Todos os governos preferem enfrentar pouca crítica, mas poucos agem brutalmente como o que nos desgovernou entre 2005 e 2011. O grupo de Sócrates usou tão intensivamente a artilharia da propaganda e as pressões para calar críticos que criou com êxito a ideia de que, a haver conflitos na sociedade, tal se devia a uma oposição irresponsável e a uns quantos críticos que deviam ser calados com processos judiciais e altas indemnizações. Quem não se lembra de Sócrates a verberar os "negativismos" dos outros actores no espaço público?
Os telefonemas que o CM tem divulgado entre os membros da pandilha - e que os chefes do sistema judicial quiseram, para sua vergonha, impedir o povo de conhecer - revelam a desfaçatez com que se queria calar a opinião livre e até os órgãos de informação livres. Nunca Portugal teve, em mais de um século de regimes democráticos desde 1820, um governo com um plano de acção tão antidemocrático no que à liberdade de expressão e de imprensa diz respeito.
A ideia de não haver conflitos em democracia coincide com a concepção dos regimes ditatoriais. Governam "melhor" se não houver percepção da conflitualidade. Muitos cidadãos preferem esse mundo cor-de-rosa que os governos tentam criar, pois julgam que não haver notícias de conflitos é o mesmo que eles não existirem. Afinal é ao contrário: quanto mais livre for a expressão da conflitualidade, maior é o benefício do cidadão, pela denúncia de maus contratos do Estado, pela revelação de corrupção ou gastos excessivos, etc. A imprensa livre é por isso vital para a defesa dos interesses dos cidadãos, mesmo os que não apreciam notícias "negativas" e de conflitos.
Criou-se, com o actual governo, a ideia de que ele teria um "défice de comunicação", explicando mal as políticas, etc. Não acho nada. Estamos é habituados a centrais de propaganda e governos que só pensam em enganar o povo. O actual governo é, nesta matéria, fiel à sua matriz liberal: apresenta as políticas e faz pouca propaganda delas, deixando a sociedade conflituar à sua vontade com ou contra as medidas. Ainda bem que há conflitos, ainda bem que há notícias deles, ainda bem que o governo tem deixado a sociedade dialogar sobre eles. A isto se chama democracia e liberdade. Esperemos que assim continue.
domingo, janeiro 01, 2012
Elogio do conflito
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