Para concluir este assunto e em resposta e face ao conteúdo do comunicado acima divulgado cabe-me fazer o seguinte esclarecimento até porque tenho sido mal intrepertado e haja até quem se mostre ofendido:
1. Efectivamente fui contratado a termo no CDP de Alcácer do Sal durante ano e meio. Face ao teor da minha primeira intervenção em que relato a situação «delicada» dos correios em Alcácer quem quer que fosse minimamente inteligente perceberia que face ao conhecimento que demonstrei certamente que deveria ou ter trabalhado ali ou teria de ter alguém que me relatasse o que ali continua a acontecer. Contudo omiti de propósito tal facto justamente porque não queria – porque não é em absoluto essa a razão – que se pensasse que estava a pedinchar ou a reclamar para mim o que quer que fosse embora soubesse que esse argumento seria o primeiro usado pela empresa. Aliás quem ler com olhos de ver constatará que não há no referido texto uma única virgula que seja que aponte nesse sentido.
Sou licenciado em Física pela Universidade de Évora desde 2005, terminando o curso com 14 Valores e classificação de Bom. Como é bom de ver, sou um dos milhares de licenciados que teve de ir fazer um trabalho para o qual as habilitações literárias que tem são muito superiores para o que é exigido para esse tipo de trabalho – como está em moda – como tal é fácil constatar que não acalento nem nunca acalentei o sonho de ser carteiro dos CTT nem tinha qualquer motivação extra para tal. Também nunca criei expectativas para ficar como carteiro por um lado pelo que atrás referi, por outro pelo que se passa em matéria de condições de trabalho e por outro porque sabia perfeitamente que estava a prazo ou não fosse essa a política seguida um pouco por todas as empresas a qual esta não é excepção. Contudo se alguém cria expectativas são justamente os CTT na medida em que quando somos entrevistados nos prometem mundos e fundos, como foi o caso do então chefe de CDP, que me entrevistou, onde falou em efectividade e promoções rápidas embora eu tenha percebido que isso é uma estratégia usada para pôr os novos recrutas a suar as estopinhas guiados por uma ilusão o que não foi de todo o meu caso por isso não me desiludi. Aliás quem se iludiu foi um outro colega, brasileiro, que passou pelo CDP de Alcácer, que trabalhava de sol-a-sol no pino do verão, em 2007, comendo uma simples sandes em 10 minutos pois queria agradar às chefias com o objectivo de ficar em Alcácer, cidade da qual ele muito gostava. Eu ainda o alertei! A recompensa? Foi transferido sem apelo nem agravo para Mem Martins.
Para finalizar este ponto, há 32 anos que vivemos em democracia onde a liberdade de expressão e de opinião são valores inquestionáveis. Apela-se muito à opinião dos cidadãos e à sua participação cívica mas parece que isso em Portugal é fogo de vista pois quando algum se atreve, repito; se atreve a exercer os seus direitos, como é o meu caso, no sentido de dar a conhecer à opinião publica situações escabrosas, tentar que se conheçam os factos porque a política das chefias é abafar, como disse na primeira intervenção, tentar que a qualidade do serviço seja real e não virtual, que os direitos de quem trabalha sejam minimamente respeitados, tentar que os correios, uma empresa base de comunicações, área vital e absolutamente estratégica para um país (embora muito bom chefe aparente não ter essa consciência face às experiências e brincadeiras que levam a cabo) logo o primeiro expediente usado para refutar a argumentação usada seja querendo fazer ver segundas intenções como sendo o caso de mesquinhez, ingratidão, vingança, expectativas alegadamente defraudadas, etc.
