quinta-feira, dezembro 06, 2012

28 dias depois (Danny Boyle, 2002)

por Fernando Melro dos Santos in Estado Sentido

O que aconteceria se amanhã acordássemos para um cenário tido como altamente improvável, ou mesmo como impossível? A História está repleta de alvoradas dessas, embora os Portugueses tenham no seu código genético muito poucos impulsos que os motivem a estar preparados para sobreviver, na ausência das entidades e do proteccionismo institucional a que sempre estiveram habituados.

Em 1960, estava Portugal preocupado com a possibilidade de uma troca nuclear entre as duas superpotências de então? Pouco. A crise do petróleo nos anos 70? Não. Guerra Fria? Nada connosco. Bug do ano 2000? Terrorismo? Colapso energético? Tudo tiros ao lado. Acontece sempre aos outros e há mas é que acordar e ir viver o dia como se fosse igual ao anterior. Até a meteorologia amansa os humores. O que há mais por aí é gente que fica deprimida ao primeiro dia de chuva por já não poder andar de chinelos e dar um salto à praia, como se assim os problemas desaparecessem.

Qual é a probabilidade de que ocorra algum evento apocalíptico nas próximas semanas? Bom, se quiserem pensar em zombies, bombardeios nucleares, erupções solares, ou dilúvios bíblicos, deve ser quase zero. Muito, muito perto de zero, embora não seja em caso algum uma impossibilidade. Impossível, só mesmo alguém acordar um dia em Portugal e correr com os políticos todos para fora de onde estão. Mas estas situações que elenquei não devem, de facto, constituir uma preocupação cimeira para as pessoas normais.

Imagine-se porém que das miríficas cabeças eurocráticas lá no Templo da Besta em Bruxelas sai a decisão de selar o contágio financeiro que já consome Portugal e a Grécia, o que, a suceder, podem crer que sucederá sem aviso e da noite para o dia. Fecho de fronteiras, controle de capitais, congelamento temporário de contas e de pagamentos, suspensão de fornecimentos. Esta nem é muito tresloucada. Aposto que tira o sono a uns quantos na Partidocracia.

Portugal importa quase tudo o que consome, em especial e com gravidade acrescida diversos, demasiados, alimentos de primeira necessidade. Já para não falar na energia e nos medicamentos. Mesmo que um eventual racionamento ou oclusão ao fornecimento destes bens não dure muito, a partir do momento em que saiamos do Euro, o seu custo decuplicará em questão de meses.

As forças da autoridade, embora se percam por demais em fantochadas folclóricas onde controlam consumidores e comerciantes de bem, realizam de facto um trabalho extraordinário, considerando os meios de que dispõem, na manutenção da ordem pública. Temos uma das melhores polícias criminais do Mundo, por mais que o circuito judicial não apoie o bom esforço com que executam a sua missão.

Na eventualidade de uma ruptura socio-económica, não obstante, eu não poria as minhas mãos no fogo pela sua capacidade de acudir sequer a um centésimo das ocorrências que eclodiriam por todo o território, particularmente nas grandes cidades e onde o desemprego e a "inserção social" mais grassam. Não quereria estar em Setúbal, Albufeira, nas Mercês ou na Amadora, por exemplo.

Ao mesmo tempo, ao cidadão normal é vedada, salvo poucas excepções, a possibilidade de se auto-proteger mediante o uso e porte de arma. É assim em toda a Europa, e há quem queira fazer com que passe a ser assim na América. Pessoalmente, espero que não passe de uma intenção gorada. Quando as armas estão fora da lei, só os fora-da-lei têm armas.

O que pode ou deve fazer uma pessoa mediana, com ou sem família a seu cargo, para acautelar as potenciais consequências para si e para os seus de um cenário ameaçador como este que descrevo? Posso dar alguns conselhos de senso comum.

Tenha dinheiro em casa, em notas de 20 ou 50. Se puder, tenha ainda outra divisa como dólares americanos ou libras.

Tenha algum ouro, em barra, mas tenha cuidado com as falsificações em tungsténio e com o preço ao qual compra. Lembre-se sempre que não pode comer o ouro.

Mantenha reservas rotativas de água potável e para higiene. Um ser humano que não cure da higiene durante uma situação em que transpira e se movimenta, morre mais depressa de uma infecção bacteriana ou de desidratação do que com alguma bala.

