultura local continua a dar cartas e a proporcionar uma genuína noite de Entrudo.
A personificação do Entrudo é feita por um boneco tipo espantalho em que um velho fato de macaco é enchido com palha e onde por vezes se colocam bombinhas de carnaval.
O cortejo fúnebre é constituido por um «padre» e um sacristão que o encabeçam, indo imediatamente atrás o Entrudo que ora vai montado num burro, ora vai sentado numa carroça, ora vai deitado num caixão tendo ao seu lado a sua viúva, atrás segue o restante séquito; os entrudos menores, os súbditos que vão acompanhar o mestre, o rei, o senhor supremo, aquele que é a razão das suas existências até ao local onde lhe será dado o seu destino final. De ressalvar que existe alguma confusão pois não se sabe ao certo se o Entrudo já vai morto ou se vai ser executado. Se é um funeral ou se a vítima, ainda com vida, vai ser mostrada a todos; se já está morto e será queimado depois de ser pendurado ou se vai ser executado na forca e de seguida incinerado. Seja como fôr, o cortejo sai à rua por volta das nove e tal da noite dando a volta à vila. É da praxe que o cortejo pare em frente de todos os cafés do Torrão e que os foliões, os entrudos, os mascarados sejam brindados com uma bebida por conta da casa. Por volta da meia-noite o grupo encaminha-se para o Largo do Cruzeiro onde uma forca de madeira espera pela sua vítima. Antes a forca era a própria cruz mas como esta ficava obviamente negra devido ao fumo e teria de ser caiada optou-se por esta nova modalidade. De referir ainda que antigamente o Entrudo não era queimado no Largo do Cruzeiro mas no Largo do Depósito e no meio da escuridão. Havia ainda o hábito de alguns se fazerem acompanhar de baldes cheios de urina e de um pincel com o qual aspergiam as portas por onde iam passando.
Já no Largo, o padre dá a derradeira «missa» onde profere um discurso em que exalta as qualidades de tão ilustre personagem e onde, em verso, satiriza algumas personalidades da vila ou acontecimentos menos felizes que tiveram lugar durante o ano.
É pena que contudo no momento do discurso a turba não permaneça em silêncio e não respeite os não-mascarados. Na verdade é pouco perceptível aquilo que é dito pois os gritos não o permitem e todos estão mais preocupados em que não lhes caia um ovo ou um balão de água em cima. A minha proposta seria pois de nos próximos anos o padre fazer o discurso munido de um megafone e de alguns elementos da organização impedirem que os restantes membros do grupo de atirar o que quer que seja e fazer com que esses mantivessem o silêncio enquanto durasse o discurso. Este deve ser maior do que aquilo que tem sido e um pouco mais original.
De qualquer forma, o discurso tem lugar depois da«besta» estar devidamente pendurada. Quando este termina é-lhe posto fogo e é aí que devem ter lugar os berros e o bombardeamento. Quando acaba de arder termina oficialmente o Entrudo, acaba o Carnaval e já não faz sentido andar mascarado; com o Entrudo feito em cinza termina também a quarta-feira de cinzas - já passa da meia-noite, já é quinta-feira.
É de lamentar que também surjam alguns arrufos de alguns que não se dão muito à brincadeira. É pena pois como se costuma dizér: é carnaval ninguém leva a mal. E mais: ou vão e se sujeitam a levar com um balão de água ou então não ponham lá os pés.
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