2. Em relação ao ponto dois, os baixos saldos verificam-se porque na maioria das vezes os dados colocados nas folhas para o efeito, pelos carteiros, são manipulados, diminuindo-se ou até mesmo omitindo-se os saldos devido a pressões das chefias e devido à vergonha que os carteiros sentem de não conseguirem levar tudo sendo que por vezes levam apenas metade do correio normal que vem. Quanto aos padrões de qualidade, e foi por isso que no ponto 1 falei em qualidade real em detrimento de qualidade virtual são aferidos em função do numero de reclamações constantes no respectivo livro. Quando as pessoas reclamam fazem-no por boca na estação ou ao próprio carteiro muitas vezes com agressividade como se este fosse o responsável por tudo. Esquecem contudo ou não sabem que existe um livro de reclamações e que o devem utilizar sempre que se sintam lesadas. E assim se explica a diferença entre qualidade real e qualidade virtual. Assim se explica que Chefes de Estação e funcionários de atendimento (TPG) tenham instruções para usar todos os argumentos possíveis para convencer os clientes que reclamam no sentido de evitar que uma reclamação passe para o papel. Aliás certamente se pode constatar que quando vamos reclamar não nos ponham logo o livro em cima da mesa. Mas há mais: a empresa refere-se a padrões. O que é isto? Pois bem os padrões são os prazos e a forma como devem ser entregue os objectos postais. Por exemplo o correio normal tem 3 dias para ser entregue a partir do dia em que chega ao CDP, o padrão do correio azul é ser entregue no próprio dia, etc. Quanto a cartas, há correio normal a ser entregue muito para lá dos prazos mas como por vezes não se aponta saldos e as pessoas não sabem e portanto não reclamam ou se reclamam quando são facturas e o prazo tem passado não o fazem no livro e portanto para todos os efeitos os padrões são cumpridos mesmo que, como foi o caso da factura da água de Dezembro e agora também com a de Fevereiro, tivesse havido cartas a sair do CDP duas ou três semanas depois. Poucas são as pessoas e ainda para mais num concelho rural, dispersas por aldeias que saibam quais são ou simplesmente o que são padrões. Por exemplo uma encomenda é uma encomenda. Ninguém ou pouca gente sabe qual é a diferença e quais são os padrões de um PP (Pacote Postal) registado, um simples volumoso ou um EMS (Express Mail Sevice ou encomendas urgentes) sendo que os EMS se dividem em Quick (expresso mais barato que pode ser entregue ou dado como avisado até às 18h e 59min), EMS 12 (expresso que tem que ser entregue ou dado como avisado até às 12h e 59min), EMS 18 (expresso que tem de ser entregue ou dado como avisado até às 18h e 59min). Há ainda os casos particulares de EMS 12 e 18 que têm de ser entregues não podendo ser avisados sendo que o carteiro tem de fazer várias tentativas de entrega. Há outros mas os que são expedidos e os que chegam ao concelho de Alcácer do Sal são basicamente estes. Tudo isso são tipos de encomenda. É claro que quem não o sabe não pode reclamar. E se o carteiro procede à entrega, por exemplo de um EMS 12 para lá das 13h aponta na lista, por exemplo, 12.30, o cliente não faz ideia e para todos os efeitos o padrão é cumprido. Assim se explicam «os resultados apreciáveis no cumprimento dos padrões de qualidade» referidos no comunicado. A qualidade de que fala é a virtual aqui está explicitada a qualidade real. Como se vê há uma diferença substancial.
3. Efectivamente, o site da Associação Nacional dos Municípios Portugueses refere que a população do concelho tem decrescido nos últimos anos. Contudo ao que parece, prevê-se que esta tendência irá sofrer uma inflexão contribuindo para isso a nova dinâmica que será impulsionada não só pela construção do futuro aeroporto em Alcochete como também pelos novos empreendimentos turísticos que irão ser implementados em particular o empreendimento turístico da Comporta. Importa ainda salientar um facto curioso e que o comunicado não menciona: é que mesmo havendo um decréscimo em termos populacionais, o tecido urbano, tanto de Alcácer como do Torrão, tem crescido a olhos vistos nos últimos anos; algo que os carteiros que fazem o giro na cidade constatam. Laranjal, Bairro de S. João são exemplos de bairros que têm crescido bastante. Tem ainda havido lugar à construção de novos bairros. No que toca ao Torrão, desde 1993 (quando a vila passou a ser servida por 2 carteiros) que o tecido urbano do Torrão também tem crescido. A título de exemplo, a zona H2 passou de meia dúzia de casas para ter apenas meia dúzia de lotes por atribuir. É curioso verificar que a população diminui e o tecido urbano das maiores povoações do concelho aumenta. A explicação que eu encontro é que as estatísticas incidem sobre todo o concelho não havendo estatísticas pontuais sendo que é nas povoações mais pequenas que a população está mais envelheciada o que implica que são as aldeias do concelho a contribuir negativamente para a média. Outra explicação que eu aqui vejo foi que aqueles que hoje estão a adquirir lotes em novos bairros são aqueles que viviam com os pais (constato isso aqui no Torrão mais ainda porque é o pessoal da minha geração) há 10 anos atrás sendo que as zonas mais antigas da vila continuam habitadas. Não há desertos nem clareiras no Torrão. A população distribui-se de forma homogénea e aquilo que eu chamo factor de dispersão de correspondência é praticamente constante. Vem sempre diariamente correio de todo o tipo para todo o lado de forma igualmente homogénea. Não há bairro, rua nenhuma que diariamente não receba correspondência. Antes o carteiro deixava a correspondência de todos no mesmo local e agora os então agregados familiares fragmentaram-se criando-se novos agregados levando o carteiro a dispersar-se. O que dificulta a vida ao carteiro é a expansão das povoações na medida em que tem de ir a mais locais, perde mais tempo a cobrir uma área maior. Isto é que ninguém percebe… ou não quer perceber!
