quinta-feira, dezembro 01, 2011

A derreter de forma acelerada

A situação do Euro é bastante mais grave e delicada do que aquilo que nos querem fazer crer. Passos Coelho assumiu-o ontém de forma implícita ao anunciar que temos que estar preparados para todas as eventualidades.
Sempre achei que o Euro podia ser bom para Portugal. O que vimos porém foi o inverso. Agora parece claro que Portugal entrou à força, à martelada, tinha que entrar independentemente da coisa ter sido mais ou menos estudada, ponderada... à portuguesa; vamos e depois logo se vê. Repare-se que o Euro começou a circular em 2002. E em 2003 começa a instabilidade, estala a crise. Foi no Governo de Barroso, do Portugal de tanga, do aperto do cinto, do déficit... até hoje. Diziam que em 2005 a crise passaria, depois perante a persistência, seria em 2008, 2010, agora fala-se em 2014...
A coisa começou logo enviesada. Toda a gente tinha a percepção de que «este dinheiro desaparece num instante». Enfim... estranhavam. Ao princípio é compreensível. «Primeiro estranha-se e depois entranha-se» já dizia Pessoa. Mas estranha (ou não) e da qual ninguém falou foi da inflacção. Os preços foram inflacionados em alguns casos em 100%. Um jogo de matraquilhos ou uma bica que custavam 50$00 passaram a custar 50 cêntimos. A quantidade é a mesma o promenor é que a unidade euro equivalia a 200 unidades de escudo (0,50€=100$00). Acertaram-se valores e pôs-se tudo a 1,00€. Um molho de salsa ou coentros, 200$00... o custo de vida encareceu por chico-espertice.
Já em 1992 eu dizia que os estrangeiros estarem a dar milhões a Portugal a troco de nada não podia ser. Que ia dar barraca. Que no futuro iriam querer algo em troca. Como dizia, na fábula, o burro - que carregado olhava para o porco que comendo e folgando o observava gozão - «amigo olha que isso de comer sem trabalhar em alguma coisa há-de dar» e o porco despreocupado e zombão ria, ria do burro e da sua situação até ao dia em que o asno passa, na sua labuta diária, e vê o suíno a estrebuchar numa banca de pau, vira-se para ele e em tom pesaroso o indaga: «Lembras-te amigo de eu te dizer que isso de comer sem trabalhar nalguma coisa haveria de dar?» Foi a última coisa que ouviu.
Atiram-mo-nos, ou melhor, atiraram-nos de cabeça. É claro que a união económica favorece as economias mais fortes. Podia favorecer todas, podíamos ter aproveitado não fossem os milhões recebidos cairem nos bolsos de alguns e dos quais se começa agora a vislumbrar o paradeiro de uma fracção. Pormenores!
É interessante o exercicío de conturcionismo que presentemente alguns por cá fazem: por um lado não querem nem pensar em sair do Euro mas por outro insurgem-se contra os diktats da Alemanha. Só há dois caminhos: o orgulhosamente sós de Salazar ou o humilhadamente acompanhados na Europa. Não nos precavemos...
É claro que a Alemnha tem toda a razão quando se arroga o direito de pôr condições. Paga! E quem paga manda, como diria Ferreira Leite. Tem razão. Querem o quê? Que os alemães paguem e calem? Beneficiam, dirão. De economias em ruínas que sobrecarregam o sistema, cadáveres que têm que ser carregados em ombros? Vê-se... o benefício.
Qualquer um de nós não dá dinheiro - a menos que seja otário - investe-o, aplica-o e se vê que perde com isso deixa de investir ou então empresta, investe impondo condições, contrapartidas.
Outros querem mais federalismo, mais integração mas depois insurgem-se contra as imposições da troika (conjunto de três) a Portugal. Esquecem-se que dois terços desta são instituições europeias (o Banco Central Europeu e a própria União Europeia). Mais federalismo, mais imposição; menos federalismo, mais autonomia, mais irredutibilidade.
Agora, parece que o que dizia, há quase vinte anos, um simples rapaz de província, de 16 anos, que abandonara precocemente a escola, dois anos antes sem ter feito sequer o 9ºano, por razões que não vêm agora ao caso, tinha alguma razão de ser. Era na época do oásis português, dos tecnocratas, do grande economista Cavaco Silva que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava, da destruição, do desmantelamento da frota pesqueira, da agricultura, das quotas leiteiras, dos pagamentos para nada produzir...
Actualmente costumo usar uma alegoria: a da motorizada e a gasolina de avião. Comparo a economia alemã a um avião e a economia portuguesa a uma motorizada, uma lambreta, daquelas antigas, Zundap, Famel. O Euro comparo-o a gasolina de avião. Que a economia alemã aguente o Euro é natural. Mas receio bem que a fraqueza do sistema-económico finaceiro português advenha precisamente do facto de termos adoptado o Euro. A conclusão é que a economia portuguesa não se aguenta com uma moeda tão forte. É como se estivéssemos a injectar gasolina de avião numa motorizada. É claro que durante os primeiros instantes a motorizada ganha um «power», um rendimento como nunca teve, até ao momento crítico em que o motor colapsa. Como o combustível é forte de mais e o motor da motorizada frágil, esta caput
Receio bem que seja isso que esteja a acontecer às economias mais frágeis, nomeadamente a portuguesa... Caput. Será o fenómeno passível de ser revertido enfraquecendo a moeda ou, ainda mais difícil, fortalecendo e endémicamente frágil, economia nacional? Uma coisa parece clara: ou o Euro estoira de vez com as economias dos estados, nomeadamente os elos mais fracos ou as economias fracas rebentam com o Euro, como parece estar a acontecer. Quando um dos dois estoirar o sistema tenderá para o equilibrio e recuperará a estabilidade. Seja como for, nestas condições, o sistema é instável e insustentável; pelo menos instável a não ser que mudem alguns parâmetros. A coisa aguentou-se um periodo de tempo t mas a longo prazo a tendência parece ser de afastamento do ponto estável. Parece que esta obra de engenharia finaceira está para uma outra obra de engenharia (desta feita civil) ainda hoje paradigmatica e que teve lugar nos anos 40, nos EUA. Será o Euro, a Ponte de Tacoma da engenharia financeira e dos economistas e tecnocratas?

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