Sempre que o verão chega e as temperaturas aumentam, Portugal converte-se automaticamente num grande churrasco e todas, todas as suas florestas e áreas protegidas (?) correm o risco de ficar reduzidas a um gigantesco braseiro. Porque acontece isto e porque é que não existem soluções?
Historicamente, não existem relatos de grandes fogos florestais em Portugal sempre que se aproximava o verão. Embora sempre tenha havido esse risco e ocorrido certamente algumas situações do género, este fenómeno é relativamente novo, com cerca de 30 anos, tendo vindo a haver um progressivo aumento no numero de fogos por ano e na área total ardida, principalmente desde o verão de 2003. É também curioso o facto de o maior número de incêndios ocorrer a norte do rio Tejo.
São inúmeras as razões, que do meu ponto de vista, contribuem para esta catástrofe ambiental, social e económica a começar pelo progressivo abandono a que estão votadas as matas e florestas nacionais. Houve um tempo em que muita gente vivia na floresta, existiam muitos pontos de vigia e muitos vigilantes e sempre que havia um foco de incêndio este poucas vezes tinha hipóteses de se converter num grande incêndio. Hoje a incúria e a incompetência são os grandes aliados do fogo e dos incendiários, autênticos terroristas ecológicos, e os poucos vigilantes da floresta são, em grande número, pessoas de idade já avançada.
É para mim mais do que obvio que mais de 95% dos fogos florestais são de origem criminosa e não são certamente só loucos – neste caso são apenas bode expiatório – a cometer tais actos. Loucos sempre os houve, então porque é que antes não punham fogo nas matas com tanta frequência como agora põem?!
Existem sem dúvida interesses sinistros que se movem na sombra e que ganham em ver as florestas serem consumidas pelas chamas. Qual a origem desses interesses? A existirem de facto, compete à Policia Judiciária investigar não sou eu que vou aqui especular!
Contudo, todos têm, do meu ponto de vista, culpas no cartório muitas delas criminosas. República, em especial os sucessivos governos da dita, televisões, populações, etc.
Comecemos pelo Estado, cuja principal e, pode-se mesmo dizer praticamente única, medida é a prevenção. É fundamental que se agravem fortemente as penas de prisão para os autores morais e materiais de incêndios, que incorrem em crimes tais como terrorismo e terrorismo ecológico, crimes contra a Natureza, traição até, destruição de propriedade privada, HOMICIDIO e um sem rol de outros crimes; que a Justiça seja célere a actuar!
Em relação aos bombeiros, não seria viável a unificação das corporações de bombeiros num único corpo nacional, num modelo semelhante ao da PSP ou GNR, com um comando geral, sedeado no interior do país, por exemplo em Castelo Branco, e vários comandos regionais e locais e uma hierarquia definida, militarizados ou semi-militarizados o que permitiria certamente uma melhor coordenação e organização, com uniformes e equipamento comuns e houvesse no seio desta corporação divisão por especializações (Serviços de saúde, Brigada de intervenção química, Brigada de combate a incêndios, Brigada de sapadores, Divisão aérea, Brigadas especiais - de elite - que actuam em cenários de grande catástrofe como terramotos, tsunamis, atentados terroristas, etc.) e se caminhasse no sentido de um profissionalização cada vez maior em que os elementos de cada divisão apenas tinham determinadas tarefas e se acabasse com o modelo das associações humanitárias, corpos sociais e sócios (que implica descriminação dos cidadãos entre sócios e não sócios.) e que implicam uma gestão pouco transparente e possíveis negócios paralelos?
Porque não integrar a Policia Florestal na GNR como Brigada Florestal para esta ter um carácter de verdadeira polícia, fazendo cumprir as obrigações de muitos proprietários que deixam as matas ao abandono e não cuidam de caminhos e estradas?
É também fundamental que se multipliquem os postos de vigia e o número de vigilantes. E já nem falo no cúmulo de fixar datas para os meios aéreos entrarem em acção!
