No mínimo surpreendentes. É assim que certamente muito boa gente vê as recentes declarações do Primeiro-Ministro italiano, Sílvio Berlusconi, acerca da invasão do Iraque. Dizia o Sr. Berlusconi, salvo erro na semana passada, que não só sempre se opôs à invasão do Iraque como ainda tentou demover o presidente Bush de tal acção.
Estas palavras, vindas de um dos maiores apoiantes da invasão e ocupação do Iraque, que se traduziu em violentos e virulentos ataques de membros do seu Governo e de membros dos partidos, que fazem parte da coligação governamental, contra os muçulmanos e no envio de tropas italianas para aquele país em número tal que o contingente italiano chegou a ser o terceiro maior a ocupar o Iraque, soam estranhas. Então agora, depois disto tudo, o homem dá-lhe para isto?
A explicação é simples. A invasão e ocupação do Iraque e consequente saque das suas riquezas naturais e outras no que pretendiam vir a ser a ser um dos maiores negócios das Arábias não aconteceu bem da forma como estavam à espera. Só no contingente italiano, a guerrilha e os terroristas ligados à Al Qaeda chegaram a matar duas dezenas de militares italianos de uma só vez, em Nassiriah, e já para não falar nas dezenas de milhar de mortos iraquianos desde 2003 (se calhar só os ocupantes já mataram e torturaram mais iraquianos do que o regime sanguinário de Saddam) quando os invasores falavam em zero baixas e guerra cirúrgica. O que acontece é que as eleições legislativas, em Itália, estão para breve. Com o avanço da esquerda – em boa parte devido ao caso do Iraque – encabeçada pelo antigo comissário europeu, Romano Prodi, Berlusconi vê-se obrigado a desmarcar-se destas posições, procurando branquear a sua imagem e as suas decisões sobre esta matéria na esperança de conseguir enganar alguns milhares de eleitores mais incautos. Tivessem os resultados no Iraque sido outros e logo veríamos se estas declarações veriam a luz do dia. Por outro lado, ganhe Berlusconi as eleições e logo o veremos mudar o discurso. Foi certamente isso que ele disse a Bush na sua recente visita aos EUA. É caso para dizer «o que tu queres sei eu»! Só espero agora é que o eleitorado italiano não se deixe enganar e dê a Berlusconi aquilo que ele merece.
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