Perdidos e achados do dia 17 de Setembro
Fez hoje seis anos, dia 17 de Setembro, que, no meio de Arcos de Valdevez e com uma ligação à Internet que deixava muito a desejar, consegui ver, poucos minutos depois da saída online das colocações no Ensino Superior, que tinha ficado colocada na minha primeira opção. E, neste mesmo dia, fez dois anos que terminei o curso e comigo muitas/os outras/os colegas e amigas/os.
Lembro-me disto como me lembro de muitas outras coisas inúteis, tenho uma particular queda para datas e uma memória pouco selectiva. Mas ao ter ouvido hoje na rádio as notícias sobre as colocações no Ensino Superior e ao ter visto, no Facebook, várias manifestações de alegria de algumas pessoas que hoje souberam da sua colocação nas Universidades de sua eleição, não pude deixar de sentir mixed feelings, quando a situação em que vivemos não é de festa e nos condena a uma incerteza espiritual que já no outro dia o meu bom amigo Samuel referia.
Esta data dava um bom "Perdidos e Achados" para a SIC. Onde estamos nós, dois anos depois?
O cenário em que eu participava, em 2009, por esta hora, era este: mais ou menos trinta pessoas, predominantemente de Ciência Política e Relações Internacionais, festejavam, genuinamente, o final de um curso de quatro anos, do velhinho sistema pré-Bolonha. Não vou esconder o facto de que circulavam imensos copos de plástico com sangria, cerveja, garrafas de vinho do Porto e vinho da Madeira. Mas circulavam mensagens. Brindes irónicos a um desemprego esperado (mas para que ninguém estava preparada/o), votos de felicidades, promessas de irmos aos casamentos da malta, premonições de sucesso, intenções de regresso a terras-Natal que não Lisboa (muitas/os de nós estavam nessa situação), partilha das inscrições em Mestrados e pós-graduações que as/os mais abonadas/os haviam concretizado e uma certeza inegável de que, após aquele dia, nada mais seria o mesmo. Disseram-se coisas que demoraram quatro anos para merecerem ser ditas, estava ali um grupo com uma certa "consciência de classe", abusando da expressão, que só quatro anos de Universidade conseguem construir.
Dois anos depois, uma amiga minha sintetizou muito bem este período que passou: “quase nada de produtivo aconteceu”.
E é-o verdade para a maioria de nós.
Algumas/uns de nós passaram por uma situação de desemprego longa e frustrante. Outras/os encararam altos e baixos: contratos de um mês, recibos verdes, “férias forçadas” (ou seja, falsas renovações de contratos passado os meses de Verão). Uma situação, para além de frustrante, desgastante. Outras/os defrontaram-se com empregos relativamente estáveis, mas onde o ordenado aceitável dificilmente justificava a “dedicação” e o “empenhamento” que depressa se tornaram eufemismos para a exploração da geração de colarinho branco – horários incertos, trabalho para casa, fins-de-semana ocupados e um grande nível de stress no equilíbrio que é requerido quando empregadoras/es combinam empregos e ordenados de execução com exigências de criatividade e inovação. Uma situação, para além de desgastante, rapidamente se transforma em esgotante. Seja em que situação for, a maioria de nós contou com o apoio dos pais, seja a nível financeiro directo seja a um nível indirecto (i.e., o pessoal que continua a viver e a comer em casa dos pais). Sem este apoio, a maioria de nós estaria condenado ao RSI. Falo a sério.
Conhecendo esta realidade, não admira que este vídeo, tão popular nas redes sociais, me tenha feito espécie. Começou por causar sensações de desconfiança até ter chegado ao patamar de irritação e, é já nesta qualidade de irritada, que escrevo sobre isto.
E o que me irritou foi a aceitação destas palavras por parte de quem as divulgou, de quem as bebeu e de quem as sentiu como verdadeiras.
