quinta-feira, outubro 03, 2013

O «case study» do Torrão

As eleições do passado Domingo, pelos resultados obtidos, constituem um interessante exercício sobre o qual se devem tirar importantes ilações.
 Vamos comparar os resultados obtidos em 2009 e 2013 e analisar uma das maiores ecatombes eleitorais registadas, a maior certamente registada na freguesia do Torrão.

Fonte: DGAI


 Como é possível que exactamente os mesmos primeiros quatro elementos que encabeçaram a lista do PS à Assembleia de Freguesia do Torrão em 2009, ganhando com uma maioria enorme; o dobro dos votos em relação à CDU, tenha sofrido tão clamorosa derrota em 2013? Como é possível tamanho desgaste eleitoral de Décio Fava e sua equipa? Como é possível não só perder uma vantagem de 396 votos, o dobro relativamente à CDU, como ainda ficar atrás desta em 33 votos?
Como é possível o desgaste de uma enorme base de apoio e a quebra de um consenso generalizado?
Seria aumento da abstenção? Seria dispersão de votos por outros partidos? Não! Incrivelmente, não!
A história destas eleições vem demonstrar que não há invencíveis, que uma esmagadora maioria não significa carta branca e essencialmente que ninguém pode descansar e considerar que à partida a vitória está assegurada.
Vamos analisar os resultados gerais e os resultados secção de voto a secção de voto.
Como pode um líder partidário local justificar tamanho descalabro? Resta-lhe alguma outra saída que não seja a demissão e a convocação de eleições antecipadas? O PS foi fortemente penalizado e severamente castigado nas urnas.
O primeiro resultado atípico prende-se com a abstenção. Tal deve-se ao facto do Torrão ter perdido eleitores - na verdade de 2189 eleitores inscritos na freguesia do Torrão em 2009, esse valor baixou para 2013 eleitores inscritos em 2013; uma perda de 176 eleitores - a abstenção baixou significativamente... em contra-ciclo aliás. Se repararmos, em 2009 votaram 1280 eleitores enquanto em 2013, apenas 1273. A abstenção diminui não tanto porque o número de eleitores votantes tivesse aumentado (na verdade este foi mais ou menos semelhante) mas essencialmente porque houve perda de eleitores inscritos. A abstenção baixou à custa da perda de eleitores.
Vamos analisar os resultados obtidos para a Assembleia de Freguesia do Torrão. O CDS-PP como não concorreu em 2009 à Assembleia de Freguesia do Torrão não pode ser levado em linha de conta neste trabalho.


Resultados globais

2009

Nº de eleitores inscritos: 2189    
Nº de eleitores votantes: 1280  
Abstenção: 41,53% 
Votos brancos: 24
Votos nulos: 24
PSD: 38
CDU: 398
PS: 796



2013

Nº de eleitores inscritos: 2013
 Nº de eleitores votantes: 1273
 Abstenção: 36,76%
 Votos brancos: 27
Votos nulos: 31
PSD: 35
CDU: 599
PS: 566


Mantendo-se o número de votantes muito semelhante bem como o números de votos nulos, brancos e votos do PSD, a conclusão que se pode tirar é que houve uma fuga maciça de parte substancial de eleitorado PS para a CDU.
O PS perde, relativamente a 2009, 230 votos. A CDU ganha, relativamente ás eleições de há quatro anos, 201 votos.


Secção de Voto Nº1
(Polo do Torrão da Biblioteca Municipal)
 
2009

Nº de eleitores inscritos: 625
Nº de eleitores votantes: 374
Abstenção: 40,16% 
Votos brancos: 7
Votos nulos: 7
PSD: 7
CDU: 82
PS: 271



2013

Nº de eleitores inscritos: 560
 Nº de eleitores votantes: 344
 Abstenção: 38,57%
 Votos brancos: 7
Votos nulos: 17
PSD: 8
CDU: 108
PS: 198


Curiosamente, foram mais os votos que o PS perdeu (73) do que os que a CDU ganhou (26).



