Quero antes de mais nada deixar bem claro o sincero apreço, consideração e agradecimento ao Sr. Maestro Francisco Lopes, regente da Banda Filarmónica 1º de Janeiro Torranense por todo o trabalho que tem vindo a desenvolver nos últimos 30 anos. Contudo não posso concordar e deixar de comentar algumas intervenções que tem feito, nomeadamente a última, aquando do pequeno espectáculo que decorreu na Sociedade no passado dia 17 de Dezembro, as quais considero bastante infelizes.
Constato que ao longo dos anos, pelo menos ao longo da última meia dúzia de anos, a «música» é sempre a mesma, isto é, o registo, o discurso é invariávelmente igual.
Um discurso languido, falacioso, de lamúria, de vitimização, de, em certo sentido, ameaça velada de saida para causar impacto e preocupação e até tristeza, nostalgia nas almas mais sobressaltadas. Um discurso inebriante, amnestesiante, hipnotizante; um discurso, à semelhança de outros, como dizem os brasileiros, «prá boi dormir». Mas as palavras em concreto com as quais eu não posso concordar, até mesmo e principalmente como ex-Presidente da Sociedade 1º de Janeiro Torranense, cargo que desempenhei com muita honra e com a sorte de ter uma muito boa equipa comigo, prendem-se com o facto do Sr. Maestro ter afirmado que há falta de vontade de trabalhar e que com trabalho de todos, as coisas se fazem como o prova o espectáculo ali decorrido. O que não disse é que todas as pessoas que passam e passaram pelos órgãos sociais são voluntários - trabalham a custo zero; como a custo zero estão lá os músicos e como a custo zero trabalham outras pessoas que se dignam ajudar na organização de bailes e outros eventos. Trabalho e responsabilidade é coisa que não falta, pelo menos para aqueles elementos que não se limitam a dar o nome e se comprometem e que depois desaparecem de circulação sobrecarregando ainda mais quem de facto está ali para cumprir com o seu mandato e com o seu dever. O que falta é tempo. Tempo que é dispendido e não é rentabilizado; trabalho que não é gratificante nem gratificado; é que para além do trabalho ser gratuito todos os que passam pela Direcção são desconsiderados e estigmatizados por alguns, consideráveis, sectores da população para os quais todos os que lá estão ou passaram «roubaram a Sociedade», foram para lá para «se encherem»; gente que em vez de ajudar sempre que há dificuldades ainda zombam e apelidam quem por lá passa, de incompetente, os mesmos que dizem que fazem, que são competentíssimos e uns moiros de trabalho e que, no momento da verdade - e como eu gosto desta expressão - quando são chamados para tomarem o lugar dos «incompetentes» entram em pânico e assobiam para o ar. Fossem tais cargos remunerados e bem remunerados que certamente os candidatos não chegariam às encomendas. É dificil trabalhar assim, é dificil cativar alguém assim, é dificil alguém querer trabalhar nestas condições; sem ganhar o que seja e ainda por cima ser enxovalhado. Não, para essa gente o que escasseia em dinheiro e consideração, sobra em trabalho. É natural que não haja motivação, é natural que não haja vontade de trabalhar, como refere e bem. Porém, as causas a que atribui essa falta de vontade é que receio bem que sejam outras se não o discurso tinha sido diferente; de defesa e elogio dos muitos que, ao longo dos anos, muito deram sem nada receber em troca. Não! Não o será por perguiça ou incúria, mas por desmotivação.
Já por seu turno, o Sr. Maestro é largamente considerado e aplaudido e ainda aufere um ordenado mensal da ordem dos 500€ por um dia de trabalho por semana (no máximo dois) que dura no máximo uma hora. O mais surrealista é que do meu lado esquerdo estavam um ex-Presidente da Direcção e um ex-Tesoureiro da Sociedade que aplaudiam efusivamente aquelas palavras que lhes (nos) eram arrememessadas como dardos envenenados. Aplaudiam sem analizar uma palavra, sem analizar o contexto, sem uma atitude crítica, aplaudiam o que era dito; limitaram-se a apaludir. É como se alguém fosse chicoteado em público e apaludisse cada golpe que lhe fosse infligido na carne. As palavras são o chicote do espírito. Já eu imóvel, petrificado, não mexi um músculo e apenas registava mentalmente tudo o que ouvia e perguntava-me e pergunto: Será que se trabalhasse de borla, o Sr. Maestro tinha vontade de se deslocar ao Torrão e trabalhar? Fica a pergunta. Como se não bastasse, ainda desvaloriza a grave crise porque a Europa e em particular Portugal atravessa. Para o Sr. Maestro não há crise, a crise está na cabeça das pessoas; a crise está na falta de vontade trabalhar. É natural que assim pense até porque crise é coisa que certamente não sentirá. Um reformado das Forças Armadas, ex-sargento, que certamente receberá uma boa reforma do Estado. A juntar a isso, o salário como regente da Banda da 1º de Janeiro, o salário por colaborar na Banda dos Bombeiros de Alvito e provávelmente ainda mais uns pós... De facto por ali não há crise que resista. Já para os quase 700.000 portugueses desempregados dos quais mais de metade são jovens e com habilitações superiores, mais do que qualquer um ex-sargento que por aí pontifique; aí sim para esses, para NÓS, a crise é real.
