sábado, outubro 28, 2006

Figuras pitorescas do Torrão III

Quem voltou em grande estilo foi o nosso amigo Quim que, como se pode ver, torna a proporcionar mais um naipe de imagens do outro mundo. Não riam... se conseguirem!!!




Tromba de água

Quarta-feira, 25 de Outubro, o Torrão foi assolado por uma tromba de água como há muito não se via. Na verdade, a última grande tromba de água que me recordo foi uma que ocorreu em 1985. Para que se fique com uma ideia da bátega de água que se abateu sobre a vila aqui publico umas fotos pois como não me canso de dizer: uma imagem vale mais que mil palavras.



terça-feira, outubro 17, 2006

Nesta terra não há nada que resista III

A Ermida
Até meados dos anos oitenta as casas contíguas à Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso - monumento construido no século XVI e que fica situado junto à estrada que liga o Torrão a Vila Nova da Baronia - estavam habitadas. Mas com a partida das últimas pessoas, a degradação e, posteriormente, a ruína tornaram-se uma realidade. Os silvados e a bicharada invadiram o que restava ficando apenas a ermida a salvo embora esta já se encontrasse numa situação, digamos, delicada. Urgia restaurar o espaço, algo que finalmente foi levado a cabo há cerca de seis, sete anos, salvo erro e que muita satisfação me deu. Mas será que depois disso algo veio mudar? Algo como o abandono e a degradação? Algo como a salvaguarda do espaço? Algo como o incentivo a que pessoas com poucos recursos pudessem ir viver para ali e se encarregassem de zelar pela ermida evitando o vândalismo e o roubo? Algo como a rentabilização, ou dito de outra forma, como o aproveitamento do monumento para realizar bailes, romarias, etc? Vou-vos apresentar - sim até a vós torranenses, a vós que se bateram pelo restauro, a vós actuais e antigos membros da Junta de Freguesia, a vós membroas da ADT, entidade responsável pela implementação do projecto de restauro, a vós todos porque tenho a certeza que nunca mais foram à ermida ou, se foram, foi só para tirar umas fotografias à fachada e, principalmente, a vós responsáveis pela Fábrica da Igreja Paroquial do Torrão - a Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso... no seu todo! Senhoras e senhores apresento-vos a Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso em Outubro de 2006. Vinde pois!


Fundo perdido: Tenho cá para mim que o programa de atribuição de fundos comunitários devia ter, no caso específico de Portugal, uma designação diferente. Seria uma alteração simplissíssima mas bem esclarecedora que consistiria apenas na substituição do primeiro «E» por um «O». É que, palavra de honra, para FODER fundos comunitários, como Portugal não há pai! Senão vejamos:


Basta dar meia duzia de passos para encontrar estas estruturas caídas. Ao que parece são balaústres. Mas de onde foram arrancados?! Estranho! Mesmo uma observação minuciosa não permite identificar a sua posição original. Talvez os mais perspicazes consigam vislumbrar alguma coisa mas... se calhar até foi alguém que trouxe aquilo de algum lado e deixou ali. Quem sabe!


Esta não lembraria nem ao diabo! Algum rapaz (ou rapariga; sabe-se lá... é que isto da igualdade tem muito que se lhe diga e está na moda e eu, que nem mesmo quando estes assuntos não estavam «in», nunca discriminei ninguém; muito menos o sexo oposto) resolve dar-se ao trabalho de trazer uma marreta de casa e desatar a partir a parede. Humm será que os balaústres fazem mesmo parte da «mobilia» e foram também eles mesmos arrancados à marretada? Vai lá vai...


Para além de também ser visível o efeito da degradação natural como a corrupção das paredes pelo seu maior inimigo - o salitre - podemos ver os estragos infligidos pela fauna que resolveu aliar-se circunstâncialmente ao dito cujo. Quem sabe se não quereria apenas dar um toque pessoal, um toque artístico procurando dar um efeito de antiguidade às ditas ou então a sua fúria destruidora é motivada por algum trauma de infância e, sendo assim, estamos perante um caso clínico do domínio do foro psiquiátrico!


Ou vai ou racha I - As marcas deixadas na porta não deixam margem para dúvidas. Uma patada certeira e... já está. Não, não fui eu fiquem descansados! Quando eu vim investigar já isto estava assim limitando-me apenas a entrar. Sigam-me!


