«Os sábios falam porque
têm alguma coisa a dizer.
Os tolos falam porque têm
de dizer alguma coisa»
Platão
Muito badalou a imprensa acerca das supostas ideias originais defendidas pelo senhor presidente desta abandalhada república em relação ao que se deveria fazer para combater o flagelo dos incêndios que todos os anos, na maioria dos casos, alguém, pelos mais variados motivos, se encarrega de fazer campear por esse país fora.
Defende o ainda presidente que deviam ser postas em prática medidas coercivas para obrigar os proprietários florestais a limparem as matas. Até aqui tudo certo! Acontece que o que Jorge Sampaio defende já havia sido proposto pelo Bloco de Esquerda, pela voz de Francisco Louçã, dias antes. Eu ouvi... E já antes mais gente propôs tal coisa. Mas há mais: o senhor presidente como licenciado em Direito e supremo magistrado da Nação que é deveria saber ou procurar saber as leis do seu país, em particular, que a falta de limpeza das matas por parte dos seus proprietários já é sancionada e que é obrigatório limpar o terreno em redor das habitações num raio de 50 metros. Só que a imprensa do regime afirmou que tais ideias tinham partido da mente iluminada do nosso, salvo seja que meu não é de certeza, presidente.
O Chefe de Estado, seja ele quem for, que a meu ver, como ponto de referência da Nação que deveria ser; por ter apenas funções representativas e, por estar livre das responsabilidades de governação que consomem tempo e concentração em problemas mais imediatos, deveria ser uma figura com grande capacidade de antecipação a médio e longo prazo e ser o primeiro a fazer propostas e chamar a atenção de todos, em particular do Governo, independentemente das circunstâncias, em especial da sua natureza ideológica, sobre os mais variados assuntos e problemas; em suma, a abrir os olhos do país. No entanto é, invariavelmente, o último a falar limitando-se a dizer banalidades tardias e a escolher para si o papel de uma simples caixa de ressonância. Para além disso, desde 1996 que este senhor é presidente e já antes haviam incêndios. Não com as dimensões dos que têm lavrado nos últimos anos mas... houve-os! Porque é que a apenas escassos meses de terminar o seu mandato é que dá esta ideia? Mais; os incêndios mais devastadores dos últimos anos começaram em 2003 e, só agora é que lança este tipo de reptos?! Porquê? Será porventura porque agora se sente mais à vontade por coabitar com um Governo do seu partido do qual já foi, nunca é demais lembrar, líder e não se sentia tão à vontade, em 2003 e 2004, com um Governo da «concorrência»?!
Para além de tudo isso há também uma curiosidade interessante. Num dia o presidente Sampaio faz a referida proposta e no dia imediatamente a seguir vem o Ministro da Agricultura anunciar a obrigatoriedade de limpar as matas e que as coimas aplicadas, aos proprietários que descurem a limpeza das suas propriedades, serão mais severas. Parece eles que se combinaram todos! Tudo tão bonito, preciso e perfeito que até dá para desconfiar que foi tudo combinado de antemão! Mais pareciam uma equipa olímpica de natação sincronizada! Parto do princípio que seria para todos ficarem bem no retrato – principalmente o PS – em época de eleições!
Se me for permitido sugerir algo, então eu sugiro que para além da actualização dos valores das coimas era bom que se reforçasse, como já disse em outro artigo, a vigilância das florestas equipando a Policia Florestal com mais meios e com mais pessoal no terreno porque os que existem, francamente, parecem-me poucos e envelhecidos ou então, fazer uma reestruturação no sector incorporando esta polícia na GNR. Pergunto-me a mim próprio de que adianta criar leis mais severas e coimas mais pesadas se depois no terreno não há ninguém com capacidade para fazer cumprir essas normas? Não me admiro nada que assim continue tudo na mesma com todos a baldarem-se ao seu dever e que, afinal de contas, só os prejudica a eles e... a terceiros!
Muitos dos incêndios de origem acidental têm inicio quando tractores e outras máquinas agrícolas se incendeiam devido ao sobreaquecimento do motor ou devido ao contacto de algumas peças metálicas com pedras que provocam faíscas ficando os seus operadores sem tempo nem capacidade de reacção. Assim, porque não tornar obrigatório o uso de extintores em todas as máquinas agrícolas? Seria sem dúvida uma medida, quiçá, mais inteligente e útil do que a obrigatoriedade de usar os célebres coletes reflectores, por parte dos condutores, em determinadas condições. Coletes esses cujo uso devia ser ainda mais obrigatório por parte dos peões e ciclistas, principalmente aqueles que transitam de noite nas vias públicas, fora ou dentro das localidades, pois uma boa parte das vítimas de acidentes de viação resultam de atropelamentos, na maioria dos casos devido ao facto dos condutores não se aperceberem a tempo da presença destes por não se encontrarem convenientemente em situação de boa visibilidade. Mas isso já será matéria para um próximo artigo.
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