sexta-feira, abril 27, 2012

Na Voz do Sado




Depois de ter escrito o artigo no nosso blog e de ter distribuido alguns exemplares para todos aqueles, que não tendo acesso ao Pedra no Chinelo pelas mais variadas razões, possam usufruir do direito de serem informados, eis que na edição de Abril do «Voz do Sado», o assunto volta a ser notícia. Aqui foram introduzidas algumas alterações pontuais ao texto para que este ficasse ligeiramente diferente pois o enquadramento também é outro.
Infelizmente, para grande desgosto e frustração daqueles/daquelas que raivosa, aleivosa e afanosamente levarm a cabo uma ignominiosa acção de silenciamento, arrancando todos os panfletos qur viam tanto relativamente ao assunto Matriz como ao outro assunto eis que a Voz do Sado como espaço de pluralidade e liberdade que é, dá voz a um assunto deveras importante. Sabe Deus a pena que têm de não puderem retirar o jornal de circulação. Pois... Chama-se a isto democracia... doa a quem doer.

Aqui fica o texto:

Em época de Páscoa em que a tradicional Procissão do Senhor dos Passos, na Vila do Torrão, sai à rua e em que a Igreja Matriz atrai mais visitantes, alguns (muitos) forasteiros mas também torranenses que por diversas circunstâncias optaram ou que tiveram que sair da sua terra e que fazem deste, um periodo de visita, quis Deus que um agnóstico, e portanto insuspeito, se tornasse - me tornasse - o Seu instrumento na divulgação de tão apreensiva e lamentável situação, da qual eu vos darei uma ideia o mais próximo possível da realidade e já agora, se me permitis, aqui vos deixaria este singelo apelo ao constatar «in loco» o lastimável estado em que esta se encontra numa tentativa de sensibilizar até as almas mais empedernidas.
É verdadeiramente preocupante e triste o estado de degradação a que chegou o, sem dúvida, mais antigo e imponente edifício do Torrão. Tão preocupante que mesmo a nível estrutural já começaram a surgir os primeiros sinais de ruína.
É na verdade um contra-senso que se tenha chegado a tão preocupante situação pela simples razão de tanto se evocar o património histórico e arquitectónico do Torrão nomeadamente da parte dos autarcas locais. Devo confessar que cheguei inclusive a fazer um périplo pelas localidades vizinhas com o intuito de comparar a Igreja Matriz do Torrão com as suas congéneres das localidades vizinhas e o que mais temia e, confesso, já suspeitava, tornou-se terrivelmente evidente e tristemente claro como a água mais cristalina: A Igreja do Torrão é sem a menor sombra de dúvida a mais mal cuidada de todas, a mais desprezada, a que apresenta maior risco de degradação, e claro, a que mais vergonhosa e até criminosamente abandonada se encontra. Até as portas; portas valiosas, portas antigas, se encontram ressequidas, mal cuidadas, esburacadas, rombas, empenadas tendo inclusive que se recorrer a pedras - sim a pedras - para tapar os buracos.
Todos nos deveríamos perguntar: como foi possível ter-se chegado a uma situação destas?! Quem deixou chegar um monumento histórico, um dos mais antigos monumentos do Torrão a tal estado?
A quem se deve pedir responsabilidades? Às instituições públicas? Ao Estado? Às autarquias? À diocese? À paróquia? A quem?
Bem, no limite a todos e a cada um de nós. Porém tal não invalida que quem de direito não devesse ter agido. E se o não fez ainda que o faça pois ainda vai a tempo; mas que o faça rápido sob pena de o fazer tarde demais.
Naturalmente que obviamente quem lidera os destinos da Freguesia, do Concelho há muito que deveria ter feito algo pois a liderança tem que ser efectiva, carismática, motivadora e não meramente simbólica e não meramente apenas de corpo presente.
Foi-me ali revelado que arquitectos da Câmara foram enviados para «ver» e para «inglês ver», neste caso torranense. Ficou tudo em «águas de bacalhau». Ficou-se tudo pelas vistas. Foi-me ali revelado que o Presidente da Junta terá afirmado que tanto a Junta como a Câmara dispunham de uma verba destinada à pintura e reparação do edifício mas que não haveria ninguém no Torrão, nenhum dos pintores disposto a aceitar o trabalho. Considero tais afirmações verosímeis pois o Sr. Presidente disse exactamente a mesma coisa na Assembleia de Freguesia que se realizou em Outubro e na qual eu estve presente. Curiosamente, na Acta dessa sessão, lida e posta à aprovação na sessão de Dezembro, nada consta mas os presentes ouviram, incluindo alguns munícipes que ali se encontravam então. Foi-me ali revelado que foi pedido à Junta um trabalhador para reparar a porta que dá para a Travessa da Matriz mas que a qualidade do trabalho deixou muitíssimo a desejar e deixou indigandos os responsáveis da paróquia. Foi-me ainda ali revelado que o cata-vento que se encontrava na torre e que caiu em plena rua devido ao rigor de um inverno passado e à má manutenção e que poderia ter tido consequências bem mais graves, se porventura na altura da queda ali fosse a passar alguém, teria sido levado para o estaleiro da Câmara onde ainda se encontrará embora, alegadamente, ninguém faça a mínima ideia do seu paradeiro. Foi tudo isto que me foi revelado quando Deus quis que se me abrissem as portas da Sua casa. Chamemos-lhes portanto, respeitosamente e sem ponta de zombaria, revelações divinas.
Mas que se não faça confusão nos espíritos mais inquietos. Não se trata aqui de requerer que os poderes públicos favoreçam uma religião. Nada disso! Trata-se sim, dos poderes públicos zelarem pelo património histórico-arquitectónico independentemente da natureza religiosa do monumento.
Seja como for, todos nos devemos preocupar, indignar e, mais importante, agir. Todos sem excepção! E portanto deverá caber a todos os torranenses se mobilizarem e ajudarem na medida das suas possibilidades. Crentes, não-crentes, católicos, não católicos, agnósticos e mesmo ateus pois este, antes de ser um local de culto, é um monumento histórico. Um traço da nossa cultura, da nossa portugalidade, um legado que nos foi deixado pelos nossos antepassados e que todos nós - sim todos nós, sem excepção - não temos sabido honrar, não temos querido saber honrar.
Depois de múltiplos alertas que tenho vindo a desenvolver no meu blog receio bem que este seja o derradeiro. Pouco mais haverá para mostrar e pouco tempo restará para agir. Creio que cumpri o meu dever de cidadania, de português, de torranense; o dever de me informar primeiramente e posteriormente de informar «urbi et orbi», de informar o mundo, de vos informar a todos vós. Da minha parte, estarei disponivel para ajudar dentro das minhas possibilidades.
Penso porém que na parte inicial, no que à divulgação e apelo diz respeito, já cumpri e assim sendo termino fazendo minhas as palavaras D'El-Rei D. Carlos I ao afirmar que cumpri o meu dever. Agora outros que cumpram o seu.

Paulo A. S. Selão

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