Uma casa de banho toda equipada para estar às moscas ou melhor, para estar aos pardais. Valeu a pena? MAS CUIDADO: Nada garante que numa segunda vaga o homem (ou mulher) da marreta não resolva destruir o que ainda está inteiro.


A sujidade desta bacia é bem reveladora de que aqui ainda ninguém lavou as mãos mas talvez isso mude quando todos começarem a lavar as ditas à maneira de Pôncio (Pilatos bem se vê) no que a este assunto diz respeito.


Definitivamente, neste polivan também ainda ninguém tomou banho. Os pardais é que pelos vistos curtem à brava ir morrer ali. Um «case study»!

Ou vai ou racha II - Outra porta «bem tratada». Não há dúvidas, o método de abertura é tremendamente eficaz... e não necessita de chave; essa é que é essa! Bora lá acima...


Ou eu me engano muito ou aqui ninguém mais pôs os pés desde que isto foi construido exceptuando os pássaros, o visitante misterioso e, claro, «moi même».

Hummm, esta estrutura de suporte faz-me lembrar qualquer coisa que já tinha visto anteriormente. A vós não??? E aqui na foto em baixo... olha outra... e mais uma vez a sensação de que ali assentava qualquer coisa que alguém achou que... não assentava bem!

E mais outra... três! Quantos balaústres estão caídos no chão encostados à parede? E pronto está esclarecido o mistério da origem dos pobres balaústres. Reconstituição do crime: Abriram a porta com «delicadeza» como se viu pelas marcas que essa ostenta, entraram - obviamente sem pedir licença - subiram as escadas que dão acesso à varanda sempre na boa companhia da tal dita marreta e depois ZUMBA foi só usar a ferramenta. Simples não? Eu não dizia que esta não lembraria nem ao diabo? As pistas estavam lá todas era só juntar 2 + 2!

segunda-feira, outubro 16, 2006

Nesta terra não há nada que resista II

O Posto médico


Há muito que as persianas são fustigadas com os resultados que se vêm.


O verdadeiro artista: Talvez inspirado pelo local eis que o pintor desata a retratar alguma anatomia. Pois é! É caso para dizer que estamos perante um artista do caralho.


Aqui os estragos mais em pormenor. Pedras e tiros de pressão de ar. Vale tudo!


Talvez fartando-se de estar sentado eis que alguém resolve destruir o banco.


Pois... e não foi o único. Nem um escapou!

Abriu a caça ao sinal


Danado provavelmente por não ter conseguido caçar nada até porque ele é um dos principais responsaveis pela escassez de caça, o caçador resolveu descarregar literalmente a frustração e a caçadeira no sinal que, por sinal, até nem tinha nada a ver com o caso limitando-se apenas a cumprir a sua missão.



Pintado à pistola: Para mim e para quem tem espírito cívico é um sinal de trânsito que indica a aproximação de curva perigosa à esquerda e contra-curva. Para outros... é um alvo a abater.

domingo, outubro 15, 2006

Nesta terra não há nada que resista I

Há pouco mais de um ano foi inaugurado o Parque de merendas que fica situado junto à fonte como quem vem do norte, como diz a canção. Passado este tempo, vamos ver em que estado está:


Esta torneira foi reparada a semana passada pois a parte onde se pega para abrir e fechar tinha sido tirada.


Não passou por nenhuma cabecinha pensadoira que as raízes da palmeira fossem suficientemente fortes para rebentar com as paredes. Uma despesa inútil.



Os fogareiros foram todos espatifados. Não houve nem um que escapasse à sanha destruidora.




Mais uma torneira inutilizada. Esta é a da fonte.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Por um outro 5 de Outubro



863 de Independência Nacional. Tudo começou a 5 de Outubro... de 1143.