Até consigo perceber porque é que as palavras pegaram. Colocam o ónus da responsabilidade em nós mesmas/os. Para certas pessoas, até porque foram pessoas bastante iluminadas/os que eu vi partilharem este vídeo, esta autonomia no percurso, esta responsabilidade individual, é óptima. As palavras deste Miguel pegaram porque, de certa forma, justificaram todo o esforço individual que certas pessoas tiveram para conseguir uma determinada situação na sua vida que elas mesmas consideraram aceitáveis. Ou porque justificaram o esforço individual desenvolvido por pessoas que confiam que este lhes trará retorno. Ou ainda porque, simples e implicitamente, rejeitam a responsabilidade do sistema/Estado/sociedade no insucesso individual ou, por outras palavras, não consideram sua tarefa ou não consideram que esta poderá, algum dia, vir a ser bem executada.
Eu poderia estar neste grupo. A sério que poderia, ainda há pouco tive o pedantismo de dar alguns conselhos a uma miúda que vai entrar agora para a faculdade, sobre a importância de ser, como se diz na minha terra, “fura-bolos”. Desde que me lembro de ser eu, sempre me desdobrei em mil e quinhentas contendas para além da incipiente escolinha. Sempre me mexi. Sempre fiz coisas. Continuo a fazer coisas. Às centenas e aos milhares. Construí (e digo construir como oposição a ganhar) capacidades e competências que, não fosse o meu esforço individual, nenhuma escola, nenhuma doutrina, nenhuma sociedade nem nenhum Estado teria, alguma vez, dever de mos transmitir. Como estas minhas capacidades e competências são isso mesmo: minhas. São o que me torna única, e me distinguem da restante população activa. São o que me atribuem o tal valor de mercado.
Em que medida é que, então, discordo assim tanto do dito Miguel ao ponto de considerar a ampla divulgação deste vídeo verdadeiramente repugnante?
É que, ao contrário dele, eu não sou uma crente da capacidade de absorção e selecção do mercado. O que são excepções, ele transforma, no seu discurso, em regra.
O que mais conheço são “fura-bolos”. A sério, conheço mesmo muita gente cheia de valor, a bater às portas a todo o lado, cheia de ideias. Ideias que trazem valor – ao mercado, à sociedade, à vida de alguém ou de muitas/os. O que mais conheço é pessoal que fala mais que duas línguas, tem experiência de voluntariado em mais que dois ou três sítios e que para além da área de formação desenvolveu outras áreas de competência a que soube dar continuidade e utilidade. Pessoal que fez Erasmus, Inov, ou de qualquer outra forma trabalhou ou viveu noutras partes da Europa e do Mundo. Conheço líderes, que desenvolvem um trabalho extraordinário no Terceiro Sector que, devido à sua crescente profissionalização, tem desenvolvido imenso a democracia participativa em Portugal e contribuído para a badalada governança multi-nível. Este Sector tem cativado muita gente que sente a sua criatividade acolhida, e que aqui encontra espaço de manobra para a concretização dos seus projectos e canalização da sua energia. Mas o que é que caracteriza este sector? Pois é. A parte do “sem fins lucrativos”.
É por isso que a maioria do pessoal que eu conheço, capaz, cheio de ideias, com aquele perfil que o Miguel garante que as organizações querem absorver, está nas lonas.
Em contrapartida, como no outro dia comentava com o Samuel, também conheço muita gente que nunca fez mais nada que não (segue-se uma lista):
- lamber botas,
- colar cartazes nas Jotas,
- ser filha/o de X que tem uma empresa,
- ser filha/o de X que conhece Y,
- ser um pau-mandado,
- ser um/a idiota,
- ser narrow-minded,
- ter o apelido X
…
(a completar mediante inspiração futura)
E essa gente foi bem absorvida... pelo sector público! E no fim de absorvidas pelo sector público, se continuarem tão lambe-botas, tão pau-mandado como sempre o foram, tão *convenientes*, hão-de ser absorvidas pelo sector privado.
É por isto que me dá vontade de dizer: Miguel, acorda para a vida! No dia em que, na generalidade, o esforço individual for o único responsável pelo sucesso dessa pessoa… bem, então não estarei em Portugal!
