quinta-feira, outubro 05, 2006

Por um outro 5 de Outubro



863 de Independência Nacional. Tudo começou a 5 de Outubro... de 1143.

Embora na prática Portugal fosse um país independente desde pelo menos 1139 data em que o Conde D. Afonso, futuro primeiro Rei de Portugal, inflige pesada derrota aos mouros na mítica batalha de Ourique onde, de acordo com a tradição terá ocorrido o célebre milagre de Ourique em que Cristo terá aparecido na cruz a D. Afonso. Foi a partir deste evento que D. Afonso Henriques passa a intitular-se Portugalensium (ou Portugalensis?) Rex. O passo decisivo rumo à independência de Portugal dá-se em 1140 quando D. Afonso Henriques vence Afonso VII de Leão e Castela (Reino do qual fazia parte o Condado Portucalense embora este fosse detentor de grande autonomia) no Recontro de Arcos de Valdevez.
A paz é então assinada na cidade de Zamora naquilo que passaria à História como a Conferência de Zamora que decorreu a 4 e 5 de Outubro de 1143 na presença do legado apostólico, cardeal Guido de Vico - representante do Papa Celestino II, ao qual coube o papel de mediador - de D. Afonso Henriques e de Afonso VII. No documento assinado, o qual ficaria para a posteridade como o Tratado de Zamora, Afonso VII rconhece a independência do Reino de Portugal e D. Afonso Henriques como Rei embora tenha imposto uma condição menor para não perder totalmente a face e ter uma saida honrosa. Propôs Afonso VII como condição que a título de feudo D. Afonso Henriques aceitasse o distrito de Astorga, que este lhe concedia. Isto implicaria na prática que D. Afonso Henriques ficaria a ser simultâneamente Rei de Portugal e vassalo de Afonso VII. Face ao que estava em jogo, o nosso primeiro Rei não deitou tudo a perder por causa de uma questão menor cedendo à exigência do Rei de Leão e Castela pois maior cedência tinha sido feita pela outra parte.
Em qualquer negociação é preciso haver cedências de parte a parte para não haver o risco de bloqueio e impasse nas negociações ou para não haver o risco de pura e siplesmente uma das partes abandonar a mesa das negociações. Como grande estadista e estratega militar que era, D. Afonso Henriques percebeu isso. O intervalo de tempo que vai desde a vitória militar de Arcos de Valdevez à Conferência de Zamora é de 3 anos de tal modo que é natural que não logo após a refrega mas algum tempo depois tenham decorrido movimentações diplomáticas e negociações de bastidores de tal forma que quando todas as partes se apresentaram em Zamora já o tratado estava mais ou menos alinhavado. Sempre foi assim...
Porém D. Afonso Henriques nunca se conformou com esta situação. A prova de que a sua cedência foi apenas um recuo estratégico, um passo atrás para dar dois em frente é de que passados apenas dois escassos meses desde a assinatura do Tratado de Zamora (13-12-1143) resolve fazer a próxima jogada, enviando à Sé Apostólica a carta Clovis Regni na qual jura vassalagem apenas ao Papa e oferece a terra portuguesa em troca da protecção da Santa Sé.
Isto é pura especulação mas provavelmente tanto Afonso VII como os seus conselheiros poderão ter previsto esta jogada do nosso primeiro Rei apenas insistindo na inclusão no tratado daquela condição somente para Leão e Castela ter uma saida honrosa até porque tempo não faltou para Leão e Castela exercerem represálias sobre Portugal e o seu Rei pois a resposta de Roma só surgiria 36 anos depois, em 1179, ainda D. Afonso Henriques era vivo e reinava. Não vamos cair no erro de pensar que só D. Afonso Henriques e os seus homens de confiança é que eram políticamente geniais e que os leoneses-castelhanos eram todos burros.
Como se disse anteriormente, a resposta de Roma à Clovis Regni (que equivaleria ao «reconhecimento internacional» da independência de Portugal) dá-se apenas em 1179 através da bula papal Manifestis Probatum - que em português significa «está claramente demonstrado» ou «está provado por argumentos irrefutáveis» - na qual o Papa Alexandre III reconhece Portugal como Reino independente e D. Afonso Henriques como seu Soberano.
Eis o conteudo da Bula Manifestis Probatum na qual Alexandre III se refere a Portugal e a D. Afonso Henriques nestes termos:

«Afonso, caríssimo filho em Cristo, ilustre Rei de Portugal, e aos seus herdeiros para sempre. Está provado por argumentos irrefutáveis que, como guerreiro e vencedor intrépido dos inimigos do povo cristão, e como propagador da fé cristã e ainda como bom filho e príncipe católico, concedeste muitíssimos favores à Santa Igreja, tua Mãe, deixando para a posteridade um exemplo a imitar. É justo, pois, que a Sé Apostólica distinga com afeição sincera aqueles que a graça de Deus destinou ao governo e salvação dos povos, e se esforce em atender os seus justos pedidos. Portanto, considerando a tua pessoa cheia de prudência e de justiça para o governo de um povo, aceitamo-la e ao Reino de Portugal sob a nossa protecção e do Apóstolo São Pedro, com integridade de honra do Reino e com a dignidade que pertence aos reis. Da mesma maneira, aceitamos as terras que com o auxilio da graça divina arrancaste das mãos dos infiéis»

1 comentário:

João disse...

Subscrevo o seu post por inteiro!

Saudações monárquicas.

Viva o Rei! Viva Portugal!