quinta-feira, novembro 20, 2008

«DA "ABORRECIDA" NORUEGA SÓ CHEGAM BOAS NOTÍCIAS»

«DA "ABORRECIDA" NORUEGA SÓ CHEGAM BOAS NOTÍCIAS», porLeonídio Paulo Ferreira

Da "aborrecida" Noruega, monarquia social-democrata, porém, nem sequer têm chegado ocasionais más notícias, como a crise financeira na Islândia ou os tiroteios em escolas na Finlândia. Muito pelo contrário, só positivas e até para o mundo. Como em Setembro, quando o primeiro-ministro Jen Stoltenberg anunciou mil milhões de dólares para salvar a Amazónia.(17 de Novembro de 2008). É normal muita gente não saber quase nada sobre a Noruega, apenas que de lá vem o bacalhau e de lá partiram os viquingues. E a culpa é dos próprios noruegueses. Do país costumam vir sobretudo boas notícias, daquelas que não fazem a primeira página dos jornais. Há dias, por exemplo, um relatório do Fórum Económico Mundial apontava a Noruega como o país onde a igualdade entre homens e mulheres mais se aproxima do ideal. A Suécia, anterior líder, fora ultrapassada, enquanto Arábia Saudita, Chade e Iémen se mantinham, sem surpresa, entre os últimos. Desde os anos 80, quando Gro Harlem Brundtland se tornou primeira-ministra, que o número de mulheres nos governos ultrapassa sempre a fasquia dos 40%. Hoje são nove em 18. Mas essa igualdade não se limita às elites. Atravessa antes todas as camadas de uma das sociedades mais igualitárias do mundo, só comparável à dos outros países nórdicos. E o frio não deve ser a explicação. Da "aborrecida" Noruega, monarquia social-democrata, porém, nem sequer têm chegado ocasionais más notícias, como a crise financeira na Islândia ou os tiroteios em escolas na Finlândia. Muito pelo contrário, só positivas e até para o mundo. Como em Setembro, quando o primeiro-ministro Jen Stoltenberg anunciou mil milhões de dólares para salvar a Amazónia. Migalhas para um país que graças à abundância de petróleo (e, acrescento eu, ao bom senso) acumulou uma riqueza que era inimaginável em 1905 quando se separou da Suécia (pacificamente, claro). E no seu orçamento para 2009, mais uma boa notícia: o compromisso de dedicar 1% do PIB à ajuda ao desenvolvimento. A esse nível, só... a Suécia. Outras boas notícias vindas de Oslo são todos os Dezembros a cerimónia do Nobel da Paz, com os noruegueses a levarem muito a sério a sua responsabilidade pelo prémio. Foram negociadores seus que nos anos 90 conseguiram sentar à mesa israelitas e palestinianos. São também os seus diplomatas que tentam acabar com a guerra civil no Sri Lanka. E, no terreno, tropas norueguesas esforçam-se por pacificar o Kosovo, o Sudão, a Bósnia e o Afeganistão. Em regra, estão ao serviço da ONU, a quem deram em 1946 o primeiro secretário-geral e da qual, apesar de serem menos de cinco milhões, surgem como o sétimo principal financiador.

Más notícias só mesmo com esforço de imaginação. Por exemplo, a selecção feminina de futebol, um dos orgulhos nacionais, desde 1993 que não é campeã da Europa e desde 1995 que falha o título mundial. Ou então, desde o ano passado que já não é o melhor país do mundo para viver. Só o segundo! Mas, com os recentes problemas da Islândia, até é provável que volte ao topo. Talvez aí, mesmo sendo uma boa notícia, a Noruega chegue à primeira página dos jornais. Finalmente.



Noruega, uma monarquia....uma Democracia Social !
« "Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez. A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos e Euros. É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as«ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica. Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos. Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu. Aqui, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes. Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhõesde contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa. Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola. Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo para viver e à segurança social. Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não, se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e subsídios. É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós! Seria meio caminho andado para nos civilizarmos"

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