Com a aproximação do dia do Centenário da República começaram a ser divulgados através da comunicação social uma multiplicidade de artigos, conferências e programas de rádio e televisão, com o denominador comum de atribuir todas as virtudes à república e , concomitantemente, todos os defeitos à monarquia.
Durante o ano do centenário manteve-se tudo em “banho Maria”, apenas com iniciativas quase discretas, sem a menor agressividade nem ímpeto de fervor republicano.
Naturalmente, como seria de esperar, a proximidade do 5 de Outubro trouxe em força toda a propaganda republicana.
Uma revista de informação semanal apresenta na sua capa uma fotografia de D. Carlos legendada com as frases “os gastos avultados da Família Real” e as “férias alongadas do rei em Vila Viçosa”. Artigos em jornais, documentários televisivos ou conversas radiofónicas, com a orientação ou participação dos historiadores do regime, vêm associando imagens de pobreza, atraso social e anacronismo com a monarquia, aliando o progresso, a justiça social e a democracia com a república. Apresentam-se filmes de ficção na televisão onde se revestem os republicanos de 1910 com um estilo épico, contrariamente aos monárquicos que aparecem como seres arrogantes e caducos.
Raríssimos serão os portugueses ainda vivos que tenham nascido no regime monárquico e nenhum por certo terá dele qualquer memória vivida. É pois fácil a república divulgar a ideia de que é o regime natural e incontestado dos dias de hoje, deixando subjacente a ideia de que a monarquia é coisa do passado, totalmente irreversível – seria como substituir o automóvel pelo carro de cavalos! Com a mesma naturalidade se transmite a ideia que o actual é o regime do povo em oposição ao anterior tido como o da aristocracia privilegiada.
Não obstante os preconceitos inculcados por estas acções facciosamente orientadas, não será difícil caírem por terra. Bastará procurar fazer essa leitura com a mente aberta e de boa fé!
Muito provavelmente concluirá, como afirmam vários historiadores, que D. Carlos foi uma das personalidades mais fascinantes da sua época, e um dos maiores estadistas portugueses.
Em Vila Viçosa, D. Carlos não fazia férias pois não deixava de ser rei quando lá se encontrava. Aquela vila alentejana não dista muito de Lisboa, mesmo naquela época não era uma viagem demorada, pelo que recebia lá quem devia para tratar dos assuntos do Estado ou deslocava-se à capital quando necessário. Era aí que gostava de estar, longe da intriga e da barafunda política lisboeta. Em Vila Viçosa sentia-se em casa, no recato da família, e mais próximo do Povo, a quem dedicava a sua vida, com elevado sentido de missão. Aí gostava de conviver com a gente simples, vestindo-se com os trajes populares locais e aproveitando para conhecer os problemas e anseios da população.
Igualmente se poderia constatar que a república não nasceu de nenhuma sublevação popular, mas do aproveitamento do caos, gerado pela incompetência (já tradicional) dos nossos políticos, por um pequeno grupo que facilmente propagou promessas de melhoria de vida e que prometeu também referendar a república, o que nunca aconteceu.
Afinal a república nada melhorou, tendo até agravado o estado do País. Iniciou-se um período de diminuição das liberdades individuais, de repressão à imprensa, perseguição à Igreja e um clima de medo devido ao terrorismo exercido pela carbonária.
Quanto aos avanços sociais e à democracia que atribuem ao regime que tomou o poder em 1910, bastará olhar para os países que não deixaram de ter monarquias e que são hoje os que apresentam melhor nível de vida, maior desenvolvimento e liberdade.
No que respeita aos “gastos avultados” da Família Real, será bom compará-los com a despesa em eleições presidenciais, da própria Presidência e da “pós Presidência”, efectuada com dinheiros públicos.
Os republicanos acham-se donos de Valores Humanistas, ditos republicanos e da Ética que também chamam sua. Confundem república com democracia e, pior ainda, confundem-na com o País, a quem chamam “república portuguesa” em vez de Portugal.
Impõem na Constituição a “forma republicana de governo”, convencidos arrogantemente que o Povo nunca contestará a república e não lhe dando o direito de a pôr em causa.
Se a comunicação social se libertar de preconceitos e der voz aos monárquicos actuais sem reservas e sem manietar as reportagens ao serviço dos clichés com que os quer rotular, ficar-se-ia a saber que os assumidamente defensores do rei são cerca de 15 a 20 % da população, que simpatizantes são muitos mais e, se a mensagem chegar a todos os portugueses esse número aumentará.
Passados cem anos sobre a queda da Monarquia a quem os republicanos atribuíam os males do País, este encontra-se hoje na cauda da Europa e em risco real de desaparecer.
Haverá motivos para comemorar?
Álvaro Meneses
Viseu, 04-10-2010
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