Esta geração, lixada pela anterior pelas razões sobejamente conhecidas, tem uma desvantagem ainda maior: é todos os dias lixada por si mesmo. Vejamos gerações decadentistas e depressivas: a geração de 70 da belle époque, por exemplo. Essa geração pôde, no entanto, ser frutífera na arte e na literatura. Não estou a ver isso acontecer com a nossa. Lá de queixumes somos nós, e com razão, mas deixá-mos de saber escrever. Se estives-te com atenção nos últimos dez anos, há-des reparar que ninguém sabe distinguir a conjugação pronominal do pretérito perfeito e o verbo haver é um caso sério. À dez anos atrás, alguém deve ter espalhado uma mensagem divina que minou a capacidade de distinção destas/es diplomadas/os entre os diversos “As”. Por isso, ás 01h47 de hoje, digo que nunca me senti tão az nesta cena de escrever. Como é que uma geração cujo alegado escol é isto pode, algum dia, transmitir a outras/os, de forma magistral como foi feito no passado, o que é a merda de vida e de situação em que estamos? O nosso legado às gerações futuras, sobre a grande depressão espiritual que vivemos, vão ser os registos do twitter. Isto chama-se lixarmo-nos a nós mesmas/os enquanto geração: ficarmos para a História como a geração que nem soube, de alguma forma, dignificar ou tornar épica a situação precária em que se encontra. O verdadeiro escol por mérito próprio, dentro dessa élite manhosa a que o Estado produziu em massa, vai estar demasiado ocupado a ter dois trabalhos para poder pagar a porra da aprendizagem ao longo da vida (que em vez de individual e opcional, se tornou institucionalizada e praticamente obrigatória) e/ou a fechar a porta de casa devagarinho para não acordar os pais quando chegar a casa – aos trinta anos.
É por isso que, em todos os 17 de Setembro, hei-de sempre lembrar-me da minha alegria inocente de quando há seis anos soube que ia estudar para Lisboa. Hei-de sempre lembrar-me da certeza que, há dois anos, sentia sobre como o tempo me tinha tornado uma mulher e como os dados estavam lançados para a minha independência. Hei-de sempre lembrar-me dos futuros que traçámos naquela noite, das expectativas que não queríamos criar – mas que criámos! – e da forma como brutalmente, todos os dias, temos de rever. Não por falta de esforço individual, de criatividade, de dedicação, de garra, de força, mas porque quando não são mil milhões que aparecem por justificar, hão-de ser sempre uns filhos da puta quaisquer que hão-de preferir quem não pensa e alinha no esquema montado: um bom camarada/companheiro conveniente e conivente
Lembro-me disto como me lembro de muitas outras coisas inúteis, tenho uma particular queda para datas e uma memória pouco selectiva. Mas ao ter ouvido hoje na rádio as notícias sobre as colocações no Ensino Superior e ao ter visto, no Facebook, várias manifestações de alegria de algumas pessoas que hoje souberam da sua colocação nas Universidades de sua eleição, não pude deixar de sentir mixed feelings, quando a situação em que vivemos não é de festa e nos condena a uma incerteza espiritual que já no outro dia o meu bom amigo Samuel referia.
Esta data dava um bom "Perdidos e Achados" para a SIC. Onde estamos nós, dois anos depois?
O cenário em que eu participava, em 2009, por esta hora, era este: mais ou menos trinta pessoas, predominantemente de Ciência Política e Relações Internacionais, festejavam, genuinamente, o final de um curso de quatro anos, do velhinho sistema pré-Bolonha. Não vou esconder o facto de que circulavam imensos copos de plástico com sangria, cerveja, garrafas de vinho do Porto e vinho da Madeira. Mas circulavam mensagens. Brindes irónicos a um desemprego esperado (mas para que ninguém estava preparada/o), votos de felicidades, promessas de irmos aos casamentos da malta, premonições de sucesso, intenções de regresso a terras-Natal que não Lisboa (muitas/os de nós estavam nessa situação), partilha das inscrições em Mestrados e pós-graduações que as/os mais abonadas/os haviam concretizado e uma certeza inegável de que, após aquele dia, nada mais seria o mesmo. Disseram-se coisas que demoraram quatro anos para merecerem ser ditas, estava ali um grupo com uma certa "consciência de classe", abusando da expressão, que só quatro anos de Universidade conseguem construir.
Dois anos depois, uma amiga minha sintetizou muito bem este período que passou: “quase nada de produtivo aconteceu”.
