quarta-feira, junho 24, 2015

A cultura da guitarra e do copo de vinho


Algum do espólio encontrado nas escavações decorrentes da passagem do canal de rega do Alqueva. Telhas com relevos encontradas numa antiga necrópole do período islâmico


Mas afinal que descobertas arqueológicas estão a ser feitas no Torrão? Quantos anos terão os achados? Que povos deixaram estes vestígios?
Estas e muitas outras perguntas farão a maioria dos torranenses; pelo menos aqueles que sabem que foram achados vestígios antigos decorrentes das obras do canal de rega do Alqueva.
Há cerca de três meses que os trabalhos decorrem e, como é de lei, uma equipa de arqueólogos tem forçosamente que acompanhar a obra. O acompanhamento arqueológico está a cargo da ERA, arqueologia
Quem tem acompanhado a página de Facebook da ERA vai tendo consciência de várias realidades desde as descobertas levadas a cabo no Torrão bem como da dimensão e actividades da empresa. Esta é uma das grandes empresas do ramo, em Portugal, e que tem desenvolvido importantes trabalhos no domínio da arqueologia em território nacional. A própria empresa desenvolve ainda actividades de divulgação e de âmbito educacional.
Ora quem tem andado a Leste - mais uma vez, para variar - são os nossos prestabilíssimos, de vistas largas e sempre atentos autarcas. A Junta de Freguesia ignorou olimpicamente o assunto e só acordou tarde, quase dois meses depois, para noticiar uma visita ao local e pronto. A Câmara Municipal de Alcácer do Sal, dessa nem uma palavra.
O Torrão tem um espaço dito museu etnográfico da exclusiva responsabilidade municipal.
O poder local, tanto o actual como o anterior, o regime e seus apaniguados na tentativa vã e desesperada de tentar desacreditar e anular a voz deste blog - que eles sabem ser livre, independente e sobretudo bastante incómoda por terem consciência de ser bastante pertinente e a ter em conta - bem tentam colar o rótulo de maledicência e de critica destrutiva e negativa a este espaço o qual se limitaria, na sua visão, a tal desiderato ao mesmo tempo que não apresenta alternativas nem sugestões. É falsa essa visão e pela n-ésima vez, aqui se faz uma (mais uma) sugestão - Que não acatem as sugestões é uma coisa, agora que venham à posteriori falar de uma ausência de sugestões, é má-fé e desonestidade intelectual totalmente inaceitáveis.
Ora tendo em conta tudo o que aqui foi escrito até agora, vamos lá ver: porque não estabelecer comunicação com a ERA e levar a cabo uma sessão das chamadas «Conversas no Museu» onde a equipa que está no terreno faria um balanço do que tem sido descoberto, seriam mostradas fotografias do espólio recolhido, onde foi recolhido, dos períodos em que se inserem e por aí fora. E no final o público poderia pôr questões.

Poder-se-ia enriquecer o evento e alargar o painel, convidando alguém, académicos entendidos na matéria - mas que não se fiquem apenas pela «prata da casa», que é o que geralmente fazem porque é o mais fácil; falem com a ERA, MEXAM-SE!!! TRABALHEM! PROVEM AQUILO QUE VALEM! - para falar sobretudo do período islâmico na Península Ibérica, do islamismo em geral e sobre múltiplas vertentes visto que os achados são maioritariamente desse período e tendo em conta a importância geo-política actual e o facto do Islão hoje estar na agenda. 
Porque não? A própria ERA leva a cabo conferências e apresentações do trabalho que desenvolve e encara-as como «uma oportunidade para divulgar o nosso trabalho»! 
Se pretendem dar visibilidade ao trabalho que desenvolvem certamente que não se fariam rogados a um convite que surgisse. O convite tem é que surgir. Convém!





Do que é que esta gente está à espera? Será bastante comprometedor, revelador de grande inconsciência e, acima de tudo, de grande incompetência se «deixarem fugir» a ERA e nada se fazer. E será bem revelador da conta em que o actual poder autárquico tem a Cultura (e não apenas a cultura) mas também a História e a divulgação cientifica - neste caso nos domínios da Arqueologia e da Antropologia.
Na verdade, e é curioso e absolutamente imprescindível referir este facto, faz agora sensivelmente dois anos que a descoberta dos concheiros nas Poças de S. Bento motivou justamente a organização de um evento de natureza similar tal como se pode ver aqui. Na verdade, o achado foi inclusive noticiado no Correio da Manhã (clicar aqui) mas também no Diário de Notícias e no Público, como se pode constatar no artigo do Pedra no Chinelo relativo ao assunto.
O que é curioso é que este evento foi levado a cabo durante o anterior executivo - que foi aquilo que se sabe - e tão abjurado foi então por aqueles que queriam à viva força ser poder. Passados dois anos constatamos num misto de estupefacção e incredulidade que ainda conseguem ser piores.
Ora em Julho de 2013 estávamos no auge da campanha autárquica e, como tal, é bom recuperar as declarações que o então candidato e agora Presidente da Junta de Freguesia do Torrão proferiu relativamente a esta matéria na sua página de candidatura.



O então candidato lamentava-se do «pouco valor» dado à cultura. Hoje é o que se tem visto.
Os trabalhos têm estado a passar despercebidos, como se nada existisse e como se nada se tivesse passado, isto enquanto os senhores que se lamentavam no passado de tanta ausência de Cultura assobiam agora para o ar. O espólio está a desaparecer mais uma vez do Torrão sem que a câmara e a junta, que tanta coisa fotografam - sobretudo a tal propaganda que mais não é que palha da qual no futuro pouco ou nada se aproveitará - e nem sequer enviam uma alma para fotografar a estação, as escavações, e sobretudo os achados para, pelo menos ficar com um registo fotográfico.
Infelizmente a política cultural e educativa local, tal como a política desportiva, é um desastre e andam literalmente pelas ruas da amargura. Na verdade Cultura, para o poder autárquico desde há uns anos, limita-se a festas brejeiras, feiras, bares e pouco mais.
A política cultural municipal, a Cultura tal como estes senhores a entendem podemos dizê-lo sem rebuço, e tão só a cultura da guitarra e do copo de vinho... e da propaganda, claro. Para a fotografia, naturalmente.
Aguardemos os desenvolvimentos.

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