quinta-feira, junho 20, 2013

No Brasil já abriram os olhos

As recentes manifestações que se fazem sentir nas principais cidades brasileiras mais não são do que o culminar de um conjunto de situações absolutamente inadmissíveis que têm origem na sua classe política. Começou por ser um protesto contra os aumentos do preço de bilhetes de transportes públicos mas as razões eram (são) bem mais profundas.
Uma das principais razões prende-se com os derrapagens astronómicas no já de si astronómico encargo com a realização do mundial de futebol de 2014. O QUE O POVO CONTESTA NAS RUAS É MUITO SIMPLES: São precisas mais escolas e hospitais e não estádios de futebol. Fiando-se na euforia quase histérica e na loucura do povo brasileiro por futebol muito boa gente iludiu-se e pensou que podia fazer um fartar vilanagem ilimitadamente. Enganaram-se e se dúvidas havia aqui e aqui estão algumas fontes que o desmentem.



Com o gigantesco Brasil nas ruas qual vulcão em erupção já começam os recuos. Afinal parece que o preço dos bilhetes vai baixar o que revela que afinal há margem para descidas. Tem implicações claro. Significa que alguns salários chorudos não irão sofrer aumentos.

E por cá?

Bem, cá em Portugal também tivemos a nossa dose de futebol - o Euro 2004. Podemos até discernir algumas semelhanças. Apesar de haver quem se manifestasse contra , dez estádios de futebol foram erguidos em vez de escolas, hospitais e maternidades. Esbanjaram-se milhões na sua construção (Foram só 665 milhões de euros), esgotam-se recursos para a sua manutenção e os dinheiros públicos aos invés de serem canalizados para projectos sustentáveis pura e simplesmente foram pulverizados em coisa nenhuma e generosamente distribuídos por alguns, os de sempre. Actualmente Portugal enfrenta uma gigantesca crise financeira, a economia está de rastos, o desemprego atinge números assustadores, a população jovem e em idade activa emigra em massa, fecham serviços básicos como correios, tribunais, bem como hospitais, maternidades e escolas que existiam. Tudo isto não é consequência directa e única e exclusivamente desse evento mas que tal ajudou à hecatombe disso não tenhamos dúvidas.
Mas voltemos aos estádios. Dez foi o número, não que Deus fez, mas sim o número que alguns acharam por bem; a saber: Estádio da Luz (Benfica), Alvalade (Sporting), Dragão (F.C.Porto), Braga, Boavista, Estádio do Mar (Beira Mar), Estádio do Algarve, Estádio do União de Leiria, Estádio Cidade de Coimbra e Estádio D. Afonso Henriques Guimarães.

Actualmente como está a situação?

A gestão dos estádios foi entregue em boa parte às câmaras municipais os quais têm feito miséria aos respectivos orçamentos. Na verdade cada um destes elefantezinhos brancos revelou-se um sumidoro e um poço sem fundo para as câmaras com a sua manutenção.
Em Aveiro, a Câmara exausta, depois de sete anos, desiste e abre concurso para entrega do estádio a uma gestão privada. O mesmo caminho tomou aliás a Câmara de Leiria que se quis livrar de forma radical de um mega-parasita que deixou enxague o seu orçamento. O Boavista foi relegado para escalões inferiores e o seu estádio tem estado às moscas. Um dos casos mais flagrantes é o do Estádio do Algarve. Com custos elevados e sem ter qualquer utilidade pois este não abriga um clube como os restantes. Ali já se fizeram inclusive corridas de carros. A autarquia local também se quis ver livre desse monstrozinho. Todos estes casos são aliás exemplificativos pelo que não vale a pena desfilar o rol na totalidade sob pena de nos tornarmos exaustivos e a coisa se tornar deprimente.

Não contentes com isto, os mesmos de sempre, desprovidos de qualquer pudor, insaciáveis e ávidos de meterem as patorras e abocanharem mais uma grossa fatia de dinheiros públicos, ainda quiseram entrar na onda do mundial ibérico.





De realçar que houve muito boa gente que não foi na conversa. Nós aqui no Pedra no Chinelo também alinhámos pelo mesmo diapasão como se pode ver neste artigo:

Novas oportunidades

e neste artigo da autoria de Pedro Quartim Graça, o qual também o demos à estampa.
Claro que quando se soube que a Rússia venceu - a sua proposta foi mais apetecível para a gulosa FIFA - nós por cá celebramos como se pode ver aqui.
Pois é caros leitores, se pararmos um pouco, ponderarmos e pensarmos ao invés de seguir a carneirada em manada não será fácil nos enganarem. E certamente que se vós o fizerdes também as vossas análises se revelarão correctas. Esse, meus caros, é o segredo para as análises que fazemos aqui no nosso espaço raramente virem a ser desmentidas em função do tempo.

Seja como for, o gigante acordou. Veremos se outros acordam. Ou nos enganamos muito ou se calhar mais cedo do que julgam alguns passarões cá do burgo levarão um aperto de papo. A coisa já ferve no maior país lusófono e pelas razões terrivelmente semelhantes ás que temos por cá. Tal há muito que deixou de ser um exotismo das Arábias. Já faltou mais. Arrepender-se-ão se não arrepiarem caminho. Quem avisa amigo é.
Certamente que haverá por aí muito boa gente a pôr as barbinhas de molho. Por enquanto temos isto:


Resta saber por quanto tempo.

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