E é-o verdade para a maioria de nós.
Algumas/uns de nós passaram por uma situação de desemprego longa e frustrante. Outras/os encararam altos e baixos: contratos de um mês, recibos verdes, “férias forçadas” (ou seja, falsas renovações de contratos passado os meses de Verão). Uma situação, para além de frustrante, desgastante. Outras/os defrontaram-se com empregos relativamente estáveis, mas onde o ordenado aceitável dificilmente justificava a “dedicação” e o “empenhamento” que depressa se tornaram eufemismos para a exploração da geração de colarinho branco – horários incertos, trabalho para casa, fins-de-semana ocupados e um grande nível de stress no equilíbrio que é requerido quando empregadoras/es combinam empregos e ordenados de execução com exigências de criatividade e inovação. Uma situação, para além de desgastante, rapidamente se transforma em esgotante. Seja em que situação for, a maioria de nós contou com o apoio dos pais, seja a nível financeiro directo seja a um nível indirecto (i.e., o pessoal que continua a viver e a comer em casa dos pais). Sem este apoio, a maioria de nós estaria condenado ao RSI. Falo a sério.
Conhecendo esta realidade, não admira que este vídeo, tão popular nas redes sociais, me tenha feito espécie. Começou por causar sensações de desconfiança até ter chegado ao patamar de irritação e, é já nesta qualidade de irritada, que escrevo sobre isto.
E o que me irritou foi a aceitação destas palavras por parte de quem as divulgou, de quem as bebeu e de quem as sentiu como verdadeiras.
Até consigo perceber porque é que as palavras pegaram. Colocam o ónus da responsabilidade em nós mesmas/os. Para certas pessoas, até porque foram pessoas bastante iluminadas/os que eu vi partilharem este vídeo, esta autonomia no percurso, esta responsabilidade individual, é óptima. As palavras deste Miguel pegaram porque, de certa forma, justificaram todo o esforço individual que certas pessoas tiveram para conseguir uma determinada situação na sua vida que elas mesmas consideraram aceitáveis. Ou porque justificaram o esforço individual desenvolvido por pessoas que confiam que este lhes trará retorno. Ou ainda porque, simples e implicitamente, rejeitam a responsabilidade do sistema/Estado/sociedade no insucesso individual ou, por outras palavras, não consideram sua tarefa ou não consideram que esta poderá, algum dia, vir a ser bem executada.
Eu poderia estar neste grupo. A sério que poderia, ainda há pouco tive o pedantismo de dar alguns conselhos a uma miúda que vai entrar agora para a faculdade, sobre a importância de ser, como se diz na minha terra, “fura-bolos”. Desde que me lembro de ser eu, sempre me desdobrei em mil e quinhentas contendas para além da incipiente escolinha. Sempre me mexi. Sempre fiz coisas. Continuo a fazer coisas. Às centenas e aos milhares. Construí (e digo construir como oposição a ganhar) capacidades e competências que, não fosse o meu esforço individual, nenhuma escola, nenhuma doutrina, nenhuma sociedade nem nenhum Estado teria, alguma vez, dever de mos transmitir. Como estas minhas capacidades e competências são isso mesmo: minhas. São o que me torna única, e me distinguem da restante população activa. São o que me atribuem o tal valor de mercado.
Em que medida é que, então, discordo assim tanto do dito Miguel ao ponto de considerar a ampla divulgação deste vídeo verdadeiramente repugnante?
É que, ao contrário dele, eu não sou uma crente da capacidade de absorção e selecção do mercado. O que são excepções, ele transforma, no seu discurso, em regra.
O que mais conheço são “fura-bolos”. A sério, conheço mesmo muita gente cheia de valor, a bater às portas a todo o lado, cheia de ideias. Ideias que trazem valor – ao mercado, à sociedade, à vida de alguém ou de muitas/os. O que mais conheço é pessoal que fala mais que duas línguas, tem experiência de voluntariado em mais que dois ou três sítios e que para além da área de formação desenvolveu outras áreas de competência a que soube dar continuidade e utilidade. Pessoal que fez Erasmus, Inov, ou de qualquer outra forma trabalhou ou viveu noutras partes da Europa e do Mundo. Conheço líderes, que desenvolvem um trabalho extraordinário no Terceiro Sector que, devido à sua crescente profissionalização, tem desenvolvido imenso a democracia participativa em Portugal e contribuído para a badalada governança multi-nível. Este Sector tem cativado muita gente que sente a sua criatividade acolhida, e que aqui encontra espaço de manobra para a concretização dos seus projectos e canalização da sua energia. Mas o que é que caracteriza este sector? Pois é. A parte do “sem fins lucrativos”.
