Alberto João Jardim, um dos figurões mais pitorescos desta república (que ele renega) teve (mais) uma intervenção, no seu bom estilo truculento, a sua imagem de marca, que marcou (perdoem-me a redundância) estas Autárquicas e que a muitos abalou e indignou, em especial no PS.
Lamentavelmente, o Presidente do Governo Regional da Madeira, afirmou que se os socialistas ganhassem uma só Câmara que fosse na Madeira que o Governo Regional não a financiaria. Esta atitude, de intimidação, de chantagem barata e de tentativa de condicionamento dos eleitores revela bem o sentido democrático das mais altas figuras da república portuguesa e o respeito que estes têm pela decisão do eleitorado.
A prova de que este desrespeito pelas normas democráticas tem os seus seguidores e que não é apenas apanágio de Jardim vem na sequência de outros acontecimentos similares mas que os jornalistas e comentadores tudo fazem para que passem despercebidos, sendo Jardim o alvo único destas figurinhas que também têm uma «grande» cultura democrática. Mas os portugueses, ao contrário do que esta gente, estes doutores (da mula ruça) pensam, é bem mais inteligente do que aquilo que eles julgam. Vou apenas falar de três casos flagrantes.
Numa acção de campanha do Bloco de Esquerda um cidadão já de uma certa idade insurge-se contra o facto do Bloco ser a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, vulgo aborto. O cidadão em causa é abordado (por favor, não confundir com abortado) por Francisco Louçã e é no seguimento do pequeno diálogo que travaram que aquele senhor afirmou que até concordava com o BE nalgumas das causas que defende mas que, por exemplo, é contra o aborto e tenta alguns argumentos. A expressão facial de Louçã altera-se de imediato e sem nunca perder a calma mas visivelmente incomodado pede ao dito cidadão que este fale um pouco mais baixo e perguntando-lhe se ele (Louçã) lhe falava naquele tom – é um mero truque usado pelos políticos para tentar embaraçar, desconcentrar, desacreditar e pôr no devido lugar pessoas que lhes saem ao caminho e que não têm experiência nem política, nem de discursar em público, nem de debates sem ser os do dia-a-dia ou os de café.
Contudo o que se constata é que o tom de voz empregado por aquele senhor foi sempre o mesmo; era um tom alto, de facto, mas foi sempre assim desde o início do diálogo e nunca se alterou nem para mais nem para menos. Se antes quando a «música» lhe agradava não se incomodou com o volume de som debitado pelo seu interlocutor, na verdade, até era bom que falasse alto quando a conversa lhe era favorável para o som ser bem captado pelas diferentes reportagens televisivas, já o tom de voz empregado lhe era incomodativo quando a «música» já não lhe estava de feição. Quanto menos perceptível fosse a segunda parte do diálogo melhor (para ele). Ainda questionou a pessoa em causa sobre se esta achava bem que uma mulher fosse condenada a pena de prisão por fazer um aborto. Perante uma firme resposta afirmativa que recebeu, logo atirou à cara do seu interlocutor de ocasião um seco e altivo «lamento mas estamos em desacordo» e nisto, virou-lhe as costas.
Mas é bem feito, quem é que mandou a esse ilustre cidadão anónimo quer argumentar com um político. Os eleitores só servem para uma coisa (e com isto não estou a dizer ou a querer dizer que sou contra as eleições, em particular, ou contra a democracia, em geral); depositar o boletim com a respectiva cruzinha no sítio «certo» (depende das várias perspectivas) na urna e pronto. Nada de tentar argumentar com os políticos em campanha, seja ela qual for, ou querer discutir com civismo e democraticamente ideias com eles, independentemente de qual seja a sua natureza partidária. Isso é apenas para os doutores (e não são todos) e não para qualquer um(a) que apareça. A esses apenas lhes compete (se quiserem) alimenta-los politicamente com espectáculos em público como sejam pezinhos de dança com eles, gritaria, aplausos, frases de apoio (aqui convém que o tom de voz empregado seja o maior possível e com alma para transmitir emoção e ser bem audível por todos), beijos e abraços – porque nesta alturas todos os políticos e, pontualmente, os seus familiares estão com carências afectivas – e «chingarem» os adversários da força política que está na ocasião à sua frente, fazendo um frete gratuitamente a estes porque não convém (e bem) que políticos façam tal coisa a bem da civilidade e da democracia. Mas ao povo, tudo é permitido porque este é simples e ingénuo como uma criança e os diversos actores políticos, lá no fundo, não se importam com isso; não é assim? Já os antigos romanos, que tinham bom senso (foram também eles os autores do principio político do «pão e circo» ainda hoje tão utilizado por todos) diziam «vox populi vox dei».
Quanto à democraticidade dos diversos órgãos de comunicação social, basta ver a descriminação que estes fazem a todos os concorrentes com excepção das cinco grandes forças partidárias. Mandando a igualdade de oportunidades às urtigas, tanto nos debates como nas reportagens sobre as acções de campanha, só este clube dos 5 é que tem direito a ter voz; os outros são pura e simplesmente ignorados fazendo esporadicamente uma pequenina reportagem sobre eles. Os argumentos utilizados são que estes partidos, movimentos independentes e respectivos candidatos têm pouca expressão eleitoral. Mas isso não é argumento em democracia. Existe liberdade de escolha e o eleitorado destas pequenas forças tem o direito de ser informado sobre as acções dos seus partidos e movimentos. Até os quatro candidatos arguidos mesmo sendo independentes tiveram mais tempo de antena do que todos os outros movimentos juntos. Outro argumento utilizado é afirmar que algumas destas formações são extremistas. É um facto, porém não compete aos órgãos de comunicação social julgarem quem quer que seja e, para além disso, os responsáveis pela informação em Portugal não se podem esquecer que se estes concorrem é porque foram autorizados a tal. E não nos podemos ainda esquecer que neste clube dos 5 existem dois partidos extremistas e com pouca cultura democrática; aliás, a sua ideologia colide totalmente contra os princípios democráticos.
E para o fim vem o melhor. O inefável Jorge Coelho, num comício do PS em Sintra, teve esta brilhante tirada que tem todos os ingredientes para ficar ao lado da de Jardim. Dizia, ou melhor, berrava Coelho que para que Sintra andasse para a frente era imperioso votar PS. Mais, afirmou que se o PS vencer em Sintra, logo no dia seguinte se realizariam reuniões ao mais alto nível com o Governo com o objectivo de desbloquear imediatamente verbas importantes para que Sintra volte a ser reposta no mapa.
Aquilo que eu depreendo das palavras do coordenador autárquico do PS (e candidato em Sintra) é que se os socialistas conquistarem Sintra esta tem toda a atenção do Governo; se o PSD ganhar, então numa atitude pouco democrática e vingativa, o Governo de Portugal vota ao abandono uma parte do país. Infelizmente, qualquer semelhança com as declarações de Alberto João, da Madeira, não é pura coincidência.
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