Vamos centrar-nos no confuso e polémico caso do arrastão na praia de Carcavelos, pois apesar de já se ter passado mês e meio, o assunto continua a dar «água pela barba» a muito boa gente, havendo já ciber-reportagens e ameaças de processos judiciais pelo meio e que, por este andar, corre o risco de se tornar num dos maiores enigmas da História do Portugal contemporâneo! Vejamos:
Na tarde do dia 10 de Junho, dia de Portugal, a mesma notícia abria os telejornais de todas as televisões portuguesas. Esta dava conta de que um grupo de cerca de cinco centenas de jovens (!), na sua maioria, africanos ou luso-africanos terá irrompido pela praia de Carcavelos dentro, assaltando os veraneantes que iam encontrando no seu caminho, espoliando-os de tudo quanto pudessem «ganfar», usando a técnica do arrastão – um método inventado e praticado em terras de Vera Cruz – «varrendo-a» de fio a pavio. Nessa altura todos os que deram a cara e o corpo (de Intervenção) ao manifesto, fossem eles autoridades, donos de bares à beira mar plantados, alegados «arrastados» ou simples testemunhas oculares, foram peremptórios ao afirmarem que não só algo de grave se tinha passado sobre o escaldante areal como os seus testemunhos coincidiam em vários pontos, tais como o número de alegados amigos do alheio e a forma como eles terão actuado. Nesse mesmo dia o Ministro da Administração Interna reuniu-se de emergência com o Secretário de Estado da Administração Interna, o Presidente da Câmara de Cascais e com o Director Nacional da PSP.
No dia seguinte, uma nova notícia dava conta de que cerca de cinquenta elementos, ente os quais alguns que terão, alegadamente, «arrastado» em Carcavelos se engajaram em autocarros e rumaram ás belas praias do «Reino dos Algarves» com o fito de pôr em prática, salvo erro em Quarteira, o mesmo método de assalto sendo os seus planos frustrados pelas autoridades policiais. Entrevistados alguns elementos suspeitos de serem suspeitos, estes argumentaram que se tinham «arrastado» até ao Algarve apenas para ir «abanar o capacete» nas loucas discotecas algarvias.
Depois destes acontecimentos, a Frente Nacional, uma organização de extrema-direita, resolve convocar uma manifestação, com doses de racismo e xenofobia quanto baste, contra a criminalidade que, de acordo com eles, subiu em flecha especialmente graças aos imigrantes – temos, apesar de tudo que reconhecer, sem preconceitos, nem o racismo e a xenofobia que destilavam por todos os poros, que não deixam de ter alguma razão – para o dia 14 de Junho no «hot spot» que é a Praça de Martim Moniz, em Lisboa, por ser o ponto de confluência de grande parte dos imigrantes.
E é justamente a partir dessa altura que começa a polémica sobre aquilo que aconteceu em Carcavelos ou... que não aconteceu! Contudo, tenho cá para mim, que há aqui qualquer coisa que não bate certo, que não encaixa, que não cheira bem!!! Não consigo engolir esta estória, como não consegui engolir, até hoje, a estória da cegonha que a meio da noite, sabe-se lá por que raio, acordou e qual ave nocturna resolveu bater as asas e dar uma saidinha à noite provocando uma apagão em boa parte do país!
O que se passou então, para pôr o país em alvoroço? Terá sido tudo um grande mal entendido, sensacionalismo da imprensa, uma gigantesca conspiração (não escrevi cabala, porque essa palavra está agora um pouco fora de moda!) contra os imigrantes e contra o sector turístico nacional, uma gigantesca campanha de desinformação e intoxicação da opinião pública à boa maneira soviética, cubana ou norte-coreana ou simplesmente delírio colectivo resultante da silly season?
A polícia, que tinha sido peremptória ao afirmar que algo de muito grave se tinha passado, vem posteriormente dar o dito pelo não dito, afirmando que tinha sido pressionada pela comunicação social para confirmar a notícia dada, mesmo sabendo que tal não corresponderia à realidade. Mal de um país em que a sua polícia se deixa pressionar pelos jornalistas ao ponto de ter que servir-lhes, obrigatoriamente, de muleta, confirmando e sustentando notícias sensacionalistas, da qual esta, alegadamente, sabe não corresponder à verdade! Porém, pela maneira trapalhona como tudo se passou, tenho a sensação que houve de facto pressões sobre a polícia. Só duvido é da origem das mesmas!
As testemunhas do alegado arrastão que antes tinham visto os supostos «arrastadores», vêm posteriormente afirmar que o que viram foi um assalto normal num dia de praia movimentado; as fotografias, tiradas pelos veraneantes, e apresentadas como prova da violência e dimensão da horda são posteriormente apresentadas como mostrando um grupo de jovens que estando na praia a dançar e a curtir, começam a fugir mal vêm a polícia, com temor de que esta actue; e os donos dos tais bares à beira mar plantados que se tinham mostrado alarmados, com algo aparentemente nunca visto na Ocidental praia Lusitana, e se tinham mostrado indignados com o facto da praia não ser suficientemente vigiada, de exigirem mais polícia e de ali reinar um grande sentimento de insegurança, pois já antes ali teriam ocorrido assaltos sendo a situação agora registada inédita, afirmam à posteriori que não se passou ali nada de especial.
Há ainda outro facto curioso no meio disto tudo. Por um lado diz-se que houve arrastão mas que o número de envolvidos não chegaria aos cinquenta, contudo, há quem defenda que pura e simplesmente não houve arrastão. Então em que é que ficamos?!
O mais importante a retirar desta estória não é o número de indivíduos, que francamente parece-me exagerado pois para se atingirem as cinco centenas teriam que se juntar elementos de vários bairros sendo que o sentimento de bairrismo nestes casos é muito forte, havendo grande rivalidade entre eles! O facto da praia estar naquele dia especialmente cheia talvez se devesse simplesmente ao fim do ano lectivo e todos terem resolvido ir «abancar» para a praia nos primeiros dias de férias! O que não deixa de ser preocupante é a introdução do método supostamente utilizado que é próprio do terceiro mundo e que vem colocar em xeque a actividade turística nacional e a segurança dos cidadãos. Para pôr em prática um arrastão bastam 10 indivíduos com armas brancas, bem organizados, ousados e agressivos quanto baste. E nem necessitam de arrastar de uma ponta à outra, basta actuarem numa pequena zona e afastarem-se tranquilamente.
O que é facto é que algo se passou e para que tal não volte a acontecer é imperioso que se olhe o problema de frente e não se enfie a cabeça debaixo da areia fingindo que não aconteceu nada.
Se o famigerado arrastão aconteceu mesmo, e se foram postas em prática campanhas de desinformação e intoxicação da opinião pública – métodos que não dignificam uma Democracia e que são especialmente utilizados por regimes totalitários – apesar de ter como objectivo retirar argumentos à extrema-direita e impedir que a xenofobia avance em Portugal então mais se não fez do que tapar o sol com a peneira, por um lado e, por outro lado, recorrer a meios não lícitos de combate político com a agravante de, a terem existido, serem levados a cabo pela extrema-esquerda tão nefasta e anti-democrática quanto a extrema-direita.
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