É por isso que a maioria do pessoal que eu conheço, capaz, cheio de ideias, com aquele perfil que o Miguel garante que as organizações querem absorver, está nas lonas.
Em contrapartida, como no outro dia comentava com o Samuel, também conheço muita gente que nunca fez mais nada que não (segue-se uma lista):
- lamber botas,
- colar cartazes nas Jotas,
- ser filha/o de X que tem uma empresa,
- ser filha/o de X que conhece Y,
- ser um pau-mandado,
- ser um/a idiota,
- ser narrow-minded,
- ter o apelido X
…
(a completar mediante inspiração futura)
E essa gente foi bem absorvida... pelo sector público! E no fim de absorvidas pelo sector público, se continuarem tão lambe-botas, tão pau-mandado como sempre o foram, tão *convenientes*, hão-de ser absorvidas pelo sector privado.
É por isto que me dá vontade de dizer: Miguel, acorda para a vida! No dia em que, na generalidade, o esforço individual for o único responsável pelo sucesso dessa pessoa… bem, então não estarei em Portugal!
Esta geração, lixada pela anterior pelas razões sobejamente conhecidas, tem uma desvantagem ainda maior: é todos os dias lixada por si mesmo. Vejamos gerações decadentistas e depressivas: a geração de 70 da belle époque, por exemplo. Essa geração pôde, no entanto, ser frutífera na arte e na literatura. Não estou a ver isso acontecer com a nossa. Lá de queixumes somos nós, e com razão, mas deixá-mos de saber escrever. Se estives-te com atenção nos últimos dez anos, há-des reparar que ninguém sabe distinguir a conjugação pronominal do pretérito perfeito e o verbo haver é um caso sério. À dez anos atrás, alguém deve ter espalhado uma mensagem divina que minou a capacidade de distinção destas/es diplomadas/os entre os diversos “As”. Por isso, ás 01h47 de hoje, digo que nunca me senti tão az nesta cena de escrever. Como é que uma geração cujo alegado escol é isto pode, algum dia, transmitir a outras/os, de forma magistral como foi feito no passado, o que é a merda de vida e de situação em que estamos? O nosso legado às gerações futuras, sobre a grande depressão espiritual que vivemos, vão ser os registos do twitter. Isto chama-se lixarmo-nos a nós mesmas/os enquanto geração: ficarmos para a História como a geração que nem soube, de alguma forma, dignificar ou tornar épica a situação precária em que se encontra. O verdadeiro escol por mérito próprio, dentro dessa élite manhosa a que o Estado produziu em massa, vai estar demasiado ocupado a ter dois trabalhos para poder pagar a porra da aprendizagem ao longo da vida (que em vez de individual e opcional, se tornou institucionalizada e praticamente obrigatória) e/ou a fechar a porta de casa devagarinho para não acordar os pais quando chegar a casa – aos trinta anos.
É por isso que, em todos os 17 de Setembro, hei-de sempre lembrar-me da minha alegria inocente de quando há seis anos soube que ia estudar para Lisboa. Hei-de sempre lembrar-me da certeza que, há dois anos, sentia sobre como o tempo me tinha tornado uma mulher e como os dados estavam lançados para a minha independência. Hei-de sempre lembrar-me dos futuros que traçámos naquela noite, das expectativas que não queríamos criar – mas que criámos! – e da forma como brutalmente, todos os dias, temos de rever. Não por falta de esforço individual, de criatividade, de dedicação, de garra, de força, mas porque quando não são mil milhões que aparecem por justificar, hão-de ser sempre uns filhos da puta quaisquer que hão-de preferir quem não pensa e alinha no esquema montado: um bom camarada/companheiro conveniente e conivente
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