Mas ainda bem que o Sr. Maestro assim pensa. Bem pode ficar descansada a Direcção da Sociedade, seja ela qual for, que não será por isso que a Banda deixará de ter quem a dirija. É que se a crise implicar que esta tenha que proceder a um reajustamento, isto é, um corte, da ordem dos 25, 50 ou até 75% no seu vencimento haverá certamente alguém que de certeza terá sempre vontade de trabalhar e que não será por isso que se deterá até porque crise... bem, qual crise?
Apesar de tudo reconheço que muito provávelmente apenas pretendeu estimular as pessoas e incitá-las a participar e que o fez com boas intenções, embora nós saibamos qual o local que está cheio de boas intenções. Que dissesse que as pessoas não se mobilizam, não participam, não se motivam; agora falta de vontade de trabalhar? Pelo amor de Deus...
E depois... bem depois afirma que a crise está na cabeça das pessoas... nem me pronuncio. Daí o discurso ser, pelo menos para mim, profundamente infeliz.
Este tipo de discursos na verdade parcem ser apanágio de antigos sargentos do Exército, da Marinha... e quiçá até da Força Aérea se bem que dessa espécie não conheço nenhum... daí o «quiçá». Discursos hipnotizantes, discursos de ir levando a água ao seu moinho, discursos anestesiantes... «pra boi dormir».
Tenham cuidado! Tenham muito cuidado! Para a próxima, antes de ir ouvir um discurso de um qualquer ex-sargento - daqueles que a juntar ao pecúlio da aposentadoria como servidor do Estado ainda ganham uns cobres da política, da música ou de quaisquer outras nobres artes - tomem um café bem forte para não se deixarem dormir.
Estava eu ainda a digerir tal discurso quando me sai outro do mesmo jaez na rifa. Num dos espécimes da folha de Alcácer que me vieram oferecer constato que supostamente (porque não sabemos se são de facto eles quem escreve os textos ou se apenas dão os tópicos) o Sr. Vereador Gabriel afina pelo mesmo.... diapasão.
Começa por sensibilizar para o problema do vândalismo contra propriedade pública - o que é vergonhoso, lamentável e dos quais tenho dado eco a alguns que se passam por cá - acaba a dizer uma verdade de Lapalisse: A Câmara é composta por pessoas e que estas também erram(!!!). Lili Caneças não diria melhor. Quem diria! O problema é que erram demasiadas vezes e pior: incorrem inúmeras vezes nos mesmos erros. Errar é humano de facto e é universal. Errar não é estupidez; é-o apenas incorrer sempre nos mesmos erros. Esse é que é o drama!
Esse é contudo o mote para o que vem a seguir. O Sr. Vereador da Cultura incita-nos a aprender a dar o nosso contributo em vez de nos concentrarmos a criticar, quais treinadores de bancada a ver futebol. É a cultura da bola ou uma bolada na cultura! Acontece que o Sr. Vereador recebe, mais pataco menos pataco, trezentos contos dos antigos em troca do seu rico contributo. Eis um bom exemplo para aprendizagem. É claro que o contributo de que fala e a que apela, é a custo zero ou não fosse este o país dos voluntários. Apela-se muito por cá ao voluntariado, que é o mesmo que ao trabalho a custo zero. Acontece que por detrás de uma legião de voluntários há sempre alguém, espertalhão, que coordena, que manda... e que mama. E não é pouco.
No caso da Câmara, os otários dariam o contributo (de borla, claro) e suas excelências colhem os louros e os ouros. É óbvio que para o Sr. Vereador o ideal é o laborioso contributo de todos e de perferência sem críticas. Se em vez de críticas todos aplaudissem efusivamente quais focas ou macaquinhos amestrados certamente que já não se lamentava. Quanto às críticas, o Sr.Vereador, reconheceu que erra; se erra é criticado; ponto final.
Não discorre porém que a crítica é ela própria uma forma de contribuir? Quem critica e discute é porque está atento e quer participar e no entanto o Sr. Vereador reduz os munícipes, cidadãos deste Concelho, a «treinadores de bancada». É o que nós somos aos olhos dele? Treinadores de bancada? E a participação democrática e a livre opinião, críticas... de treinadores de bancada, claro está. Curiosamente em época de eleições todos são lestos em defender a participação dos munícipes e depois quando se apanham servidos a tão falada participação dos cidadãos reduz-se a opiniões de «treinadores de bancada».
Bem, futebolisticamente falando, se a equipa que está no relvado não suporta os apupos do público nas bancadas tem bom remédio: renuncia ao jogo, abandona o relvado e recolhe aos balneários. É tremendamente simples.
Da parte que me toca, continuarei a dar algumas tácticas as quais já se provou que têm resultado; e como têm resultado! E darei o meu contributo e tempo ainda que gratuitamente pois aqui sou simultâneamente colaborador, coordenador e executante; aqui sou independente, autónomo e sem amarras. Aqui ninguém colhe os frutos do meu trabalho.
E por fim termina afirmando que esta é uma terra maravilhosa. Depende da perspectiva. Muitos apesar de provávelmente concordarem, têm partido em busca de outras maravilhas que por cá não encontram. E muitos outros ainda estarão para partir.
É maravilhosa para alguns. Se calhar para ele e para outros do mesmo naipe por enquanto vai sendo maravilhosa e se calhar daqui por uns tempos deixará de pensar assim. Só a título de exemplo, Cuba é um paraíso para os turistas e um inferno para a maioria dos que lá vivem e que até fome passam. Depende...
Com maravilhas e pérolas destas estamos bem entregues... até um dia.
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