Secção de Voto Nº2
(Edifício da antiga Escola Primária Nº1)
 
2009

Nº de eleitores inscritos: 625
Nº de eleitores votantes: 365
Abstenção: 41,60% 
Votos brancos: 9
Votos nulos: 9
PSD: 12
CDU: 79
PS: 256



2013

Nº de eleitores inscritos: 560
 Nº de eleitores votantes: 363
 Abstenção: 35,18%
 Votos brancos: 6
Votos nulos: 7
PSD:14
CDU: 150
PS: 185


Nesta mesa houve claramente uma transferência de eleitorado do PS para a CDU.


Secção de Voto Nº3
(Edifício da antiga Escola Primária Nº1)
 
2009

Nº de eleitores inscritos: 633
Nº de eleitores votantes: 329
Abstenção: 48,03% 
Votos brancos: 4
Votos nulos: 7
PSD: 15
CDU: 64
PS: 239



2013

Nº de eleitores inscritos: 586
 Nº de eleitores votantes: 346
 Abstenção: 40,96%
 Votos brancos: 11
Votos nulos: 6
PSD: 12
CDU: 155
PS: 156



Secção de Voto Nº4
(Edifício da antiga Escola Primária de Rio de Moinhos do Sado)
 
2009

Nº de eleitores inscritos: 306
Nº de eleitores votantes: 212
Abstenção: 30,72% 
Votos brancos: 4
Votos nulos: 1
PSD: 4
CDU: 173
PS: 30



2013

Nº de eleitores inscritos: 307
 Nº de eleitores votantes: 219
 Abstenção: 28,66%
 Votos brancos: 3
Votos nulos: 1
PSD: 1
CDU: 186
PS: 27


Em Rio de Moinhos afinal não houve ventos de mudança nem surpresas de maior. O PS não só não conseguiu manter o recorde de 30 votos alcançado há quatro anos como ainda houve um reforço da votação na CDU. 

Nestas eleições os torranenses disseram claramente não a uma linha política desastrada levada a cabo nestes quatro anos. Os torraneses disseram não ao «favismo», uma política fortemente caciquista, desastrada, prepotente, intimidatória, inábil e pouco transparente. Outra razão do descalabro prendeu-se com o facto do PS ter sido um partido que se fechou não só à sociedade civil como ficou refém de si próprio, sem capacidade não só de atrair gente nova de fora do partido como inclusive de atrair gente de dentro do PS. O Partido Socialista não se soube renovar quando todas as evidências denunciavam um tremendo desgaste e saturação do eleitorado para com as «figuras de prôa», as mesmas de sempre que se perpetuam nas listas eleição após eleição. Décio Fava não teve rasgo nem força para evitar a tentação de se recandidatar pela terceira vez e infelizmente para si, não soube sair a tempo e pela porta grande e poupar-se a uma humilhante saída de cena forçada. Sai fatalmente e por consequência pela porta pequena, vergado a uma tremenda derrota eleitoral
Mérito também para a CDU que, apesar de não apresentar uma lista forte - bem pelo contrário - com nomes pouco sonantes ainda assim mais de metade dos elementos são independentes e não conotados com o PCP do passado, em especial o cabeça de lista, Virgílio Silva, visto como uma «lufada de ar fresco», uma figura consensual e popular.
Se houve coisa que ficou demonstrado ainda é que o eleitorado já não é tão estável nem tão fiel a partidos com excepção para Rio de Moinhos do Sado. Hoje o eleitorado nomeadamente jovem é mais esclarecido - até porque há mais informação - e vota sobretudo em pessoas e não em partidos e símbolos. 
Fica ainda claramente demonstrado para memória futura que não há vencedores antecipados nem «favas contadas» à partida e doravante ninguém pode estar descansado com a certeza da vitória.

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