Embora na prática Portugal fosse um país independente desde pelo menos 1139 data em que o Conde D. Afonso, futuro primeiro Rei de Portugal, inflige pesada derrota aos mouros na mítica batalha de Ourique onde, de acordo com a tradição terá ocorrido o célebre milagre de Ourique em que Cristo terá aparecido na cruz a D. Afonso. Foi a partir deste evento que D. Afonso Henriques passa a intitular-se Portugalensium (ou Portugalensis?) Rex. O passo decisivo rumo à independência de Portugal dá-se em 1140 quando D. Afonso Henriques vence Afonso VII de Leão e Castela (Reino do qual fazia parte o Condado Portucalense embora este fosse detentor de grande autonomia) no Recontro de Arcos de Valdevez.
A paz é então assinada na cidade de Zamora naquilo que passaria à História como a Conferência de Zamora que decorreu a 4 e 5 de Outubro de 1143 na presença do legado apostólico, cardeal Guido de Vico - representante do Papa Celestino II, ao qual coube o papel de mediador - de D. Afonso Henriques e de Afonso VII. No documento assinado, o qual ficaria para a posteridade como o Tratado de Zamora, Afonso VII rconhece a independência do Reino de Portugal e D. Afonso Henriques como Rei embora tenha imposto uma condição menor para não perder totalmente a face e ter uma saida honrosa. Propôs Afonso VII como condição que a título de feudo D. Afonso Henriques aceitasse o distrito de Astorga, que este lhe concedia. Isto implicaria na prática que D. Afonso Henriques ficaria a ser simultâneamente Rei de Portugal e vassalo de Afonso VII. Face ao que estava em jogo, o nosso primeiro Rei não deitou tudo a perder por causa de uma questão menor cedendo à exigência do Rei de Leão e Castela pois maior cedência tinha sido feita pela outra parte.
Em qualquer negociação é preciso haver cedências de parte a parte para não haver o risco de bloqueio e impasse nas negociações ou para não haver o risco de pura e siplesmente uma das partes abandonar a mesa das negociações. Como grande estadista e estratega militar que era, D. Afonso Henriques percebeu isso. O intervalo de tempo que vai desde a vitória militar de Arcos de Valdevez à Conferência de Zamora é de 3 anos de tal modo que é natural que não logo após a refrega mas algum tempo depois tenham decorrido movimentações diplomáticas e negociações de bastidores de tal forma que quando todas as partes se apresentaram em Zamora já o tratado estava mais ou menos alinhavado. Sempre foi assim...
Porém D. Afonso Henriques nunca se conformou com esta situação. A prova de que a sua cedência foi apenas um recuo estratégico, um passo atrás para dar dois em frente é de que passados apenas dois escassos meses desde a assinatura do Tratado de Zamora (13-12-1143) resolve fazer a próxima jogada, enviando à Sé Apostólica a carta Clovis Regni na qual jura vassalagem apenas ao Papa e oferece a terra portuguesa em troca da protecção da Santa Sé.
Isto é pura especulação mas provavelmente tanto Afonso VII como os seus conselheiros poderão ter previsto esta jogada do nosso primeiro Rei apenas insistindo na inclusão no tratado daquela condição somente para Leão e Castela ter uma saida honrosa até porque tempo não faltou para Leão e Castela exercerem represálias sobre Portugal e o seu Rei pois a resposta de Roma só surgiria 36 anos depois, em 1179, ainda D. Afonso Henriques era vivo e reinava. Não vamos cair no erro de pensar que só D. Afonso Henriques e os seus homens de confiança é que eram políticamente geniais e que os leoneses-castelhanos eram todos burros.
Como se disse anteriormente, a resposta de Roma à Clovis Regni (que equivaleria ao «reconhecimento internacional» da independência de Portugal) dá-se apenas em 1179 através da bula papal Manifestis Probatum - que em português significa «está claramente demonstrado» ou «está provado por argumentos irrefutáveis» - na qual o Papa Alexandre III reconhece Portugal como Reino independente e D. Afonso Henriques como seu Soberano.
Eis o conteudo da Bula Manifestis Probatum na qual Alexandre III se refere a Portugal e a D. Afonso Henriques nestes termos:

«Afonso, caríssimo filho em Cristo, ilustre Rei de Portugal, e aos seus herdeiros para sempre. Está provado por argumentos irrefutáveis que, como guerreiro e vencedor intrépido dos inimigos do povo cristão, e como propagador da fé cristã e ainda como bom filho e príncipe católico, concedeste muitíssimos favores à Santa Igreja, tua Mãe, deixando para a posteridade um exemplo a imitar. É justo, pois, que a Sé Apostólica distinga com afeição sincera aqueles que a graça de Deus destinou ao governo e salvação dos povos, e se esforce em atender os seus justos pedidos. Portanto, considerando a tua pessoa cheia de prudência e de justiça para o governo de um povo, aceitamo-la e ao Reino de Portugal sob a nossa protecção e do Apóstolo São Pedro, com integridade de honra do Reino e com a dignidade que pertence aos reis. Da mesma maneira, aceitamos as terras que com o auxilio da graça divina arrancaste das mãos dos infiéis»