No Iraque a pouca vergonha dos ocupantes soma e segue. Em Bassorá, a segunda maior cidade do Iraque, dois agentes dos serviços secretos militares ingleses disfarçados de árabes e armados até aos dentes, sabe-se lá por que raio, abriram fogo matando civis e polícias iraquianos. A polícia iraquiana fez o que lhe competia, detendo os dois homens e preparando-se para os levar perante o juiz. O exército ocupante é que não achou lá muito democrático nem muita graça a isso e de pronto enviou alguns tanques (não fazem a coisa por menos) para libertar os camaradas de armas. Tiveram o descaramento de o fazer à luz do dia ao que a população revoltada, de imediato cercou e incendiou com cocktails molotov (o que não falta no Iraque é gasolina e petróleo para bombas incendiárias) os veículos. Os soldados não tiveram outro remédio senão abandonar os tanques e porem-se em fuga com a cobertura de patrulhas a pé sem antes serem bem apedrejados pelos revoltosos.
O ocupante, raivoso com a afronta da população e da polícia, é que não desistiu e cobardemente pela calada da noite volta a enviar os tanques que, numa operação relâmpago, sem dó nem piedade passaram por cima dos carros da polícia esmagando-os e posteriormente precipitando-os contra as paredes da esquadra destruindo-a e reduzindo-a a um monte de escombros conseguindo, enfim, resgatar os agentes argumentando em seguida que era objectivo da policia entregar os tipos à milícia do chamado clérigo radical Moqtada al-Sadr. Radical só por ser contra a presença estrangeira no Iraque está bem de ver. Engraçado ia jurar que tinha ouvido dizer que no sul do país tudo estava tranquilo mas afinal parece que há milícias aí operar.
A destruição é que era escusada pois a polícia e exército iraquianos têm sido equipados pelos ocupantes e agora pura e simplesmente lá terão que estupidamente voltar a equipa-los. Quem agradece esta acção são certamente os restantes 150 reclusos que estavam detidos nas instalações da polícia iraquiana e que graças à confusão gerada pela destruição da prisão aproveitaram para se «pôr ao fresco».
Curiosamente – vem agora a talhe de foice – não se ouve falar em equipar a Marinha e a Força Aérea iraquianas. Será para continuar a manter e dominar o espaço aéreo e marítimo de um país que dizem ser soberano? Só importa é equipar o exército e treinar os iraquianos para irem combater a resistência para o invasor ficar na retaguarda. Como os rebeldes não operam nem no mar nem no ar...
O Governo de Bagdad; esse, limitou-se apenas a ficar incomodado com o sucedido e, pelos vistos, não protestou veementemente e nem sequer exigiu um pedido de satisfações, o que leva a crer que o Governo iraquiano saído de umas eleições que, segundo as potências ocupantes, tinham sido «um sucesso» mais não é do que um governo-fantoche.
Este tipo de acções é a melhor coisa que podem fazer! É disto que necessitam para a sua popularidade se manter em alta! Todos os iraquianos (excepto os que colaboram e ganham com isso) vão ficando cada vez mais fartos de uma ocupação anglo-saxónica asfixiante e incómoda e um dia talvez lhes façam o mesmo que os portugueses fizeram no século XIX, quando os ingleses permaneceram em Portugal depois de terem ajudado a repelir as invasões francesas e se deixaram ficar, mandando em Portugal como se estivessem em sua casa. Há coisas que nunca mudam só que as medidas a tomar... também não.
Ah, e certamente que os xiitas ainda não se esqueceram que foram abandonados à sua sorte pelos anglo-americanos, aquando da primeira guerra no golfo, depois destes os terem incitado a revoltarem-se contra a ditadura de Saddam, prometendo que os ajudariam...
Al Sadr, que na altura estava em Londres, é que se calhar não se esqueceu e é por isso que é «radical».
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