Guarde produtos com vida longa de prateleira. Enlatados, massas, leites com chocolate, açúcar, mel, azeite, sumos de fruta, compotas.

Tenha um kit de medicamentos completo com analgésicos, anti-inflamatórios, pensos, álcool, cicatrizantes, ligaduras, tintura, lixívia, e se puder, antibióticos, embora estes não sejam de venda livre em Portugal e não devam ser usados indiscriminadamente. Se algum membro da família precisar de medicação específica, tenha-a.

Armazene materiais que lhe permitam comunicar e dar sinal de vida. Pilhas, lanternas, petróleo, candeeiros, fósforos, velas, "firesteels", lenha se tal for possível, mais de um telemóvel, e um rádio emissor/receptor de multibanda.

Informe-se estudando a História de outros países que não Portugal, e assuma que o Mundo está perigoso e que o nosso país já não é uma aldeola isolada do resto do globo. Não caia na complacência de pensar que estes assuntos são coisas de gente paranóica e que a calmaria relativa que sempre houve na sua vida vai durar para sempre.

Tenha à mão jogos, brinquedos, e formas de manter o moral elevado sobretudo se tiver crianças em casa.

Não ostente a sua confiança no caso de sentir-se mais preparado que os outros. Quando a comida acabar, pense onde irão primeiro procurá-la os menos escrupulosos.

Mantenha-se fisicamente apto. Pratique exercício aeróbico, pelo menos dia sim dia não, e um ou dois exercícios de força: é económico e não ocupa espaço ter em casa halteres ou uma barra fixa na porta do quarto para fazer elevações. Qualquer soalho permite fazer abdominais e flexões.

Suspenda de imediato o consumo de estupefacientes, incluindo álcool, caso uma situação de emergência social deflagre. O seu juízo e as suas reacções não devem estar toldados.

Aprenda a sobreviver fora de casa e da cidade, a conhecer plantas, construir abrigos, etc..

É para já o meu franco e sincero contributo no sentido de partilhar convosco algumas noções que, creio eu, deveriam nesta altura fazer parte da mentalidade de todos.

Leitura complementar:

James Wesley Rawles

Histórias dos Balcãs

Escola do Mato

Bushcraft e Sobrevivência



Apenas um simples comentário: «Quem avisa amigo é». «Não há mal que sempre dure nem de bem que não se acabe». Há muito que ponho em prática muitos destes conceitos e defendo que Portugal - e mesmo a nível municipal - deve preparar-se para algum «incidente» desses e adoptarem-se medidas de contingência, de prevenção e planificação de emergência que deve estar na gaveta até ao Dia D. O mal é pensar-se que só acontece aos outros. Nem capacidade de se auto-alimentar Portugal tem. Até nisso não dependemos de nós. Entre crises, conflitos, colapsos de qualquer natureza ou qualquer evento de natureza social ou natural, catastrófico  naturalmente, que possam ocorrer para lá das fronteiras, pode ainda haver um qualquer «incidente cá». Um grande sismo com consequências devastadoras não é impossível e pode ocorrer em qualquer momento sem que nada o preveja. Portugal é antigo de mais pelo que deve ter memória do passado e saber que já por tal passou como já aqui se recordou. E convulsões sociais Portugal também já as teve de sobra. Brandos costume é mais um mito que outra coisa qualquer.
Mas que cada um individualmente tome precauções mínimas e algumas são fáceis como se viu. Que  ninguém fique à espera dos outros. Se não formos nós a zelar por nós e pelos nossos... Mas a mentalidade do portuguesinho e a reacção a isto será um encolher de ombros e um «deixa lá ver. O que for será». Aliás vemo-lo com os incêndios. Ninguém toma medidas preventivas e quando o tem à porta é que é um vê se te avias a remediar e tentar resolver quando já é tarde demais como também já aqui se escreveu.
Será paranóia? Sem dúvida. Antes delas acontecerem é sempre paranóia mas depois é que é o «aí, ai» e não é por influência da profecia que se reproduz aqui este texto. Nem é tão pouco um vaticínio. Profecias dessas sempre as houve ao longo da história da Humanidade. Não é a primeira nem há-de ser a última. Mas que o mundo é um lugar perigoso é e há que estar preparado. Disso que não haja a menor dúvida.

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