4. Outro argumento falacioso é este que refere que as aldeias, em particular as aldeias da freguesia do Torrão, são servidas por blocos individuais de correio, as chamadas BRIC. O problema meus senhores não está na distribuição está nas distancias que se têm que percorrer e do tempo que se leva de caminho até às povoações. Não nos esqueçamos que estamos num concelho rural em que as populações estão dispersas e que estamos a falar de uma das maiores freguesias do país, da Europa! No caso do Torrão, para ir a Vale de Gaio (onde está a pousada e duas casas de habitação), Rio de Moinhos, Batão, S. Romão e Casa Branca são gastas em média três horas (37,5% do horário de trabalho). Se o carteiro levar em média meia hora a distribuir todo o correio (e para fazer esse tempo terá que já ter bastante conhecimento e destreza) significa que perdeu duas horas e meia no caminho; 83,3% do tempo gasto é em caminho por isso…
5. O que é ponto assente é que o tempo de trabalho é fixo e são oito horas de trabalho por dia! As mudanças de horário são absolutamente irrelevantes! Se antes, de manhã, se começava às 7.30h e acabava às 12.30h, agora começando às 7.00h termina-se às 12h. O caso não é começar mais cedo; nem que começassem às 5 da manhã! A não ser que me digam que se entra mais cedo ao serviço e sai-se à mesma hora porque aí já se está a trabalhar para além das oito horas diárias, aí já estamos a falar de trabalho extraordinário a questão é saber se é remunerado ou não – o que eu duvido.
Quanto ao reforço, foi muito fraquinho na medida em que foi criado um posto de trabalho (salvo erro a recibo verde) para supostamente fazer a publicidade. E digo supostamente porque me chegou aos ouvidos que essa pessoa por vezes também distribui correio algo que não é da sua competência e os carteiros ainda distribuem publicidade isso porque há ainda outro facto que foi escamoteado no comunicado: é que essa pessoa não está agregada única e exclusivamente ao CDP de Alcácer do Sal sendo que o seu raio de acção é, para além de Alcácer os CDP vizinhos, a saber: Grândola, Santiago do Cacem e Sines; pelo menos, sendo solicitada e destacada para onde a situação seja mais difícil. Quando vem publicidade em simultâneo terá que haver um ou outro carteiro que terá que fazer pela vida. E não nos esqueçamos que a publicidade também tem um padrão de entrega: 7 dias; à pois é!!! Belo reforço!
6. Em relação a este ponto, é válida a argumentação que refuta o que é dito no ponto 2 não havendo necessidade de mais comentários mas obrigado pela parte que me toca!