É muito frequente ouvirmos os bombeiros no terreno afirmarem que é impossível, em determinadas circunstancias, haver reacendimentos e abertura de novas frentes de incêndio que acontecem nas suas costas, muitas vezes apenas a 4 ou 5 Km! Porque é que não são destacadas forças policiais e até militares, para actuarem como batedores, e se usam meios de vigilância aéreos, na retaguarda dos bombeiros criando perímetros de segurança e isolando a área afectada colocando a zona de incêndio em estado de sítio se necessário for para acabar com a sabotagem das operações de combate ao fogo por parte de quem muitas vezes o iniciou e que ainda tem o descaramento e a audácia para continuar a actuar, e se necessário capturar esses elementos nem que seja para impedir a destruição de provas em caso de mão criminosa? Aquilo que se vê na televisão, em termos policiais, são os poucos elementos dos postos locais com capacidade apenas para evacuar as populações, controlar o trânsito das pessoas em fuga e ajudar os bombeiros e cidadãos jogando alguns baldes de água para o fogo!
As televisões, para alem de fazerem uma cobertura exaustiva dos incêndios no terreno também deviam noticiar em que pé estão as investigações da Policia Judiciaria quando se suspeita de mão criminosa, pressionando-a. Se há suspeitos, se há detidos e quando vão ser apresentados à Justiça, se são constituídos arguidos, que medidas de coacção lhes são aplicadas e se são condenados. Em suma, deviam mediatizar estes casos em semelhança com o que fazem com outros casos de polícia e em julgamento. Da maneira actual como são apresentadas as notícias de incêndios, dá a sensação que em muitos casos houve, de facto, mão criminosa (ou apenas suspeições) mas não houve uma investigação rigorosa, não houveram detidos nem condenações dando assim alento a quem executa e/ou manda executar tão infernal tarefa.
A grande maioria das pessoas afectadas também é responsável por aquilo que muitas vezes lhes acontece pois raras são as vezes em que não se vejam autenticas selvas em redor das suas casas – arvoredo, ervas secas, matagal – barracões de madeira ressequida nos quintais perto das moradias, fardos de palha, pneus velhos e todo o tipo de lixos inflamáveis. Não me comove especialmente ver gente desesperada de lágrimas nos olhos, muitas vezes com o objectivo de receber do Estado o famigerado subsidio e ajudas, quando foram em boa parte também responsáveis pela desgraça que lhes bateu à porta. É frequente visualizar imagens de gente que aquando da proximidade dos incêndios se agarra à enxada e desata a arrancar ervas, limpar árvores e limpar mato e lixo próximo das suas casas. É escusado! É como aquele doente que nunca seguiu as instruções do médico e não tomou os medicamentos que lhe foram prescritos e só na hora da morte quando já está a dar o ultimo suspiro é que desata a tomar os medicamentos na esperança de se salvar. Já não vale a pena estar-se a moer! É tarde de mais! Nessa altura, o que apenas que lhe resta é deitar o coração ao largo, descontrair e deixar-se levar no balão! As populações que moram perto de áreas florestais e/ou são proprietárias de terrenos florestais têm todo o ano para limpar as matas e arranjar caminhos e não ficar à espera que o Estado resolva tudo. Muitas das matas e floresta propriedade do Estado e Municípios também são deixadas ao deus dará sem que haja a responsabilidade de quem devia dar o exemplo. Nesse caso as populações têm a obrigação de fazer o Estado actuar, pressionando-o e no caso deste não actuar juntarem-se e fazerem o trabalho por conta própria ao mesmo tempo que o colocam em tribunal por não cumprir o seu dever. E o mesmo se aplica a proprietários individuais. Individualmente, cada um devia lembrar-se de limpar os seus terrenos e realizar queimadas apenas quando as condições são propícias. Se não pode, porque é idoso ou inválido, deve pagar a quem o faça ou pedir ajuda a familiares ou amigos.
Enquanto todos continuarem a actuar como até aqui, o flagelo irá subsistir até pouco ou nada restar das florestas nacionais e os senhores do fogo continuarão com as mãos livres para actuarem como até aqui. É fundamental recordar que a ocasião faz o ladrão!
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