quinta-feira, janeiro 12, 2006

Bicentenário da morte de Bocage (1805 – 2005)


Apesar do ano do bicentenário da morte do poeta Bocage ter sido em 2005, não quero deixar passar em claro a alusão ao acontecimento ainda para mais agora que se aproxima a estreia de uma série na RTP sobre o poeta setubalense. À semelhança do que fiz anteriormente, aqui presto uma singela homenagem a um poeta único, pelo menos na História de Portugal pelos seus poemas de teor corrosivo, caustico, sarcástico, irónico, erótico e até pornográfico.


Magro, de olhos azuis, carão moreno

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n’altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
Inimigo de hipócritas e frades:

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou cagando ao vento.

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