7. Nunca a expressão «optimização dos recursos humanos» assentou tão bem como neste caso. Na verdade esta expressão vem mesmo a calhar! Acontece que o carteiro que tem o azar de vir fazer o giro 8 (Torrão) não tem outro remédio senão trabalhar um dia inteiro para conseguir ir a todo o lado. O carteiro que actualmente faz este giro vê-se em bolandas sendo que almoça sempre tarde e más horas, obviamente muito para além da hora de largar. Naturalmente que entre outros factores muito contribui o facto de perder bastante tempo no caminho. Houve até quem já o visse a comer umas simples sandes enquanto distribuía em simultâneo o correio. Quanto às aldeias da freguesia, são servidas por outro carteiro (giro 6) que tem a seu cargo a entrega de todas as encomendas em toda a cidade de Alcácer sendo que ainda tem de ter tempo suficiente, da parte da tarde, para ir às aldeias onde perde em média cerca de três horas. Há ainda outro facto curioso: Tudo quanto sejam registos e expressos, se forem avisados, o carteiro (giro 6) leva-os de volta para Alcacer e só no outro dia o outro carteiro (giro 8) é que leva os objectos para a estação do Torrão. Há mais probabilidade das coisas se perderem e cada um dos dois carteiros fica responsável e dependente da responsabilidade do outro! Depois ainda há o facto de pontualmente o Chefe da Estação do Torrão, compreensivelmente se confundir, perder o norte, não sabendo onde pára determinado objecto assumindo que tal nunca lhe foi entregue entregando o ónus da responsabilidade aos carteiros que tendo já muito com que se preocupar ainda ficam mais baralhados e nervosos e depois é a confusão na medida em que há gente a mais envolvida na distribuição. O percurso é este: Os objectos saem de Alcácer voltam a Alcácer e depois é que vão para a estação do Torrão. Bonito! Sinergias?! Só se forem as da confusão! Definitivamente, o processo de distribuição de correio no concelho de Alcácer do Sal não é SIMPLEX. Não se está mesmo a ver o tipo de optimização? Poucos a fazer o trabalho de muitos o que implica trabalho extraordinário oferecido à casa entenda-se.
Para concluir gostava apenas de referir que o objectivo principal foi o de dar conhecimento público daquilo que se passa, em termos de distribuição de correio, no concelho de Alcácer do Sal. Creio que tal desiderato foi bastante satisfatório. Pretendeu-se ainda abrir uma janela de oportunidade de forma a que os trabalhadores dos correios de Alcácer aproveitassem para iniciar uma luta por melhores condições. Apelo assim para que ponham em prática aquilo que os sindicalistas me disseram. Não ir na conversa das chefias e quando chegar à hora de saída e de almoço telefonar-lhes para informar de que está na sua hora de descanso e que ainda têm bastante correio e perguntando-lhes como é que é. Mais: Dias em que há bastante correio ou em outras situações entregar uma declaração às chefias para que estas se comprometam no sentido das horas extra serem remuneradas.
Por fim um apelo ao signatário do comunicado acima exposto, Sr. Saturnino Rodrigues. Por coincidência ou não coube-lhe a si, o senhor é meu conterrâneo, a responder em nome da empresa. Na verdade o senhor é familiar do antigo Chefe de Estação dos correios do Torrão. Não tenho o prazer de o conhecer contudo tenho ouvido falar bastante do senhor. Gostaria, sendo torranense ou torranejo como dizem os de Alcácer, que aceitasse o repto que lhe vou lançar: Agora que os dias primaveris se avizinham, aproveite para dar um passeio pela nossa vila e para se inteirar acerca da forma como o processo de distribuição de correio é posto em prática. Desafio-o a si a pôr em prática aquilo que disse inicialmente: que os altos quadros da empresa saiam dos seus gabinetes e avaliem a situação real, in loco. Aproveite pois para falar com o povo! Propunha ainda um passeio pela nossa freguesia, indo às aldeias do Batão, Rio de Moinhos, S. Romão e Casa Branca e oiça com os seus ouvidos o que as populações locais têm para dizer. De certeza que será mais proveitoso e real do que os números e estatísticas frios – que acarretam sempre consigo margens de erro consideráveis e escamoteamento de situações pontuais – que invoca no seu comunicado.
Com os melhores cumprimentos,
Paulo
2 comentários:
Parabéns pela sua intervenção.
Ouvi alguns relatos sobre o funcionamento dos correios que vão ao encontro das suas palavras. Como cliente também tenho tido as minhas razões de queixa.
Pena é que sejam poucos, muito poucos, aqueles que protestam. Muito menos os que o fazem duma forma esclarecida.
Continue assim na sua vida!
Não venda a alma ao diabo...
Um abraço
Paulo Guerreiro - Alcácer do Sal
Sou lá carteiro e as coisas infelizmente não mudaram muito...
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